Impacto da Covid-19 é avaliado no 2° Encontro Anual de Colas

Química e Derivados - Impacto da Covid-19 é avaliado no 2° Encontro Anual de Colas, Adesivos e Selantes ©QD Foto: iStockPhoto

ABIQUIM – 2º Encontro Anual de Colas, Adesivos e Selantes avalia o impacto da Covid-19 nos setores clientes e as ações em prol da economia circular

A comissão setorial de Colas, Adesivos e Selantes da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim) realizou, em 12 de novembro, de forma remota (online), o 2º Encontro Anual de Colas, Adesivos e Selantes, com os painéis: “Análise de impactos da Covid-19 no mundo e nos segmentos calçadista, embalagens e moveleiro” e “Mesa Redonda: Economia Circular & Sustentabilidade no setor de adesivos”, além da apresentação das Estatísticas 2019 do setor de colas, adesivos e selantes. O encontro foi transmitido ao vivo pelo canal da Abiquim no YouTube.

A pandemia da Covid-19 afetou de forma diferente os setores calçadista, de embalagens e moveleiro, clientes do segmento de colas, adesivos e selantes. A superintendente da Associação Brasileira de Empresas de Componentes para Couro, Calçados e Artefatos (Assintecal), Ilse Guimarães, explicou que o segmento calçadista foi severamente afetado no ápice da pandemia no Brasil, em abril, quando a produção do setor caiu 24% em relação ao volume produzido em janeiro de 2020.

Ilse ressaltou que o Brasil é um importante exportador de calçados, mas que os principais mercados internacionais, China, Estados Unidos e França, também tiveram uma retração no consumo de calçados. “Temos um sinal de alerta, pois o volume de exportação é igual ao de 37 anos atrás, mas a desvalorização do real frente ao dólar proporciona rentabilidade ao setor”.

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Segundo a superintendente da Assintecal, os calçados com menor valor agregado, destinados à classe C, devem ser os mais consumidos devido ao impacto positivo do auxílio emergencial concedido pelo governo federal, que fez uma parcela 15 milhões de pessoas ‘subirem’ para a classe C, ao mesmo tempo em que parte da população da classe B teve queda de renda. “Os calçados de menor valor agregado e monocomponentes, como chinelos e sandálias de dedo, também representam mais da metade das exportações”.

Ilse ressaltou que o setor pode ser um dos protagonistas da retomada econômica, pois em setembro a produção de calçados no Brasil foi de 81 milhões de pares, volume próximo ao registrado no mesmo período do ano passado, quando a produção foi de 84 milhões. Sobre o segmento de móveis, ela afirmou que a pandemia gerou mudanças nos hábitos do consumidor. “As pessoas passaram a ficar mais em casa e como consequência o setor teve aumento de 40% na demanda em relação ao período pré-pandemia”.

O CEO da Arezzo, Alexandre Birman, explicou que após a queda nas vendas no segundo trimestre do ano, o grupo, que possui mais de dez marcas e atua nos segmentos de roupas, acessórios femininos, masculinos, infantis e opera por meio de unidades próprias, franquias e multimarcas, apresenta retomada do crescimento e já supera o patamar de março deste ano. Segundo Birman, que gosta de ser chamado de sapateiro, ofício que domina desde os 12 anos, foi preciso muita reinvenção na gestão das marcas durante o período mais agudo da pandemia. “Alongamos prazos para os franqueados e não cancelamos pedidos dos fornecedores. Ficamos com um estoque muito grande e fortalecemos a plataforma online”.

O grupo também investiu em novas coleções, lançadas a cada 15 dias, e em campanhas de marketing com a cantora Manu Gavassi e a atriz Marina Ruy Barbosa. Birman também destacou a importância de diversificar o negócio e, atualmente, cerca de 30% da receita do grupo tem origem na linha de vestuário. Outra inovação foi o lançamento da marca BriZZa, especializada em chinelos de dedo e bolsas, com uma campanha estrelada pela atriz Bruna Marquezine. “Quadruplicamos o investimento em marketing, teremos um recorde na produção, com 2 milhões de calçados e 300 mil bolsas, e tivemos aumento nas vendas em setembro, outubro e novembro. A expectativa é de um Natal excelente”, confirmando o otimismo de recuperação do setor.

O impacto da pandemia no segmento de moda e a evolução das vendas pela plataforma online foram destacados pela sócia da consultoria Bain & Company, Luciana Batista. “O segmento de moda foi um dos mais afetados pela pandemia devido ao fechamento das lojas e redução dos gastos das famílias”. A projeção da consultoria é que o setor tenha no quarto trimestre resultado 6% inferior ao do mesmo período do ano passado nas vendas, sendo que no segundo trimestre o resultado foi 62% inferior em comparação com o mesmo período de 2019.

