FiSA: Insumos químicos ajudam a atender exigências da alimentação saudável
Texto: Antonio Carlos Santomauro – Fotos: Divulgação
Um mês antes de seu início, a quantidade de pré-credenciamentos para a FiSA – Food ingredients South America de 2017 já superou em 4% à registrada na mesma época da edição anterior. São, portanto, “as melhores possíveis” as perspectivas para o evento, avalia Fernando Alonso, gerente da FiSA e do evento paralelo innovapack South America.

Dedicada à indústria de ingredientes para a fabricação de alimentos e bebidas em âmbito latino-americano, a FiSA tem periodicidade anual. Em 2016, recebeu 11,1 mil visitantes, com expositores representando aproximadamente setecentas marcas, entre brasileiras e internacionais. “Essa quantidade de marcas será repetida neste ano”, diz o gerente do evento, que chega à 21ª edição, programada para acontecer em São Paulo entre 22 e 24 de agosto, no Transamerica Expo Center, sob organização da UBM Brazil.
Uma das novidades da nova edição será uma área exclusiva para expositores com presença marcante nas feiras passadas: os produtos naturais e orgânicos, os suplementos, as bebidas e os alimentos funcionais, os produtos nutracêuticos (termo criado pela integração das palavras ‘nutricional’ e ‘farmacêutico’). “A forte representação desses produtos responde a uma demanda dos fabricantes de alimentos e dos consumidores finais”, argumenta Alonso, que projeta “grande oportunidade de negócios” também no segmento dos chamados health ingredients (ingredientes para a saúde), que não terão porém um espaço exclusivo.
Um público altamente qualificado faz da FiSA relevante oportunidade de negócios e relacionamento. “Na edição de 2016, 84% dos visitantes declararam ter participação na decisão de compra de suas empresas”, ressalta Alonso. “Se a situação econômica ainda não é a ideal, indicadores como a quantidade de pré-credenciamentos, de marcas expositoras e os novos formatos que estamos trabalhando demonstram existir nesse mercado muita vontade de inovar e crescer de forma compartilhada”, acrescenta.

Márcio Guimarães, gerente da unidade Food da distribuidora quantiQ (agora pertencente à GTM Holdings), lembra que na indústria de alimentos as dificuldades da economia brasileira geraram, entre outros efeitos, a migração dos consumidores em direção aos produtos menos sofisticados; que em termos mais concretos também significam produtos com menos ingredientes. “Mas creio já ter passado o pior momento da conjuntura econômica, e tenho para a edição deste ano da FiSA expectativa um pouco melhor que a do ano passado”, diz Guimarães.
A quantiQ apenas recentemente se colocou mais decididamente no mercado dos ingredientes alimentícios. Em 2014, tornou-se expositora da FiSA. Desde então participou de todas as edições dessa feira, na qual este ano destacará itens como a linha de hidrocoloides da CP Kelco, com inúmeras aplicações na indústria alimentícia, tanto em produtos tradicionais quanto em versões próprias para necessidades mais específicas ou mais demandadas pelos apelos da nutrição saudável: geleias diet; sucos com menor teor de açúcar; produtos lácteos com redução de gordura e aumento do teor de proteínas; produtos sem glúten, entre outras.
Aminoácidos da Ajinomoto também serão promovidos pela quantiQ. No Brasil, observa Guimarães, aminoácidos são hoje utilizados basicamente em produtos para nutrição esportiva, vendidos em farmácias e em lojas especializadas em suplementos. “Em outros países já há, inclusive em supermercados, produtos alimentícios com aplicação de aminoácidos específicos, oferecendo funcionalidades como melhora da qualidade do sono e melhora na disposição física e mental”, ele compara. “Também apresentaremos na FiSA nossos produtos mais básicos, como a linha de conservantes que lista sorbato de potássio, benzoato de sódio e propionato de cálcio, além do glúten de trigo, hidrocoloides, CMC e goma guar”, complementa Guimarães.

