Negro-de-fumo – Boom de pneus aumenta oferta de negro-de-fumo

Exportação de pneus e nova fábrica na Bahia atraem investimentos para negro-de-fumo

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Negro-de-Fumo

O futuro do mercado de negro-de-fumo no Brasil está garantido.

O bom desempenho atual e as melhores perspectivas da indústria de pneus, principal consumidora desse pigmento preto obtido pela queima controlada de hidrocarbonetos, confirmam a previsão.

Além de se firmar como grande produto de exportação, o que tem elevado sua produção anual, um novo investimento para os próximos anos promete aumentar a importância do mercado brasileiro de pneus. Isso significará mais negócios e disputa entre os três fabricantes locais de negro-de-fumo – Cabot, Columbian Chemicals e Degussa -, responsáveis pelo fornecimento das 300 mil t/ano consumidas no País, das quais cerca de 85% seguem para pneumáticos.

Química e Derivados: Negro: A Cabot investe US$ 25 milhões em nova fábrica. ©QD Foto - Divulgação
A Cabot investe US$ 25 milhões em nova fábrica.

A nova unidade é de um estreante no setor no Brasil, hoje dominado por quatro grandes fabricantes: Firestone, Pirelli, Michelin e Goodyear. A partir de julho começa a ser construída em Camaçari, na Bahia, a primeira fábrica da alemã Continental, uma das maiores fabricantes mundiais e famosa pela qualidade dos pneus utilizados nos luxuosos Mercedes-Benz e Porsche. Fruto de um investimento de 250 milhões de euros, a ser empregado até 2008, a primeira fase do projeto deverá estar pronta até o final de 2005, ou início de 2006, quando produzirá cerca de 1,2 milhão de pneus/ano. Já em 2008, no término do investimento, a unidade baiana terá capacidade adicional de 7 milhões de pneus para carros de passeio e 700 mil para veículos comerciais (tratores, caminhões e ônibus).

Esse investimento alemão confirma a tendência exportadora do mercado nacional de pneus, que em 2003 vendeu para o mercado externo 17,7 milhões de unidades de sua produção total de 49,2 milhões. Isso porque o plano com a fábrica em Camaçari é atender o mercado da região da Nafta, principalmente dos Estados Unidos e México. Inicialmente, essa região deve responder pelo consumo de 80% da produção. O grupo alemão, que conta ainda com 26 fábricas próprias e 34 unidades cooperadas para a produção de pneus (além de 58 para produzir correias, mangueiras e coxins, e 41 voltadas para freios), acredita num potencial em crescimento. Estima um acréscimo de 11% no mercado do continente americano em 2008, chegando nos 382 milhões de pneus.

Outros investem – A atenção despertada pela fábrica da Continental ganha mais peso para os produtores de negro-de-fumo ao se saber que, desde a década de 80, o Brasil não era palco de investimentos novos em pneus. O último grande produtor a se estabelecer naquele período foi a francesa Michelin, hoje com duas fábricas no Rio de Janeiro, uma em Itatiaia (pneus para automóveis) e outra em Campo Grande (para caminhões e ônibus).

Outro fator que anima mais o setor de negro-de-fumo são também os novos investimentos das produtoras de pneus já estabelecidas. Trata-se de condição hoje imposta pelo próprio mercado automobilístico, que já se ressente de pneus, principalmente dos utilizados em caminhões e ônibus. A própria Michelin investe US$ 98 milhões para ampliar a produção de suas fábricas de 1,2 milhão de unidades anuais para 1,6 milhão até o fim de 2006. Também a Bridgestone/Firestone usa parte de um investimento de US$ 200 milhões para ampliar em 5% sua atual capacidade produtiva de 11 milhões de pneus em Santo André-SP. Também a Goodyear anuncia investimento de US$ 80 milhões, enquanto a Pirelli deve abrir nova fábrica na Bahia.