Luciana destacou o desenvolvimento do e-commerce durante a pandemia. “18% das vendas do setor em 2020 serão online, o que muda a forma como a cadeia se comunica com o cliente e também o perfil de embalagem”. Esse avanço das vendas online gera oportunidades para as indústrias de embalagens e por consequência ao setor de colas, adesivos e selantes, que precisam desenvolver embalagens resistentes, capazes de suportar o processo de logística dessa modalidade de venda.

A mudança no perfil do consumidor também foi destacada. “O consumidor tem cada vez mais identificação com as marcas e suas causas, e está mais preocupado com saúde e segurança dos trabalhadores, com a economia circular em todo o ciclo de vida do produto”, finalizou.

Economia circular

A “Mesa Redonda: Economia Circular & Sustentabilidade” no setor de adesivos reuniu representantes da indústria química para debater as ações em prol de tecnologias que possibilitem a economia circular de toda a cadeia. “As indústrias precisam desenvolver produtos pensando na circularidade e no impacto para a sociedade. É preciso trabalhar avaliando como continuar abastecendo a sociedade dentro dos limites do planeta. O crescimento das cidades não acompanhou a dinâmica de produção dos resíduos e como eles devem ser reinseridos”, explicou a diretora executiva da Associação Brasileira de Embalagem (Abre), Luciana Pellegrino.

Outro conselho dado pela executiva é que as empresas precisam entender o que acontece com as embalagens depois que o produto foi consumido. “As empresas precisam avaliar a circularidade dos materiais usados na produção das embalagens e na estrutura da logística existente para fazer a reciclagem”.

A pesquisadora do Centro de Tecnologia de Embalagem (Cetea), Leda Coltro, analisou os requisitos necessários para o desenvolvimento de embalagens fáceis de ser recicladas. “Ao mesmo tempo em que os rótulos e embalagens precisam de adesivos e colas eficientes, eles também precisam ser facilmente removíveis para não contaminar o material reciclado”.

Leda explicou que durante o desenvolvimento é preciso dar preferência à adoção de embalagens com um único material, o que facilita o processo de reciclagem, e reduzir o uso de componentes que interferem na qualidade do material reciclado. Sobre a reciclagem das embalagens plásticas, a pesquisadora explicou que as rígidas são mais fáceis de reciclar do que as flexíveis, e para o caso dos produtos menores, como ‘tampinhas’, uma solução são as campanhas que incentivam a reciclagem. “É preciso pensar em todos os elos da cadeia, ter o engajamento do consumidor para devolver esse material e desta forma aumentar as taxas de reciclagem”.

Para enfrentar os desafios da sustentabilidade, a 3M passou a atuar em três pilares: “Ciência para Circularidade, com soluções para produzir mais com menos material; Ciência para o Clima, que busca descarbonizar a indústria e acelerar soluções globais para o clima; e Ciência para a Comunidade, para criar um mundo mais positivo por meio da ciência e inspirar pessoas, trabalhando a diversidade e a inclusão”, afirmou a especialista de Toxicologia da 3M, Mariana Penteado Soares.

Dentro do pilar Ciência para Circularidade, a executiva apresentou o “Programa de Reciclagem de Esponjas Scotch-Brite”, desenvolvido em parceria com a TerraCycle, o projeto envolve a população que coleta as esponjas, leva a um dos mais de 2,6 mil pontos de coleta e que já reciclou mais de 1,9 milhões de esponjas. As pessoas recebem pontos por unidade de resíduo enviado e que são revertidos em doações financeiras para uma entidade sem fins lucrativos ou escolas.

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O investimento na capacitação técnica de recicladores é feito por meio de contribuições financeiras para o programa de reciclagem “Dê a Mão para o Futuro”. “Os recursos arrecadados são usados na compra de equipamentos, capacitação técnica e de gestão dos recicladores. O programa beneficia 150 cooperativas em mais de 100 municípios, distribuídos em 14 estados”. Nas plantas, a circularidade é exercida por meio do “Projeto CirculEar”, que promove o reúso e a reciclagem do resíduo gerado no processo produtivo dos protetores auriculares de espuma.

Segundo a diretora de Economia Circular e Reciclagem da Braskem, Fabiana Quiroga, o setor produtivo trabalha na mudança da economia linear para circular. “Essa transformação é necessária e, para isso, foram assumidos compromissos de até 2050 alcançar a neutralidade de carbono, até 2025 produzir 300 mil toneladas de resinas e produtos químicos com conteúdo reciclado e chegar à marca de 1 milhão de toneladas até 2030. Além de recuperar 1,5 milhão de toneladas de resíduos plásticos até 2030 e 100% das embalagens plásticas devem ser reutilizadas, recicladas ou recuperadas até 2040”.

