Ice 2004 – International Coatings Expo
Feira americana de tintas alcança numerosa visitação, com novidades interessantes, mas organizadores decidem realizá-la apenas a cada dois anos

Insumos para tintas com baixo teor de compostos orgânicos voláteis, os low VOC famosos, e a nanotecnologia, ou “quinta revolução industrial” para alguns, foram os principais destaques da ICE 2004 (International Coatings Expo), realizada de 27 a 29 de outubro em Chicago, EUA.
Organizada pela Federation of Societies for Coatings Technology (FSCT), a grande feira, com 326 expositores, ocupou 6,2 mil m² do majestoso McCormik Place North e atraiu cerca de 6,6 mil visitantes, público esse considerado o de maior freqüencia nos três últimos anos.
A necessidade das empresas norte-americanas de atender a legislação rígida referente aos limites de VOC tem direcionado, nos últimos anos, as pesquisas nas indústrias fornecedoras dos insumos para tintas. Assim, como ocorreu na ICE 2003, vários lançamentos apresentavam solventes e resinas low VOC.
No caso da nanotecnologia, as pesquisas mais voltadas para a Medicina e a Eletrônica, passando pelos cosméticos e fármacos, chegaram também aos insumos usados em tintas. Um nanômetro (nm) é um bilionésimo do metro, algo que se aproxima das dimensões dos átomos que possuem em média 0,2 nm. O fio de cabelo com diâmetro próximo de 30 mil nanômetros, dá bem uma idéia do tamanho microscópico das partículas em questão.
A tecnologia atômica ou nanotecnologia busca manipular átomos, moléculas e partículas subatômicas com tamanhos de 100 nanômetros ou menos, para a criação de novos produtos, caso do Nanobyk 3600 e Nanobyk 3601 da alemã BYK Chemie. Seja qual for a superfície onde são aplicados, as tintas e vernizes estão sujeitos a danificar-se pela ação do meio ambiente, como chuva, luz solar e umidade, ou sofrer arranhões e lascar. Há um esforço constante entre os produtores de tintas e insumos para identificar formas de prevenir tais danos.

Melhorias modestas foram conseguidas pelo uso de métodos e materiais tradicionais, mas recentes desenvolvimentos em nanoprodutos estão sendo muito mais bem sucedidos nessas tarefas. Tintas automotivas onde essas nanopartículas foram incorporadas mostraram excelente resistência ao risco, à abrasão, à chuva ácida.
No caso da BYK, os primeiros aditivos desenvolvidos pela empresa baseados em nanotecnologia são para uso em revestimentos de cura ultravioleta (UV). O Nanobyk 3600 é uma dispersão base água de nanopartículas de alumina, já o 3601 contém diacrilato de tripropilenoglicol como fase líquida para a nanoalumina. São indicados para vernizes usados em móveis e vernizes protetores de revestimentos para pisos de PVC, respectivamente. Usados nas concentrações indicadas, que podem variar desde 1% até 5% em peso da formulação, não afetam brilho, cor e outras propriedades do verniz.
Em geral, os revestimentos para pisos de PVC recebem um verniz protetor incolor que lhes confere resistência ao risco e à abrasão. Devido à flexibilidade do substrato, o verniz também deve ser flexível. Assim, uma alta densidade de encadeamento (crosslinking) não pode ser usada. Para essa situação, nanopartículas baseadas em óxido de alumínio são ideais. A adição de tensoativos com grupos funcionais hidroxila ou acrílicos, caso do produto BYK-UV3510 melhora a performance dos nanoderivados, pois há aumento da umectação e melhor nivelamento das nanopartículas no verniz.
A figura 1 mostra a diferença na resistência à abrasão de vernizes para madeira com e sem os nanocompostos, onde a perda de brilho indica ausência dessa resistência.
A empresa coreana Sunjin Chemical Co. também promoveu sua linha de micro e nanoprodutos, dentre eles o Sunzno 40, com partículas de 40 nm de óxido de zinco (ZnO) tratadas com um alquilsilano. O diretor do escritório americano Tony Lee informou que a empresa, criada em 1978, tem desde 1987 um bem equipado centro de pesquisas, desenvolvendo produtos de alta tecnologia.
