Vencedor do Prêmio Nobel de Química em 2016, Sir J. Fraser Stoddart, encerra o Seminário Abiquim de Tecnologia e Inovação

Química e Derivados, Vencedor do Prêmio Nobel de Química em 2016, Sir J. Fraser Stoddart, encerra o Seminário Abiquim de Tecnologia e Inovação
A partir da esquerda: Luiz Catalani (USP), Marcos De Marchi (Abiquim), Sir J. Fraser Stoddart (Prêmio Nobel de Química 2016), Aldo Zarbin (SBQ) e Fernando Figueiredo (Abiquim)

Evento debateu o trabalho em conjunto entre a indústria e a academia, formas de financiamento e o papel da tecnologia para a criação de inovações que permitam o desenvolvimento sustentável

O prêmio Nobel de Química de 2016, Sir J. Fraser Stoddart, encerrou a programação do 4º Seminário Abiquim de Tecnologia e Inovação realizado pela associação nos dias 12 e 13 de julho, na capital paulista. O seminário fez parte da programação do 46º Congresso Mundial de Química, principal evento científico da Química, que aconteceu pela primeira vez na América do Sul, de 9 a 14 de julho, e foi organizado pela União Internacional de Química Pura e Aplicada (Iupac) e pela Sociedade Brasileira de Química (SBQ).

Também participaram da sessão de encerramento o presidente do Conselho Diretor da Abiquim e diretor-presidente da Elekeiroz, Marcos De Marchi, e o presidente da Sociedade Brasileira de Química (SBQ) e professor do Departamento de Química da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Aldo Zarbin. Os três destacaram em suas apresentações a importância de promover o relacionamento entre a indústria e a academia visando o desenvolvimento de inovações.

Sir J. Fraser Stoddart afirmou que é preciso ter coragem e fazer escolhas que podem dar novas perspectivas à carreira. Ele contou que seu relacionamento com a indústria aconteceu pela primeira vez de 1978 a 1981, quando tirou um período sabático de três anos do mundo acadêmico. “Acho que todos da academia e da indústria deveriam fazer isso como forma de ampliar seu conhecimento, foi uma experiência transformadora, pois brilhantes cientistas trabalhavam na indústria. É necessário ter coragem para fazer coisas que não haviam sido feitas anteriormente. Isso dá uma perspectiva para a carreira”.

Ele destacou que sua mudança para os Estados Unidos na década de 1990 lhe possibilitou entrar em contato com empresas norte-americanas que deram suporte a sua pesquisa, lembrou. Após uma vida acadêmica premiada, seu novo desafio são duas startups: a Clycladex, que desenvolveu uma tecnologia para extração de ouro de forma mais sustentável, sem o uso de mercúrio e cianeto; e a PanaceaNano, que, por meio da nanotecnologia, desenvolve soluções nas áreas de energia, nanoeletrônica, nanobiotecnologia e nanomateriais.

O presidente do Conselho Diretor da Abiquim e diretor-presidente da Elekeiroz, Marcos De Marchi, afirmou que a Abiquim ficou honrada de ser a co-organizadora do Congresso Mundial de Química, atendendo ao convite da SBQ. “Estou convicto que a inovação na química depende da parceria entre academia e indústria e temos que chegar a uma relação mais próxima. Este evento é um excelente começo e sinal de que estamos na direção certa. Temos em comum a busca pela pesquisa e inovação no Brasil, que tornará a química nacional uma das mais brilhantes nos próximos anos, aumentando a produção científica e tecnológica, tornando nossas empresas as mais competitivas do mercado, gerando mais empregos e benefícios para a sociedade brasileira”.

O presidente da Sociedade Brasileira de Química (SBQ), professor Aldo Zarbin, disse que o evento uniu a indústria química e academia, e que esta aproximação vem ocorrendo nos últimos anos. “Isso é um sinal de que estamos enxergando as coisas como elas devem ser. A academia (universidades brasileiras) produz mais que 2% de toda a ciência química produzida no mundo, somos o 15º país em produção de artigos acadêmicos em química, com uma inclinação da curva muito positiva, o número de publicações na área química no Brasil cresce mais que a média mundial. A oitava maior indústria química do mundo e uma academia como essa não podem ficar separadas e a SBQ é responsável por fazer essa ligação. Nossos laços estão cada vez mais estreitos”, afirmou.

