Negro-de-fumo: Indústria promove ajustes

Queda de vendas e de preços força indústria a promover ajustes

Petróleo barato puxou as cotações para baixo, enquanto o mercado interno reduziu a demanda em 30%

A exemplo do que ocorre em empresas de quase todos os segmentos econômicos, a indústria brasileira de negro-de-fumo teve de assimilar uma grande redução de demanda após o estopim da crise mundial, em setembro de 2008.

Desde então, relatam os fabricantes do insumo, o mercado brasileiro encolheu em mais de 30%.

As apostas são de uma lenta retomada dos negócios, principalmente a partir do segundo semestre de 2009.

Mas até a primeira quinzena de abril ainda não estava claro de quanto seria essa recuperação e nem mesmo se ela de fato ocorreria ainda neste ano.

Outro fator de preocupação: o negro-de-fumo é obtido da combustão controlada de resíduos do refino de petróleo, cujo preço despencou no período, gerando uma onda de renegociação, para baixo, dos preços internacionais do negro-de-fumo.

Com menor escala de produção e menor preço, a margem de lucro dos fabricantes de negro-de-fumo também tombou. O momento é de reestruturação dos negócios.

Os três principais fabricantes mundiais de negro-de-fumo contam com unidades de produção no Brasil.

A maior operação no país é a da norte-americana Columbian Chemicals, que possui uma planta em Cubatão-SP, com capacidade de produção de 200 mil toneladas anuais, e outra em Camaçari-BA, inaugurada em agosto de 2007, capaz de gerar 75 mil toneladas anuais, voltada principalmente para atender o mercado do Nordeste, mais especificamente o baiano, no qual se concentram grandes produtores de pneus.

Outro player é a alemã Evonik que, também em 2007, ampliou sua capacidade de produção em Paulínia-SP de 55 mil para 100 mil toneladas anuais.

A terceira empresa é a norte-americana Cabot, que possui fábrica em Mauá-SP, mas prefere divulgar sua capacidade produtiva na América do Sul, onde possui fábricas também na Argentina e na Colômbia.

No total, a capacidade produtiva da Cabot na região soma 240 mil toneladas por ano.

Química e Derivados, José Carlos Dreux, Vice-presidente de vendas e logística da Columbian, Negro-de-fumo
José Carlos Dreux: cenário exige cortar os custos sem afetar a qualidade

Os três fabricantes divergem ao dimensionar o tamanho do mercado brasileiro antes da crise.

José Carlos Dreux, vice-presidente de vendas e logística da Columbian, relata que o mercado nacional passou por uma alta expressiva, de 6% a 7% ao ano, nos últimos cinco anos, chegando a um mercado anualizado, antes da crise, de 400 mil toneladas em 2008.

Já Thomas Ochs, diretor da Evonik, avalia o mercado brasileiro, antes da crise, em 350 mil t/ano, enquanto Léa Sgai, gerente de marketing e serviços técnicos da Cabot Latin America, estima em 325 mil t/ano.

As exportações brasileiras são pouco representativas, somando aproximadamente 10 mil t/ano.

Em relação ao destino da produção no Brasil, não há muita divergência.

A maior parcela, 80% do total fabricado, se destina à indústria de pneus.

O negro-de-fumo é usado como agente reforçante e responde por 25% do peso do pneu.

Outros 15% da produção de negro-de-fumo são destinados ao mercado de artefatos de borracha.

Os demais 5% da produção são consumidos, na ordem de relevância de mercado em volume, pela indústria do plástico, por fabricantes de tintas de impressão, tintas automotivas e tintas decorativas.

Léa Sgai informa que a Cabot estima em 3.200 toneladas anuais o mercado de negro-de-fumo nos segmentos de tintas e tintas gráficas.

Na composição de uma tinta, o negro-de-fumo tem função de pigmento. Não apenas para se obter a cor negra e cinza, mas também para formar diversos subtons.

Como relata Ana Paula Rezende, gerente de produto Especialidades Inorgânicas para América Latina da Evonik, a necessidade do insumo para essa aplicação é pequena.