O nano ZnO tem como principal aplicação o uso como protetor solar em cosméticos. Foi exibido pela empresa numa feira de tintas como exemplo de que a Sunjin domina essa tecnologia e está apta a desenvolver novos nanoprodutos para aplicações em tintas e outros segmentos.
Segundo Lee a empresa exporta para vários países e os fabricantes brasileiros interessados terão de importar, pois a empresa não possui representantes ou distribuidores no Brasil.
Silício e derivados – Era grande o número de derivados de silício divulgados na feira, incluindo produtos orgânicos e inorgânicos. A Wacker Silicones promoveu a linha de Silres de resinas de silicone. Em seu material promocional a terminologia envolvendo os compostos de silício era recordada, começando por lembrar que em compostos orgânicos o silício é similar ao carbono, isto é, tetravalente.
Para que o usuário entendesse melhor os seus lançamentos, lembrou a empresa que silano é um termo dado a qualquer composto orgânico que contenha átomos de silício, e que silicone refere-se a compostos que têm a fórmula empírica R2SiO, similar à das cetonas, ou seja, R2CO. Silanos que contêm ligações Si-O- são os siloxanos.
Assim, se houver dois átomos de silício ligados a um oxigênio (Si-O-Si), o composto é chamado de dissiloxano. Quando a molécula possui mais de três dessas unidades, passa a ser chamada de polissiloxano. Dependendo do arranjo molecular podem-se obter tipos diferentes de polímeros de silicone: os fluidos, as borrachas e as resinas de silicone. A figura 2 ilustra as estruturas desses compostos.
As resinas Silres lançadas pela Wacker são usadas em tintas industriais, especialmente revestimentos submetidos a grandes flutuações térmicas. São muito efetivas quando usadas como ligantes em tintas resistentes ao calor, conferindo também resistência ao ataque químico, à luz UV e repelência à água.

Sua concorrente Dow Corning, entre outros lançamentos, promoveu o antiespumante Dow Corning 71, um polímero de silicone. Lisa Honaman, engenheira de aplicações, esclareceu ser esse aditivo indicado para tintas mobiliárias e gráficas base água, permitindo controle efetivo da formação de espuma com baixa tendência de causar defeitos de superfície. O produto não contém partículas hidrofóbicas e é adequado para aplicações onde são necessárias alta estabilidade ao cisalhamento e facilidade de incorporação.
Também ligada ao grupo dos derivados de silício, a japonesa Chisso buscou ampliar a penetração de seus produtos no mercado americano. Pertencente a um grande conglomerado com atuação em vários segmentos industriais, divulgou óleos de silicone reativos e agentes ligantes à base de silanos, isto é, produtos que favorecem a agregação de materiais inorgânicos aos solventes orgânicos usados em tintas e adesivos.
Informou Masao Imamura, gerente do escritório americano localizado em Nova York, que sua empresa foi a primeira no Japão a desenvolver o processo de produção de silício de alta pureza e seus derivados, como o tricloreto e tetracloreto de silício, empregados na produção de fibras ópticas. Desde então a empresa dedica-se à pesquisa e produção de silico-derivados.
“Além de melhorar a ancoragem do revestimento, a linha Sila-Ace de agentes ligantes aumenta a força mecânica e melhora as características elétricas, quando isso for desejável, como nos circuitos impressos”, disse Imamura. Mostram excelente desempenho quando aplicados como primers, melhorando a adesão de tintas, adesivos e selantes aos substratos aos quais são aplicados, tais como metais, vidro, concreto e outros. “Melhoria na resistência à água e ao calor também são conseguidas”, complementou.
A linha Silaplane compõe-se de silicones reativos, isto é, compostos de silicone modificados, tendo nas moléculas, grupos funcionais terminais reativos. Esses produtos são usados para modificar resinas, por exemplo, quando se quer conferir a elas as características típicas dos silicones, tais como, resistência à abrasão, lubricidade, repelência à água, resistência ao calor e remoção facilitada de moldes.
“Temos produtos com um grupo terminal reativo ou com dois”, disse Imamura. Os chamados biterminais são adequados para introduzir componentes de silicone nas cadeias principais dos polímeros, e os monoterminais, para introduzi-los como ramificações da cadeia polimérica principal. As figuras 3 e 4 esquematizam os produtos e os polímeros deles derivados.
