A Feira Nacional de Saneamento e Meio Ambiente (Fenasan), de 3 a 5 de outubro, em São Paulo, refletiu o momento especial que o setor está passando, com metas de universalização de abastecimento de água e tratamento de esgotos em curso, até 2033, provocando alta na demanda por novas tecnologias e serviços. Para começar, foram registrados recordes de público e de expositores, com 21 mil visitantes e 280 empresas, acima dos 20 mil e 230 expositores da edição de 2022.
Ainda contando como suporte para a atratividade de público a ocorrência simultânea da Waste Expo Brasil, feira de resíduos sólidos, e do Encontro Técnico Aesabesp, que reuniu 1.500 congressistas, foi observado também aumento na participação internacional, com visitantes de países como Colômbia, Peru, Vietnã e Portugal, e de empresas expositoras da China e do Canadá.
“São números que traduzem a grandeza deste evento e este ano foi ainda maior ao acontecer com visitação integrada à Waste Expo Brasil. Os eventos representam um polo de inovação e integração de tecnologia, e faz com que este seja o grande encontro do saneamento na América Latina”, disse o presidente da Aesabesp, organizadora do evento, Luciomar Werneck.
Segundo ele, a boa notícia é que a próxima edição, em 2024, deve ocupar mais pavilhões do Expo Center Norte e já está toda vendida. “Não vamos medir esforços para conseguir aumentar o espaço da feira no ano que vem e contemplar todos os interessados em expor seus produtos e serviços. Nossa intenção é duplicar a feira diante do grande sucesso registrado em 2023”, disse.
Novas fábricas – O cenário favorável para investimentos na Fenasan era claro ao se tomar conhecimento de planos de novas fábricas para fornecimento de insumos e tecnologia entre os expositores. A Asperbras, por exemplo, produtora de tubos e conexões em PVC e PEAD, além de peças por rotomoldagem para os mercados de saneamento e irrigação, aproveitou o evento para lançar oficialmente uma nova fábrica para tubos de PEAD em Penápolis-SP.
Com investimento total de R$ 45 milhões, a nova planta iniciou a produção em setembro de tubos de diâmetros de 20 mm a 630 mm, cuja capacidade é para processar 15 mil t/ano. De acordo o gerente nacional de vendas, Thiago Rosa, a unidade vai adicionar até 30% de receita ao grupo. Hoje, a empresa conta com mais cinco fábricas, sendo três de tubos e conexões de PVC e duas de rotomoldagem para produzir poços de visita, tanques e caixas térmicas, com cerca de 3 mil itens no mix de produtos.
Com as seis unidades, a Asperbras passa a ter capacidade para processar mais de 60 mil toneladas de produtos em PVC e PEAD por ano, com destaque para os tubos Defofo (MPVC) em grandes bitolas e peças técnicas rotomoldadas. As fábricas estão distribuídas para atender o agronegócio e obras de infraestrutura, com unidades em Penápolis-SP, Macaíba-RN e Simões Filho-BA.
Segundo o gerente, a opção pelo novo investimento em tubos de PEAD é para a substituição do PVC.
Rosa: fábrica nova amplia em 15 mil t/ano a produção de tubos
“Eles têm a vantagem principal de serem mais flexíveis, o que os tornam também mais resistentes na aplicação. Isso sem falar que o tubo de PEAD tem variação de pressão muito grande, permitindo atender a uma faixa de projetos mais ampla, ao contrário do PVC, que só opera com três classes de pressão”, disse Rosa.
Em 2025, pelo planejamento da empresa, há intenção de estender a produção de tubos de polietileno para bitolas maiores, até 1.800 mm de diâmetro, com possibilidade de ofertar tubos corrugados, já que atualmente o portfólio envolve apenas os lisos.
A estrutura da Asperbras é dividida em duas empresas. A Asperbras Tubos e Conexões, inaugurada em 1985, segundo Rosa, é uma das quatro maiores produtoras no Brasil de tubos e conexões. O complexo industrial processa mais de 45 mil toneladas de tubos de PVC por ano em suas plantas. A operação começou apenas com a produção de tubos e conexões de PVC e atendendo o setor de rotomoldagem. Hoje atua principalmente em saneamento básico, condução de água e soluções para irrigação agrícola.
A segunda empresa é a Asperbras Rotomoldagem, oficialmente em atividade desde 2002 em Penápolis, com a produção de diversos produtos de PEAD. A empresa conta com quatro máquinas Italianas Caccia-Rotomec, com diâmetro da estufa de até 4.800 mm, o que permite a produção de peças de até 20 mil litros. Uma outra fábrica de rotomoldagem fica em Simões Filho, na Bahia.
