Metrologia: Congresso e o estado-da-arte da calibração

Metrologia e qualidade em laboratórios - Congresso internacional desfila o estado-da-arte da calibração.

É cada vez mais importante para um país acelerar e ampliar a oferta de produtos e serviços tecnológicos de laboratórios, sem os quais fica impossível para suas empresas competirem em um mercado global onde a qualidade é o grande diferencial.

Nesse sentido, foi fundamental a realização, de 16 a 20 de julho,em São Paulo, do IV Metrochem, Congresso Internacional em Medição Química, Rastreabilidade e Garantia de Qualidade. Promovido pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT), Instituto de Pesquisas Energéticas Nucleares (IPEN), e ainda pelo Cooperation on International Traceability in Analytical Chemistry (CITAC) e Rede Brasileira de Medições em Química, o evento foi de alto nível técnico.

“Medições exatas e confiáveis, comparáveis e rastreáveis são elementos básicos para a garantia da qualidade, o que as torna ferramentas relevantes na construção de sólidas relações comerciais, no cuidado com o ambiente e com a saúde da população.”

Esta é a opinião da pesquisadora Vera Ponçano, coordenadora de relações internacionais do IPT, uma das coordenadoras do evento.

O congresso, continua Vera, propiciou integração e troca de experiências entre pesquisadores brasileiros e renomados especialistas internacionais.

No Metrochem foram abordadas questões relacionadas às medições em química, garantia da qualidade, melhoria da capacidade analítica laboratorial, materiais de referência, programas de comparação interlaboratorial, métodos validados, estabelecimento da rastreabilidade metrológica, desenvolvimento de métodos de análise, entre outros, em áreas estratégicas como agricultura, biocombustíveis, análise ambiental, alimentos, metalurgia, mineração e petróleo, sistemas de qualidade e administração, toxicologia, plásticos e borrachas.

Química e Derivados, Vera Ponçano, Coordenadorade relações internacionais do IPT, Metrologia e qualidade em laboratórios - Congresso internacional desfila o estado-da-arte da calibração
Vera: medições exatas para garantir a qualidade

“O Congresso focalizou aspectos relacionados à rastreabilidade, uma das exigências fundamentais no comércio global por estabelecer uma relação entre os resultados de medições e os valores de padrões metrológicos claramente definidos, segundo critérios internacionalmente aceitos. Neste sentido, a participação dos membros da CITAC foi de grande valia para todos os congressistas”, enalteceu Vera.

Mesclados a assuntos geralmente presentes em congressos metrológicos como certificação ISO/IEC 17025 ou cálculos de incerteza de medição, houve apresentações tratando de assuntos pouco usuais, caso da palestra sobre certificação sensorial de bebidas e alimentos na Itália, proferida por Luigi Odello, professor de análise sensorial em várias universidades italianas, presidente do Centro Studi Assaggiatori e secretário-geral do Instituto Nacional Expresso Italiano.

Odello lembrou que o ser humano percebe tudo o que o rodeia por seus sentidos, ou seja, por análise sensorial. O Centro Assaggiatori (centro de degustação) estuda e aplica métodos objetivos para descrever o que é percebido de produtos e serviços, além de treinar pessoas a usar de modo mais apropriado seus paladares e olfatos.

Química e Derivados, Metrologia e qualidade em laboratórios - Congresso internacional desfila o estado-da-arte da calibração
Figura 2

Fundado em setembro de 1999, é o mais importante centro de análises sensoriais na Itália. Por meio de suas pesquisas, o centro desenvolveu métodos inovadores que permitem aplicar análise sensorial em várias indústrias de alimentos e bebidas, como as de vinho, massas, café e outras.

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Figura 1 – Selo de conformidade do instituto nacional de expresso italiano

O centro apoiou várias atividades relacionadas à degustação, como a criação do Istituto Internazionale Assaggiatori Caffé (Instituto Internacional de Provadores de Café), a Accademia della Birra (Academia da Cerveja) e outras similares.

