Micro-ondas aceleram biodiesel
Conhecido especialista no uso do calor irradiado por micro-ondas no setor químico, Eleno Gonçalves participou do 49º Congresso Brasileiro de Química como expositor da mostra paralela de equipamentos. Ele mostrou como funciona o seu mais recente projeto, um reator para produção de biodiesel com ciclo produtivo de dois mil litros a cada seis horas, com 80 centímetros quadrados de área ocupada. Um equipamento convencional do gênero necessita de uma planta fabril de mais de 100 metros quadrados e não sai por menos de R$ 1 milhão. O equipamento de Gonçalves cabe numa maleta e custa R$ 150 mil.
Trata-se de técnica conhecida e descrita em muitos papers, tendo por base a tecnologia de fornos de microondas industriais. A produção de biodiesel em fluxo contínuo emprega o reator MarsBiodiesel e, em termos de opção de mercado no Brasil, é o sistema mais barato para obtenção do biocombustível em pequena escala. Por meio do minirreator, o processo de transesterificação é efetuado a 50ºC, sob pressão atmosférica, em fluxo de reação e catálise de sete litros por minuto, possibilitando escala piloto ou semi-industrial.

A técnica permite empregar óleo virgem ou recuperado no processo. Segundo Gonçalves, o balanço energético demonstra que esta técnica é mais eficiente no aspecto ecológico se comparada aos sistemas convencionais por alta pressão. Outro ponto a seu favor é a versatilidade. Embora a concepção do MarsBiodiesel tenha por objetivo operar por fluxo contínuo, no qual o óleo sai de um tanque passa pelo forno de micro-ondas e em menos de um minuto chega a outro tanque devidamente transesterificado, é possível produzir o biodiesel por batelada, usando uma válvula de pressão.
O inventor do reator de biodiesel por micro-ondas explica que o objetivo do desenvolvimento é permitir a produção de biocombustível em escolas técnicas agrícolas, em cooperação com municípios do interior do país, ou por ONGs voltadas a soluções de preservação ambiental, assim como pequenas cooperativas de agricultores, as quais possam promover a circulação do produto por meio de trocas e parcerias, uma vez que a comercialização do biodiesel está regulamentada num sistema de leilões chancelados pela Agência Nacional do Petróleo (ANP). Este biodiesel poderia abastecer frotas de prefeituras e das propriedades rurais.
O reator Marsbiodiesel é formado pela unidade básica, sistema de agitação magnética, sensor de temperatura, frasco de reação de fluxo contínuo de quatro litros. Requer sistema de bombeamento de óleo vegetal, álcool e hidróxido de sódio (catalisador), tanques de armazenamento do óleo vegetal, álcool, glicerina e biodiesel, que precisa ser purificado para ficar nas especificações da ANP.
Análise de proteínas – Outro equipamento com o qual Gonçalves deverá movimentar o mercado da química analítica de última geração é o Sprint. Trata-se de um analisador rápido de proteína total. O Sprint funciona pela transformação de aminoácidos, como arginina, lisina e histidina, em proteínas. Por meio de uma solução denominada ITAG, esses três aminoácidos formam uma ligação. A porção aromática do ITAG absorve a luz a 480 nanômetros.
Como explica Eleno Gonçalves, essa molécula é facilmente detectada em colorímetros. Posteriormente, uma quantidade predeterminada da solução ITAG é adicionada a um recipiente onde está depositada a amostra do alimento, devidamente pesada em balança analítica e onde ocorre a homogeneização. A molécula ITAG se liga à proteína e as duas são removidas por precipitação.
O excesso de ITAG é removido por um filtro descartável de cinco micra até uma cela de fluxo contínuo do detector colorimétrico, onde é quantificado. Com isso, o tempo de análise do volume de proteína de um alimento fica reduzido a, no máximo, três minutos. “Possuem melhor precisão e exatidão do que os métodos tradicionais: o Kjeldahl ou combustão Dumas”, garante o especialista.