Sobre as embalagens, Fabiana reiterou que é importante utilizar o design como caminho para facilitar a reciclagem. “Incluindo ações como a adoção de embalagens monoproduto, mudando a cor das big bags da própria empresa de marrom para branco, ampliando o leque de utilização do produto reciclado, e diminuindo as impressões nas embalagens, ponto crítico para a reciclagem”. O investimento em inovação nos processos de reciclagem também foi lembrado. “É importante inovar nos processos de reciclagem. Na mecânica, o trabalho é para eliminar as barreiras de utilização do reciclado trazendo mais qualidade, eliminando a cor e o odor. Na reciclagem química, trabalhamos na tecnologia de pirólise, que transforma o resíduo em óleo para gerar a nafta, que depois será usada nos crackers das plantas industriais”.

O gerente de Pesquisa e De­senvolvimento – Adesivos Industriais Latam da Henkel e coordenador da Comissão Setorial de Colas, Adesivos e Selantes, Carlos Motta, afirmou que o primeiro passo para a promoção da economia circular é a conscientização sobre a coleta dos resíduos, classificados por ele como matéria-prima.

Ao dividir o ciclo de vida de um produto em produção, uso e final da vida, Motta analisou: “Desde a produção existe a tendência de redução de peso com o objetivo de fazer com que os produtos sejam fabricados com a menor pegada de carbono possível. Já no final do ciclo de vida, o produto pode ser reusado várias vezes, como as garrafas retornáveis ou seguir para a reciclagem, onde é feita a coleta e separação dos diferentes materiais para serem reciclados”.

Segundo ele, a economia circular deve considerar a manutenção do reuso dos recursos, o design para a reciclagem e a melhora na qualidade do material reciclado. “No desenvolvimento de um adesivo, precisamos pensar se ele vai possibilitar a reciclagem e a redução de peso. O adesivo não pode prejudicar a reciclagem, ele precisa ser facilmente separável, para permitir o reuso no caso das garrafas de vidro que são reutilizadas ou a reciclagem. Precisamos transformar o resíduo em valor e, caso não possa ser reciclado, precisa ser biodegradável”.

A mesa redonda teve a mediação da gerente de sustentabilidade da Abiquim, Aline Bressan; e do vice-coordenador da Comissão Setorial de Colas, Adesivos e Selantes e gerente de Negócios de Coatings e Resinas Adesivas da Evonik, João Vinícius Souza. A apresentação do encontro foi feita pela gerente de comunicação da Abiquim, Camila Matos.

Resultados do setor em 2019 – O presidente-executivo da Abiquim, Ciro Marino, destacou a realização do 2º Encontro Anual de Colas, Adesivos e Selantes, mesmo com as dificuldades impostas pela pandemia de Covid-19. Marino também ressaltou o trabalho da comissão que, desde 2000, desenvolve normas técnicas com o objetivo de alinhar as práticas nacionais às melhores práticas internacionais. “A comissão também tem em seu plano de trabalho de 2021 o desenvolvimento da segunda turma do curso de capacitação de mão de obra e tem feito um trabalho consistente em busca de compartilhamento de conhecimento”.

Durante o evento, ainda foram apresentados os dados estatísticos do setor, elaborados pela equipe de Economia e Estatística da Abiquim, com o perfil estatístico do segmento, incluindo o consumo aparente nacional (CAN) de 2006 a 2019. O estudo foi apresentado pela assessora de Economia e Estatística da Abiquim, Paula Tanaka.

O segmento de colas, adesivos e selantes teve um faturamento de R$ 2,7 bilhões em 2019, sendo que, em média, ao longo do período contemplado de 2006 a 2019, 95% da produção nacional foi destinada ao mercado doméstico e 5% às vendas externas. Em relação aos segmentos que mais consomem as colas, adesivos e selantes, 19,2% da produção é destinada ao segmento de construção civil, 15,9% ao consumo moveleiro, 15,6% às embalagens, 14,7% à indústria calçadista, e o volume restante é destinado a outros setores industriais, entre eles consumo/do it yourself, automobilístico, tintas e vernizes e eletrônicos.

“A amostra de produtos acompanhada no relatório Estatísticas do Segmento de Colas, Adesivos e Selantes inclui os grupos de produtos referentes às colas/adesivos, base água, base solvente, hot-melt, outras e selantes/mastiques e estima-se que representa 80% da produção nacional”, explicou Paula.

As estatísticas completas do setor podem ser adquiridas com a área de Comunicação da Abiquim.

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Química e Derivados -

ABIQUIM

Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), entidade sem fins lucrativos fundada em 16 de junho de 1964, congrega indústrias químicas de grande, médio e pequeno portes, bem como prestadores de serviços ao setor nas áreas de logística, transporte, gerenciamento de resíduos e atendimento a emergências.
Estruturada para realizar o acompanhamento estatístico do setor, promove estudos específicos sobre as atividades e produtos da indústria química, acompanha as mudanças na legislação e assessora as empresas associadas em assuntos econômicos, técnicos e de comércio exterior.
Mais informações: https://abiquim.org.br/

 

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