Nalco é exemplo de grupo com a opção de soluções integradas
A Nalco, empresa do grupo Ecolab, é outro exemplo de grupo com a opção de soluções integradas. Nos últimos cinco anos, a empresa tem conseguido acelerar a assinatura de contratos de uma modalidade de negócios batizada de EMO, da sigla de engenharia, manutenção e operação. Por meio de contratos de cinco a dez anos, a empresa especializada em soluções químicas para tratamento de água e efluentes, com a nova oferta, passa a se responsabilizar por toda a área de utilidades de água dos clientes, das caldeiras, torres de resfriamento e estações de tratamento de efluentes, com soluções integradas que visam otimizar o uso dos recursos hídricos, com remuneração pelo volume tratado.
De acordo com o consultor sênior da Nalco, Paulo Bohrer, nesse período da oferta no Brasil foram assinados contratos com pouco mais de 20 clientes, sendo que nos últimos três anos a carteira tem dobrado. São indústrias de variados setores, em alimentos e bebidas, laticínios, manufatura, embalagens e cervejarias. Em comum, todas as empresas transferem a operação completa de seus circuitos, obtendo economias no custo com água e energia das utilidades.
De acordo com Bohrer, essas soluções integradas de tratamento de água, com possíveis fechamento de circuitos, demandam na maior parte das vezes outras tecnologias, com equipamentos e sistemas, o que está cada vez mais possível por conta da queda de preços, por exemplo, das membranas de filtração.
“Antes, os investimentos não compensavam, tinham o pay-back muito longo. Hoje a situação se inverteu com a queda de preços internacionais dos insumos”, diz. As soluções a que ele se refere são principalmente sistemas para remoção de sólidos suspensos, com clarificadores e ultrafiltração; flotadores para remoção de óleo e graxa; unidades de biorreatores a membranas (MBR) para remoção de matéria orgânica; osmose reversa ou troca iônica para redução de sais dissolvidos.
Com as tecnologias e a expertise de tratamento químico da Nalco, continua Bohrer, fica mais viável implantar soluções de reúso, principalmente onde o custo de água é muito elevado, como em São Paulo e no Rio de Janeiro, ou em localidades onde há escassez, caso de várias regiões industrializadas no Nordeste. “O reúso e o reciclo tendem a ter pay-back entre dois e quatro anos, com uso de tecnologias avançadas de membranas”, complementa.
[adrotate banner=”277″]Para atingir as metas de redução de custo, e ser remunerada conforme o acordado por sua operação e manutenção, a Nalco faz modificações na engenharia dos tratamentos, o que inclui a introdução e/ou mudança de equipamentos. Suporta essas ações um departamento de engenharia estruturado ao longo dos anos, com técnicos e engenheiros especializados em equipamentos e em operação de caldeiras, torres e ETEs.
É comum nesses contratos, por exemplo, investimentos em unidades com membranas, sejam elas de ultrafiltração, se houver necessidade de remoção de sólidos suspensos ou, no caso de sais dissolvidos, demanda de caldeiras, de osmose reversa, abrandadores ou colunas de troca iônica. Isso sem falar em clarificadores convencionais, flotadores, enfim todos os tipos de equipamentos. A equipe da Nalco projeta e contrata no mercado, com concorrências, os sistemas necessários para as melhorias.
Complementa as intervenções físicas, logicamente, o conhecimento da Nalco nas soluções de tratamento químico, sua especialidade, que atende toda a demanda de tratamento, com anti-incrustantes, inibidores de corrosão, polímeros dispersantes e biocidas. “A ideia é deixar o cliente focado no seu produto e assumir a água, o que para nós é especialidade, portanto com grandes possibilidades de otimização do tratamento”, diz o consultor da Nalco.
Para Bohrer, os tratamentos são automatizados por meio da tecnologia 3D Trasar, que se baseia no controle e comunicação de dados dos tratamentos, a partir de sensores em campo e PLCs integrados que identificam os marcadores fluorométricos presentes em todos os produtos. “No condicionamento químico da água para as utilidades, hoje o que pesa mais é o controle on-line, já que as tecnologias químicas pouco mudaram”, explica.
