Incubadoras – Entidades ajudam empresas

Entidades ajudam empresas de alta tecnologia a dar seus primeiros passos

Química e Derivados, Incubadoras, Incubadoras de empresas

Com a ajuda das incubadoras de empresas, profissionais com sólida formação e escassos recursos financeiros conseguem abrir empresas e investir em pesquisa e desenvolvimento.

Os quesitos imprescindíveis para iniciar a aventura são apenas dois: uma boa ideia e muito entusiasmo para concretizá-la. Tudo em nome de uma palavra fundamental para o progresso de um país: a inovação.

No setor químico, a experiência tem resultado no surgimento de produtos de elevado desempenho, capazes de competir com os lançados pelas milionárias multinacionais.

Vale a pena registrar: em torno de 55% do PIB norte-americano provém da alta tecnologia.

Como definir as incubadoras?

São entidades montadas para ajudar empresas em seu estágio embrionário.

Elas têm como objetivos selecionar projetos promissores e ajudar os empreendedores a driblar a burocracia para abrir as empresas.

Oferecem espaços adequados para abrigá-las e prestam apoio na tarefa da administração.

Em paralelo, ajudam a obter os recursos necessários para transformar os projetos em empreendimentos lucrativos. Quase sempre próximas às universidades, permitem a obtenção dos equipamentos de laboratório necessários para a realização dos estudos.

Ao se falar em inovação, também merecem destaque os parques tecnológicos. Estes abrigam as empresas em fase de consolidação, quase sempre oriundas das incubadoras. Além do acesso à estrutura das instituições de ensino e pesquisa, eles permitem a interação das empresas que abrigam com outras de alta tecnologia, criando ambiente favorável às parcerias. “Por isso, grandes empresas – como Microsoft e Nokia – têm unidades em parques tecnológicos”, conta Josealdo Tonholo, diretor da Anprotec (Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores).

De acordo com a Anprotec, hoje existem quatrocentas incubadoras e dezessete parques tecnológicos espalhados pelo Brasil. Outros 34 parques estão projetados e devem ser instalados em breve. O Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) calcula em seis mil o número de empresas instaladas nas incubadoras nacionais. O número de empregos gerados nas incubadas é de 32 mil e o faturamento estimado em 2008 foi de R$ 3 bilhões.

Química – Entre as incubadas, as mais numerosas estão ligadas à área de tecnologia da informação, seguidas pelas de produtos médicos e hospitalares. As empresas da área de química são menos numerosas. Nem por isso, pouco significativas. “Mais de 90% das empresas inovadoras do setor químico hoje se desenvolvem em incubadoras. O setor abriga algumas das mais promissoras e rentáveis empresas embrionárias”, diz Tonholo.

“Com a ajuda das incubadoras, com algo entre US$ 2 mil e US$ 3 mil, gera-se um emprego de nível superior. Fora desse ambiente, são necessários mais de US$ 100 mil”, estima o diretor da Anprotec. Muitas incubadoras estão localizadas junto a regiões conhecidas como polos industriais regionais especializados, como os das indústrias de calçados, têxtil e cerâmico.

Vertentes mais novas do desenvolvimento da química, como nanotecnologia e biotecnologia, estão entre as de maior possibilidade de sucesso para os empreendedores. “Existem outros segmentos promissores, como os de biocombustíveis e de geoquímica associada a petróleo”, informa Tonholo. O diretor aponta outros mercados diferenciados. O dos fitoterápicos, no qual já atuam diversas novas empresas da Região Norte, tem projetos baseados em ingredientes retirados da biodiversidade da Amazônia. No Ceará, há empreendimentos focados nos chamados nutricêuticos, alimentos com características de medicamentos. Em Alagoas, existe uma incubadora dedicada à produção de feromônios, substâncias ligadas ao mundo dos agronegócios e capazes de atrair animais.

Nessa lista também podem ser incluídas empresas de adesivos, novos materiais e equipamentos, entre outras. Nem todos os projetos são voltados para o desenvolvimento de novos produtos. Algumas substâncias já no mercado há algum tempo, mas ainda não fabricadas no país, são alvos de projetos de nacionalização. Também existem empresas voltadas à produção de versões mais econômicas de produtos comercializados.

