Marina Mattar, diretora de Relações Institucionais e Sustentabilidade da Abiquim.
Diretora de Relações Institucionais e Sustentabilidade da Associação Brasileira da Indústria Química – Abiquim, Marina Mattar, pode ser muito bem considerada tanto uma ferrenha ambientalista como também forte defensora da competitividade da indústria química. Em 2012 apresentou sua dissertação de mestrado em Relações Internacionais na USP sobre “Migrações Ambientais, Direitos Humanos e o Caso dos Pequenos Países Insulares”. Entre 2017 e 2018, assumiu a função de co-chair do grupo Mobilizing Business Support da Carbon Pricing Leadership Coalition (CPLC), liderado pelo Banco Mundial. Atualmente, é coordenadora-executiva da Frente Parlamentar da Química no Congresso Nacional; membro do Leadership Group on Energy & Climate Change do International Council on Chemical Industry (ICCA); conselheira dos Conselhos de Assuntos Legislativos e de Meio Ambiente e Sustentabilidade da Confederação Nacional da Indústria (CNI); e membro do Comitê da Rede Brasileira do Pacto Global. Recentemente, foi escolhida para integrar o Steering Committee da CPLC, na Assembleia Geral liderada pelas presidentes do Banco Mundial e FMI, na sede do Banco Mundial, em Washington, passando a ser a única representante da América do Sul no Comitê.
Quem conhece Marina, no entanto, sabe que ela é incansável lutadora pela competitividade da indústria brasileira, com forte atuação junto aos poderes Executivo e Legislativo em defesa da redução drástica do custo da energia e da infraestrutura logística, bem como no uso de nossos recursos naturais para gerar emprego e renda no Brasil. Marina coordenou o trabalho realizado em conjunto entre Abiquim e a consultoria Deloitte, intitulado “Um Outro Futuro é Possível”, entregue aos candidatos à Presidência da República em 2018 sobre as medidas necessárias para a volta do crescimento da indústria química pela industrialização do petróleo, gás e biodiversidade. Com esse currículo, Marina Mattar une dois mundos supostamente antagônicos: sustentabilidade e indústria. Para ela, esses mundos se complementam, pois em sua visão o desenvolvimento sustentável do planeta nas próximas décadas dependerá fundamentalmente dos avanços da indústria, especialmente da química.
1) A senhora tem se envolvido fortemente com questões relacionadas às mudanças climáticas. Sua tese de mestrado já em 2012 versou sobre o impacto das mudanças climáticas no deslocamento humano. Agora é nomeada para o grupo da CPLC do Banco Mundial. Por que esse engajamento?

Primeiro, por convicção pessoal de que precisamos deixar um mundo melhor para as gerações futuras; segundo porque o Brasil tem uma grande vantagem competitiva para assumir um papel de liderança nas discussões sobre economia de baixo carbono, pois tem a maior biodiversidade do mundo, sermos ricos em petróleo, gás, minerais, termos uma indústria forte e um mercado crescente; e terceiro porque trabalhando com a indústria química, uma indústria à base de carbono, nossa responsabilidade de controlar eficientemente as emissões aumenta porque é necessário demonstrar diariamente à sociedade que a Química é exatamente a ciência que mais pode colaborar para o desenvolvimento sustentável do planeta, fornecendo produtos que permitem aos demais setores industriais reduzirem substancialmente as suas emissões. E este é somente um dos exemplos: A Química é responsável por soluções que beneficiam em várias áreas da nossa vida, seja no tratamento de água e saneamento; nas embalagens que protegem e evitam desperdício de alimentos; na construção sustentável, garantindo edificações que consomem menos água e energia; isso sem falar nos grandes avanços da medicina.