O acompanhamento dos parâmetros dos tratamentos, pelo sistema da Nalco, pode ser programado para envio periódico aos clientes ou acessado pelo computador pessoal. No mundo todo, há 40 mil unidades controladas pelo sistema e, no Brasil, por volta de mil.
Um exemplo recente de abordagem integrada que redundou em solução de reúso ocorreu na fábrica da Nestlé, em Araraquara-SP. Embora não seja um cliente de operação e manutenção, na unidade de produção de leite em pó foi implementado, como revela Paulo Bohrer, o primeiro projeto de recuperação da chamada água de vaca, ou seja, a água resultante do processo de liofilização do leite.
Com ações de engenharia que envolveram rearranjos na produção e um estudo para avaliar as possibilidades de aproveitamento, foi possível com o projeto da Nalco o reúso aproximado de 100 mil m3 por ano de água na unidade.
Como a produção de leite em pó demanda a desidratação por evaporação, a temperatura elevada e o baixo teor de sais, com condutividade inferior a 15 mS/cm, tornaram a chamada água de vaca, em seu primeiro estágio de evaporação, ideal para uso em caldeiras. “É quase como uma água desmineralizada”, diz Bohrer.
Oferta ampliada – Outro fornecedor importante da área, a Kurita, também percebe busca em alguns segmentos de mercado por soluções integradas, para maximizar as possibilidades de ganho, e tem realizado operações do gênero. Além disso, até mesmo como forma de atender a essas demandas mais complexas, o grupo de origem japonesa tem adquirido muitas empresas nos últimos anos, como estratégia de ampliação de seu portfólio de tecnologias e expansão global.
Em 2019, o grupo fez três aquisições: por US$ 82 milhões comprou a norte-americana Avista, especializada em tratamento químico e serviços para operação e manutenção de membranas de osmose reversa, nanofiltração e filtragem multimídia. A segunda compra foi da Pentagon Tech, por US$ 50 milhões, especializada em negócios de limpeza de peças para a indústria eletrônica.
A terceira aquisição no ano passado foi de maior peso e fez a atuação internacional da Kurita quase se igualar com a receita no Japão, de US$ 1 bilhão, ou 42% das vendas totais do grupo. A compra foi de US$ 270 milhões, da US Water Services, uma grande empresa dos Estados Unidos com atuação em químicos e equipamentos para tratamento de água.
Além das aquisições em 2019, desde 2015 a Kurita vem aumentando suas soluções com novas empresas, e algumas delas em inteligência artificial, caso da empresa Fracta, comprada em 2018, por US$ 37 milhões, especializada na área e em machine learning (aprendizado da máquina), da Apana, por US$ 3,5 milhões em 2016, especializada em gerenciamento inteligente da água.
Casos práticos – Para o superintendente de operações da Kurita, José Aguiar Jr., as soluções integradas têm sido comuns e envolvem ações que vão além do condicionamento químico, a especialidade da empresa. Isso faz a empresa cogitar cada vez mais para seus clientes a introdução de novos equipamentos e sistemas para melhorar o tratamento, seja de caldeiras, torres de resfriamento ou estações de tratamento de água ou efluentes.
[adrotate banner=”277″]Foi isso que ocorreu em uma indústria do setor alimentício, onde a Kurita é responsável pelo tratamento dos sistemas de caldeiras e das torres de resfriamento desde 2014. Segundo Aguiar, no tratamento das caldeiras, a empresa propôs e ofereceu em regime de comodato abrandadores de sais para o pré-tratamento da água de reposição. Ao longo do tempo, houve ganhos na segurança operacional, com redução de incrustações e pontos de corrosão nos tubos dos geradores de vapor, além de elevação dos ciclos de concentração.
A abordagem integrada também permitiu outras ações. Um acompanhamento em campo auxiliou na identificação de pontos de contaminação de condensado e de água de reposição. Como consequência, em algumas unidades do cliente, entre os anos de 2014 e 2019, foi contabilizada a economia de 100 mil m³ de água, aproximadamente, e de cerca de 22 mil Nm³ de gás natural.