Estímulo – Contar com apoio oficial é imprescindível para o sucesso das empresas incubadas. Autoridades de diferentes esferas governamentais têm mostrado sensibilidade e lançado alguns programas destinados a estimular a inovação. Um exemplo de porte é o da Lei da Inovação, editada pelo governo federal no final de 2004.

É preciso ressaltar a ação de órgãos como a Finep (Financiadora de Estudos e Projetos), instituição vinculada ao Ministério da Ciência e Tecnologia, e a Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), ligada à Secretaria de Ensino Superior do Estado de São Paulo. As duas instituições contam com vários programas para incentivar empreendedores. Também merece ser mencionado o CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), órgão do Ministério da Ciência e Tecnologia, com atuação considerável ao ministrar bolsas de estudos para pesquisadores contratados pelas incubadas.

Entre os programas recentes, um foi lançado pela Finep no início do ano. Trata-se do Prime (Programa Primeira Empresa Inovadora), dirigido às empresas cuja existência jurídica não ultrapasse 24 meses. A empresa participante pode ser formalizada no momento de inscrição do programa. As selecionadas pelo Prime recebem R$ 120 mil em recursos não reembolsáveis. Com essa verba podem, por exemplo, contratar consultores para análises de custos ou para ajudar em questões jurídicas ou relativas à propriedade intelectual.

Em 2009, o Prime prevê alocar R$ 230 milhões em aproximadamente duas mil novas empresas. Em quatro anos, o volume de recursos previstos é de R$ 1,3 bilhão, destinados a cinco mil empresas nascentes e com alguma característica de inovação. “Os empreendimentos, além de apostar na inovação, precisam ser muito bem desenhados. Em algum momento de suas trajetórias, essas empresas se confrontarão com grandes organizações; não é um desafi o para amadores”, adverte Gina Paladino, superintendente da área de pequenas empresas inovadoras da Finep.

Dinheiro da iniciativa privada também é bem-vindo. Alguns fundos de investimentos têm se mostrado interessados em projetos de inovação capazes de gerar retornos financeiros interessantes para seus cotistas. Um desses fundos, a CRP Participações, instalada no Rio Grande do Sul, investe em mais de vinte empreendimentos ligados aos mais variados setores. Entre eles, por enquanto, não há nenhuma incubada ligada à indústria química.

O fundo, no entanto, se mostra disposto a estudar oportunidades no setor. “A química é hoje olhada com atenção pelos investidores e sempre citada como alvo de investimentos”, diz João Marcelo Eboli, sócio da CRP. Para o dirigente, projetos do gênero devem ter alguma característica de inovação, mesmo que a pesquisa não se destine a algo 100% novo. “Essa é a única maneira de atuar em um mercado no qual atuam grandes corporações multinacionais”, avalia.

Apesar de ainda não apoiar incubadas, a empresa conta em sua carteira com uma empresa ligada ao universo da química. É a Brasquip, no mercado desde 1993 e dedicada ao tratamento dos resíduos líquidos gerados por outras indústrias. Localizada em Jandira, a empresa tem capacidade de processar algo entre três e quatro mil metros cúbicos de resíduos e em 2008 faturou cerca de R$ 5,8 milhões. O mercado favorável aos empreendimentos voltados para a defesa do meio ambiente tem ajudado a empresa. “Ainda este ano, a Brasquip vai inaugurar unidades no Rio Grande do Sul e na Bahia”, conta José Augusto Albino, sócio da CRP dedicado a este projeto.

Cotidiano – Não são poucas as atribuições presentes no cotidiano das incubadoras de empresas. “Trabalhamos muito por aqui”, revela Sergio Risola, diretor do Cietec (Centro de Inovação, Empreendedorismo e Tecnologia), entidade instalada dentro do campus da USP (Universidade de São Paulo).

A incubadora, considerada a maior do gênero no país, foi criada em 2002 e já graduou 84 empresas.

Em dezembro de 2008 contava com 76 empreendimentos instalados. Esse número vem crescendo rapidamente este ano, hoje se encontra na casa das 120 incubadas. A maioria das empresas é especializada em projetos de TI (tecnologia da informação). A área de produtos para o setor médico-hospitalar vem em seguida. O número de empresas ligadas ao universo da química é estimado em de oito a dez.