Durante a abertura do Seminário Abiquim de Tecnologia e Inovação, o presidente-executivo da Abiquim, Fernando Figueiredo, ressaltou que o Brasil possui vocação natural para ter ainda mais destaque entre as maiores indústrias do mundo, criando valor e desenvolvimento para o setor químico e demais setores industriais, gerando novos empregos e mais riqueza para o povo. Figueiredo afirmou que é necessário discutir como alavancar os investimentos em inovação no País. “O seminário foi criado há alguns anos, pois acreditamos que as soluções tecnológicas em seus processos e produtos tornarão a química a ciência que mais irá contribuir nas soluções das grandes demandas deste século”, concluiu.

O seminário contou com quatro painéis: ‘Soluções Tecnológicas da Química para o Setor de Óleo & Gás’, ‘Desafios da Biotecnologia Industrial no Brasil’, ‘O Setor Químico e a Indústria 4.0’ e ‘Venture Capital como Mecanismo de Fomento à Inovação’.
Petróleo e biomassa como fontes de matéria-prima

No painel ‘Soluções Tecnológicas da Química para o Setor de Óleo & Gás’, o engenheiro químico da Petrobras, Rodrigo Pio, lembrou que não existe produção de óleo e gás sem produtos e tecnologia química. Ele apresentou uma inovação desenvolvida em parceria com a Braskem, que usa o isopropilbenzeno (cumeno) com adição de biodiesel para a remoção dos depósitos orgânicos de poços de petróleo e seus acessórios que promovem a elevação do petróleo.

O professor do Instituto de Energia e Ambiente (IEE), da Universidade de São Paulo (USP), Edmilson Moutinho, fez uma análise sobre a atual matriz energética brasileira. Segundo Moutinho, o pré-sal já representa cerca de 50% da produção de óleo e gás no Brasil. “O óleo e o gás ocuparão um grande papel na matriz energética. O pré-sal é um motor de demanda para as inovações da indústria química”, avaliou.

A cientista de Pesquisa e Desenvolvimento da Oxiteno, Jaqueline Martins de Paulo, destacou que a empresa tem quatro centros de pesquisa no mundo, sendo que um deles está localizado em Mauá. A empresa também tem parcerias com universidades para o desenvolvimento de inovações. Jaqueline apresentou o projeto desenvolvido em parceria com a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e a Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii) para a formulação de emulsões, por meio de um modelo termo dinâmico, que diminui o número de testes para o desenvolvimento do produto.

O chefe de Serviços Técnicos da Clariant para América Latina, Antonio Pedro Oliveira Filho, explicou que mais de 90% da produção de petróleo no Brasil ocorre no offshore. A necessidade de entregar produtos no tempo e na embalagem correta geraram o desenvolvimento da tecnologia Veritrax, sistema de gerenciamento de dados e de entrega de matérias-primas que permite o monitoramento remoto dos campos e desenvolvida pela empresa nos Estados Unidos. “Essa tecnologia permite monitorar os tanques em campos remotos, essas informações são enviadas por transmissão sem fio para um sistema de armazenamento na nuvem e ela possibilita controlar remotamente a dosagem do material utilizado para fazer o tratamento e a produção no poço de petróleo”.

O gerente de Desenvolvimento de Negócios do setor de Óleo & Gás da Solvay, Eder Torres, contou sobre dois produtos renovados para atender às demandas das extrações no pré-sal. O Solef PVDF, usado em risers e umbilicais (tubulações usadas em poços de petróleo) para evitar que os fluídos sejam permeados para as camadas mais externas, o que pode causar corrosão, passou por uma renovação feita para aguentar alta temperatura, pressão e salinidade. E as novas formulações para o THPS, biocida usado para conter a corrosão, permitem que seja usado de forma contínua.

“A tecnologia também auxilia as empresas a desenvolverem produtos de acordo com as necessidades dos clientes” contou o gerente de Pesquisa & Desenvolvimento da Dow para América Latina, Fabio Zanetti. Ele explicou que os poços de petróleo são diferentes entre si e por essa razão foi criado um software para ajudar no desenvolvimento de emulsificantes de acordo com a necessidade de cada poço. A moderação do painel foi feita pelo coordenador da Comissão de Tecnologia da Abiquim e gerente executivo de Inovação e Engenharia da Elekeiroz, Rafael Pellicciotta.

