Nutrição Animal: Prioridade ao aumento da eficiência produtiva

Insumos caros e exigências ambientais dão prioridade ao aumento da eficiência produtiva

Os fabricantes de rações para nutrição animal estão diante do desafio de enfrentar os efeitos dos problemas climáticos e do encarecimento das importações.

Em um cenário cujo pano de fundo é o aumento da inflação, em meio, ainda, à pandemia do novo coronavírus, o segmento pet celebra um desempenho muito acima da média.

“A indústria de alimentação animal é bastante dependente do suprimento externo, já que importa praticamente a totalidade dos aditivos nutricionais, zootécnicos e tecnológicos. A produção doméstica tem se concentrado na biossíntese de fermentação (leveduras, probióticos, pré-bioticos e outros). Calcula-se que são importadas, aproximadamente, 400 mil toneladas dos aditivos por ano”, declara o CEO do Sindicato Nacional da Indústria de Alimentação Animal (Sindirações), Ariovaldo Zani.

Considerando que a indústria brasileira é modulada pelo desempenho da pecuária (mercado interno e exportação da proteína animal) e que não se vislumbram, a curto prazo, quaisquer investimentos em parque industrial para síntese química, Zani é categórico:

“A tendência é aumentar a dependência externa”.

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    Nutrição Animal - Prioridade ao aumento da eficiência produtiva ©QD Foto: iStockPhoto
    Ariovaldo Zani, CEO do Sindicato Nacional da Indústria de Alimentação Animal (Sindirações)

    “O câmbio desvalorizado atrapalha bastante, porque a cadeia produtiva é muito dependente das importações de vitaminas, aminoácidos, enzimas, etc. O custo do frete marítimo é estratosférico e há escassez de contêineres para transporte das mercadorias globalmente”, acrescenta.

    A título de ilustração, ele conta que, no segundo semestre de 2021, para importar aditivos da China, pagou-se pelo frete de um conteiner de 20 pés até seis vezes mais em dólares do que tradicionalmente.

    E, no caso das mercadorias menos valiosas, a despesa representou mais da metade do valor delas.

    “Apesar do esforço para desembolso do montante abusivo, muitos importadores e embarcadores não conseguiram concluir as transações e abastecer os respectivos clientes por causa da forte disputa com outros demandadores e porque faltavam conteineres para acomodação das cargas”, protesta.

    Além disso, continua, “a parada forçada ou mesmo a diminuição do ritmo das fábricas por racionamento no abastecimento ou até falta de energia, causados pelo compromisso firmado para intensificar a transição da matriz energética de origem fóssil para renovável (fotovoltaica, eólica, hidrogênio verde), e a política sanitária chinesa de tolerância zero para prevenção da transmissão do vírus, constituem outros fatores que continuam inflacionando os custos da alimentação animal e, consequentemente, da proteína animal produzida”.

    Como se não bastassem esses obstáculos, a “adversa intensidade” do fenômeno La Niña, no Brasil, “comprometeu a produtividade das lavouras de soja e do milho da safra de verão, além das forrageiras que abastecem rebanhos a pasto ou em regime de confinamento e semiconfinamento”, afirma o CEO do Sindirações.

    Zani lembra que a previsão inicial era colher 145 milhões de t de soja. No entanto, a estimativa mais recente alcança pouco mais de 125 milhões de t.

    “A estiagem avassaladora no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, que se estendeu, inclusive, pelo Mato Grosso do Sul, continua prejudicando a cadeia produtiva de aves, suínos, bovinos, organismos aquáticos e também os fabricantes de alimentos para animais de companhia/pet food”, relata.

    Por tudo isso, adverte: “O cenário atual revela posicionamento de preço mais elevado para os grãos, o que acaba por inflacionar o varejo alimentar”.

    Embora sem dispor ainda dos números finais de 2021, o Sindirações admite que o desempenho da produção de rações e sal animal foi positivo, totalizando 85 milhões de t, o que representa um crescimento estimado de 4%.