“Atuamos em três pilares”, conta Risola. O primeiro é voltado para selecionar os melhores projetos e instalar as empresas.

Química e Derivados, Sergio Risola, diretor do Cietec da USP, Incubadoras de Empresas
Sergio Risola abriga, hoje, 120 empreendimentos

“Lançamos editais de seleção de quatro em quatro meses”, diz.

Os interessados em participar devem se encaminhar à incubadora com um projeto e participar de um processo de seleção com júri formado por especialistas. Os aprovados fazem um curso de um mês – quinze dias em sala de aula e quinze dias com consultores – para entender como o seu projeto pode vir a se tornar realidade.

Um requisito bastante apreciável é a ideia contar com caráter inovador. “Mas nem sempre. Podemos apoiar quem deseja passar a produzir no Brasil um produto importado, mesmo que não seja inovador”, ressalta. Também deve ser traçado um plano de negócios detalhado, que norteie os passos do empreendimento. Uma vez aprovado, a incubada ganha um espaço de 30 a 400 metros quadrados.

O segundo pilar de atuação do Cietec prevê a introdução dos incubados no universo da tecnologia. O centro ajuda a nova empresa a tomar contato com companhias âncoras de médio ou grande porte, colabora com a busca de tecnologia em universidades e institutos de pesquisa. Também presta consultoria para a resolução de problemas variados, entre eles, como seguir as regulamentações emitidas pelos órgãos de defesa do meio ambiente, de vigilância sanitária ou como atuar para obter patentes.

A incubadora também orienta os novos empresários a obter financiamentos em órgãos de fomento à tecnologia, casos da Finep, Fapesp e CNPq. De quebra, faz a ponte com os grupos de investimentos interessados em aplicar recursos nos projetos mais promissores. “Recebemos muitas visitas de representantes de
investidores”, comenta.

O terceiro pilar de atuação do Cietec deve ser inaugurado em setembro, quando o centro planeja inaugurar seu próprio parque tecnológico. Ele deve passar a abrigar algumas das empresas hoje lá incubadas.

Adesivos

Muitos casos de talento e dedicação podem ser encontrados entre as empresas incubadas. Um exemplo é o de uma taiwanesa naturalizada brasileira, a engenheira química Wang Shu Chen. Há alguns anos, ela trabalhava no departamento de desenvolvimento de produtos numa empresa de adesivos. Um exame de sangue feito à época apresentou um resultado assustador: ela estava com 30% a menos do normal de glóbulos brancos em seu organismo.

Chen creditou ao ambiente da fábrica, poluído pelos solventes utilizados nas linhas de produção, o seu problema de saúde. Ela fez uma pesquisa no exterior e descobriu que em muitos países os solventes eram produtos já obsoletos. Foi então que tomou uma resolução. Deixou a vida de empregada e apostou no desenvolvimento de um negócio próprio.

Dessa forma, nasceu a Adespec, empresa incubada no Cietec, cujo objetivo era o de desenvolver adesivos com fórmulas isentas de solventes. Algum tempo depois, conseguiu um sócio, Flávio Teixeira Lacerda, com vasta experiência em empresas de adesivos e com quem ela havia trabalhado no passado.

A Adespec hoje é exemplo de sucesso. Os adesivos desenvolvidos pela empresa usam água ou o polímero poliéter siloxano como solventes. São livres de solventes, isocianatos e compostos orgânicos voláteis. Um dos produtos, o Fixtudo, já comercializado em redes de varejo, não tem cheiro e é capaz de colar todos os materiais.

“Menos a pele”, ressalta Chen. Além de ser resistente a temperaturas de até 120ºC, o dobro da temperatura das colas instantâneas disponíveis no mercado, apresenta notável resistência à água.

Química e Derivados, Wang Shu Chen, Engenheira química, Incubadoras de Empresas
Wang Shu Chen: adesivos sem solventes ganharam corpo na incubadora

“Dá para consertar o vazamento de um aquário sem retirar a água de dentro dele”, ressalta.