“Estamos na ICE pela 4ª vez e nossos produtos têm sido bem aceitos”, disse Imamura. “A Chisso não tem até o momento representantes no Brasil”, complementou.
A Grace Davison, líder global na produção de sílica e derivados, como sílica gel e precipitada, sílica coloidal, sílicas usadas em colunas cromatográficas, e outras, divulgou na feira um novo agente fosqueante da linha Syloid. A marca Syloid foi introduzida no mercado em 1949 como o primeiro agente fosqueante sintético fabricado no mundo. Desde lá, foram desenvolvidos vários tratamentos aplicados na superfície da sílica, aliados à tecnologia em moagem, que permitiram a introdução de novos produtos à linha, que hoje contém grande variedade de produtos para atender às mais variadas aplicações.
A gerente global de marketing para tintas Susanne Kühne relembrou como o efeito fosqueante é obtido. Quando a película de tinta cura, as partículas do fosqueante criam uma superfície com microirregularidades. A luz incidente é refletida de forma difusa por essa superfície, dando a impressão de baixo brilho ou de opacidade. A figura 5 ilustra esse fenômeno. Três fatores importantes determinam a eficiência do fosqueante: a porosidade, o tamanho das partículas e o tratamento aplicado à sua superfície.
Alguns produtos da linha Syloid têm suas superfícies tratadas com produtos orgânicos e inorgânicos para prevenir decantação e formação de sedimentos duros, especialmente em revestimentos claros de baixa viscosidade, como os vernizes. Além disso, esses tratamentos contribuem para melhorar outras propriedades do filme, como resistência ao risco. Na feira, três novos membros da linha estavam sendo lançados: o Syloid RAD para tintas curadas com radiação; o C1007, uma sílica tratada com cera; e o C803, para filmes finos.
“Os produtos estarão em breve disponíveis na filial brasileira, localizada em São Paulo”, disse Susanne, informação confirmada pelo gerente de marketing para a América Latina Carlos Alberto C. Leibel, também presente ao estande.
Susanne informou que o Syloid C1007 é uma sílica tratada com cera, que resulta num fosqueante de alta performance, com capacidade de suspensão superior, prevenindo a formação de depósitos, mesmo por longos períodos de estocagem. É especialmente indicado para o uso em vernizes para madeira. Não provoca amarelecimento e é facilmente dispersável no processo de produção do verniz.
A concorrente Ineos Sílicas lançou o Zeocros E110, um extensor para dióxido de titânio (TiO2), para uso em tintas em pó. Trata-se de um novo silicato de alumínio sintético, que retém a cor e a opacicidade, não alterando a estabilidade aos raios UV, e nem as qualidades mecânicas e estéticas da tinta.
“Há redução de custo com o uso de nosso produto, porque ele substitui até 25% de TiO2 em formulações brancas, e nas coloridas torna possível a utilização de menos pigmento”, informou Stephanie Rose, técnica da divisão de papel e revestimentos.
Salientando que os fabricantes de tinta do Brasil já têm esse produto disponível na sua filial brasileira, Stephanie disse que o Zeocros E110 tem alta pureza, umidade controlada e é produzido com rígido controle de tamanho de partículas e distribuição granulométrica. Pode ser usado em sistemas híbridos epóxi-poliéster e poliuretânicos.

Agribusiness brasileiro – Alguns expositores da feira mostravam insumos para tintas obtidos a partir de produtos agrícolas importados do Brasil. Um deles era a americana Cardolite Corporation, que se intitula a líder mundial na tecnologia de produção de derivados de castanha de caju. De acordo com Ryan Davis do departamento de vendas, a empresa é possuidora de duas fábricas, uma em Nova Jersey, EUA, e outra em Zhuhai, na China e vende para mais de 50 países, tendo como única matéria-prima a castanha de caju importada do Brasil. Aliás, pequenos pacotes da castanha brasileira eram oferecidos como brinde aos visitantes do estande.
Falando português fluente, aprendido nos anos que viveu em Portugal, Davis explicou que o maior constituinte do líquido extraído da castanha de caju é o cardonol (3-n-pentadecadienil fenol), cuja fórmula estrutural está na figura 6.