No painel ‘Desafios da Biotecnologia Industrial no Brasil’ a gerente da American Chemical Society (ACS) no Brasil, Denise Ferreira, apresentou o trabalho desenvolvido pelo Chemical Abstracts Service (CAS), uma divisão da ACS, que detêm a maior base de dados do mundo de trabalhos científicos e patentes industriais de química. Segundo ela, o Brasil é apenas o 47º colocado em um ranking, desenvolvido pela Scientific American World View, com os países mais importantes na área de biotecnologia, que tem como critérios: a propriedade intelectual, a quantidade de investimentos em P&D, a disponibilidade de capital de risco e suporte, força de trabalho e empreendedorismo, além da presença de fundações ou associações que incentivem a biotecnologia.

Em sua apresentação, o diretor de Pesquisa e Inovação da Solvay, Gabriel Gorescu, explicou que a companhia desenvolveu um indicador para medir a porcentagem de produtos sustentáveis vendidos, o índice está em 43% e a meta da empresa é chegar a 50% em oito anos. Ele lembrou que o principal concorrente dos bioquímicos como fonte de energia e matéria-prima ainda é o petróleo. “Quando ele está barato, o investimento em biomassa diminui e seu desenvolvimento se torna dependente da visão da companhia”.

O diretor executivo de Saúde, Segurança e Regulatórios da Amyris, Giani Valent, contou como a empresa de origem americana usa a biologia sintética para sintetizar produtos encontrados em plantas, animais ou no petróleo, usando fontes sustentáveis e biotecnologia para transformar a cadeia de carbono. Suas principais aplicações são as áreas de saúde e bem-estar, compostos orgânicos e materiais de alta performance. “Dessa forma é possível ter um produto mais estável e com características que possam ser repetidas”.

O presidente executivo da ABBI, Bernardo Silva, afirmou que o Brasil precisará de 120 biorrefinarias para atender aos compromissos do País com o Acordo de Paris. Silva ainda lembrou que é necessário estimular a demanda por produtos de baixo carbono. “O Brasil está defasado na bioeconomia em relação à regulação, nível de pesquisa e produção, mas temos a biomassa com o preço mais competitivo no mundo”. O painel foi moderado pelo gerente do Instituto Senai de Inovação em Biossintéticos, Paulo Coutinho.Ferramentas e formas de investimento para a promoção da inovação

No segundo dia do Seminário foi realizado o painel ‘O Setor Químico e a Indústria 4.0’. O professor e doutor da Sociedade de Engenharia Química e Biotecnologia da Alemanha (Dechema), Willie Meier, afirmou que o desenvolvimento e barateamento da tecnologia permitirão o desenvolvimento da Indústria 4.0. “Até 2045 os computadores vão superar a capacidade humana e o barateamento dos chips, que custarão centavos, possibilitará coloca-los em objetos como garrafas, por exemplo”.

Para o vice-presidente de Serviços Técnicos da Basf para América do Sul, Willi Nass, a indústria química não foi a pioneira na Indústria 4.0, mas atualmente ela já aplica seus princípios como a análise de dados e tecnologias digitais. Nass apresentou como caso prático do centro de manutenção preventiva da Basf, na Alemanha, que recebe informações online de suas plantas industriais, o que permite comparar os dados das plantas da companhia ao redor do mundo, que geram procedimentos preventivos que trazem uma significativa economia e estabilidade e previsibilidade nas unidades operacionais.

Em sua apresentação, o gerente de inovação em produtos da Nalco, empresa da Ecolab, Juan Carlos Escobar, apresentou o conceito Nalco Water Automation, que envolve automação industrial, sistemas para o monitoramento de água, monitoramento e suporte remoto, coleta e análise de grande quantidade de dados. Por meio da tecnologia 3D Trasar, serviço remoto que monitora informações sobre a qualidade dos sistemas de água em uma planta comercial e a empresa é capaz de detectar variações e realizar ações para evitar falhas automaticamente, o que gera mais economia de água e reduz a necessidade de manutenção.

O consultor da IBM Brasil para a indústria química, Luis Arouche, concorda que o barateamento da tecnologia possibilitará o desenvolvimento da Indústria 4.0. Em sua apresentação mostrou como a realidade aumentada já ajuda funcionários na manutenção de equipamentos ao fornecer informações sobre o que foi feito na última manutenção, na tela de um tablete. A moderação do painel foi do diretor executivo da VDI-Brasil (Associação de Engenheiros Brasil – Alemanha), Johannes Klingberg.

