Meio ambiente: Zeólitas cubanas ajudam a remediar áreas contaminadas

Cuba lentamente começa a ajudar o Brasil a despoluir solos e efluentes contaminados com uma infinidade de produtos químicos, desde os metais pesados, os hidrocarbonetos até os perigosos organoclorados. A explicação dessa estranha ligação entre os dois países cada vez mais “hermanos” é a crescente importação, desde 1998, de dois tipos de zeólitas minerais, cuja composição química formada por aluminosilicatos hidratados, com estrutura microporosa, tem a capacidade de absorver poluentes.
Disponíveis em abundância em cerca de sete jazidas minerais na região de Havana, as zeólitas mordenita e clinoptilolita (duas entre as mais de 40 espécies existentes) estão sendo importadas pela empresa paranaense GaMa, do ramo de agronegócios especializada na produção e exportação de soja convencional e orgânica. E foi em negociações agrícolas com o governo cubano que, em 1998, o grupo recebeu e aceitou a proposta de comercializar no Brasil as zeólitas extraídas pela empresa estatal cubana Cintec, passando a estocá-las em armazém próprio em Ponta Grossa-PR.
Na primeira fase, a intenção foi empregar esse mineral, originário da alteração da cinza vulcânica rica em sílica, em aplicação como removedor de mau odor e antiparasita em criações animais, aproveitando a vocação agrícola da GaMa, segundo explicou seu diretor de marketing, Leonardo Gardemann. Mas com o tempo, mais precisamente em 2000, a empresa deixou de lado as antigas aplicações, que não estavam se mostrando das mais interessantes, e resolveu partir para o mercado ambiental. Firmou então acordo com a Alphageos, de Barueri-SP, empresa de engenharia civil equipada com um departamento especializado em meio ambiente.

A faceta ambientalista das zeólitas se explica por meio de três de suas características técnicas, que agem em conjunto: o intercâmbio iônico, a sua adsorção/liberação de água causada pela microporosidade e a sua habilidade de adsorver moléculas de gás específicas.
O intercâmbio iônico é a sua habilidade de trocar cátions próprios de hidrogênio e sódio por outros provenientes de variados elementos químicos, como metais pesados. Com a troca, as cargas dos contaminantes são adsorvidas na estrutura microporosa do mineral, na chamada peneira molecular das zeólitas, reduzindo a classificação dos resíduos de classe 1 (perigoso) ou 2 (não-inerte) para classe 3 (inertes). “Daí é só destiná-los para uma alternativa de aterro muito mais barata do que antes do tratamento”, explicou o consultor de meio ambiente da Alphageos, Luiz Saragiotto, geólogo e ex-diretor do IPT, responsável pelo desenvolvimento do mercado das zeólitas.
Desde 1998, a GaMa já importou cerca de 200 mil toneladas de zeólitas, sob um investimento de US$ 120 mil. Com preço que varia entre R$ 1,50 e R$ 2,00 o quilo, cerca de 20 empresas já utilizam a zeólita (com nome comercial Alphasorb) e várias, inclusive estatais e outras companhias públicas, têm servido de experiência piloto para a Alphageos. Há, por exemplo, um caso documentado de tratamento de efluentes para remoção de metais e amônia, em que o produto foi empregado para eliminar odores e resíduos sólidos, como auxiliar de polímeros. Foi atestado, segundo Saragiotto, que houve melhora na eficácia da remoção de compostos orgânicos, responsáveis por sabor e odor desgradáveis, como fosfatos, amônia e orgânicos. Houve remoção de 90% de óleos e graxas, entre 70% e 85% de DQO, acima de 90% de sólidos solúveis totais, 100% de amônia e entre 90 e 100% de metais pesados.

Dispostos em pó, em malha 200 ASTM, ou em grãos de 1 a 3 mm ou de 3 a 8 mm (para líquidos), são aplicados em um percentual médio de 3% a 4% do que vai ser inertizado, com exceção de casos extremos de contaminação em que esse percentual pode ser elevado a até 30%. Além de poder ser dosado diretamente em líquidos ou borras (já foi testado em tanques de combustíveis), pode tambem ser arado em solos, em contaminações superficiais ou de até 1,5 metro de profundidade. Uma outra modalidade recente de aplicação é como elemento filtrante para água industrial. Nesses casos, a empresa Controlmaster, de Belo Horizonte-MG, e Tecitec, de Barueri-SP, estão produzindo os filtros.
De acordo com o diretor da GaMa, Leonardo Gardemann, a importação das zeólitas é feita dentro das normas brasileiras e internacionais de comércio. Ele ressalta ainda que o minério não sofre transformações por processos químicos (ao contrário das zeólitas sintéticas, empregadas como peneira molecular em processos industriais), portanto não requer condições especiais de transporte e manuseio.