Óleos grupos 2 e 3 – Superoferta de vão forçar qualidade do produto final
Lubrificantes – Superoferta de óleos grupos 2 e 3 vão forçar qualidade do produto final
O lubrificante consumido no Brasil, principalmente na sua principal aplicação, a automotiva, responsável por cerca de 60% do mercado, mas também no uso industrial, que fica com o resto da demanda, tem melhorado muito sua qualidade nos últimos anos e deve passar por mudanças ainda maiores no médio e longo prazo.

O otimismo não tem a ver apenas com o já batido discurso de aumento de exigências ambientais de governos e de melhoria de desempenho de montadoras, que querem lubrificantes mais eficientes para atender metas de redução de emissões e de incremento de vida útil dos óleos básicos aditivados. A questão mais de fundo é econômica, como ocorre quase sempre na história da humanidade, e tem a ver com o cenário global da principal matéria-prima do lubrificante: o óleo básico, cuja classificação da API vai de 1 a 5, em ordem crescente de qualidade.
O mercado mundial de óleo básico está no meio de um processo chamado pelos especialistas como movimento em cardume, em que vários produtores resolvem investir em um mesmo insumo ao mesmo tempo, criando um cenário de superoferta. Foi o que ocorreu com os óleos básicos dos grupos 2 até o grupo 5, movimento que deve acrescentar uma capacidade de até mais 10 milhões de toneladas do grupo 2 e 3, principalmente, mas também dos 4 e 5, em menor escala, até 2020. A consequência é lógica: o preço dos óleos está despencando e facilitando a formulação de lubrificantes de melhor desempenho, sobretudo dos mais abundantes e de maior uso, dos grupos 2 e 3, capazes de integrar formulações de semissintéticos no primeiro caso e de sintéticos no segundo.

Segundo Claudio Pereira da Silva, diretor da Lubekem Consultoria, o movimento em cardume começou entre 2010 e 2011, quando novas unidades no mundo acrescentaram 3,2 milhões de t/ano dos grupos 2 e 3. O fenômeno – que remete à manifestação da ictiofauna ao seguir o mesmo rumo de forma instintiva – se explicava na época pelo fato de as margens dos dois grupos serem em média de US$ 250/t maiores do que as do óleo mineral de grupo 1, caso do grupo 2, ou até US$ 500/t a mais quando comparados ao grupo 3.
“Além disso, como os produtores naquele momento estavam investindo em plantas de hidrocraqueamento para produção de diesel mais limpo, livre de enxofre, usavam a sobra de colunas para incluir no investimento plantas dos óleos básicos”, disse. O que não foi previsto, porém, é o movimento em cardume – por natureza mais instintivo do que racional – derrubar de forma tão abrupta o preço dos óleos de melhor qualidade. Hoje praticamente eles têm o mesmo valor do grupo 1, com pequenas diferenças que não ultrapassam os US$ 20 por tonelada.
E a movimentação, mesmo tendo provocado esse efeito, não deve parar. Segundo levantamento da Lubekem, o aumento da capacidade de produção de óleos básicos grupos 2 e 3 previsto para entrar em operação entre 2013 e 2016 totaliza mais de 6,3 milhões de toneladas/ano. “Será um verdadeiro tsunami de oferta”, alerta Silva. Isso significa que, considerando somente os novos projetos de óleos básicos, entre 2011 e 2016 o aumento da capacidade de produção é equivalente a mais de 30% da demanda mundial de lubrificantes.
A superoferta, a maior parte dela em um primeiro momento para atender o mercado europeu, aponta Silva, tem sido vista como “insana” por boa parte dos analistas do mercado. Isso porque as previsões de crescimento da demanda para os próximos anos são bem abaixo dos aumentos da capacidade. “A maioria dos consultores aponta para um crescimento da demanda mundial de lubrificantes em torno de 1% ao ano, ou aproximadamente mais 3,5 milhões de toneladas, entre 2011 e 2020”, disse.
Segundo a estimativa da Lubekem, porém, o cenário será ainda mais gritante. O aumento da capacidade mundial de óleos básicos entre 2011 e 2020 equivalerá à produção de mais de 12 milhões de toneladas/ano de lubrificantes, incluindo não somente as novas capacidades em óleos básicos 1 e 2, como também aumentos na capacidade de produção de óleos básicos rerrefinados, de gupos 4 e 5. No mesmo período, para a consultoria, o acréscimo na demanda mundial de lubrificantes deverá ser por volta de 2 milhões de toneladas/ano.