A Adespec se graduou no Cietec em 2003. No início, Chen investiu R$ 60 mil do próprio bolso. Nos primeiros anos, ela e Lacerda chegaram a investir cerca de R$ 1 milhão. A empresa chamou a atenção de grupos de investidores, que em seguida fizeram aportes de capital. Seu faturamento deve saltar de R$ 3 milhões, em 2007, para mais de R$ 50 milhões até 2012.

A empresa agora cuida de seu novo lançamento. Trata-se da cola de contato Ecotaq, voltada para os mercados de madeira e espumas. O adesivo é à base de um polímero especial e também isento de solventes e produtos químicos agressivos. Em tempo: a empresa é uma das poucas no Brasil a deter o selo de proteção ao meio ambiente SustentaX e a certificação de qualidade ambiental interna Green Buildings.

Farmoquímicos

Criar no Brasil uma pequena indústria de substâncias farmoquímicas de elevado valor agregado, fabricadas no exterior já há alguns anos e importadas pelos laboratórios brasileiros. Essa era a ideia de William Carnicelli em 2002, quando criou a Alpha BR. Instalada no Cietec, a empresa nasceu numa área de 45 metros quadrados.

William Carnicelli, Fundador da Alpha BR, Incubadoras de Empresas
William Carnicelli: nacionalização evita importar farmoquímicos

“Os três primeiros anos foram muito difíceis”, diz o empreendedor.

Além de enfrentar a burocracia comum para quem quer abrir uma empresa no Brasil, ele sofreu para administrar problemas comuns ao setor farmacêutico, caso, por exemplo, da obtenção de licenciamento dos produtos na Anvisa.

O primeiro produto da empresa, desenvolvido com o apoio da Fapesp, foi o clonazepam, surgido em 2004. “Nós pegamos uma amostra e fomos bater de porta em porta nos laboratórios nacionais para informar que o produto já podia ser produzido no Brasil a um custo competitivo”, conta. Aos poucos, a empresa passou a conquistar clientes, em especial fabricantes de medicamentos genéricos. “Começamos a crescer de verdade a partir do nosso quinto ano de existência”, conta.

Hoje, Carnicelli destaca três outros produtos nacionalizados pela Alpha BR: citrato de fentanila, cloxazolam e midazolan. “São substâncias utilizadas em anestésicos ministrados em hospitais”, revela. O empreendedor promete mais novidades em breve. “Estamos trabalhando em duas outras moléculas”, informa. Ele estima o prazo de desenvolvimento de um produto novo em de dois a três anos.

A Alpha BR hoje está instalada em uma área de aproximadamente 300 metros quadrados e tem capacidade de produção na casa de 450 kg de farmoquímicos por ano. Até o final do ano, essa capacidade de produção vai se multiplicar de forma significativa. “Ainda em 2009 queremos atingir a casa das 2,5 toneladas por ano”, revela. Outro plano previsto para breve será a mudança da empresa da incubadora para um parque tecnológico.

Nanotecnologia I

Três estudantes, André Araújo, Daniel Minozzi e Gustavo Simões, bacharéis e pós-graduandos em cursos de tecnologia, tinham o sonho de montar uma empresa própria em 2004. Na época, o desenvolvimento da nanotecnologia era assunto dos mais comentados nos meios científicos. Foi o tema escolhido. Definido o campo de atuação, iniciou-se o processo a ser enfrentado por todos os interessados em criar uma empresa incubada. “Fizemos um processo de seleção, a avaliação do plano de negócio e fomos buscar financiamento”, revela André.

Com os apoios da Fapesp, Finep e CNPq, conseguiram os recursos. Dessa forma, em 2005, criaram a Nanox, incubada no Parque Tecnológico de São Carlos. O período de incubação durou apenas seis meses. Logo, ela passou a atuar como consultoria. Em 2006, tornou-se sociedade anônima ao receber aporte de capital do Fundo Novarum. Em 2007, ganhou o prêmio Inovação Tecnológica, oferecido pela Finep.