Em julho de 1998 foi fundado o Istituto Nazionale Espresso Italiano (Instituto Nacional do Expresso Italiano), com o principal objetivo de salvaguardar e promover o café expresso italiano original.

Foi desenvolvido um processo para conseguir um café expresso padronizado de alta qualidade e de paladar único.

O grupo de trabalho buscou uma forma de classificar café usando outros métodos que não o químico, isto é, a determinação da composição nutricional do café (teor de carboidratos, polissaturados etc). Odello apresentou em detalhes o método sensorial empregado, ilustrando-o com vários gráficos.

A seguir, o centro introduziu o “certificado sensorial”, como garantia de satisfação para os consumidores.

Hoje o Instituto é uma das mais importantes associações no mercado de café, conferindo um certificado de conformidade de produto. As empresas que conseguem aprovação têm o direito de usar o selo de conformidade apresentado na Figura 1.

Para garantir qualidade aos consumidores que optarem por beber um café expresso em um bar exibindo este selo, uma especificação técnica bastante exigente foi instituída, requerendo o uso de grãos selecionados, equipamentos certificados e pessoal licenciado.

O cumprimento das três condições é supervisionado pelos auditores do Instituto, que lá aprendem a distinguir, em uma xícara de café, a origem dos grãos, a qualidade do torrefador, a eficiência das máquinas e a habilidade do preparador.

Odello é autor do livro Espresso Italiano Tasting, o primeiro dedicado à análise sensorial e à apreciação dessa famosa bebida.

A publicação é um resumo de tudo o que foi feito nos últimos dez anos no campo da análise sensorial de café pelo Instituto, incluindo como degustar um café, características positivas e possíveis defeitos presentes, escala e método de avaliação sensorial, geografia do local e modo de produção, arte da mistura e da torrefação, e equipamentos necessários para o preparo de um excelente café.

Ainda na área de análise sensorial, Rosemeire Alves, pesquisadora da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo), proferiu a palestra “Técnicas de avaliação de gosto e odor em águas de abastecimento: método analítico, análise sensorial e percepção dos consumidores”.

A palestrante ressaltou que problemas de gosto e odor em águas de abastecimento são de natureza complexa, de solução tecnológica difícil e onerosa, e sua presença na água tratada pode causar transtornos consideráveis entre os consumidores.

Química e Derivados, Rosemeire Alves, Pesquisadora da Sabesp, Metrologia e qualidade em laboratórios - Congresso internacional desfila o estado-da-arte da calibração
Rosemeire: painel sensorial para odor

Muito embora uma água potável do ponto de vista microbiológico, incolor, isenta de turbidez, de compostos orgânicos e inorgânicos, seja considerada segura para o consumo humano, a presença de gosto e odor causa desconfiança nos consumidores, podendo colocar em xeque a operação e a confiabilidade da companhia de saneamento como um todo.

A presença de gosto e odor em águas de abastecimento pode ser ocasionada por vários motivos, entre eles a presença de compostos orgânicos originários de fontes biogênicas.

É sabido que certas algas cianofíceas (algas azuis) e actinomicetos originam em seu metabolismo alguns compostos orgânicos que conferem gosto e odor indesejáveis às águas de abastecimento.

De acordo com a palestrante, o composto geosmina, produzido por culturas de actinomicetos, embora inócuo à saúde, é o causador de gosto e odor muitas vezes identificado pelos consumidores como “mofo” ou “BHC”. Um segundo composto, denominado 2-metilisoborneol (MIB), também causa problemas na água, deixando-a com gosto de “terra”.

O emprego de técnicas analíticas instrumentais para a identificação e quantificação desses compostos não é comum entre a maioria das companhias de saneamento, pois o investimento necessário em equipamentos e mão-de-obra qualificada é elevado. Desse modo, o desenvolvimento de técnicas alternativas para a identificação e quantificação desses compostos orgânicos tem sido considerado e, entre elas, pode-se citar a utilização do painel sensorial.