Sendo molécula mista, com componentes alifáticos e aromáticos, é bastante reativo, propiciando a obtenção de uma série de derivados, como as fenalcaminas. Essas aminas constituem-se de poliaminas alifáticas ligadas a uma cadeia aromática com cadeia alifática lateral.
Essa estrutura peculiar dá a esses compostos uma combinação única de propriedades desejáveis para agentes de cura de sistemas epóxi. “São os únicos tipos de endurecedores epóxi que possuem a característica de cura rápida das poliamidas alifáticas, aliada a pouca volatilidade e à baixa toxicidade inerentes às poliamidas”, disse Davis.
As fenalcaminas permitem a aplicação do sistema epóxi a temperatura ambiente, ou em baixas temperaturas, e em ambientes úmidos, o que não ocorre com outros endurecedores. “Nossos produtos conferem ao sistema curado várias vantagens, como excelente resistência a ácidos, álcalis e à água salobra; flexibilidade a baixas temperaturas, resistência ao impacto, excelentes propriedades elétricas, baixa toxicidade e volatilidade”, afirmou Davis. Estamos voltados para os mercados americano, europeu e asiático, mas pretendemos em breve iniciar as vendas de nossos produtos acabados na América do Sul”, finalizou.
Outra empresa que baseia sua produção em matéria-prima agrícola importada do Brasil e da Índia é a também americana Caschem, do grupo Rutheford Chemicals LLC. A empresa produz óleo de mamona com várias especificações e graus de pureza, além de óleo de mamona polimerizado e desidratado. O gerente regional de vendas David A. Borowski recapitulou as propriedades do óleo de mamona, lembrando que ele contém cerca de 90% de ácido ricinoléico, um ácido C18 tendo dupla ligação na posição 9 – 10 e um grupo hidroxila no décimo segundo carbono. Quando esse grupo hidroxila e um hidrogênio adjacente são removidos numa reação de desidratação, uma dupla ligação adicional é criada, permitindo rápida polimerização e secagem, ou seja, o óleo de mamona originalmente não secante, uma vez desidratado torna-se um óleo secante de sabida utilização em vários tipos de tinta.

“Produzimos também uma linha de polióis derivados de óleo de mamona denominada Polycin, para uso em sistemas uretânicos”, disse Borowski. “Poliuretanas formuladas com estes novos polióis têm excelentes propriedades elétricas, baixa viscosidade, estabilidade térmica, excelente resistência à umidade e às baixas temperaturas, além de não conter VOCs”, informou. Segundo Borowski, a Caschem exporta para vários países, inclusive para o Brasil.
Também a americana Cargill Oils & Lubricants promoveu seus óleos vegetais de soja, girassol, tungue, canola e derivados, tendo também os baixos teores de VOC como grande atrativo. Dana Craig, especialista de marketing, ressaltou as qualidades da nova linha Oxi-CureÒ desenvolvida para auxiliar os fabricantes de tinta americanos a atender a rigorosa legislação referente aos teores de voláteis, sem prejuízo de desempenho. São ésteres baseados em óleos vegetais altamente reativos e de baixa viscosidade. “A linha inclui diluentes e reagentes para sistemas uretânicos, vernizes para madeira e tintas mobiliárias, com secagem rápida, viscosidade controlada e baixos VOCs”, disse Dana.
A empresa oferece também uma linha de óleo de linhaça polimerizado, que deve ser usado quando cor clara, baixa acidez e mínimo amarelecimento são necessários. Também presente ao estande da empresa, o gerente global de tecnologia, Brent Aufdembrink fez questão de destacar que às 51 fábricas que a Cargill tem em todo o mundo processando sementes oleaginosas, vai somar-se a mais uma a ser inaugurada em Mairinque-SP, resultado de uma joint venture com a também americana Hatco Corporation. A nova empresa batizada de Innovatti produzirá ésteres e lubrificantes vegetais. Os produtos da empresa serão voltados ao mercado de lubrificantes, segmento no qual pretendem ser líderes. Com investimento de cerca de US$ 4 milhões e com capacidade inicial de 10 mil toneladas ao ano, a fábrica da Innovatti, que ocupa uma área total de 12 mil m2 , usará tecnologia de ponta inédita no Brasil.