Coagulantes em Pariquera-Açu – Uma outra empresa estava anunciando investimentos em soluções químicas para tratamento de água e efluentes. A Avanex, de Palmeira-SC, produtora de coagulantes e outros insumos químicos, divulgava um plano de expansão nacional que começará com nova fábrica em Pariquera-Açu, na região do Vale do Ribeira, em São Paulo.
De acordo com o diretor da empresa, Rogério Frasseto, estão sendo investidos R$ 20 milhões na fábrica paulista, que deve replicar boa parte da produção da matriz catarinense. A fábrica paulista já está produzindo o coagulante sulfato de alumínio desde setembro, e até dezembro passa a produzir no local os coagulantes um pouco mais avançados, o policloreto de alumínio (PAC) e o cloreto férrico.
A intenção com a fábrica paulista visa, além do estado, atender também o Paraná e Minas Gerais. O escopo maior de atuação nas vendas faz também com que a capacidade produtiva de Pariquera-Açu seja maior do que a matriz catarinense. A produção inicial de sulfato de alumínio será de 5 mil t/mês, de cloreto férrico de 2 mil t/mês e a de PAC, de 4 mil t/mês.
Em uma segunda etapa, a unidade paulista passará a produzir outros insumos importantes para aplicação em tratamento de água, cuja produção já existe em Santa Catarina. Serão os casos do anti-incrustante ortopolifosfato, que também tem uso como quelante para eliminar ferro, e de alcalinizante à base de aluminato de sódio. A filial paulista também vai atuar na distribuição de cal hidratada, cal virgem e geocálcio.
A fábrica, segundo Frasseto, foi construída em conceito modular, com unidades individualizadas para cada tipo de projeto, o que tornam futuras ampliações facilitadas. Aliás, o planejamento contempla expandir a produção para outras regiões do País, para aproveitar os novos investimentos previstos em saneamento, desde o marco regulatório do setor publicado em 2020. As principais regiões candidatas para unidades ficam no Centro-Oeste e Nordeste, onde devem ser erguidas plantas de coagulantes para atender demandas locais com ganhos logísticos por ficarem próximas ao ponto de consumo.
Mais PAC – Outro investimento em planta de coagulantes foi divulgado na Fenasan. A Hidromar, tradicional fornecedora de gás cloro em cilindros, que opera ao lado da produtora de cloro-soda Unipar, em Cubatão-SP, ainda em 2023 vai inaugurar fábrica de policloreto de alumínio (PAC) e cloreto férrico dentro do terreno da sua unidade na Baixada Santista. Trata-se de investimento aproximado de R$ 80 milhões.
Segundo o diretor comercial da Hidromar, Nelson da Silva, a fábrica está em fase final de detalhamento técnico para entrar em operação, o que deve ocorrer em dezembro. De acordo com ele, a operação da nova unidade contempla o recebimento de ácido clorídrico da vizinha Unipar por tubulação. Além disso, o vapor virá da outra indústria vizinha, a Petrocoque. “Estamos só alinhando alguns detalhes técnicos para receber o vapor, mas de resto está todo pronto”, diz. Só está faltando o sistema de controle e de medição de vazão, necessários por conta da interligação entre as indústrias e as altas temperaturas envolvidas.
De acordo com Silva, a planta é quase totalmente automatizada. E além da facilidade e o custo menor por não demandar gastos com o transporte do HCL, há planejamento também de permitir que o outro insumo empregado na produção do PAC, o hidróxido de alumínio, passe a ser recebido por transporte ferroviário, já que existe um ramal passando ao lado da Hidromar, no polo de Cubatão. “Dependendo do volume, vamos também receber via modal ferroviário, o que diminuirá ainda mais nosso custo, além de ser transporte mais seguro”, disse.
Na segunda etapa de investimento, a Hidromar produzirá o coagulante cloreto férrico. Nesse caso, também haverá sinergia e interligação com os produtores vizinhos. “Vamos usar o HCl ou o cloro gás direto da Unipar, embora a princípio o projeto seja para usar o HCl. E também vamos receber a hematita (óxido de ferro), que deve vir de caminhão ou via férrea também”, afirmou.
A expectativa é que a fábrica de PAC tenha capacidade produtiva de 12 mil toneladas por mês, caso a opção seja pelo PAC 18. Mas se a demanda for pelo PAC 10, a produção sobe para 16 mil t/mês, este último é mais empregado pelo saneamento atualmente. A decisão em produzir os coagulantes está diretamente ligada à previsão de demanda explosiva pelos produtos para atender as metas de universalização de serviços de água e esgoto, mas principalmente para este último.