Com o novo cliente à vista, e os investimentos das produtoras de pneus em atividade, os três players do negro-de-fumo não têm do que reclamar. Depois de passar por dois anos de estagnação (2001-2002), as vendas totais do pigmento, puxadas pelo aumento das exportações de pneus de 35% para mais de 40% do total da produção, cresceram em 2003 cerca de 11%, segundo informou o gerente de vendas da Columbian Chemicals, Ronaldo Silva Duarte.

Química e Derivados Influência do Negro de Fumo nas Propriedades da Borracha Negro: negro_grafico. ©QD
Influência do Negro de Fumo nas Propriedades da Borracha

Para 2004, projeta-se aumento um pouco menor, de cerca de 5%. Não será possível repetir o percentual do ano passado porque a base de comparação será agora sobre um número mais representativo do que o de 2002, quando o mercado estava parado. Mas isso também não desmerece a projeção. Pelo contrário, nela o gerente da Columbian Chemicals inclui uma retomada do mercado interno, além da estabilização do nível de exportação dos produtores de pneus.

A importância dos movimentos do setor de pneumáticos para os fornecedores de negro-de-fumo é evidente e se explica em números. Para começar, os pneus são responsáveis por 70% do consumo na fabricação e 15% em usos de recauchutagem (camelback). Em cada pneu, utilizam-se em média dez tipos de negros-de-fumo e, no seu custo de produção, o pigmento responde por 30% do valor. Daí se entende porque todos os investimentos das fábricas se baseiam nas projeções desse setor.

Capacidade aumenta – Os fabricantes de negro-de-fumo estão atentos a esses movimentos em pneus, tendo em vista os investimentos em curso. Isso fica mais nítido nas duas empresas mais antigas e líderes do mercado, a Cabot e a Columbian, com grandes instalações produtivas, mas já próximas do gargalo e necessitadas de expansões para suportar o aumento da demanda e as projeções otimistas para médio prazo. A Degussa não se encaixa tanto nesse raciocínio por tratar-se de novíssima unidade, inaugurada em Paulínia-SP em março de 2003, e logicamente com capacidade instalada ainda a ser ocupada.

A Cabot Brasil, para começar, constrói uma nova unidade de produção em suas instalações fabris de Mauá-SP. Trata-se de sua terceira fábrica de negro-de-fumo, no mesmo local, que elevará a capacidade atual de 75 mil t/ano para 120 mil t. De acordo o diretor regional, Hagop Yeghiaian, a partida da nova unidade está programada para o quarto trimestre de 2005.

Química e Derivados: Negro: A Degusa já admite expansões depois de 2006. ©QD Foto - Divulgação
A Degusa já admite expansões depois de 2006.

Um investimento de US$ 25 milhões, a fábrica permitirá, ainda segundo Hagop, que a empresa atenda à demanda projetada com certa facilidade. Para ele, além do setor de transportes, que movimenta o consumo de pneus e borracha em geral, suas expectativas também se voltam para o agronegócio, puxadas pelos tratores e colheitadeiras também grandes consumidores dos pneumáticos.

Mas isso ainda não diminui sua esperança com o consumo de negro-de-fumo para outros setores, como tintas, plásticos, adesivos e selantes, na função de pigmento e ligantes.

A idéia maior sobre o potencial do mercado provém do fato de a Columbian Chemicals realizar um desgargalamento na sua unidade de negro-de-fumo em Cubatão-SP. Isso porque se trata da maior fábrica isolada do mundo, com capacidade total para 190 mil t/ano. Precisar aumentar a produção de uma fábrica dessa dimensão, com otimizações na planta e a adoção de novas tecnologias, é um sinal evidente de que haverá um aumento da demanda. Segundo o gerente comercial da Columbian, Ronaldo Silva, desde o ano passado está sendo investido US$ 1,5 milhão no projeto.