Outros expositores – No estande da DuPont, dois dos produtos a destacar aparecem também entre os finalistas do prêmio Fi Innovation Awards, concedido durante o evento para distinguir a inovação na indústria de ingredientes para alimentos e bebidas. Um deles é uma solução low sat, low trans (baixos teores de gorduras saturadas e trans); o outro, uma enzima líquida batizada PowerMill, otimizadora do processo de moagem e produção de farinha de trigo.
Segundo Cíntia Nishiyama, diretora de marketing da DuPont Nutrition & Health para a América do Sul, a solução low sat, low trans combina hidrocoloides e emulsificantes, e permite a redução de até 70% das gorduras saturadas em biscoitos recheados e margarinas, proporcionando aos fabricantes o uso de apelos como ‘baixa gordura saturada e zero trans’. Por sua vez, a enzima PowerMill é utilizada diretamente na água do processo de umidificação do grão trigo, a cuja moagem proporciona vários benefícios, como redução de até 20% no consumo de energia e aumento do rendimento da extração da farinha, que se torna também mais uniforme e mais branca
No evento, a DuPont também apresentará novos produtos de sua linha Cremodan, composta por hidrocoloides e emulsificantes, já muito forte no mercado de sorvetes. “Um em cada dois sorvetes feitos no mundo usa produtos Cremodan”, diz Cíntia. Segundo ela, além de receber novos integrantes, como produtos para sorvetes tipo soft (sorvetes cremosos colocados sobre casquinhas), essa linha também está sendo mais adequada para a realidade da América Latina, que entre outras coisas exige produtos com menor quantidade de lácteos, para redução do custo.
O reforço do recente lançamento da proteína isolada de soja Supro XT 55 é outro dos objetivos programados pela DuPont para o evento. “Essa nova proteína foi especialmente desenvolvida para melhorar a rentabilidade das bebidas com alto teor de proteínas, sendo possível substituir até 50% da proteína do leite na formulação, reduzindo custos sem comprometer o desempenho sensorial e o perfil nutricional”, destaca Cíntia.
Desde 2013, a DuPont não montava um estande próprio na FiSA. “Mas, até mesmo pela qualidade e pela variedade do portfólio que mostraremos, este ano teremos uma presença muito forte, com um estande com 95 metros quadrados, quatro palestras na grade do Seminar Session (sessão de seminários) e muitos produtos para degustação, entre outros itens”, destaca a profissional da empresa.
A Química Anastácio mostrará, entre outros itens, uma linha de água e leite de coco em pó, e uma linha de estabilizantes e geleificantes de goma carragena, para uso em produtos cárneos, laticínios e sobremesas. “A carragena amplia nosso portfólio de gomas, no qual já havia a xantana”, enfatiza Fábio Rodrigues, gerente de nutrição da empresa.
A Química Anastácio exporá também polióis – adoçantes utilizados como redutores de valor calórico e como agentes de corpo –, agentes de densidade e estabilidade de emulsões, e edulcorantes naturais de estévia (esses últimos, integrantes de maior valor agregado de sua linha de adoçantes). “A FiSA sempre promove um momento bastante importante para a indústria de alimentos, bebidas e similares, no Brasil e na América Latina, pois permite que empresas e fornecedores de diversas localidades, culturas empresariais e objetivos se encontrem para reciclar conhecimentos, fazer networking e gerar oportunidades de negócios”, finaliza Rodrigues.
Embalagens avançam na redução de perdas e sustentabilidade

