Infraestrutura – Indústria de base cresce no primeiro semestre

Os dados apurados pelo departamento de economia da Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib) apontam crescimento de 5,4%, em reais, no faturamento do setor no primeiro semestre de 2002, em comparação ao mesmo período do ano passado.

As empresas faturaram R$ 45,4 bilhões nos seis primeiros meses de 2001, mas o montante foi ampliado para R$ 47,8 bilhões no primeiro semestre de 2002.

As vendas do subsetor de transportes evoluíram de R$ 8,3 bilhões para R$ 9,3 bilhões no período considerado para comparação, configurando expansão de 12%. Segundo o presidente da Abdib José Augusto Marques, o crescimento decorre da expansão das linhas de trens suburbanos e de trens metroviários do Rio de Janeiro, de São Paulo e de Minas Gerais. No setor de energia elétrica o incremento foi de cerca de 11%, com as vendas atingindo R$ 14,6 bilhões no primeiro semestre do ano, após registrarem algo em torno de R$ 13,1 bilhões em igual período de 2001.

Química e Derivados: Infra: atua1. Apesar do aumento das vendas, Marques diz que o setor de energia teve um dos piores desempenhos do semestre, ao lado do setor de saneamento básico. O segmento registrou grande queda de exportações, superior a 33%, passando de mais de US$ 756 milhões em 2001, para US$ 501,6 milhões neste ano. Marques afirma ainda que os investimentos em distribuição são muito baixos, e o setor anda estagnado nos últimos dezoito meses. Para piorar, o nível de investimentos em energia elétrica, que traçava trajetória ascendente desde 1996, deve cair em 2002.

No setor de saneamento, a carência tanto de recursos públicos quanto de privados, contribui para o mau desempenho, principalmente devido à ausência de um marco regulatório claro que regularize os fluxos de capitais privados. Para Marques, a situação forja um entrave ao setor: “A participação privada não é sistêmica, a fatia do capital privado no setor é de apenas 4%”, diz.

Química e Derivados: Infra: atua2.Embora energia elétrica e saneamento sejam os casos mais graves, a queda das exportações afeta todo o setor. Transportes e portos amargaram redução de 21,9%; as indústrias de base – empresas dos setores de siderurgia, papel e celulose, cimento e mineração – registraram queda de 32,6% e os outros subsetores retraíram as vendas externas em 8,5%.

Mercados deprimidos – Para o presidente da Abdib, a principal causa para a queda das exportações foi a depressão generalizada dos mercados para o Brasil, tanto os da América Latina como os dos Estados Unidos. Marques lembra ainda o fim do Convênio de Crédito Recíproco (CCR), espécie de câmara de compensação financeira para operações comerciais entre os países da Associação Latino-Americana de Integração (Aladi). O mecanismo foi encerrado em 2000, para operações acima de 360 dias, e tem certa parcela de contribuição na retração das exportações do setor.

As importações também caíram. Passaram de US$ 3,9 bilhões para US$ 2,9 bilhões. Embora tenha havido princípio de processo de importações, peso maior tiveram o não avanço do programa térmico brasileiro, que aqueceria as importações, e o engodo administrativo criado pela greve dos auditores da Receita Federal.

O setor de petróleo e gás, diferentemente, parece trilhar caminho distinto. “O setor aparentemente caminha na direção correta”, endossa Marques. “A Petrobrás está aumentando os investimentos em exploração e produção e as empresas internacionais estão investindo no Brasil”, observa. O faturamento das empresas de petróleo e gás subiu de R$ 4,2 bilhões, no primeiro semestre de 2001, para R$ 4,4 bi, no período equivalente em 2002, um crescimento de 4,3%. As exportações também estiveram aquecidas e registraram alta de 16,8%: US$ 193,6 milhões foram exportados nos seis primeiros meses de 2001 e US$ 226,1 milhões no primeiro semestre de 2002.

Apesar da boa evolução dos números do setor, os valores absolutos são “extremamente baixos”, nas palavras de Marques, pois o segmento oferece grandes chances de desenvolvimento de bons negócios. Marques cita o caso da exploração de petróleo na Costa Atlântica da África, onde há grandes investimentos em exploração e produção, e nos quais a participação nacional é ínfima. Os investimentos na região, concentrados em Angola, somam cerca de US$ 5,4 bilhões, mas “o País praticamente não participa daquele mercado”, diz o presidente da Abdib.

À favor da indústria nacional estão as características geofísicas das regiões exploráveis de Angola, semelhantes às da plataforma brasileira. Marques acredita também que as maiores oportunidades de investimento no segmento de petróleo e gás, em nível mundial, estejam no Brasil e na Costa Africana.

Indústria capacitada – A indústria brasileira é altamente qualificada para participar deste mercado mundial. Competitiva, líder na exploração e produção de petróleo em águas profundas, a indústria petrolífera brasileira enfrenta problemas de certo modo alheios ao seu objetivo, denominados por Marques “dificuldades de competitividade exógena”. A logística brasileira, deficiente, e a carga tributária, exuberante, tolhem a competitividade nacional frente aos concorrentes internacionais. Marques engrossa o coro de insatisfação com o sistema tributário brasileiro: “o Brasil é a única grande economia que tributa a produção”. As dificuldades decorrentes da alta tributação são tantas que chegam ao ponto de comprometer a participação no País na Alca, a zona livre de comércio das Américas. “O Brasil tem duas grandes desvantagens para entrar na Alca: a grande carga tributária e o alto custo trabalhista. O trabalhador ganha pouco e custa muito”, diz ele. A despeito destas dificuldades, o presidente da Abdib aposta no crescimento do setor de petróleo e gás no segundo semestre de 2002, amparado pelo fato de que, no setor de infra-estrutura, as vendas não são de prateleira, mas sob encomenda.

A previsão, entretanto, não se estende às demais indústrias de infra-estrutura e base. Historicamente, o segundo semestre concentra o faturamento das empresas do setor – 45% do montante é obtido no primeiro semestre e o restante, 55%, no segundo. Em 2002, ao contrário, a retração esperada no segundo semestre deve anular o crescimento do primeiro, frustrando a previsão inicial de crescimento global ao redor de 15%. A retração nos últimos seis meses do ano, prevista para 7% ou 8%, deve puxar para baixo o crescimento em 2002, que não deve superar 1%. “Na melhor das hipóteses vamos manter o resultado de 2001, ou crescer até 1%. Ficaríamos muito felizes se mantivéssemos o faturamento de 2001”, explica Marques.

O comportamento do setor de base e infra-estrutura não acalenta grande otimismo com relação ao desempenho do PIB nacional em 2002. Além disso, deposita sobre o ano de 2003 um grande sinal de interrogação. Marques não arrisca previsões: “Não sabemos dizer se o setor entra em um período de declínio ou se apenas atravessamos uma turbulência”. Caso a recuperação venha, entretanto, a resposta do setor é a mais rápida. Normalmente o primeiro a sentir os efeitos das crises, o segmento toma a dianteira nos tempos de recuperação, pois suas caraterísticas intrínsecas lhe possibilitam alavancar o desempenho dos demais setores da economia.

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