    “O resultado confirma o bom desempenho do agronegócio e praticamente repete o desempenho de 2020, quando se registrou aumento de 5% e produção total de 81,5 milhões de t”, assinala o executivo.

    Fazendo as contas, a evolução pode ter sido assim: rações para suínos, 5%; frangos de corte, 3,5%; e poedeiras, 0,5%.

    As previsões apontam também para um avanço de 4,5% na alimentação de bovinos de corte e estabilidade nas rações para o rebanho leiteiro.

    Guerra – Desde que a Rússia invadiu a Ucrânia, no dia 24 de fevereiro, o mundo vive sob incertezas adicionais.

    “A amplitude e a duração das punições aplicadas à Rússia prejudicarão a dinâmica da economia mundial, dada a volatilidade dos preços, o incremento da inflação e o reduzido crescimento no curto prazo”, vaticina Zani.

    Não se descarta “a possível debilidade das cadeias globais de suprimento e o enfraquecimento dos mercados financeiros integrados no longo prazo”.

    “A destruição de oleodutos e o fechamento dos portos de ambos os países aprofunda também a atual crise logística, porque interrompe o fluxo de boa parte das indispensáveis e insubstituíveis commodities energéticas e alimentares. Vale lembrar que a Rússia é a principal exportadora global de gás natural e a segunda de petróleo; quando somada à Ucrânia, responde por 29% das transações internacionais do trigo e 19% das do milho; enquanto que o seu aliado geopolítico, Belarus, abastece praticamente 20% da demanda global de potássio”, explica.

    Por outro lado, o agronegócio brasileiro tem posição de destaque no comércio internacional, com robusto desempenho exportador, apoiado nos embarques de grãos e outros gêneros agrícolas, cuja produtividade é garantida pela aplicação nas lavouras de, aproximadamente, 40 milhões de t de fertilizantes importados (nitrogenados, fosfatados e potássicos), além dos produtos defensivos.

    Igualmente para a proteína animal, os recordes embarcados advêm de vantagens competitivas (preço e qualidade) que são moduladas, tanto pelo custo, quanto pela disponibilidade de milho, farelo de soja e derivados de trigo que alimentam os planteis de aves, suínos e bovinos.

    Em tempos de aquecimento planetário, outro revés é a emissão crescente de metano pelos ruminantes. A percepção de Zani “é que a disposição de políticas climáticas agrícolas mais ambiciosas acaba colidindo com o protecionismo e os pesados subsídios aos produtores dos países desenvolvidos, e até diverge da função-chave para atingimento das metas de nutrição, do desenvolvimento rural e da redução da pobreza nos países em desenvolvimento”.

    “O metano pode até parecer um coadjuvante como alvo da mitigação, dado o protagonismo do dióxido de carbono, que persiste na atmosfera por muitos séculos e até milênios, acumulando-se ao longo do tempo. Ao contrário, o metano tem vida atmosférica de, aproximadamente, 12 anos, ou seja, as suas emissões não resultarão em aquecimento adicional, e mesmo reduções modestas serão capazes de promover a neutralidade”.

    Nessa linha de raciocínio, ele enfatiza que a intensidade da emissão do metano proveniente da fermentação ruminal pode variar quantitativa e qualitativamente, conforme a extensão do ciclo de produção (redução da idade de abate, intervalo entre partos, regime extensivo ou confinamento) e do tipo e digestibilidade do alimento consumido (pastagens, silagens, concentrados), respectivamente.

    “Além das tradicionais estratégias nutricionais com influência direta na fermentação e baseadas nos ionóforos, probióticos, leveduras, óleos essenciais, gorduras insaturadas e outros, a manipulação da microbiota ruminal por determinado composto químico capaz de inibir os microorganismos metanogênicos e reduzir em até 30% a emissão relativa do metano, tem se revelado inovação bastante promissora”, opina.