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Figura 3 – Concentrações de MIB, geosmina e intensidade de gosto e odor para a água final produzida pelo sistema produtor de guarapiranga no período de 2002 a 2004

O trabalho de Rosemeire objetivou a avaliação da eficiência e confiabilidade de um painel sensorial na identificação de gosto e odor em águas de abastecimento, e conseqüentemente na prevenção de reclamações por parte dos consumidores. Foram feitas comparações entre a percepção do painel sensorial, a da população e resultados de análises de doseamento dos compostos por CG-MS (cromatografia gasosa acoplada à espectrometria de massa).

A pesquisa foi desenvolvida em estações de tratamento de água (ETAs) que abastecem parte da Região Metropolitana de São Paulo: a de Guarapiranga e a do Alto Tietê. Tais sistemas foram escolhidos por possuírem reservatórios de acumulação que apresentam ocasionalmente problemas de gosto e odor. O intervalo de tempo considerado no estudo foi de três anos (2002 a2004).

Quantificações analíticas dos compostos orgânicos causadores de gosto e odor foram efetuadas para a água bruta e tratada de ambas as ETAs, em paralelo às análises sensoriais realizadas por técnicos da Sabesp.

As classificações obtidas deram origem à roda de gosto e odor (Figura 2), que abrange todas as sensações documentadas para águas de abastecimento público.

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Figura 4 – concentrações de MIB, geosmina e número de reclamações dos consumidores para a água final produzida pelo sistema produtor de guarapiranga para o ano de 2002

A Figura 3 apresenta os resultados de concentração de MIB, geosmina e intensidade de gosto e odor para a água final produzida pela estação de Guarapiranga no período de 2002 a 2004 e a Figura 4 apresenta as ocorrências de reclamações dos consumidores e concentrações de MIB e geosmina para os anos de 2002. Essa Figura mostra que no início de 2002 ocorreram episódios de concentrações de geosmina na água final em torno de 600 ng/L a 3.000 ng/L, gerando em torno de 100 a150 reclamações diárias de consumidores. Os resultados obtidos pelo painel sensorial são compatíveis com tais valores.

Segundo Rosemeire, o painel sensorial mostrou grande sensibilidade na identificação de odores, sendo a análise sensorial muito eficiente para a previsão do aparecimento de odores associados a “mofo” e “terra”, em virtude da presença de MIB e geosmina, assim como para a detecção da presença dos mesmos na ETA. Finalizando, a palestrante recomendou que companhias de saneamento, que possuam mananciais com problemas de gosto e odor, implantem análises sensoriais baseadas na técnica de painel sensorial, em face de sua potencialidade de previsão e identificação de gosto e odores presentes na água tratada que possam causar inconvenientes à população, bem como por permitir um melhor controle das técnicas de tratamento que venham a ser adotadasem suas ETAspara a minimização dessas ocorrências.

Materiais de referência – A pesquisadora Jacinta Cotta, da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), apresentou trabalho sobre certificação de material de referência de rocha para uso em análise geoquímica. Materiais de referência (MRs) desempenham um papel fundamental em todas as áreas nas quais os resultados analíticos são necessários.

Seus principais usos incluem a validação de métodos, calibração de instrumentos, controle e garantia da qualidade. Por definição, MR “é um material suficientemente homogêneo e estável com respeito a uma ou mais propriedades especificadas, as quais foram estabelecidas para serem adequadas ao pretendido uso em um processo de medição” (ISO Guia 35; 2006).

A certificação de um MR é feita pela combinação de análises de caracterização com os testes de homogeneidade e de estabilidade, que resultam na indicação dos valores de referência, suas incertezas, e no estabelecimento da rastreabilidade metrológica.