A diferença na sua previsão, de acordo com Silva, se deve a fatores importantes não levados em conta pelas consultorias internacionais: os aumentos dos intervalos de troca de lubrificantes (na Europa e Estados Unidos há óleos de motores prescritos para 20 mil km) e aumento das aplicações fill for life. “Isso nos faz crer que haverá um excesso potencial na oferta de lubrificantes de mais de 10 milhões de toneladas/ano”, disse.
Efeito no Brasil – Esse cenário, voltando-se para o mercado brasileiro, tem um efeito muito provável. Os grandes produtores de óleos básicos devem intensificar as vendas para o Brasil, assim como para demais países dos BRICs, já que na Europa, para onde essas unidades construídas na Ásia e no Oriente Médio visavam em um primeiro momento, a tendência é de diminuição de uso de lubrificantes. Daí a grande probabilidade de aumento de produção de lubrificantes melhores no Brasil, onde há apenas produção pela Petrobras de óleos grupo 1, ainda muito utilizados por aqui apesar de a importação dos grupos 2 e 3 crescerem para atender formulações de óleos sintéticos e semi-sintéticos.
De quebra, o que também pela lógica deve ocorrer é não se justificar o prometido investimento da estatal petroleira em fazer uma planta de óleo básico grupo 2 no Comperj, que estava planejada para 2016, também paralela à produção de diesel limpo. “O melhor seria a empresa fazer apenas um upgrade na produção do grupo 1 da Reduc, fazendo uma planta híbrida, na qual a geração de subprodutos como o TDAE e o brightstock continuariam, e onde se poderia escoar o grupo 1 para lubrificantes industriais e automotivos de pior qualidade”, opinou o consultor. Vale acrescentar que hoje a Petrobras importa óleo básico grupo 2 da Chevron e o vende no mercado local a preço de grupo 1.
O escoamento desse excedente atenderia à crescente demanda dos produtores de lubrificantes instalados no Brasil, que hoje já consomem por ano cerca de 500 mil t importadas de óleos básicos dos grupos 2 e 3. E principalmente porque a produção local tem potencial de crescimento maior do que nos países desenvolvidos, sobretudo em produtos de maior valor agregado, por estar um pouco atrasada tecnologicamente nas formulações, sobretudo as automotivas.
Além disso, de acordo com estudo da consultoria IHS sobre lubrificantes no Brasil, a demanda por consumo na área automotiva tem potencial grande por um motivo específico: a taxa de motorização do país é baixa, de 5 pessoas por carro, com tendência de aumento. Segundo o responsável pelo estudo, Stefan Mueller, em cinco anos a taxa cairá para 4 pessoas/carro e, em dez anos, baixará para 3.3 a 3.5/carro.

Consumo nacional cresce – Com produção de 1,520 bilhão de litros de lubrificantes em 2013, os fabricantes nacionais mantiveram crescimento ligeiramente superior ao PIB entre 2008 e 2012, em cerca de 3% ao ano, segundo revelou Giancarlo Passalacqua, o gerente de lubrificantes do Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis e de Lubrificantes (Sindicom), que reúne as nove principais produtoras responsáveis por 84% do mercado nacional.
E o panorama deve ser ainda mais atrativo para escoar o excedente de óleos básicos para o Brasil. Em 2013, houve uma melhoria repentina de desempenho, com acréscimo de 7% no consumo de lubrificantes. Segundo Passalacqua, as prováveis razões foram o crescimento da frota automotiva, a grande expansão da produção agrícola no Centro-Oeste, que demandou maiores volumes dos lubrificantes para veículos pesados (HDMO, heavy duty motor oil), como caminhões e tratores e obras em construção civil. “A vantagem do mercado é ele ter várias motivações de crescimento, em praticamente todos os setores da economia, que precisam de máquinas e transportes”, disse.
A estimativa do desempenho pode ser ainda melhor quando vista sob a ótica dos pequenos produtores, que se organizam no Sindicato Interestadual das Indústrias Misturadoras e Envasilhadoras de Produtos Derivados de Petróleo (Simepetro), com 48 associados, e por mais cerca de 80 formuladores independentes, que compõem os 16% restantes do mercado total de lubrificantes. De acordo com o presidente do Simepetro, Carlos Ristum, em 2013 houve aumento de 11% nas vendas para o mercado de lubrificação industrial e de 9% para o automotivo.
