João Parolin fala sobre os Desafios do Setor Químico: Presidente da Oxiteno e Abiquim
Conselho renovado mantém os esforços setoriais para ampliar a competitividade

O presidente da Oxiteno, João Parolin, foi eleito presidente do Conselho Diretor da Associação Brasileira da Indústria Química – Abiquim pela Assembleia Geral Ordinária (AGO) realizada no dia 22 de abril deste ano, e substituiu o diretor-presidente da Elekeiroz, Marcos De Marchi, que exercia a presidência do Conselho da associação desde junho de 2016.
A AGO é o órgão máximo deliberativo da entidade, responsável por apreciar as demonstrações contábeis e financeiras da associação.
Sua realização é anual e a cada dois anos é promovida a eleição do Conselho Diretor e do Conselho Fiscal. Além de Parolin, foram eleitos os demais membros do conselho, são eles: 1ª. Vice-presidente: Daniela Manique (Rhodia); 2º. Vice-presidente: Roberto Simões (Braskem); 3º. Vice-presidente: Manfredo Rubens (Basf); 4º. Vice-presidente: Roberto Noronha Santos (Unigel), 5º. Vice-presidente: Javier Constante (Dow), 6º. Vice-presidente: Reinaldo Kroger (Innova); e 7º. Vice-presidente: Maurício Russomano (Unipar). O atual presidente do Conselho Diretor da Abiquim, em entrevista, falou sobre a situação da indústria química brasileira e suas propostas de trabalho à frente da entidade:
QD – O sr. assume a presidência da Abiquim em um momento crítico que é a pandemia. Qual a sua avaliação sobre o desempenho da indústria química com relação às demandas específicas da pandemia?
A indústria química de forma geral tem tido uma atuação exemplar no enfrentamento à pandemia, e essa atuação passa por várias dimensões.
A Abiquim esteve desde o primeiro momento em contato com autoridades federais e estaduais das várias áreas envolvidas para o fornecimento de informações e o atendimento às demandas.
Dessa interlocução, decorreu que a indústria química foi decretada atividade essencial ao País, o que nos permitiu seguir trabalhando ininterruptamente.
Dentro das fábricas, as indústrias adotaram protocolos de segurança rígidos e alinhados com as melhores práticas globais para que pudéssemos manter a produção.
Em alguns casos, empresas redirecionaram unidades fabris para produzir novos produtos que passaram a ser urgentes e essenciais ao Brasil, como foi o caso da matéria-prima do álcool em gel.
Eu gosto de lembrar que a produção da indústria química como um todo serve a todos os segmentos industriais.
Então a nossa capacidade de seguir operando e de nos adequarmos às necessidades impostas pela pandemia, é um fator importante para a indústria farmacêutica, de alimentos, o agronegócio e todas as demais.
No que diz respeito ao nosso trabalho pelos associados, a Abiquim realizou muitas ações importantes: apresentamos um pleito à Coordenação-Geral de Administração Aduaneira (Coana) solicitando que os documentos instrutivos do despacho aduaneiro de importação que fossem digitalizados passassem a ter os mesmos efeitos legais que os documentos originais, sendo dispensada sua apresentação em meio físico para fins de despacho de importação. Isso reduziu o contato físico entre representantes das empresas e da aduana na importação de insumos industriais, facilitando o funcionamento da cadeia produtiva.
Outros exemplos são os guias “Covid-19: Recomendações para motoristas e destinatários no transporte de produtos químicos” com informações para aumentar a segurança de motoristas, transportadores rodoviários, embarcadores e destinatários, e o “Guia Orientativo para a Continuidade das atividades face à pandemia de Covid-19”, que teve o objetivo de auxiliar as empresas do setor, independentemente do porte, a manterem e/ou retomarem suas operações com foco na saúde dos colaboradores, trabalhadores terceirizados e clientes.
QD – Para além da pandemia, a desindustrialização é um fantasma que ronda o Brasil com intensidade crescente nas últimas duas décadas. Por que ela é nociva ao Brasil e o que é preciso para reverter essa tendência?
Países ricos têm indústrias químicas fortes.
Hoje, nossa indústria é a sexta maior do planeta, com um faturamento de US$ 101,7 bilhões em 2020.
Nas últimas décadas, a participação de importados no consumo nacional de produtos químicos só tem crescido. Isso significa que estamos perdendo receita e empregos para outros países.