Segundo Jacinta, os primeiros registros da produção de MRs de rochas no Brasil datam da década de 70, quando o prof. Pedro Sampaio Linhares, da Universidade Federal da Bahia, iniciou a preparação de dois MRs, basalto (BB-1) e granito (GB-1). Infelizmente essas amostras foram preparadas em quantidade relativamente pequena e a sua caracterização não atende aos Wong: metrologia para análise química de ervas requisitos atuais de um MR.

O Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT-SP) já preparou e distribui um número apreciável de MRs geológicos, principalmente de matérias-primas minerais usadas em laboratórios industriais. O Centro de Tecnologia Mineral (CETEM) retomou recentemente a produção de MRs de minérios, mas, mesmo assim, poucos estão disponíveis.

Os laboratórios brasileiros de geoquímica analítica, em especial os envolvidos com análises de rochas, ressentem-se da ausência de MRs preparados e distribuídosem nosso País, e têm de recorrer aos internacionais, caros e disponibilizados em pequenas porções.

Em virtude da inexistência de MRs de rochas produzidos no Brasil, foi iniciado em 2004 um projeto colaborativo, entre pesquisadores da Unicamp, da Universidade Júlio de Mesquita Filho (Unesp, Rio Claro), e da Associação Internacional dos Geoanalistas (Iag), com o objetivo de produzir dois MRs. A certificação do primeiro deles, chamado BRP-1 (Basalto de Ribeirão Preto), foi apresentada pela pesquisadora no congresso.

A produção de BRP-1 seguiu procedimentos metrologicamente válidos para a certificação de um MR. A preparação física resultou em 1.920 frascos homogêneos no que se refere à concentração dos elementos maiores, menores e 14 elementos traço encontrados. Dados de caracterização e quantificação por fluorescência de raios X foram usados para demonstrar essa homogeneidade dos elementos certificados.

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Tabela 1: requisitos técnicos e gerenciais da NBR ISO/IEC 17025

Segundo Jacinta, a menor alíquota analisada durante sua caracterização do BRP-1 foi de 40 mg, sendo esta, portanto, a menor quantidade indicada para reproduzir os valores de referência.

A pesquisadora afirmou que esse MR pode ser usado para garantia da qualidade de resultados analíticos e em calibrações para amostras de matriz silicática, em razão da robustez de sua caracterização e por seus valores de referência possuírem comprovada rastreabilidade.

O representante do departamento de garantia de qualidade do Laboratório Governamental de Hong Kong, Sin- Kay Wong, proferiu palestra entitulada “Metrologia em química para análise de ervas”.

Wong lembrou a importância dos fitoterápicos como fonte alternativa para tratamentos de saúde ou como suplementos alimentares.

“O mercado internacional desses produtos vem crescendo significativamente nos últimos anos e a preocupação com o controle de qualidade das ervas comercializadas é grande”, disse Wong.

O Laboratório Governamental de Hong Kong (HKGL) dá suporte analítico às empresas do país e aos órgãos do governo, oferecendo várias análises em plantas, como de contaminantes perigosos, princípios ativos, detecção de adulterações e indicação de ervas tóxicas.

Para isso, precisam de materiais de referência e métodos confiáveis.

Química e Derivados, Sinkay Wong, Representante do depto de garantia de qualidade do Laboratório Governamental de Hong Kong, Metrologia e qualidade em laboratórios - Congresso internacional desfila o estado-da-arte da calibração
Wong: metrologia para análise química de ervas

“Os materiais de referência constituem a grande dificuldade para esse setor”, disse Wong.

“Trabalhamos também para suprir a falta de metodologias confiáveis”, complementou.

No caso de princípios ativos, desenvolve- se um procedimento para determinação de pureza, em geral por HPLC (High Performance Liquid Chromatography), com detecção UV (ultravioleta). O método é validado e implantado quando se obtém a aprovação da comunidade metrológica.