“No ritmo que o mercado está, a fábrica suportaria apenas uns dois anos”, explica Silva. Com os investimentos em engenharia e equipamentos, além de aumentar a produção (percentual que o gerente prefere não revelar), a Columbian ganha também agilidade em seu mix de produtos, ou seja, amplia sua linha de negro-de-fumo. Estão programados novos grades para artigos de borracha e uma nova linha para aplicações em produtos com contato em alimentos (food grade). Denominado Pureblack, com aprovação do americano FDA, este negro-de-fumo não permite a migração de resíduos aromáticos e polinucleares para o alimento. “Todos os grades até hoje utilizados não tinham essa garantia”, revela o gerente. O Pureblack já é fabricado nos Estados Unidos e poderá ser nacionalizado e também tem aplicação em tubos de PVC para água.

Já os negros-de-fumo para borracha serão disponibilizados em três tipos e têm a propriedade de antivibração, para buchas e coxins em motores de carros. Sua vantagem é não demandar blendas de vários negros-de-fumo, como hoje se faz, para incluir essa propriedade.

Química e Derivados: Negro: Silva - Columbian precisa desgargalar sua fábrica. ©QD Foto - Cuca Jorge
Silva – Columbian precisa desgargalar sua fábrica.

Essa característica do novo produto, aliás, serve para lembrar que o negro-de-fumo não é apenas responsável pela pigmentação preta. Inclui várias outras funções, como ligante e reforçante em borrachas, a absorção de espectros de luz, resistência ao rasgo e ao rolamento (contato com o solo de pneus), flexibilidade, condutividade em plásticos e pneus (para dissipar a energia) e a resistência aos borrões (rub-off) em tintas de impressão. “Se não fosse o negro-de-fumo, o pneu, por exemplo, não duraria nem 2 mil quilômetros”, ressalta Silva.

A Columbian Chemicals, segundo o gerente, possui atualmente flexibilidade para atender as necessidades totais do mercado brasileiro, com portfólio de 23 tipos de negro-de-fumo, sem precisar recorrer a importações, como suas concorrentes. Nas seis fábricas localizadas em um mesmo site em Cubatão, de onde recebe como matéria-prima o chamado “raro” (resíduo aromático de craqueamento) da Refinaria da Petrobrás e também da Replan de Paulínia, a empresa tem condições de atender a qualquer demanda do pigmento. Essa agilidade, seguida de sua maior capacidade produtiva, de acordo com Duarte torna a empresa líder do mercado brasileiro, com cerca de 50% de participação. Em seguida, ficaria a Cabot com 35% e a novata Degussa com 15%.

Degussa vai bem – Os 15% de participação da Degussa são merecedores de consideração, tendo em vista sua fábrica de Paulínia estar em operação há pouco mais de um ano. Com capacidade para 55 mil t/ano, a empresa cumpre sua meta de chegar em 2006 com ocupação total. Para isso, o cronograma de homologação em todas as fábricas de pneus segue o ritmo esperado e, até o fim de 2004, a Degussa estará aprovada como fornecedor entre os quatro grandes fabricantes. “Isso já está certo, porque seguimos as normas mundiais da ASTM”, diz o gerente de marketing e vendas para América do Sul da Degussa, Eraldo Pereira.

Outra meta para ser cumprida até o final de 2004 é receber a certificação integrada do sistema de gestão de qualidade ISO 9001-2000 e de gestão ambiental ISO 14001. Atualmente a Degussa fornece seis tipos de negro-de-fumo para bandas do pneu (hard) e cinco para carcaça (soft), portfólio que deve ser aumentado em breve com a produção de outros mais sofisticados para uso como pigmentos em tintas e plásticos, atualmente ainda importados da Alemanha. “Em breve vamos investir para produzir localmente”, diz. Faz parte dessa idéia de nacionalização produzir a linha Purex, para perfis de pára-brisas automotivos.