No tratamento das torres de resfriamento, a ações resultaram em ganhos com redução das vazões de dreno, na frequência de limpezas e paradas não programadas, por meio de acompanhamento de partidas e realização de procedimentos de pré-condicionamento, reaproveitamento de correntes de água para redução de água clarificada, entre outros pontos. Entre 2014 e 2019, a economia em resfriamento foi de 254 mil m³ de água.
Segundo o gerente de contas da Kurita, Vinicius Palma, considerando todas as unidades desse cliente o ganho econômico com água e combustível chegou a R$ 1,3 milhão por ano e de 351 mil m3 de água. “Este é um caso de solução inicialmente pontual que se tornou integrada por conta das possibilidades que percebemos ao longo do tempo”, diz.
Outro caso de solução integrada executada pela Kurita foi em uma indústria de vidro. Conforme explica Palma, a operação foi se integrando ao longo dos anos, com sugestões e a adoção de tecnologias que atendiam demandas identificadas pelo corpo técnico da empresa.
Segundo ele, inicialmente a Kurita se responsabilizava apenas pelo tratamento das torres de resfriamento e pela estação de tratamento de água. Mas as medidas, com o tempo e proximidade com o cliente, foram se expandindo para outras áreas, o que ficou marcante quando seus técnicos desenvolveram a aplicação de inibidor de corrosão para equipamentos da linha de produção, que sofriam com processo severo de corrosão e paradas frequentes para manutenção e trocas de peças. “Como a aplicação se mostrou bem-sucedida, o cliente a estendeu para outras máquinas”, diz. Além disso, a água de reposição da área de processo também teve sua fonte mudada, o que ajudou a melhorar o processo.
Com as melhorias obtidas, continua o gerente, foi sugerido e implementado um novo tratamento para os efluentes da fábrica com a finalidade de reúso, com planejamento gradativo para aumento de sua participação no mix de água de reposição. Com simulações, para identificar possíveis reaproveitamentos, foi possível recomendar a compra de novos equipamentos pelo cliente – filtros de carvão, de areia e abrandadores –, o que foi feito.
Para complementar as ações integradas, a Kurita otimizou o consumo de coagulantes e melhorou a qualidade da água tratada, reduzindo a geração de lodo em até 20%. Houve ainda aperfeiçoamento na remoção de óleo residual na ETE e, por fim, em razão do aumento da participação do reúso no mix de água de reposição para fins industriais, o cliente reduziu em 50% a captação de água. Um período depois, a Kurita fez outro estudo de otimização de todas as correntes, que envolviam a ETA, ETE, torres e equipamentos, que fundamentaram um tratamento integrado na fábrica, o que incluiu a água utilizada no seu maquinário.
Menos captação e efluentes – As ações no gerenciamento de água realizadas de forma sistêmica, que permitem o estudo mais aprofundado de possibilidade de reúso, refletem a preocupação da indústria nos últimos anos. Muito concentradas na região Sudeste, principalmente em São Paulo, que sofre com frequentes estiagens e por conta disso com o alto custo da água, várias empresas químicas têm se esforçado para reduzir ao máximo a sua captação e o descarte de efluentes.
[adrotate banner=”277″]Para atingir essas metas de redução, o caminho é encontrar meios, com a ajuda os especialistas, de reusar e reciclar efluentes nas áreas onde há o maior consumo – em primeiro lugar nas torres de resfriamento e, logo em seguida, na geração de vapor, a depender do tipo de indústria. A tese se comprova com dados da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), que anualmente compila informações dos seus associados sobre gestão ambiental, por meio do programa setorial Atuação Responsável.
Segundo o último levantamento disponível, referente a 2018 (os de 2019 serão divulgados até agosto), a água captada pela indústria caiu 34% desde 2006, passando de 7,41 m3 por tonelada de produto para 4,86 m3/t, queda que deve se repetir nos próximos dados. O mesmo ocorreu com o volume de efluentes lançados, com queda registrada no período 2006-2018 de 25%, passando de 2,99 m3/t para 2,25 m3/t.