“Em parceria com a Universidade de Illinois, nosso laboratório desenvolveu, em 2002, metodologia HPLC para quantificação de seis ginsenonídeos em raízes de ginseng brutas e em fitoterápicos acabados”, exemplificou Wong.

O palestrante citou ainda outros dois métodos em desenvolvimento no momento. Um deles é para determinação de resíduos de pesticidas em ginseng, especificamente hexaclorobenzeno e os isômeros alfa, beta, delta e gama de hexaclorocicloexano, em quantidades de0,1 a1,5 mg/kg.

A técnica escolhida foi cromatografia gasosa acoplada à espectrometria de massa. “Procuramos agora a colaboração de outros laboratórios para validação do método e seqüência do desenvolvimento”, informou Wong.

O HKGL também buscou parceiros para finalizar o desenvolvimento de metodologia para quantificação de chumbo e cádmioem Herba Desmodü Hyracifolli, por espectrometria de plasma acoplada à espectrometria de massa, em teores de0,3 a1,5 mg/kg.

O desenvolvimento prevê a seguir a realização de um programa de comparação interlaboratorial contando com mais de dez instituições metrológicas no mundo. As amostras serão distribuídas em agosto próximo, sendo dezembro de 2007 o prazo final para submissão dos resultados analíticos. As conclusões serão enviadas aos participantes em abril de 2008.

Segundo a organização do IV Metrochem, o saldo do congresso foi muito positivo graças à presença de 24 palestrantes estrangeiros de renomadas instituições metrológicas internacionais.

No âmbito nacional, a comunidade metrológica brasileira dispõe de um outro palco para a discussão dos problemas e soluções relativos aos serviços de calibrações e ensaios, e suas aplicações para a melhoria da qualidade e atividades laboratoriais.

Promovido anualmente pela Remesp, com o apoio do Inmetro e da Sociedade Brasileira de Metrologia (SBM), o Congresso e Feira da Qualidade em Metrologia (Enqualab) já é um evento de referência para profissionais de metrologia de todo o País. O congresso ocorre na cidade de São Paulo, sempre no mês de junho.

Diferencial – Com a globalização e a integração de vários mercados, a economia de um país depende cada vez mais do que acontece nos outros. Para conseguir sobreviver à concorrência, os produtos brasileiros precisam adaptar-se às características internacionais.

Se o mundo inteiro pode fazer o mesmo produto, o que faz a diferença para o consumidor?

É a qualidade. Investindo nela, as empresas conquistam a confiança de quem compra, e conseguem crescer. Entretanto, propagandear qualidade é fácil; é preciso comprová-la.

Daí deriva o fundamental papel da metrologia e da normalização. Como a ciência que abrange todos os aspectos teóricos e práticos relativos às medições, a metrologia interfere em tudo no nosso dia-a-dia: desde a hora certa até o número do nosso sapato, tudo é definido por meio de padrões.

Sistemas de medição harmonizados são indispensáveis para produção e comércio de bens e serviços. Normalização e padronização permitem que peças produzidas no Brasil encaixem em máquinas feitas em diferentes partes do mundo.

Durante o primeiro Império, foram feitas diversas tentativas de uniformização das unidades métricas brasileiras, mas apenas em 1862 Dom Pedro II oficializou o sistema métrico decimal francês. O Brasil foi uma das primeiras nações a adotar o novo sistema, depois utilizado em todo o mundo.

Com o crescimento industrial no século XX, foi necessário criar instrumentos mais eficazes de controle de utilização dos sistemas padronizados, visando a proteger os consumidores. Assim, em 1961, foi criado o Instituto Nacional de Pesos e Medidas (INPM), que instituiu a Rede Brasileira de Metrologia Legal e Qualidade, os atuais IPEMs (Institutos de Pesos e Medidas), e implantou o Sistema Internacional de Unidades (SI), em todo o território nacional.

A metrologia também é a base técnica para as avaliações de conformidade. Avaliar a conformidade significa verificar se um produto, serviço ou processo atende aos padrões, normas ou regulamentos técnicos preestabelecidos.