Sustentabilidade sem um dos tripés (i.e. meio ambiente, social e econômico), não é sustentabilidade. A economia de baixo carbono não é apenas importante para o meio ambiente, mas também uma grande oportunidade para o país atrair investimentos, ter um avanço tecnológico e mão de obra qualificada para atender às demandas do cenário global atual. Temos que ficar atentos às tendências globais e demandas da sociedade se quisermos deixar de ser um país do futuro e passarmos a ser uma potência do presente. A McKinsey estima que o mercado de investimentos de baixo carbono na América Latina e no Caribe seja de US$ 1 trilhão até 2040, com US$ 600 bilhões se materializando até 2030, e no mundo a economia de baixo carbono gerará entre US$ 57 trilhões e US$ 93 trilhões até 2030 em novos investimentos em infraestrutura que emitem menos e resilientes ao clima. Ou seja, a economia de baixo carbono não deve ser vista como um desafio, mas sim como uma grande oportunidade para o meio ambiente, para a sociedade e para a economia.
2) Isso significa que a responsabilidade pela redução do aquecimento global é da indústria?
De forma alguma. Pelo contrário, esta é uma responsabilidade compartilhada entre indústria, a sociedade e o governo. A indústria automobilística, por exemplo, com o apoio da indústria química, há muitos anos vem desenvolvendo carros que emitem menos, oferecendo ao mercado não somente modelos híbridos como os veículos totalmente elétricos e soluções que viabilizam a criação de veículos mais leves, que consomem menos combustível. Os governos podem, por exemplo, aumentar a eletrificação dos meios de transportes e a sociedade pode adotar uma postura de consumo consciente, com reaproveitamento das sobras e resíduos, com melhor aproveitamento dos recursos naturais.
3) Você acredita que o Brasil conseguirá cumprir as metas estabelecidas no Acordo de Paris?
As metas autoestabelecidas pelo Brasil são bastante ambiciosas, entretanto elas têm como base pontos que o Brasil realmente precisa atacar para melhorar a condição de vida da população, como o sistema de transporte e o desmatamento. Aqui um aspecto importante: muitos culpam os agricultores pelo desmatamento, o que não tem qualquer base na realidade, os agricultores são os maiores interessados em manter a qualidade de suas terras porque somente com boa terra ele poderá anualmente ganhar o sustento de sua família.
4) Qual o impacto da saída dos Estados Unidos do acordo de Paris?
Enorme, como tudo que envolve os Estados Unidos. Todos os países do mundo entraram em compasso de espera com receio de adotar medidas que diminuíssem a sua competitividade no comércio internacional.
Apesar disso, as grandes empresas americanas continuam firmemente comprometidas em reduzir suas emissões adequando as suas atividades ao cenário da economia de baixo carbono.
5) Quando o Brasil adotará um conceito de precificação de carbono?
Como mencionei, a saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris colocou o mundo em compasso de espera sobre o assunto.
O Brasil é um país que emite muito pouco e o governo brasileiro tem explorado com cautela, junto com o Banco Mundial, as diferentes alternativas de instrumentos de precificação de carbono com o objetivo de identificar o instrumento que mais se adequa à realidade brasileira. Adicionalmente, a indústria já vem adotando voluntariamente medidas para reduzir suas emissões, inclusive implementando práticas de precificação de carbono interna. É muito importante que os esforços históricos dessas empresas sejam considerados na definição desse novo instrumento.
Devemos olhar com cautela o que está acontecendo no mundo e a CPLC é um importante fórum para isso.
Provavelmente, a melhor alternativa seja nos juntarmos a algum mercado que já esteja funcionando bem em termos internacionais, para onde poderemos exportar os nossos créditos de carbono.
Creio que se o Brasil conduzir bem o assunto, com permanente diálogo entre governo, empresários e sociedade, a competitividade das indústrias brasileiras crescerá com a economia de baixo carbono, beneficiando o meio ambiente, a economia e sociedade. Vale lembrar que não há sustentabilidade sem competitividade.
Bom dia,
Antes de assinar gostaria de saber se tem como, ou onde poderia ver um exemplar da revista.