Além da entrada nesses ramos técnicos mais lucrativos, cujo preço médio do negro-de-fumo passa para US$ 900 a tonelada, Pereira também vislumbra a médio prazo novas ampliações. “Quando chegarmos a 100%, em 2006, outro investimento deve ser anunciado”, diz. Essa hipótese do gerente tem a ver com o fato de a demanda pelo negro-de-fumo, exatamente no ano citado, sofrer um salto com a entrada em operação da fábrica da Continental, esta por sinal uma empresa conterrânea e parceira em outras empreitadas pelo mundo. E ampliações, aliás, já fazem parte do projeto inicial da Degussa, visto que a fábrica de Paulínia foi concebida em módulos de 20 mil a 25 mil t, podendo ser duplicada facilmente.

Química e Derivados: Negro: Pereira - Degusa espera homologações em pneus. ©QD Foto - Cuca Jorge
Pereira – Degusa espera homologações em pneus.

Artefatos exportam – Nas outras opções de venda de negro-de-fumo para artigos técnicos, como pigmentos em tintas e compostos, ou masterbatches para plásticos, ou ainda em artefatos de borracha, as esperanças também são boas para as vendas. Além do preço médio para essas aplicações ser mais alto, por terem muitas vezes status de especialidades, há uma tendência de modernização nessa área. Isso inclui também um novo fôlego exportador dos transformadores de artefatos de borracha.

Na verdade, este setor ainda conta com algumas vantagens em relação ao setor de pneus. Por contar ainda com ociosidade de 30%, ao contrário dos produtores de pneumáticos que precisam ainda investir para aumentar a produção e atender novas demandas, os fabricantes de artefatos de borracha têm campo para explorar de imediato. Não por menos, várias empresas começam a exportar para aproveitar o excedente.

A intenção dessas empresas de exportar, aliás, é oficial. Em março, o Sindicato da Indústria de Artefatos de Borracha do Estado de São Paulo (Sindibor), com 53% dos 1.400 transformadores do País, firmou acordo com a Agência de Promoção de Exportações do Brasil (Apex) para conquistar mercados externos. Esse apoio inclui um investimento total de R$ 1,4 milhão (45% da Apex e a contrapartida do Sindibor), voltado para beneficiar pequenos e médios fabricantes de artefatos de borracha (perfil de 90% das empresas nacionais da área).

A união com a Apex das empresas paulistas apenas reitera um projeto nacional (promovido pela Associação Brasileira da Indústria de Artefatos de Borracha, a Abiarb) que já vem se desenvolvendo há alguns anos no setor. Em 2003, as exportações bateram recorde, alcançando US$ 140 milhões, ou 10,3% do faturamento total do setor nacionalmente. Em 2002, foram exportados US$ 117 milhões.

Para o Sindibor, o aumento nas exportações deve ocorrer em países como Estados Unidos, México, França, Itália, Alemanha, Chile e outros mais exóticos, como Emirados Árabes, Angola e Nigéria. Essa lista ainda poderá ser ampliada com a ajuda da Apex, responsável pela monitoração de 122 países. Além do financiamento, a agência dará apoio em certificações de processo e qualidade, organização, análise, cursos, prospecção de mercados, entre várias outras ações.

Química e Derivados: Negro: Artefatos de borracha - exportação. ©QD
Artefatos de borracha – exportação.

“Acreditamos que o segundo semestre será marcado pelo crescimento de vendas de negro-de-fumo para a indústria de artefatos de borracha”, confia o gerente da Columbian Chemicals, Ronaldo Silva. Segundo ele, esse aumento de negócios será visível e irá compensar positivamente a estabilização nas vendas para o setor de pneus, que a curto prazo não tem como crescer sem antes promover as caras expansões programadas. Junte-se a essa confiança o recente reajuste de 14,2% no negro-de-fumo da Columbian Chemicals, para compensar a alta recorde do barril de petróleo e que deve ser adotado pelas demais produtoras, e o futuro não será dos piores.

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