O resultado, para Ristum, além de ter sido considerável, levando em conta o crescimento pífio do PIB, também é relevante em razão do momento de adaptação do setor à nova e exigente resolução da ANP, de número 18, de 2009, que vem fazendo as empresas investirem muito para se adequarem. A resolução obriga as empresas a adotarem várias medidas de segurança, investirem em tanques, equipamentos, laboratórios e em controle de qualidade. “O investimento, obrigatório para todos os produtores, afeta os pequenos e médios, que muitas vezes não têm capital para suportar. Muitos devem sucumbir no curto e médio prazo. A expectativa pessimista é que sobrem apenas 35 empresas e a otimista, por volta de 70”, afirmou Claudio Pereira da Silva, da Lubekem.
O presidente do Simepetro compartilha da impressão de que as importações de óleos básicos dos grupos 2, 3 e 4 vão crescer muito nos próximos anos. Primeiro por causa da oferta abundante e do preço baixo, mas também em razão do aumento de níveis de desempenho dos lubrificantes no Brasil e por causa da renovação de frota. Nesse sentido, a melhor qualificação dos envasadores e misturadores provocada pela ANP 18 deve auxiliar na produção de lubrificantes sofisticados, cooperando com o que os grandes produtores de lubrificantes já estão fazendo.
Incentivo dos aditivos – Outro sinal bastante significativo de que os lubrificantes de forma geral tendem a melhorar a qualidade, embora ainda deva continuar a existir mercado para produtos de mais baixo custo (principalmente em regiões mais pobres do país, com frota antiga, e no mercado de lubrificação industrial), é o posicionamento dos principais fornecedores de aditivos para lubrificantes – Chevron, Lubrizol, Infineum e Afton.
Atendendo à demanda principalmente da indústria automobilística, que percorre metas de economia de combustível e de maior durabilidade dos lubrificantes, as quatro empresas quando testam novos produtos para homologação nas organizações de registro não mais se arriscam a utilizar óleos básicos do grupo 1, cuja qualidade não permite atingir os padrões de desempenho, em viscosidade e poder antioxidante principalmente. “Os testes são caros (até US$ 4 milhões) e não vamos usar óleo muito viscoso e contaminado com o risco de reprovação aos padrões”, afirmou o gerente nacional de vendas da Afton, Claudio Lopes.
Segundo ele, hoje a indústria de aditivos, que no Brasil representa um volume médio de consumo de 100 mil t/ano para todas as aplicações (automotivas e industriais), também para homologação ANP segue esse padrão e, atualmente, toda ela se prepara para seguir novos índices de exigência de aditivação das normas ILSAC GF-6 para motores a gasolina e PC-11 para diesel, prometidas em um primeiro momento para 2015 e agora adiadas para 2017.
Esses movimentos, segundo Lopes, e a queda dos preços dos óleos grupos 2 e 3, fazem os fornecedores internalizarem alternativas mais sofisticadas de aditivos no Brasil. “Em volume, as vendas são menores, pois se usa em média 15% menos aditivos em um óleo melhor, mas os valores são maiores”, disse Lopes. Só não é possível ter margens maiores nesses novos fornecimentos, porque segundo ele o poder de barganha dos clientes é muito forte, por se tratarem de grupos grandes como Petrobras, Shell, Total e por aí vai.
O momento que se forma para os fornecedores de aditivos – cujos quatro citados são os únicos com portfólio para todas as áreas da lubrificação – virá de encontro à estratégia dos grandes produtores, que esperam mundialmente, segundo estudo recém-publicado pela consultoria Kline & Co., manter o crescimento de consumo dos aditivos em 2,2% ao ano entre 2012 e 2017, a um ritmo superior ao do projetado para o mercado de lubrificantes de 1,7%. Segundo a consultoria, o consumo de aditivos para lubrificantes, nessa projeção, passará de 4 milhões de toneladas para 4,5 milhões t. Em valores, esse consumo equivale a US$ 13,3 bilhões.
Para a consultoria, por categorias de funções, os aditivos com maior potencial de crescimento são, para começar, os antioxidantes, com taxa de 4,9% ao ano até 2017, seguidos pelos dispersantes com 3%, os modificadores de viscosidade com 2,5% e os inibidores de ponto de fluidez, com 2,4%. Ainda outros tipos de aditivos, como emulsificantes, detergentes e agentes antidesgaste, terão crescimento inferior de uso, abaixo de 2%. Informação também interessante do estudo dá conta de que apenas três tipos de aditivos – dispersantes, modificadores de viscosidade e detergentes – responderam por 70% de todo o consumo global desses insumos em 2012.