A Nanox conta com duas marcas patenteadas: a da linha de antimicrobianos NanoxClean e a de produtos anticorrosivos NanoxBarrier. O último lançamento da empresa, o antimicrobiano ANR, chegou ao mercado em maio, durante a última edição da Brasilplast, feira do segmento de plásticos realizada em São Paulo. Nesse projeto, a Nanox contou com a parceria da Resimax, especializada na produção de masterbatches, compostos e aditivos.

O ANR é indicado para tornar os plásticos livres de bactérias e fungos durante toda a sua vida útil. Ele pode ser utilizado para eliminar germes e bactérias em embalagens, peças de veículos, geladeiras, eletrodomésticos e em várias outras aplicações. O produto usa princípio ativo natural, segue padrões de proteção ao meio ambiente e é certificado pelo Ministério da Saúde. “Ele pode ser usado em contato com alimentos ou com a pele humana”, ressalta o vice-presidente Araújo. A empresa garante ter condições de fazer entregas na quantidade que os clientes precisarem.

Além do lançamento, a linha NanoxClean conta com outros produtos já no mercado. Um de seus clientes é a IBBL, fabricante de bebedouros e purificadores de água com sede em Itu-SP. Com o uso dos aditivos da empresa, os produtos oferecidos pela empresa ituana contam com reservatórios nos quais se evita em quaisquer circunstâncias a criação de fungos, bactérias e microorganismos.

A multinacional Plascar é outra usuária de produtos NanoxClean. Fabricante de peças plásticas para a indústria automobilística por meio da tecnologia de injeção, a empresa tem utilizado aditivos antimicrobianos como forma de combater os germes dos dutos de ventilação e aparelhos de ar-condicionado instalados em automóveis. A empresa também fornece essa linha de produtos para empresas de eletrodomésticos da linha branca, saúde, têxtil, beleza e tintas, entre outras.

O desenvolvimento da linha Nanox- Barrier, feito com o apoio da Petrobras, tem como objetivo resolver um problema grave, o da formação de coque indesejado nos fornos de coqueamento retardado da companhia. Os estudos se dirigem para o desenvolvimento de um recobrimento interno da serpentina desses fornos para que o tempo de campanha aumente e diminuam as paradas para manutenção. Uma parada desses fornos pode causar perdas diárias para a Petrobras de até US$ 1 milhão.

Nanotecnologia II

Eduardo Figueiredo é um engenheiro naval com vários anos de experiência profissional, exercida em empresas ligadas aos setores de petróleo, telecomunicações e até na indústria de material bélico. Ele se aposentou em 2003, mas se recusou a ficar em casa usando pijamas e chinelos. “Resolvi investir minhas economias em um empreendimento voltado para a alta tecnologia”, revela.

O projeto se iniciou com uma pesquisa realizada em universidades para selecionar o projeto no qual iria investir. A escolha recaiu na exploração comercial de uma patente desenvolvida pela equipe de Fernando Galembeck, professor titular do Instituto de Química da Unicamp (Universidade de Campinas/ USP) e membro da Academia Brasileira de Ciências. A patente é voltada para o desenvolvimento de nanocompósitos formulados com base na adição de argila em partículas nanométricas em polímeros. Dessa forma, alguns meses depois, nasceu a Orbys, instalada no Cietec.

Hoje, no mundo, as argilas são os materiais mais aproveitados como nanocargas. Os polímeros enriquecidos com argila apresentam boas propriedades mecânicas e de resistência térmica e à chama, além de impermeabilidade a gases, umidade e hidrocarbonetos. Também permitem a produção de compostos com entre 5% e 6% de cargas (em peso), contra 30% das cargas convencionais.

Química e Derivados, Eduardo Figueiredo, Engenheiro naval, Incubadoras de empresas
Eduardo Figueiredo alimenta grandes planos para os nanocompósitos

O método estudado pela Orbys se baseia na preparação das monopartículas da argila montmorilonita e de sua incorporação nos polímeros por dissolução em meio aquoso. O método, ainda pouco explorado em todo o mundo, pode ser utilizado para enriquecer borracha natural, borracha nitrílica, borracha de estireno-butadieno, acetato de polivinila, poliestireno, ABS e materiais acrílicos. “A tecnologia apresenta vantagens sobre outras técnicas de obtenção de nanocompósitos e nanopartículas: ela não se utiliza de reações químicas e não é feita em regimes de elevadas temperaturas e pressão”, garante Figueiredo. Além disso, permite o uso de argilas encontradas em abundância no Brasil. “Outros métodos aproveitam argilas importadas”, ressalta.