Possuirá três linhas de produtos formuladas à base de óleos vegetais e ácidos graxos: lubrificantes para refrigeração, ésteres para lubrificantes de alto desempenho, e lubrificantes já formulados, tanto de base vegetal biodegradável, como sintética. A expectativa é que cerca de 30% da produção seja exportada para a Ásia até o final do primeiro semestre de 2005.
O sisal baiano é outro produto a deixar o Brasil para ser processado e ter valor agregado nas cinco fábricas da International Fiber Corporation, quatro em solo americano e uma na Bélgica. Vários tipos de fibras de sisal são fabricadas pela empresa a partir do tecido vascular da Agavesisalana, tendo como principal diferença os comprimentos médios da fibra. “Em tintas imobiliárias as fibras de sisal são usadas na obtenção de texturas decorativas, possibilitando aspectos visuais muito interessantes”, disse o gerente regional Michel A. Auth.
Além de sisal, a empresa produz outras fibras naturais, como de algodão e celulose, e sintéticas, como poliéster, acrílico e nailon. As fibras celulósicas são usadas no controle reológico das tintas, propiciando menos gotejamento, borrifos e escorrimento do rolo de aplicação. Segundo informação de Auth, o uso das fibras aumenta a resistência do filme, reduzindo a necessidade de dispersantes.
Fazendo um contraponto e divulgando tecnologia brasileira esteve na ICE a Brasilata, fabricante de embalagens metálicas que promoveu sua lata com sistema de fechamento “Biplus” para sistemas tintométricos. Bem aceita no Brasil e ganhadora de prêmios internacionais, a lata brasileira está patenteada nos EUA desde 1999. “Participamos da feira desde 2001. É preciso insistir, pois o mercado americano é bastante conservador com relação a tecnologias vindas de fora”, disse o gerente Luis Cláudio Siqueira. No México as dificuldades foram superadas em 2002, quando passaram a exportar para o Grupo Zapata, maior fabricante de latas de aço daquele país, com quem firmaram também contrato de licenciamento e transferência de tecnologia.

Para facilitar a introdução no mercado americano, a Brasilata fez uma joint venture com a empresa americana Phoenix Container Inc., instalada em North Brunswick, Nova Jersey, que produz apenas baldes e que passou a comercializar os sistemas de fechamento Plus, Biplus e a linha de latas Plus UN para o envase de produtos perigosos, conforme prescrevem as especificações da ONU – Organização das Nações Unidas.
Além da linha de embalagens para tintas e produtos químicos, pretendem promover também a nova lata Ploc Off para produtos alimentícios secos, que já é usada por clientes brasileiros exportadores nos segmentos de achocolatados, café solúvel, capuccinos e confeitos.
Graças ao preço competitivo do aço brasileiro, a Brasilata pôde exportar para a Phoenix componentes para baldes, despachados de sua planta no Rio Grande do Sul, durante a escassez de aço ocorrida neste ano nos EUA. “Esperamos bons resultados nessa parceria”, disse Siqueira, informando que a visitação ao estande da empresa nesta edição foi melhor do que a ocorrida no ICE 2003 na Philadelphia.
Surfactantes, resinas e aditivos – Alguns renomados expositores destacaram tensoativos derivados de flúor, caso da 3M e da DuPont que divulgou a sua linha Zonyl. Com aplicações na formulação de adesivos, tintas e outros revestimentos, esses compostos de flúor reduzem a tensão superficial permitindo melhor umectação do substrato. A figura 7 torna didática a compreensão desse fenômeno.

Os fluorosurfactantes são mais eficientes nessa redução do que os tensoativos produzidos a partir de hidrocarbonetos ou silicone. Graças a isso, as películas de tintas podem ser mais finas, tendo menos tendência a apresentar defeitos, tanto por aplicação com spray, como por métodos tradicionais.
Esses tensoativos podem ser usados em sistemas aquosos ou base solvente, com pHs altos ou baixos, em produtos em pó ou ainda em revestimentos curados com luz UV. Em várias formulações, os fluorosurfactantes podem ser associados aos tensoativos tradicionais. Se não misturados, devem ser usados em quantidades menores do que as indicadas para tensoativos derivados de hidrocarbonetos, o que pode compensar seus custos mais elevados.