Ainda de acordo com a Kline, a maior parte dos aditivos estão sendo consumidos para produção dos óleos de motores de veículos pesados (HDMO), para caminhões, ônibus e tratores, responsáveis por 33% da demanda global. Em seguida, os óleos para motores de automóveis leves ficam com 27% do consumo e aditivos para outras aplicações automotivas (transmissão etc), com 7%. Fluidos metalúrgicos respondem por 14% da demanda total de aditivos e óleos para engrenagens industriais, com 13%.
O consumo global de lubrificantes, para a consultoria, foi de 39 milhões de toneladas em 2012, sendo que os segmentos de óleos para motores leves e pesados juntos respondem por 46% da demanda. O estudo revela, porém, que essas aplicações respondem por 60% das vendas de aditivos, porque são os lubrificantes que mais precisam ser modificados para atender diferentes exigências de qualidade ambiental e desempenho técnico.
Como maior consumidor dos aditivos, o mercado HDMO mereceu maior foco no estudo da consultoria norte-americana. Por tipos de aditivos, em torno de 38% do uso é de dispersantes, 26% são modificadores de viscosidade e 23%, detergentes. Além disso, agentes antidesgaste respondem por 8% das necessidades e antioxidantes, por 4%.
Mas em virtude de algumas mudanças importantes de regulação ambiental, que dizem respeito a maior rigor de emissões para veículos pesados e, em específico para exigir compatibilidade com o uso de biodiesel nos veículos, alguns aditivos podem começar a ganhar mais espaço. No caso do biodiesel, principalmente por causa de exigências europeias, há a tendência de maior consumo de antioxidantes, para lidar melhor com problemas de espessamento do óleo e contaminações possíveis e danosas aos motores por causa de acidez, por exemplo, contida no biodiesel.

Melhorias para HDMO – Serve como exemplo da importância do mercado para veículos pesados a atenção dada pela Total Lubrificantes a essas aplicações no Brasil, mercado-chave para a empresa de origem francesa por ser um país com forte vocação para a matriz rodoviária, onde ônibus e caminhões circulam em profusão pelas estradas.
A empresa, que conta com a família de lubrificantes Rubia, que possui produtos de entrada, intermediários e tops de linha para HDMO, pretende no segundo semestre, segundo revelou o gerente técnico Marcelo Beltran, lançar lubrificante sintético 10W40, feito com óleo do grupo 3 e aditivação especial. “Apesar de início representar um volume baixo, vamos lançar porque sabemos que alguns caminhões novos sairão de fábrica com essa recomendação”, disse. A Total produz sintéticos com formulações à base de grupo 3 para veículos leves, mas até então esse mercado no Brasil ainda não havia chegado para os pesados, ainda muito conservador.
Para Beltran, no país, a família Rubia começa com o lubrificante S40, monoviscoso, que não tem bom desempenho com temperatura a frio, feito com óleo grupo 1 e aditivação API CF. “Ele só é mantido porque há demanda em estados mais pobres e com frota antiga, ou seja, por ser barato”, disse. Depois disso, entram produtos um pouco melhores, o Rubia Classic 15W40, ainda feito com grupo 1, mas com a vantagem de ser mutiviscoso, lubrificando o motor na partida a frio.
Após esses entram os lubrificantes intermediários, o Rubia 4400 15W40, com especificação superior API CG-4, também com óleo mineral grupo 1, com aditivação que segue a homologação europeia ACEA-E2. “Ele tem melhor estabilidade na viscosidade, com aditivos de melhoria IV, antidesgaste e ótimo nível de detergente, não acumulando borras e lacas no motor”, disse Beltran.
Por fim, entram os produtos tops de linha, como os Rubia TIR 7400 15W40, que segue especificação APICI-4 e a norma europeia ACE –E7/E5, que atende caminhões que usam o novo sistema ARLA 32, reservatório com ureia sintética e água desmineralizada cujo conteúdo é borrifado no escapamento entre o motor e catalisador para reagir com NOx (óxidos de nitrogênio) e assim gerar água e nitrogênio, combatendo as emissões do poluente. O lubrificante, também de grupo 1, conta com aditivação especial e é homologado pelas principais fabricantes de caminhões e motores.