    Mas, ressalva: “é oportuno, contudo, avaliar criteriosamente quanto de metano tem de ser reduzido pela pecuária para cumprimento da meta firmada ainda no Acordo de Paris, e quais tecnologias de potencialização ofertadas são mais ajustadas aos sistemas pecuários e à capacidade de absorção por parte da demanda, sob pena de sofrer efeitos indesejáveis, a exemplo do que tem havido com a célere transição energética (combustíveis fósseis para alternativos) e seu impulso inflacionário, mais associado ao choque negativo de oferta do que ao choque positivo da demanda”.

    Mundo mutante – Até há pouco tempo, o ambiente global parecia relativamente pouco afetado pelas adversidades de qualquer natureza, sublinha Zani. Esta circunstância permitiu otimizar a capacidade fabril. Impulsionada pelo fenômeno das cadeias globais de valor, resultou na adoção generalizada da gestão nos estoques para abastecimento just in time, dependente de uma debilitada rede de navios projetada para permanecer sincronizada à capacidade dos modais marítimos/fluviais, ferroviários e rodoviários.

    A realidade, entretanto, é que esse consagrado modelo “parece ter falhado frente às intercorrências determinadas pela pandemia da Covid-19 e pelas agruras desse cenário contemporâneo, caracterizado pela demanda imprevisível, bloqueios intermitentes na produção e no trânsito de mercadorias, terminais portuários ociosos e, sobretudo, escassez de contêineres, que levaram o preço do frete a patamares proibitivos, já que o controle do setor de transporte marítimo global está concentrado em poucos armadores que cooperam entre si, tanto no compartilhamento dos navios como nas rotas”.

    O Sindirações se posiciona como “aliado daqueles que têm buscado dinamizar e aumentar a área plantada dos cereais de inverno (trigo, triticale, sorgo, aveia e centeio), culturas que podem se somar ao milho e à soja, e incentiva a discussão da viabilidade e as possíveis alternativas em oferecer incentivos para atração de investimentos voltados à síntese local de insumos químicos e incremento no parque industrial já instalado de biossíntese fermentativa, atividades especializadas e caracterizadas por grande conteúdo tecnológico e de alta agregação de valor”, arremata Zani.

    Empresas – A pandemia da Covid-19 afetou as atividades econômicas e sociais desde que surgiu, no final de 2019. A experiência traumática trouxe, entretanto, algumas coisas positivas.

    A convivência forçada e, muitas vezes, isolada nas casas, mudou hábitos. E os animais de estimação ganharam um espaço maior na vida das pessoas. O mercado pet agradece e o segmento de nutrição animal se expande e desenvolve novos projetos.

    “O ano de 2021 foi excelente para a Metachem no mercado feed. Crescemos em volume de vendas e faturamento e aumentamos a base de clientes e de produtos”, comemora o sócio-diretor Nicodemo Petroni.

    “O mercado pet cresceu, realmente, 8%, em 2021, e houve um aumento substancial de adoções de animais. É importante comentar que este setor pode ter maior crescimento, caso se consiga uma legislação tributária mais adequada à alimentação animal”.

    Petroni manifesta contentamento com as perspectivas positivas para 2022: “Continuamos muito otimistas. A meta é crescer 15% em faturamento sobre o ano anterior”.

    O entusiasmo é compartilhado por Jéssica Sigrist, da área de marketing regional de ingredientes de performance para nutrição animal da Basf:

    Nutrição Animal - Prioridade ao aumento da eficiência produtiva ©QD Foto: iStockPhoto
    Jéssica Sigrist, da área de marketing regional de ingredientes de performance para nutrição animal da Basf

    “Houve um aumento expressivo na adoção de pets durante a pandemia. Há ONGs que registraram um aumento de mais 50% na procura por cães e gatos no período de quarentena”.

    Este segmento de mercado brasileiro é hoje o segundo maior do mundo e um dos que mais cresce em relação a outros países, ressalta Jéssica.

    Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação (Abinpet), registrou-se um crescimento de 24% entre 2019 e 2020.

    Apesar desse crescimento acentuado, acredita-se que ainda há muito espaço para novas marcas e pequenas empresas regionais.