Existem dois tipos de avaliação da conformidade: as obrigatórias e as voluntárias. Em alguns produtos das áreas de saúde, segurança e meio ambiente, a avaliação é mandatória, servindo como uma garantia para o cidadão.

Empresas que não atuam nessas áreas fazem as verificações por exigência de seus clientes ou para utilizá-las como ferramentas de marketing. Produtos com conformidade avaliada levam vantagem quando competem com outros. Além disso, as constantes verificações previnem defeitos de fabricação, evitando perdas.

Acompanhando o mundo na corrida tecnológica e no atendimento às exigências dos compradores, em 1973 o INPM foi substituído pelo Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial). O órgão teve ainda ampliado o seu raio de atuação.

Hoje, no âmbito de sua ampla missão institucional, objetiva fortalecer as empresas nacionais, aumentando a sua competitividade e produtividade, incentivando e, em alguns casos, exigindo a adoção de mecanismos que levam à melhoria da qualidade.

Vinculado ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, executa várias atividades, entre as quais a manutenção e conservação dos padrões das unidades de medida; o fortalecimento da participação do País nas atividades internacionais relacionadas à metrologia e qualidade; a promoção de intercâmbios com organismos internacionais; o fomento da utilização de técnicas de gestão da qualidade nas empresas brasileiras, e a coordenação da certificação compulsória e voluntária de produtos e serviços.

O órgão estimulou também a criação e o fortalecimento das redes metrológicas estaduais. A primeira foi criada no Rio Grande do Sul, mas hoje vários Estados têm organismos dedicados à metrologia.

O planejamento e execução das atividades de acreditação (credenciamento) de laboratórios de calibração e de ensaios é outra de suas atribuições. A busca por qualidade no Brasil estimulou de forma expressiva a demanda de serviços metrológicos, suplantando a capacidade de atendimento dos laboratórios do Inmetro.

Com o objetivo de disponibilizar ao País uma infra-estrutura de serviços básicos compatível com a demanda, foi criada na década de80 aRede Brasileira de Calibração (RBC).

Constituída por instituições acreditadas pelo Inmetro, a RBC congrega laboratórios de indústrias, universidades e institutos tecnológicos, habilitados à realização de serviços de calibração.

O credenciamento subentende a comprovação da competência técnica, credibilidade e capacidade operacional do laboratório. A importância de pertencer à RBC pode ser medida pelo número de laboratórios acreditados, que passou de 53, em 1994, para 278 em 2005.

Da mesma forma, a Rede Brasileira de Laboratórios de Ensaio (RBLE) é o conjunto de laboratórios credenciados pelo Inmetro para a execução de ensaios. Podem participar laboratórios nacionais ou estrangeiros que atendam aos critérios do Inmetro. A certificação se dá para cada análise, não ao laboratório como um todo.

Outra rede de importância, especialmente para os fabricantes de alimentos, cosméticos e fármacos, é a Reblas (Rede Brasileira de Laboratórios Analíticos em Saúde), constituída por laboratórios credenciados pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).

As análises exigidas para registro de produto no Ministério da Saúde devem ser feitas em laboratórios pertencentes à Reblas.

Qualidade em laboratórios– Publicadas em 1987 e desde então adotadas em todo o mundo, a série de normas ISO 9000 é a base para a certificação de qualidade de empresas. Para laboratórios, entretanto, existe uma norma de qualidade específica: a NBR ISO/IEC 17025.

Sua origem remonta ao final da década de 70, quando um grupo formado por representantes de órgãos de credenciamento de diversos países se reuniu para dar início às atividades do ILAC (International Laboratory Accreditation Conference).

O objetivo era promover o intercâmbio e disseminar as práticas de credenciamento de laboratórios, melhorando a confiabilidade de resultados de ensaios e calibrações.