No caso dos biocidas, a ICE-2004 contou com a presença da Rohm & Haas e do seu novo Rocima 200, que além das tintas pode ser usado em adesivos e materiais para construção. O agente ativo é o 4,5-dicloro- 2-n-octil- 4-isotiazolinona, cuja fórmula estrutural vem apresentada na figura 8. Esse ativo, disperso em veículo low VOC, tem amplo espectro de ação, sendo eficiente contra fungos, algas e bactérias.
Usado nas concentrações recomendadas, oferece ao produto preservação de longa duração. É indicado para uso em sistemas base água, tanto em tintas de uso interno como externo.
“O nível de uso adequado que varia de 0,12% a 0,57% em peso, depende de vários fatores, como as condições climáticas às quais a tinta será exposta, tipo de superfície a ser pintada e número de demãos aplicadas”, esclareceu a gerente de tecnologia da área de biocidas, Yudy Betancur. O produto é de fácil dispersão na tinta, e em princípio pode ser adicionado em qualquer momento de seu processo de fabricação. É preciso, entretanto, manuseá-lo com cuidado, já que é corrosivo para a pele e os olhos.
Outro produto promovido, o Rocima 63, é voltado à proteção de superfícies de cimento onde algas e fungos em geral proliferam. “Este produto é uma mistura de três ativos; temos estudos que demonstram sua performance superior aos produtos concorrentes”, afirmou Yudy.
Sua concorrente ISP – International Speciality Products também lançou novos preservantes. O gerente técnico do departamento de biocidas Neal A. Machtiger lembrou que os microorganismos se desenvolvem facilmente em ambientes úmidos. Se presentes, podem comprometer a funcionalidade, a performance e o aspecto estético das tintas. Há biocidas que protegem a tinta na lata, isto é, durante o transporte e a armazenagem, e outros que atuam no filme seco, ou seja, na tinta depois de aplicada.
“Quando se seleciona um biocida é importante levar em conta a sua eficiência, compatibilidade com o restante da formulação, estabilidade, cuidados no manuseio e ecotoxicidade”, disse Machtiger. “Nossa ampla linha de produtos permite aos nossos clientes escolher aquele que mais se adequa às suas necessidades”, afirmou.
Na feira foram lançados novos produtos da linha Fungitrol, todos à base de IPBC (3-iodo-2-propenil-butilcarbamato) formulado com outros insumos. Os produtos são isentos de odor e VOCs e podem ser usados em sistemas aquosos ou base solvente.

“O Fungitrol 720, aplicável em tintas imobiliárias tanto interiores como exteriores, tem uma ação antifúngica de amplo espectro e diferentemente do que ocorre com alguns produtos concorrentes, tem resistência maior ao amarelecimento”, disse Machtiger. “É, além disso, menos perigoso de manusear”, complementou.
Presente também na feira, a Air Products lançou a emulsão polimérica Airflex EF811, uma dispersão aquosa do copolímero de acetato de vinila com etileno, otimizada em relação às já existentes. A representante de vendas técnicas Kristina M. Donatelli esclareceu que o produto foi desenvolvido para competir com os copolímeros vinil acrílicos usuais, propiciando melhor aplicação a custo equivalente. É indicada para tintas imobiliárias, interiores e exteriores.
Kristina, informou que os copolímeros vinil acrílicos podem ser atacados por álcalis, o que resulta em muitas falhas quando são aplicados sobre alvenaria recém-construída.
“Nessa aplicação, nosso produto exibe desempenho bem melhor do que a dos copolímeros vinil acrílicos, tendo excelente resistência à hidrólise alcalina”, disse Kristina, reportando-se a testes feitos com as tintas formuladas com copolímeros concorrentes que apresentaram manchas e falhas três meses após aplicadas, o que não ocorreu com a tinta aditivada com Airflex EF 811, que não mostrou problemas decorrido um ano. A resistência superior aos produtos alcalinos deriva do uso de etileno como co-monômero, que não hidrolisa como ocorre com os monômeros acrílicos. Finalizando, Kristina informou que o produto da Air Products pode também ser usado em mistura com a maioria das emulsões acrílicas comerciais, tornando-as mais resistentes.