A experiência tem sido boa? “Em termos financeiros, não. Como pessoa, me sinto feliz”, revela Figueiredo. O empreendedor calcula em mais de US$ 500 mil o valor já investido na empresa. “As verbas que recebemos de órgãos de financiamento oficiais não chegam a 15% das nossas necessidades”, informa. Além dos recursos próprios, o empreendedor vem contando com a colaboração de algumas indústrias, com as quais firmou acordo de cooperação.

A perspectiva de retorno financeiro hoje começa a ficar mais próxima. “O fato de nossos produtos serem inovadores exige tempo maior de pesquisa e desenvolvimento”, explica Figueiredo. Agora, a empresa começa a lançar alguns produtos comerciais. O primeiro lançamento foi feito no último mês de julho, durante a realização da Francal, feira de calçados realizada em Franca-SP. Trata-se de um laminado de borracha pronto para ser recortado e colocado nos solados de sapatos. “Esse material é obtido com a adição de partículas nano de argilas na borracha natural. Ele não conta com nenhum outro aditivo e nem precisa ser vulcanizado”, diz. De acordo com o empreendedor, o material apresenta resistência bastante superior aos solados comuns, além de apresentar forte apelo ecológico. É reciclável e biodegradável.

A Orbys hoje conta com nove funcionários permanentes, entre eles três doutores e dois bolsistas. Tem, em suas instalações, laboratório próprio e planta piloto capaz de produzir quantidades pequenas desse e de outros materiais a ser lançados em breve. “Logo vamos nos mudar para um parque tecnológico”, revela. Com instalações menos modestas, a empresa pretende enfrentar seu novo desafio: gerar mercado para os compostos que desenvolve.

Células a combustível

Química e Derivados, Ett, Incubadoras de Empresas
Ett pões células a combustível para gerar energia

Quando estava defendendo sua tese de doutorado, em 2001, Gerhard Ett ficou entusiasmado com a ideia de criar uma empresa incubada no Cietec. Seu trabalho de conclusão de curso teve como tema pilhas eletroquímicas e Ett se interessou em investir na fabricação de geradores de energia baseados em células a combustível, dispositivos que convertem energia química em energia elétrica e térmica. O combustível necessário para o funcionamento do aparelho é o hidrogênio, retirado do gás natural ou da água. Esses aparelhos têm sido usados em várias aplicações, de geradores em locais fixos a fontes de energia de veículos automotores.

O projeto saiu do papel no ano 2000, quando a Electrocell foi instalada em um pequeno espaço dentro do Cietec. Ele contou com outros empreendedores: Volkmar Ett, pai de Gerhard, profissional com larga experiência na área de tratamento de superfície; Gilberto Janólio, também muito experiente e com grande conhecimento em baterias especiais usadas em submarinos; e Ângelo Massatochi, com muitos anos de vivência no desenvolvimento de instrumentos para reatores nucleares.

“Éramos quatro profissionais com formações complementares, o que nos ajudou a desenvolver o projeto”, avalia Gerhard Ett. Também contou com a colaboração de outras empresas do Cietec, com as quais trocaram conhecimentos. “Chegamos a ter dez empresas participando de nosso projeto”, diz.

Química e Derivados, Gilberto Janólio, Incubadoras de empresas
Gilberto Janólio: projeto de energia limpa atraiu investidores

A Electrocell apresenta uma particularidade pouco comum entre as empresas incubadas. “Sempre dependemos de nosso faturamento, não financiamos nada”, revela o sócio. Desde o seu nascimento, a empresa já comercializou sessenta aparelhos de pequeno porte, capazes de gerar até 5 kW. A empresa também está pronta a fornecer equipamentos maiores, com capacidade de 50 kW. Entre os clientes atendidos, destaque para os de telefonia, energia, universidades e outros. Em breve, ela deixará de ser incubada e deve se transferir para um parque tecnológico

 

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