Um outro produto top, com óleo mineral grupo 2, segue as especificações API CJ-4 e ACEA E9/E7, consideradas as mais exigentes para veículos pesados, segundo Marcelo Beltran. “Esse lubrificante também tem a vantagem de evitar os malefícios da parte do biodiesel que contém sebo animal, que pode entupir os filtros de lubrificantes e de combustível. O sebo pode promover diluição do diesel e contaminar o reservatório de óleo. Os aditivos antioxidantes e detergentes da formulação evitam isso”, disse. Dos 10% de biodiesel adicionados no diesel, 14% tem origem animal.

Os lubrificantes da Total são produzidos em sua fábrica em Pindamonhangaba-SP, que aliás passa por investimento de R$ 15 milhões para dobrar sua capacidade de produção até 2015. A expectativa é ampliar toda sua linha, com produtos também baseados em óleos semissintéticos feitos com misturas entre grupos 1 ou 2 com os 3 e 4 e também os inteiramente sintéticos (3 e 4). Outra aposta é usar mais óleos rerrefinados do grupo 2, recentemente disponíveis no Brasil por iniciativa da Lwart, de Lençóis Paulista-SP, e da Proluminas, de Varginha-MG. “Os dois estão sendo testados no laboratório da matriz na França para poderem ser em breve utilizados na produção”, disse Beltran.
Rerrefinado grupo 2 – Desde novembro de 2012, entrou em operação em Lençóis Paulista-SP a primeira fábrica de óleo rerrefinado do grupo 2 do país, da Lwart Lubrificantes, fruto de investimento de R$ 230 milhões. Com tecnologia da norte-americana CEP, a fábrica opera em duas etapas a partir de óleos usados: a primeira é a etapa de desasfaltamento, por evaporação pelicular, para retirada de contaminantes e a segunda é o hidrotratamento, com hidrogênio a 105 bar de pressão, que quebra os componentes aromáticos, deixando as frações parafínicas. Tal processo dá origem a um óleo básico grupo 2 igual ao virgem, segundo os técnicos.

De acordo com o diretor da Lwart, Thiago Trecenti, a capacidade da unidade é para 180 milhões de litros e neste primeiro ano foram processados 150 milhões de litros (80 milhões do grupo 1, incluindo os da produção em unidade de Feira de Santana-BA), a partir da coleta de 154 milhões de litros de óleo usado, em concessionárias, oficinas, postos de combustíveis, fazendas, indústrias transportadoras de minérios etc.
Para ocupar mais a capacidade, que o diretor pretende aumentar em 12% neste ano, o investimento será em aumento de captação de óleo usado, considerado o gargalo da operação. “Após três anos de investimentos em ativos, a expectativa para 2014 é ganhar eficiência sem precisar novos caminhões de coleta, apenas avaliando as regiões e linhas de captação para extrair ao máximo o potencial de cada local. A esperança é crescer mais no Nordeste e Centro-Oeste, onde nos últimos anos destinamos o maior volume de recursos”, disse Trecenti. Com Feira de Santana-BA, o grupo totaliza 250 milhões de t/ano de capacidade total produtiva.
O gargalo na coleta, embora pareça englobar apenas o Nordeste e Centro-Oeste, também tem origem no ocorrido nas regiões Sudeste e Sul, Nesses casos, porém, o problema é outro. Mesmo que nesses locais haja um maior contingente de empresas autorizadas realizando a coleta, o que pode causar a impressão de haver uma destinação correta dos óleos, a falta de fiscalização favorece o aumento de coletores clandestinos. “Em virtude de essas regiões gerarem maior volume de lubrificantes usados, tornam-se alvo preferencial dos infratores”, alertou Trecenti. Não custa lembrar que um litro de óleo contamina um milhão de litros de água, o que ocorre com essa ação ilegal.
Além de ter a vantagem ambiental, o óleo do grupo 2 rerrefinado é considerado de mesma qualidade do virgem, por causa do hidrocraqueamento, que quebras as moléculas dos contaminantes, removendo enxofre e aumentando a saturação. De acordo com Trecenti, o óleo grupo 2 da Lwart está com preço competitivo com o importado virgem. A planta da empresa é uma das dez com mesma tecnologia no mundo e tornou o Brasil o maior produtor do hemisfério sul de óleo rerrefinado grupo 2.