Serviços – Vários estandes da feira foram ocupados por fornecedores de serviços, caso da Chemidex Inc., de Kansas, EUA. A empresa mantém uma biblioteca on line para formuladores de tintas, onde é possível buscar dados sobre fornecedores, informações técnicas sobre matérias-primas e solicitar amostras. “São mais de 50 mil boletins técnicos, fichas de segurança e formulações sugestivas, e o processo para requisições de amostras leva dez segundos”, disse o vice-presidente de vendas Jerry M. Williams.
O banco de dados é mantido por 108 fornecedores de matérias-primas, que além de informações sobre esses produtos, podem dar apoio técnico aos consulentes por troca de mensagens dentro do site. O banco pode ser acessado em 12 línguas e contém também artigos técnicos. Na feira, a Chemidex buscou assinantes entre as empresas produtoras de insumos. Para os usuários o acesso é totalmente gratuito, desde que feito o cadastramento.
“Além da exposição dos produtos e interação com os fornecedores de tintas, o banco tem inúmeros recursos, como fornecer aos seus mantenedores um relatório com dados de usuários que acessaram os boletins técnicos de seus produtos”, disse Williams. No estande da Chemidex havia vários computadores para demonstrações práticas. O site está originalmente voltado para o mercado americano e europeu mas, segundo Williams, usuários latino-americanos também podem cadastrar-se. O endereço é www.chemidex.com.
Serviços de pesquisa e desenvolvimento, e de aperfeiçoamento de profissionais foram oferecidos no estande do Coatings Research Institute, da Eastern Michigan University. O Professor Dr. John Texter e o diretor da Escola de Engenharia Tecnológica, Dr. Bob Lahidjii, disseram que o instituto, voltado à pesquisa aplicada a revestimentos e tintas, tem cooperado com várias indústrias na busca de produtos com baixo VOC. Tintas de cura UV, análise mecânica de superfície de revestimentos ou tintas com baixo teor de sólidos e isentas de solventes são outros exemplos dessa cooperação.
As pesquisas na última década geraram mais de cem publicações e apresentações em simpósios, além de três patentes.

A capacitação de profissionais na área de tintas e revestimentos foi outra atividade oferecida pelo instituto, desde a realização de cursos de curta duração até a possibilidade de fazer mestrado ou doutorado. Segundo o Dr. Texter, nos cursos de dois ou três dias a abordagem é básica, visando um público que tenha relações iniciais com a área, como analistas de controle de qualidade, estudantes e técnicos. Já os alunos de pós-graduação precisam de pelo menos dois anos para desenvolver suas teses e receber o título de PhD. “É necessário diploma prévio em química ou engenharia química”, esclareceu. “Temos alunos de várias partes do mundo e ultimamente temos recebido muitos estudantes da China”, complementou.
Não citando números, Dr. Texter disse acreditar que o doutorado seria oneroso para um estudante de um país sul-americano, e por isso o instituto oferece anualmente algumas bolsas. “Mesmo assim, que eu saiba, nunca tivemos nenhum estudante brasileiro, embora nossas portas estejam abertas para recebê-los”, concluiu.
Outra empresa presente na ICE para divulgar serviços foi a SGS. Famosa pela prestação de serviços de análises e atuação na área de certificação, a empresa desde 2000 oferece aos fabricantes de matérias-primas a possibilidade de terceirizar o sistema de solicitação e envio de amostras.
O gerente da divisão de gerenciamento de amostras Edward Leasure disse que a SGS tem centros de distribuição na Europa, Estados Unidos e em Singapura, permitindo o atendimento dos pedidos para envio de amostras no máximo em 48 horas. “Nossos funcionários estão adequadamente treinados para preparar, etiquetar, embalar e enviar amostras de acordo com todas as regulamentações governamentais”, disse Leasure. “Além disso, fazemos a confirmação do recebimento e providenciamos o envio de documentos, como fichas de segurança e boletins técnicos”, complementou.

Segundo Leasure, a redução de custos na terceirização dessas atividades é significativa, pois o fabricante opera com quantidades industriais, e tem que desenvolver todo um sistema de aquisição de embalagens para amostras, envase, transporte, etc.