Embora o dirigente reconheça que hoje há uma oferta grande no Brasil para coagulantes, com crescimento específico para o PAC, há por outro lado muitos projetos reprimidos para utilizar os produtos. “A pandemia atrasou muitos projetos para atender as metas de universalização, assim como as tentativas de mudar o marco de saneamento pelo novo governo federal. Mas agora isso está resolvido e daqui para a frente os investimentos vão ser retomados”, explicou Silva.
MBR – Além das novas fábricas de produtos, o momento de evolução do setor se reflete na expansão de uso de tecnologias mais avançadas em estações de tratamento. A empresa Kemia Tratamento de Efluentes, de Joinville-SC, por exemplo, dava destaque em seu estande na Fenasan a uma obra que está para ser entregue à CAJ (Companhia Águas de Joinville), que utilizará a tecnologia de biorreator a membranas, o MBR.
O MBR, ofertado por várias indústrias da área e em diversas versões, é um processo de tratamento de águas residuais que combina processo de tratamento biológico com filtração por membrana. Em suma, o sistema cria as condições em tanques para que os microrganismos decomponham a matéria orgânica dos efluentes para, na sequência, a água tratada passar por um filtro de membrana para remover sólidos suspensos e microrganismos remanescentes. Isso resulta em um efluente com possibilidade de reúso ou para o descarte de alta qualidade em corpos d´água.
Há poucos casos da tecnologia no Brasil em saneamento, mas um pouco mais de quantidade em indústrias. Há soluções com membranas submersas ou em tanques biológicos separados, com variações nos tipos e membranas de ultrafiltração.
Leidens: MBR garante qualidade alta da água extraída do esgoto
Em Joinville, segundo explicou o diretor técnico da Kemia, Ricardo Leidens, o MBR será o polimento final de uma estação de tratamento de esgotos. Pela concorrência original, explica, a exigência era por pré-tratamento com lodos ativados, decantador secundário e físico-químico para polimento que antecedia o descarte, para evitar contaminação do rio, pois cerca de 10 km adiante a própria CAJ faz a captação para abastecimento de água.
O MBR veio então como sugestão para substituir o decantador secundário e o tratamento físico-químico. Embora um pouco mais caro, o opex (custo operacional) mais baixo da tecnologia, cuja operação por 18 meses ficará a cargo da Kemia, acabou convencendo a companhia. A estação está em fase de licenciamento ambiental, mas já tem alvará de construção e terraplenagem concluída. A previsão é ser construída em 2024, em prazo de dez meses.
Após pré-tratamento com peneiras, raspador de gordura e separação de areia, o esgoto seguirá para o tratamento biológico, secundário, formado por reator pré-anóxico e reator aeróbico e pós-anóxico, para remoção de carga e nitrogênio, para daí seguir para o MBR.
Segundo Leidens, o esgoto tratado vai dar origem à água de padrão elevado para descarte e reúso. A obra será na ETE Vila Nova, com capacidade para tratar 90 litros por segundo, preparada para ser duplicada no futuro. O sistema de MBR será da norte-americana DuPont, com membranas de fibra oca (hollow fiber) submersas em tanque biológico.
Apesar de os planos iniciais da CAJ envolverem o descarte, estão contemplados pontos nas redes internas da estação para permitir o reúso. Também haverá tanque de armazenamento para possível uso do efluente recuperado, por exemplo, para fertirrigação, rega de jardim ou limpeza de pisos e equipamentos. Há ainda a possibilidade de fornecimento em caminhões-pipa para uso na cidade.
Ozônio – Outras tecnologias ainda não muito comuns no cotidiano de estações de tratamento, tanto no saneamento como na indústria, também davam mostras na exposição de querer ganhar mais espaço. Em geradores de ozônio, por exemplo, tecnologia oxidante que pode ser usada tanto em água como esgotos, a Acquozone, de São Paulo, esclarecia em seu estande da feira estar com uma nova abordagem para difundir mais a solução.
Segundo seu diretor, Luiz Claudio, antes de fornecer um sistema, a empresa realiza testes piloto para entender quais serão as características técnicas dos geradores, que serão engenheirados para as aplicações.
Luiz Claudio recomenda desenhar os reatores para cada caso
“Com as análises, vamos saber quais as capacidades e os tipos de tecnologia para a injeção do ozônio, que podem ser de várias formas”, disse.
Para ele, essa abordagem evita repetir erros de muitas empresas que tentaram no passado recente introduzir a solução do ozônio em desinfecção de água com produto de prateleira, que muitas vezes não funcionava na prática. “É preciso engenheirar os geradores caso a caso”, disse.
Após definir o tipo e a capacidade do ozonizador, explicou Claudio, a Acquozone fabrica o equipamento em São Paulo. Segundo ele, o índice de nacionalização do gerador é de 90%, precisando importar apenas a célula de ozônio da Alemanha. O modelo de negócio adotado é o de aluguel do equipamento, o que já ocorreu com 38 clientes, desde que a empresa foi fundada em 2019.