    Existe uma grande tendência pela especialização dos produtos às diferentes necessidades dos pets, o que abre caminho para diversos nichos.

    “Temos estudado estes nichos e aplicações e estamos preparados para apoiar todos os perfis de clientes, novos ou experientes a dar o próximo passo”, anuncia Jéssica.

    O portfólio da Basf abrange vitaminas, carotenoides e outros aditivos, tais como oligoelementos, enzimas como Natugrain TS e Natuphos E, e ácidos orgânicos. Já os glicinatos, microminerais como cobre, ferro, manganês e zinco, têm alta biodisponibilidade, reduzindo a excreção desses elementos no solo.

    “Hoje, a ração é o fator dominante no impacto ambiental total da produção animal. Ao trabalhar na formulação de rações, pode-se influenciar positivamente, direta ou indiretamente, até 80% da pegada ambiental total, uma vez que o esterco e a excreção de nutrientes estão intimamente relacionados à dieta”, destaca a especialista.

    “Para o mercado pet, nossos ingredientes têm a função de fortificar as rações, garantindo os requisitos de saúde com vitaminas, ômega-3 e carotenoides. Vale reforçar que a Basf oferece matérias-primas de origem sustentável, que são amigas do meio ambiente”, salienta.

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      Novidades – Jéssica revela que há alguns lançamentos programados para este ano, como uma nova enzima mananase e o BalanGut, uma solução sustentável que promove o equilíbrio intestinal e a boa saúde de aves e suínos.

      Outra novidade recente são os recursos tecnológicos para o desenvolvimento sustentável do manejo, alinhado ao importante movimento de digitalização do setor.

      A solução digital Opteinics (Optimizing Protein Analytics ou Otimização da Análise de Proteínas), por exemplo, permite aos produtores de ração e pecuaristas avaliar e melhorar seu impacto ambiental, diretamente na fase de formulação da ração.

      A ferramenta é usada em combinação com Bestmix, uma das soluções mais renomadas mundialmente em software de formulação de ração, de acordo com a porta-voz.

      A partir dessa associação é possível que o nutricionista ou o formulador do alimento avalie e diminua o impacto ambiental, equilibrando a criação da ração em termos de nutrição e custo.

      Nutrição Animal - Prioridade ao aumento da eficiência produtiva ©QD Foto: iStockPhoto
      Elevação dos custos poderá reduzir exportação de carnes

      Também contribui para que a indústria de ração aumente a eficiência e, ao mesmo tempo, reduza o impacto ambiental, sem a necessidade de estudos de consultoria demorados.

      Outra ferramenta digital é o Cloudfarms, um software de gestão pecuária, rastreabilidade e agricultura de precisão com foco na produção de suínos.

      Focada no segmento pet, a Metachem nutre planos de expansão do seu portfólio de produtos ainda para este ano.

      O sócio diretor informa que a empresa está aguardando aprovação de registro/cadastro de vários produtos que se encontram no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.

      E os projetos não param por aí. Petroni antecipa: “Estamos fazendo investimentos da ordem de R$ 2 milhões na fábrica de aditivos para nutrição animal, que deverá estar operativa em meados de 2023.”

      A unidade ficará em uma área de 1.200 m2, nas instalações de Itupeva-SP, e terá capacidade produtiva de 6 t/h. Vai gerar cinco empregos diretos e a linha de produtos será de aditivos zootécnicos.

      A Basf não possui, por enquanto, investimentos programados para a região.

      Mas Jéssica faz questão de frisar que a companhia é pioneira no campo das enzimas na nutrição animal há mais de 30 anos e pretende seguir como parceiro estratégico, oferecendo soluções para a melhor utilização dos nutrientes e promover a qualidade e sustentabilidade – inclusive do ponto de vista de negócio – na produção de proteína animal.

      Petroni conclui dizendo que o mercado brasileiro de nutrição animal é muito dinâmico e cresce consistentemente.

      O objetivo da Metachem é participar com especialidades exclusivas, quer de produção própria, quer de parceiros comerciais.

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