Madeira Acetilada – Por que não tentar acetilar diretamente um material celulósico natural?
Por que não tentar acetilar diretamente um material celulósico natural, como a própria madeira? Madeira Acetilada
Com o encolhimento do mercado mundial de acetato de celulose – usado para fazer filtro de cigarro e fios para vestido de noiva –, surgiu de novo uma ideia ventilada há uns 50 anos: por que não tentar acetilar diretamente um material celulósico natural, como a própria madeira?
O resultado foi o desenvolvimento de uma tecnologia que confere à madeira duas propriedades-chave:
• Resistência ao apodrecimento;
• Estabilidade dimensional (resistência ao
empenamento).
A melhora da resistência química se deve a dois fatores: a redução da umidade residual na madeira, resultante de sua reação com parte do anidrido acético; e o fato de os inimigos naturais da madeira – micro-organismos, cupim – não conseguirem mais metabolizar a celulose depois de parcialmente acetilada.
Embora no papel a química seja a mesma, um mol de anidrido acético acetila, um dos grupos –OH da celulose, dando como subproduto um mol de ácido acético, acetilar controladamente um produto natural como a madeira é bem mais difícil do que no caso do acetato de celulose, em que a matéria-prima é uma α-celulose pura.
A reação precisa ser conduzida de maneira que poupe as moléculas de celulose, privilegiando os grupos –OH da lignina e da hemicelulose, o que significa abrir mão do catalisador da esterificação e, em consequência, menor velocidade de reação.
Até o momento, quem investiu nesse processo foram os grandes acetiladores tradicionais. A Eastman acetila no seu complexo de Kingsport madeira serrada, que, uma vez tratada, é vendida a cerca de três vezes o preço da madeira não tratada.
Na Europa, a britânica Accsys desenvolveu, com a intenção de licenciar, tecnologia própria, que está sendo empregada no site da Akzo, em Arnhem (PB), numa unidade batch capaz de tratar 40 mil m3/ano de madeira serrada, e também licenciou a Solvay para construir uma planta (cerca de 50% maior) no site de Freiburg, da antiga Deutsche Rhodiaceta. Os mercados visados são decks, caixilhos de janelas e móveis para beira de piscina. Em todas essas aplicações, o maior valor agregado neutraliza grande parte do impacto econômico da acetilação.
A aplicação mais promissora, no entanto, é a acetilação contínua, em contracorrente, de cavacos usados na produção de painéis de madeira para uso exterior. Esse processo está sendo desenvolvido pela Accsys em conjunto com a Ineos, que incorporou as atividades de ácido acético da antiga BP Chemicals.
Para a indústria brasileira de painéis, cuja capacidade total caminha para 11 milhões m3/ano, essa ideia promete, pois mesmo uma penetração de apenas 1% ou 2% em peso já representaria uma quantidade respeitável de cavacos acetilados.
Há uns 50 anos, ácido acético não “viajava” e anidrido muito menos. Mas, com a explosão da demanda mundial de ácido tereftálico, grande e não tradicional consumidor de ácido acético, explodiu também o transporte a granel de ácido acético; e a produção de madeira acetilada no Brasil pode ser considerada viável mesmo que já não exista – no passado, já existiu, na Rhodia, em Santo André – uma fonte local de anidrido acético. O ácido recuperado poderia ser vendido internamente ou, se necessário, craqueado para dar ceteno e daí regenerar o anidrido.
Pelas informações colhidas na Europa, lá o uso de cavacos acetilados permitiria a produção de painéis para uso exterior valendo algo como US$ 1.500/m3, contra US$ 700/m3 para os de uso interior. E parece que, com o tempo, o cheirinho de vinagre acaba desaparecendo.
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