Isso acontece porque, apesar de termos condições privilegiadas no que diz respeito ao tamanho do mercado e à ocorrência de matéria-prima, temos, por outro lado, custos estruturais significativamente maiores que nossos competidores externos.
Em tributos, por exemplo, nós pagamos no Brasil entre 40% e 45% de imposto sobre o faturamento, contra 20% a 25% pagos por empresas na Europa ou nos EUA.
Nossa energia também é mais cara, assim como o transporte dos nossos insumos e produtos.
No segmento de fertilizantes, por exemplo, hoje algo em torno de 90% dos produtos químicos consumidos pelas fábricas são importados.
A indústria química tem capacidade instalada ociosa para atender essa demanda, mas tem tido dificuldade de competir diante dessa grande assimetria de condições.
Na prática, o que tem ocorrido é que esse custo gigantesco tem acarretado o fechamento de dezenas de unidades produtivas nos últimos anos.
Nossa luta na Abiquim é justamente para diminuir esse custo e alcançar condições competitivas.
QD – Nesse sentido, quais as reformas mais urgentes para o Brasil?
Todas as reformas que tenham impacto na competitividade do Brasil – isto é, nossa capacidade de gerar riquezas – são importantes. A reforma tributária é urgente.
O sistema brasileiro é assimétrico; alguns setores são pouco tributados e outros, como a indústria química, têm uma carga muito alta.
Outro ponto é simplificar o sistema tributário, que por excesso de burocracia e regulamentações, torna o próprio processo arrecadatório custoso para as empresas.
Precisamos chegar num nível de arrecadação que seja compatível com os competidores globais.
A reforma administrativa é igualmente importante no sentido de diminuir os custos da administração pública e enxugar o estado.
QD – A Lei do Gás representa um bom avanço?
Sim, ela é muito importante para dar mais competitividade ao setor.
O novo marco deverá promover o desenvolvimento de um mercado aberto e livre de gás na exploração, escoamento, processamento, transporte, estocagem, comercialização, além da desverticalização de seu transporte e, por consequência, transparência nos valores cobrados pela molécula e pelo transporte.
Apesar do efeito não ser imediato, com o estabelecimento de um novo marco regulatório do gás natural, a perspectiva é que em poucos anos, com nova logística estabelecida e mais opções de fornecimento aos consumidores brasileiros, o preço venha a se estabilizar em patamar similar ao do preço da molécula nos países da OCDE.
Porém, a recente MP da Eletrobrás põe em risco alguns avanços obtidos pela Nova Lei do Gás. Destaco a inclusão de dispositivos que determinam a contratação compulsória de 6.000 MW de térmicas a gás natural em locais predeterminados, uma medida que vai na contramão das reformas em curso para os setores elétrico e de gás natural.
O setor de energia é integrado e o impacto das mudanças no setor energético sobre os preços do gás natural deve ser levado em conta.
QD – Quais são os principais desafios para o setor durante a pós-pandemia?

Ainda estamos na pandemia e certamente a nossa prioridade é atender as demandas de produtos voltados ao combate e à prevenção da Covid-19, entre eles o oxigênio medicinal.
Os desafios a serem enfrentados, em maior ou menor escala, dependerão do impacto da Covid-19 e da velocidade de aplicação das vacinas.
Dada a natureza essencial do setor químico e da ampla utilização de produtos na área de saúde, a química mantém suas operações e está fazendo todo o possível para contribuir no combate ao coronavírus.
Muitos produtos fabricados nas diversas cadeias que nascem na química são utilizados para garantir a higienização dos ambientes (cloro, álcool gel, sanitizantes, desinfetantes, detergentes, entre outros), muitos entram na linha de frente diretamente nos hospitais (medicamentos, oxigênio, anestésicos, luvas, máscaras cirúrgicas e descartáveis em geral, bolsas de sangue, seringas, dentre outros).
O Brasil precisa pensar em políticas industriais que estimulem o País a crescer de forma firme e sustentada, especialmente nos segmentos em que há vocação natural, com disponibilidade de matérias-primas básicas, e que sejam estratégicos para manter a segurança interna, seja na área da alimentação, seja na da saúde ou outras cadeias essenciais ao desenvolvimento.
Não há como fazer isso sem a química. A maior parte dos países em crescimento, com destaque Índia e China, e os mais ricos do planeta fizeram e fazem isso; e protegem seus ativos e empregos.
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