Já no painel ‘Venture Capital como Mecanismo de Fomento à Inovação’, a gerente executiva da Associação Brasileira de Private Equity e Venture Capital (ABVCAP), Ângela Ximenes, explicou como funcionam o private equity e o venture capital. “São investimentos privados com contrato de duração de cerca 10 de anos, destinados a empresas em fase de crescimento, que já tenham faturamento e situação estável no mercado. Após o período de contrato o fundo vende sua participação”.

O gerente de portfólio da gestora Inseed Investimentos, Jairo Margatho, explicou o funcionamento dos fundos de investimento desenvolvidos pela gestora e seu papel para fomentar as empresas que recebem o apoio. “As fomentadoras são importantes para auxiliar as empresas a saltarem do estado de pioneirismo”.

Na avaliação do gerente de Marketing Digital da Basf na América Latina, Almir Araújo, as grandes empresas também podem fomentar o desenvolvimento de startups. Segundo ele um dos principais desafios do mundo será produzir alimentos suficientes para alimentar 9 bilhões de pessoas em 2050. Ele ainda contou como funciona o programa de aceleração da Basf, AgroStart, que incentiva o desenvolvimento de startups capazes de gerar melhores ferramentas para a previsão do tempo ou para o diagnóstico de plantações.

O painel também trouxe duas startups: a Oxi Ambiental, que usa processos químicos para a descontaminação de ambientes e foi representada pelo CEO, Juliano Andrade; e a I.Systems, que desenvolve softwares inteligentes e autônomos, representada pelo diretor Igor Santiago. O painel foi moderado pelo gerente de Gestão da Inovação e Conhecimento da Braskem e vice-coordenador da Comissão Temática de Tecnologia da Abiquim, Rafael Fabra Navarro.

O seminário também contou com quatro palestras. A diretora do Instituto Senai de Inovação (ISI) Biomassa, Carolina Andrade, fez a apresentação “Tecnologias de conversão de biomassa para combustíveis, produtos químicos e materiais”, na qual ela explicou que os Institutos Senai de Inovação foram desenvolvidos para atuarem em parceria com as indústrias para o desenvolvimento de inovações. Carolina também detalhou a infraestrutura e as áreas de atuação do ISI Biomassa, incluindo o desenvolvimento de materiais de valor agregado usando a biomassa.

O ‘Status da Regulamentação do Novo Marco Legal de C, T&I’, foi apresentado pela advogada Natalia Rebello, vice-líder do Grupo de Trabalho Marco Legal da Associação Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento das Empresas Inovadoras (Anpei). Natalia explicou o trabalho desenvolvido pela associação em prol da inovação tecnológica e detalhou o histórico do Marco Legal de C,T&I que, mesmo com vetos, foi celebrado por atender a anseios da comunidade acadêmica e empresas.

A coordenadora de Planejamento da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii), Ana Arroio, fez a apresentação ‘Embrapii – Apoiando a Inovação na sua Empresa’, na qual ela informou como a Embrapii realiza chamadas públicas para credenciar unidades, que podem ser universidades, centros ou institutos de pesquisa, com capacidade técnica em determinadas áreas do conhecimento. Essas unidades recebem recursos financeiros para trabalharem em parceria com empresas no desenvolvimento de projetos em fase pré-competitiva. Os custos dos projetos desenvolvidos são compartilhados entre a Embrapii, a unidade credenciada e a empresa beneficiada.

Na palestra ‘Tecnologia e Inovação para Superar Desafios Globais e Escassez de Água’, o vice-presidente e gerente geral da Ecolab, Luis Gustavo Pereira, apresentou as tecnologias desenvolvidas pela Nalco para o monitoramento de recursos hídricos e destacou que a empresa inaugurou o Nalco Water University, em Chicago, dedicado a treinar colaboradores e clientes a reduzir o consumo, fazer o reúso e reciclar a água. O executivo salientou que as empresas precisam considerar a água em seu planejamento estratégico. “A situação de escassez hídrica é o novo normal e água ainda um bem muito barato e seu preço é inverso à sua disponibilidade”, alertou.

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