O branqueamento de celulose é o motor do mercado de peróxido de hidrogênio na América do Sul. Favorecida pelo clima e pela disponibilidade de terra, a região conta com uma robusta carteira de novos projetos e ampliações desse setor com potencial para duplicar a demanda pelo insumo químico em pouco mais de dez anos.
Além da celulose, outros usos para o peróxido de hidrogênio começam a ganhar corpo. O de potencial mais atraente está na área de tratamento de água e de efluentes, tanto domésticos quanto industriais. Aplicações em processos químicos, como poderoso agente oxidante e na epoxidação de óleos vegetais, respondem pelo segundo maior consumo do peróxido no Brasil, mas devem ser superadas pelo setor ambiental. A indústria têxtil, que foi a razão para a instalação da primeira fábrica brasileira em 1970, não apresenta crescimento de consumo – baixo, aliás, em relação aos demais segmentos. O mesmo se verifica no uso mais popular, para descolorimento de pelos humanos, um volume insignificante quando comparado à demanda industrial.
“Há aplicações, em grande número, como na indústria de alimentos, que ainda precisam ser desenvolvidas”, comentou Georges Crauser, diretor-geral da Peróxidos do Brasil, empresa gerida pela Solvay, que detém 49% de seu capital votante e 70% do total, desde a compra da participação da Laporte, em 1992. A fábrica de Curitiba-PR concluiu em junho uma expansão de capacidade produtiva de 40 mil t/ano, elevando a capacidade total de 120 mil para 160 mil t/ano (em base seca).
O potencial para desenvolvimento de negócios gera entusiasmo pelo baixo impacto ambiental da sua utilização. “Não há nada melhor do que um produto que se decompõe em água e oxigênio”, disse Roberto Nascimento, diretor-comercial da companhia. Ele explicou que o mercado segue um caminho de substituições de insumos, começando pelos cloroderivados, passando pelo oxigênio, ouro, ozônio e, finalmente, o peróxido de hidrogênio. A sequência avança de acordo com exigências técnicas, ambientais e econômicas. “Atualmente, o peróxido compete em igualdade com o cloro em termos econômicos e estequiométricos”, afiançou Nascimento.
A adoção de peróxido de hidrogênio nas sequências de branqueamento de celulose sem cloro elementar (ECF/ ECF light) e totalmente sem cloro (TCF) motivou a instalação da fábrica da Evonik Degussa em Barra do Riacho-ES, vizinha da unidade da Aracruz Celulose (hoje Fibria, resultado da integração com a Votorantim Celulose e Papel – VCP). A operação começou em 1998, com 40 mil t/ano, ampliada para 55 mil t/ano em 2003, e novamente expandida em 2008 para 70 mil t/ano (em base seca), sua capacidade atual.
“Apesar da crise mundial, mantemos nosso prognóstico de crescimento de mercado de peróxido na América do Sul em torno de 7% ao ano, isso implica duplicação da demanda em dez anos”, calculou Ralph Ahlemeyer, diretor de negócios da unidade de químicos industriais da Evonik Degussa para a América do Sul. A companhia havia anunciado uma nova fábrica do peróxido para a Região Sul, atendendo à demanda de novos projetos do setor de celulose, mas a suspendeu. “Estamos aguardando para ver o que os clientes farão e em que ritmo para definirmos nossos investimentos”, comentou.
A avaliação comum dos produtores é a redução de preços no mercado interno nos últimos meses, atestando a acirrada competição entre os players. “Com uma produção maior em uma única linha de produção, conseguimos aumentar nossa competitividade”, afirmou Crauser. Mesmo nos preços atuais, o diretor da Peróxidos disse ser possível manter a geração de caixa para investimentos futuros.
Crauser avaliou que a crise econômica mundial gerou um impacto que pode ser traduzido como a perda de um ano de evolução de mercado. “Nossa ampliação de 40 mil t/ano, por exemplo, levaria três anos para ser absorvida pelo crescimento da demanda, que foi retardado em um ano”, disse. Mesmo assim, ele é otimista, pois considera inevitável a transferência da produção de celulose para a América do Sul. “Estimamos que em 2012 será a hora certa para nova ampliação, chegando a 200 mil t/ano”, afirmou.