Em uma tinta decorativa preta, por exemplo, a concentração de negro-de-fumo não chega a 1% do volume.

“Em outras cores, é como uma pitada de sal em uma receita culinária”, compara. Em uma tinta, informa Rezende, o negro-de-fumo também tem a função de agente de viscosidade e reologia.

Química e Derivados, Léa Sgai, Gerente de marketing e serviços técnicos da Cabot Latin America, Negro-de-fumo
Léa Sgai: produção regional supre a maior parte das aplicações

A crise na indústria do negro-de-fumo, como não poderia deixar de ser, reflete a crise entre os produtores de pneus.

Em dezembro de 2008, a produção de pneus encolheu 45% no país, acompanhando a queda na produção de veículos automotores.

No primeiro trimestre de 2009, como resultado da decisão do governo de reduzir o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), a indústria automobilística passou a emitir sinais de recuperação.

Ocorre, porém, que ninguém sabe ao certo como ficará o mercado automotivo quando o IPI voltar a ser cobrado integralmente, fato previsto para julho.

A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), em abril, divulgou uma projeção de produção para 2009, estimando em 2,86 milhões de unidades, uma queda de 11,2% em relação aos 3,22 milhões de automóveis produzidos em 2008.

Mas a queda na produção de pneumáticos pode ser ainda maior, uma vez que aproximadamente 30% da produção brasileira, antes da crise, era destinada ao mercado externo e não há sinais de recuperação no curto prazo.

O setor se preocupa também com a possibilidade de um aumento da importação de pneus, principalmente oriundos da China.

Antes mesmo da crise, essa expansão já era uma realidade.

A participação de importados no mercado brasileiro de pneus de carga, usados por caminhões e ônibus, por exemplo, saltou de 0,4% em 2004 para 11% em março de 2008.

Os negócios com negro-de-fumo nos mercados de plásticos e tintas também se retraíram.

Ana Paula Rezende, da Evonik, relata que, principalmente em relação aos fabricantes de tintas e plásticos que atendem aos pedidos da indústria automobilística, os negócios praticamente pararam entre novembro e fevereiro e apenas em março houve uma retomada, ainda tímida, nas vendas.

Antes da eclosão da crise, o mercado mundial de negro-de-fumo vivia uma corrida expansionista.

Agora há excesso de capacidade produtiva e plantas produtivas estão sendo desativadas na Europa e nos Estados Unidos. No Brasil, o excesso de capacidade também preocupa.

Planos de expansão foram congelados. Por ora, há até rumores – não confirmados pelos entrevistados – sobre fechamento de unidades produtivas. Certo é que a conjuntura restritiva tem levado os fabricantes de negro-de-fumo a aperfeiçoar estratégias e refazer planos.

Thomas Ochs, da Evonik, por exemplo, informa que a empresa optou por desligar reatores, uma medida que leva dias, e antecipar a manutenção dos mesmos, reduzindo custos operacionais no momento, preparando-se para quando houver uma retomada dos negócios.

Química e Derivados, Thomas Ochs, Diretor da Evonik, Negro-de-fumo
Thomas Ochs: fábricas antecipam paradas para manutenção

“Além disso, estamos olhando com lupa nosso processo produtivo e administrativo em busca de oportunidades de redução de custos e melhoria de processos”, diz o executivo.

José Carlos Dreux, da Columbian, também relata uma atenção especial na análise de processos em busca de maior eficiência e redução de custos.

“O mercado está muito competitivo e opera com margens estreitas. O momento é de trabalhar da forma mais enxuta possível, sem comprometer a qualidade”, diz o executivo.

Especialidades – Cabot, Columbian e Evonik utilizam no Brasil o processo produtivo furnace black, também conhecido como de fornalha, que processa de forma contínua num reator derivados de petróleo e/ou gás natural, tendo como resultado o negro-de-fumo.

É o sistema mais utilizado no mundo, abrangendo todas as necessidades de produção para aplicações em borracha e uma grande variedade de aplicações em pigmentos.