A maior parte dos fornecimentos seguiu para aplicações de desinfecção de efluentes, afluentes ou em processos, em indústrias siderúrgicas, mineradoras, de alimentos, fármacos e cosméticos, ou em limpeza CIP em cervejarias. Os geradores atendem demandas de 100 g de O3/h até 15 kg de O3/h. Um ponto a favor para a aceitação da tecnologia é o fato de não gerar trialometanos, componentes cancerígenos formados pela reação do cloro com orgânicos na água, com a vantagem ainda de o ozônio, quando aplicado com o cloro, não o degradar.
Dióxido de cloro – Outra tecnologia desinfetante e oxidante que ganha espaço é o dióxido de cloro. A Nalco Water, do grupo Ecolab, destacava na Fenasan a sua tecnologia Purate, que inclui um gerador de tecnologia proprietária, criada em 2000 pela Akzo Nobel a partir da reação do clorato de sódio e peróxido de hidrogênio com o ácido sulfúrico.
Martinazzo: dióxido de cloro é eficiente e evita trialometanos
Segundo explicou o gerente de contas da Nalco Water, Vicente Martinazzo, a reação química no equipamento gera o oxidante, extraído por vácuo e dosado em corrente de água que passa pelo gerador, transportando o dióxido de cloro dissolvido até o ponto de aplicação, sem deixar subprodutos ácidos.
Na explicação do gerente, o oxidante tem aplicações, para começar, onde o cloro se depara com componentes em que a eficiência da reação não será das melhores. Gerado in situ por ser gás muito instável, o dióxido de cloro também é indicado quando as dosagens de cloro precisariam ser muito altas, gerando subprodutos cancerígenos.
Há exemplos de aplicação no Brasil, em companhias de saneamento como a Sanepar, do Paraná, para remover endotoxinas em rede de água para hemodiálise, controle de ferro e manganês e para remoção de cor. Além disso, ele é especialmente indicado para controlar o protozoário cripstoridium e evitar trialometanos (THM, cancerígenos e gerados pela reação do cloro com orgânicos). O dióxido de cloro é um oxidante mais forte que o cloro e penetra nas células a ponto de destruir o DNA. Daí sua capacidade de remover cor e odor, além dos microrganismos não atingidos pelo cloro. Ele também é efetivo contra amônia.
Segundo Martinazzo, um último fornecimento importante de gerador pela Nalco, em outubro, foi para a ETA Rio Grande, da Sabesp, como pré-oxidante utilizado na captação de reservatório da represa Billings. De acordo com o gerente, há outras instalações na companhia de saneamento paulista.
Outro emprego recorrente do gerador de dióxido de cloro da Nalco tem sido em refinarias de petróleo da Petrobras, para substituir cilindros de gás cloro utilizados em várias demandas de tratamento de água. E isso para evitar o risco de explosão dos cilindros nas refinarias, o que aumenta o valor do seguro das instalações, segundo revelou o gerente da Nalco.
Nesses casos, o dióxido de cloro pode ser empregado em várias aplicações na substituição do cloro, apesar de sua instabilidade, já que em circuitos curtos e fechados ele funciona como desinfetante permanente, ao contrário do uso na potabilização de água de saneamento, onde o residual do oxidante não perdura por muito tempo. Isso tem feito o dióxido de cloro, diz Martinazzo, remover a cloração a gás das ETAs das refinarias, na pré-oxidação e nas oxidações finais e de potabilização.
Hipoclorito in situ – Outra solução de geração de oxidante in situ com potencial de crescimento é o hipoclorito de sódio. A italiana De Nora, uma das principais fornecedoras de sistemas eletroquímicos do mundo, na Fenasan colocava entre seus destaques os geradores de hipoclorito de sódio Posiclor.
Para a engenheira de propostas Mayara Dainese, o uso da eletrocloração tem potencial de pagar o investimento em médio prazo, por ter opex (custo operacional) baixo, apesar do investimento inicial no equipamento. Para ela, mesmo que muitas companhias ainda optem pelo gás cloro, preocupações com segurança operacional e transporte são fatores importantes para a substituição. A operação com gás cloro é considerada de alto risco.
Os geradores da De Nora são produzidos na fábrica em Sorocaba-SP e atendem demandas de 3 kg até 690 kg de cloro ativo/dia, podendo ser empregados em várias capacidades a partir de módulos. A eletrocloração é feita a partir da salmoura, com sal a 96,7%. O consumo de eletricidade é de 4,5 kWh por kg de cloro.
Mayara: equipamento dilui o H2 para garantir operação segura
“O equipamento da De Nora conta com sistema para diluir o hidrogênio, o que garante segurança para o processo”, disse Mayara.