A SGS mostra um banco de dados para cada cliente com a lista das empresas que solicitaram amostras, seus dados para contato e até instruções para bloquear o envio, caso a amostra tenha sido solicitada por um concorrente. “Nossos serviços estão disponíveis 365 dias do ano, mesmo quando nossos clientes estão com seus escritórios fechados”, disse Leasure. “A competição entre os produtores é grande, a qualidade e o bom atendimento no envio de amostras e informações técnicas pode ser o diferencial que leva ao fechamento da compra”, acredita.
Esse serviço não está por hora disponível na filial brasileira da SGS, mas segundo Leasure, pode vir a ser implantado se houver no mercado latino-americano a necessária receptividade.
Instrumental Analítico – Fabricantes de equipamentos laboratoriais e de processo para análise de tintas também compareceram à feira, como a americana Biode que produz viscosímetros para uso laboratorial e controle de processo. Grande destaque foi dado ao Vismart, um sensor de viscosidade eletrônico baseado em ressonância e ondas acústicas. O sensor pode medir viscosidades de 0 a 100 mil cP com + 1% de repetibilidade, em temperaturas que podem variar de -20 a 135ºC. O sensor não tem partes móveis, é menor do que uma caixa de fósforos e usa tecnologia de semicondutores. Mede temperatura simultaneamente, eliminando a necessidade de um sensor específico.
A indústria de tintas está familiarizada com a viscosidade cinemática, medida em centistokes, e com a viscosidade dinâmica ou absoluta dada em centipoise, que se interrelacionam da seguinte forma:

O sensor da Biode introduz um terceiro tipo de viscosidade, a acústica, que é igual à centipoise x peso específico. Conhecendo-se o peso específico é possível a conversão entre os três tipos de viscosidade, em temperatura e taxa de cisalhamento fixas.
No sensor lançado, o cisalhamento é obtido por uma onda acústica. A viscosidade do líquido determina a espessura da camada de fluido que adere hidrodinamicamente à superfície do sensor. Um computador acoplado ao Vismart interpreta os dados. O fabricante ressalta na tabela 1 as vantagens de seu produto em relação aos vicosímetros usuais.
Os fabricantes de tintas brasileiros terão de importar o equipamento em caso de interesse, pois o vice-presidente de vendas e marketing Dan McCormick informou que a Biode não dispõe de representante ou distribuidores em nossos país.
Localizada em Chicago, a Atlas Materials Testing Solutions divulgou sua linha Suntest de modernos equipamentos para simulação do efeito a longo prazo da luz, calor e umidade nas tintas, ou seja, determinação de sua durabilidade. “Desde 1976, fabricamos esse tipo de instrumento, sempre melhorando sua performance, hoje somos líderes mundiais nessa área”, disse Beth Gawlinski do departamento de vendas. “Nossos equipamentos são fáceis de usar, mas contêm avançada tecnologia, emitindo uma radiação uniforme, cuidadosamente desenhada para simular a luz do dia”, afirmou.
Os aparelhos são oferecidos dos três tamanhos para adequar-se às necessidades de espaço e/ou número de corpos-de-prova do cliente. Podem ser operados por microcomputadores ou manualmente, sendo estes últimos uma alternativa mais econômica. O modelo XXL/XXL+, exibido no estande da empresa, é o maior e mais sofisticado dos instrumentos, tendo uma bandeja para acomodação de amostras com 3 mil cm2, ideal para peças maiores e/ou observação tridimensional. A área de exposição tem uma inclinação de 5 graus para simular de forma mais precisa a queda da chuva nas superfícies testadas. É possível também expor as amostras à luz direta ou, acoplando um filtro de vidro, simular a luz solar que atravessa uma janela. “Nossa rápida e eficiente assistência técnica é outro diferencial que oferecemos aos nossos clientes”, afirmou. Além dos equipamentos de laboratório a empresa oferece serviços de exposição real às intempéries de peças pintadas em 23 campos de teste ao redor do mundo, com uma variedade de climas, incluindo o desértico, subtropical, altas altitudes ou atmosferas corrosivas.
De forma geral, os expositores da ICE 2004 mostraram-se satisfeitos com a visitação da feira. Mesmo assim a entidade organizadora decidiu que o evento será doravante bianual. A próxima edição ocorrerá de 27 a 29 de setembro de 2006, também em Chicago.