As três empresas adotam a estratégia de complementar suas linhas de produtos com a importação de negro-de-fumo para aplicações especiais, voltadas principalmente para o mercado de tintas.

Na unidade brasileira da Columbian, informa José Carlos Dreux, são produzidos cerca de 30 tipos diferentes de negro-de-fumo. Um destaque é a linha Copeblack, desenvolvida no laboratório central da Columbian na América do Sul, em Cubatão, com o objetivo de atender os mercados de tintas e plásticos.

“Hoje suprimos com a produção local quase todas as demandas de negro-de-fumo dos mais diversos segmentos usuários”, diz o executivo.

A única exceção, informa Dreux, fica por conta do negro-de-fumo em pó pós-tratado com ozônio ou oxidação, destinado a aplicações especiais em tintas.

Neste caso, a empresa traz o produto de sua unidade norte-americana. Dreux acredita que o laboratório da Columbian em Cubatão é um dos grandes diferenciais competitivos da empresa no Brasil.

“Temos condições de realizar um trabalho de desenvolvimento do produto com base na aplicação, conforme a necessidade do cliente”, afirma o executivo.

O foco do trabalho de desenvolvimento tecnológico da Columbian está na melhoria do desempenho da relação custo/benefício, principalmente proporcionando redução do tempo de mistura do negro-de-fumo nos processos dos clientes, encurtando o tempo de produção.

Na Cabot, informa Léa Sgai, a conjunção das produções no Brasil, Argentina e Colômbia também consegue atender a um amplo leque de aplicações.

Mas a empresa complementa sua linha de produtos com importações das unidades na Europa e Estados Unidos para atender a aplicações específicas em tintas, tintas gráficas e plásticos.

São importados negros-de-fumo nobres, como o grau FDA, os condutivos, os tratados, os com alto poder tintório, e os indicados para cura e proteção ultravioleta.

“Nosso diferencial mercadológico é fornecer o produto certo para cada aplicação e para cada necessidade de mercado. Para isso, temos laboratórios de aplicação nos Estados Unidos e Europa a serviço de nossos clientes e prontos para ajudá-los a atender às necessidades específicas”, diz Léa Sgai.

Na Evonik, toda a produção brasileira de negro-de-fumo é voltada para o mercado de pneus e outras borrachas.

Enquanto a linha de pigmentos, com aproximadamente 30 itens, é toda importada da Alemanha.

Ana Paula informa que os pigmentos importados são obtidos por meio de dois processos produtivos distintos, o furnace black e o gas black.

Neste caso, o negro-de-fumo é obtido por meio de insumos provenientes da destilação da hulha em um processo que tem como base o acetileno.

A Evonik, informa a executiva, é a única a produzir com essa tecnologia.

Química e Derivados, Ana Paula Rezende, Gerente de produto Especialidades Inorgânicas para América Latina da Evonik, Negro-de-fumo
Ana Paula: novo pigmento reduz impacto ambiental das tintas

“A vantagem é a obtenção de um produto puro, com altíssima intensidade de cor”, explica.

A pureza é uma característica exigida, segundo a executiva, em aplicações especiais, voltadas principalmente para o mercado de tintas automotivas.

Uma tendência tecnológica na Evonik, relata Rezende, é o desenvolvimento de negros-de-fumo voltados a aplicações em produtos desenvolvidos com o objetivo de gerar menor impacto ambiental.

Um exemplo é o Color Black FW 171, especialmente desenvolvido para atender o mercado de tintas automotivas base d’água.

O pigmento será lançado no Brasil em setembro, durante a feira da Associação Brasileira dos Fabricantes de Tintas, a Abrafati 2009, em São Paulo.

Ana Paula e Thomas Ochs acreditam que a força da Evonik no mercado de negro-de-fumo está na capacidade de oferecer um pacote de soluções a seus clientes.

No mercado de tintas, a Evonik oferece, além do negro-de-fumo, o dióxido de silício e agentes fosqueantes. No mercado de borrachas e pneus, a sílica e o silano.

“Somos o único fornecedor a apresentar um conjunto de soluções completo aos clientes”, diz Ochs.

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