Em 1982, foi elaborado o ISO/IEC Guide 25, contendo requisitos gerais para a capacitação de laboratórios. Revisado em 1990, proporcionou a padronização internacional das atividades de laboratórios de ensaios e calibrações.

A ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) publicou este documento, como ABNT ISO/IEC Guia25. ANBR ISO/IEC 17025 é o resultado do aperfeiçoamento do ISO Guia 25.

Essa norma é considerada a referência mundial de qualidade para laboratórios de ensaios e de calibrações, apresentando requisitos necessários à demonstração da implementação de um sistema de gestão, da competência técnica e da emissão de resultados válidos.

A certificação de laboratórios é concedida pelo Inmetro àqueles que atendem à essa norma, que valoriza não só a parte técnica, mas também a gerencial. A certificação por essa norma é também pré-requisito estabelecido pela Anvisa para credenciamento na Reblas. A Tabela 1 indica os requisitos técnicos e gerenciais da NBR ISO/IEC 17025 e suas respectivas seções.

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Figura 5: selo de qualidade de laboratórios reconhecidos pela Remesp

Bônus Metrologia – Os processos de credenciamento e certificação são onerosos. Assim, para as micro e pequenas empresas, fica difícil concorrer com as grandes.

Visando a baratear os custos da certificação do Inmetro, trabalho preparatório vem sendo feito pelas redes metrológicas estaduais.

A Remesp (Rede Metrológica do Estado de São Paulo) tem um programa de reconhecimento da competência de laboratórios de ensaio e de calibração apoiado pela Finep (Financiadora de Estudo e Projetos).

A coordenação do sistema de reconhecimento está a cargo da engenheira Lúcia Alves e Silva. Em2004, a Remesp começou a estruturar esse sistema, iniciando as avaliações em fevereiro de 2005.

O acesso ao reconhecimento é facultado a todos os laboratórios de ensaios ou calibrações, independentemente do porte e área de atuação. Não é necessário associar-se à Rede.

A Remesp assegura aos laboratórios postulantes confidencialidade sobre as informações a que tiver acesso, e preservação de seu direito de propriedade. No processo de credenciamento, auditores da rede metrológica paulista fazem a verificação da conformidade aos requisitos da NBR ISO/IEC 17025.

Química e Derivados, Lúcia Alves e Silva, Engenheira, Metrologia e qualidade em laboratórios - Congresso internacional desfila o estado-da-arte da calibração
Lúcia: rede diminui custo para as certificações

Segundo Lúcia, o corpo de auditores é constituído por profissionais do mercado qualificados e treinados, com vivência em laboratórios de ensaios ou calibrações, e homologados pelo comitê técnico da Remesp. Em maio de 2007, já havia 38 laboratórios reconhecidos e 21 processos de reconhecimento em andamento.

O reconhecimento pelas redes e pelo Inmetro é referência no mercado de serviços laboratoriais confiáveis. O laboratório ganha o direito de exibir em seus documentos e material publicitário o selo de identificação mostrado na Figura 5. Interessados em candidatar-se ao programa encontram informações adicionais no site www.remesp. org.br.

Também para ajudar as empresas de menor porte, o Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) lançou o bônus metrologia, em parceria com as redes metrológicas estaduais. Os beneficiários do programa são as pequenas e microempresas que demandam serviços de metrologia. O bônus pode ser pleiteado por empresas – industriais, comerciais, rurais e prestadoras de serviço – de pequeno porte. É oferecido para que o pequeno empresário procure um laboratório qualificado para realizar calibrações de instrumentos e ensaios de seus produtos.

A empresa procura o Sebrae mais próximo ou os laboratórios reconhecidos pela rede metrológica de seu Estado. Preenche uma ficha e, se aprovada, recebe o atendimento. O Sebrae arca com um percentual do valor dos serviços. Graças ao programa, as empresas contempladas conseguem acessar laboratórios qualificados, aumentando a confiabilidade de calibrações e análises.

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