Em paralelo à FiSA, acontecerá a innovapack South America, que combina oferta de conteúdo tecnológico e exposição de produtos e serviços relacionados a design, tendências e inovação em embalagens de alimentos e bebidas. Embora ainda bem novo – sua primeira edição aconteceu no ano passado –, também chega com novidades, como o Packaging on the Road, ciclo de palestras para atualização profissional promovido pelo Instituto de Embalagens. Além disso, serão mostrados os resultados de um estudo sobre as mais recentes tendências internacionais no desenvolvimento de embalagens para alimentos e bebidas, desenvolvido em parceria com a empresa global de pesquisas para a criação de novos produtos Innova Market.
Haverá também conferências, como a de Fiorella Dantas, pesquisadora do Ital (Instituto de Tecnologia de Alimentos), que abordará o tema Panorama das inovações tecnológicas e a evolução dos principais materiais utilizados na fabricação de embalagens para alimentos e bebidas. Algumas das inovações que serão citadas nessa palestra, adianta Fiorella, foram exibidas em maio último na Interpack (maior feira mundial da indústria de embalagens, realizada na Alemanha). Com elas, consolidam-se ainda mais tendências como conveniência e portabilidade.
No Brasil, observa a pesquisadora, também vêm surgindo demonstrações marcantes da força dessas tendências, a exemplo da recém-lançada versão Danoninho Para Levar, na qual esse conhecido produto dirigido ao público infantil e normalmente embalado em potes de poliestireno aparece acondicionado em um stand up pouch, que o conserva sem refrigeração por até cinco horas. “A embalagem desse produto apresenta design moderno com formato diferenciado e facilidade de abertura e fechamento, permitindo o consumo a qualquer hora, em qualquer lugar”, detalha Fiorella.
Estética e identidade de marcas e produtos também constituem vertentes crescentemente exploradas no processo de desenvolvimento de embalagens. Atenta a essa demanda, a CCL Label apresentou na Interpack um rótulo concebido principalmente para embalagens de sucos, que remete às respectivas frutas tanto no odor quanto na possibilidade de ser “descascada” pelo consumidor, pois pode ser retirada integralmente, pedaço por pedaço. “Ainda nesse caminho, a Dow apresentou o produto PoucHug, que remete ao toque suave com textura diferenciada e sensação de conforto”, relata Fiorella (referindo-se a um produto para embalagens flexíveis texturizadas que incorpora um não-tecido na lâmina externa).
E, há, obviamente, os preceitos da sustentabilidade, que ampliam o espaço de resinas provenientes de fontes renováveis, como o polietileno verde da Braskem e o ácido poliático, ou PLA (a própria Danone anunciou há alguns anos o uso de um percentual de PLA nas embalagens do Danoninho e de outros de seus produtos).
Também foram apresentadas como inovações na Interpack, ressalta a pesquisadora, sistemas que possibilitam o consumo fracionado dos alimentos e permitem fechar novamente a embalagem, assim como a impressão digital para lotes menores de embalagens e a impressão direta em garrafas plásticas. “Busca-se ainda reduzir a espessura das estruturas flexíveis com o uso de resinas plásticas de alta performance”, complementa.

Mara Lúcia Dantas, pesquisadora do Laboratório de Embalagem e Acondicionamento do Instituto de Pesquisas Tecnológicas – IPT, falará na innovapack sobre Inovações e adequação das embalagens de transporte e equipamentos logísticos para a distribuição de alimentos e bebidas no Brasil. Segundo ela, na logística de alimentos começa a ser crescentemente utilizado, como alternativa economicamente mais vantajosa aos veículos refrigerados, o chamado ‘gelo reciclável’ (ou ‘reutilizável’). Mais comum nas embalagens menores para transporte de medicamentos e de outros produtos que exigem temperatura controlada, esse recurso ingressa nos recipientes logísticos maiores: “Agora, procura-se adaptá-lo para embalagens de 1 m³ ou maiores”, comenta Mara.
Feito à base de materiais como gel de celulose ou acrílico, o gelo reutilizável, após ser previamente refrigerado, é acondicionado em cavidades de contentores rotomoldados feitos de polietileno, especialmente projetados para essa aplicação. “Obviamente, a viabilidade dessa alternativa deve ser avaliada de acordo com fatores como a duração do trajeto do transporte e as exigências de temperatura específicas de cada alimento ou bebida, entre outros”, enfatiza a pesquisadora.
Também cresce na logística de produtos alimentícios, prossegue Mara, a substituição da madeira pelo plástico como matéria-prima dos paletes (até como decorrência das exigências mais rigorosas de higiene na indústria da alimentação). Também são estudadas alternativas para a otimização do transporte dos big bags, os grandes contentores flexíveis utilizados para transportar a granel grandes quantidades de açúcar e grãos, entre outros itens alimentícios.
Normalmente, explica a pesquisadora do IPT, os big bags são transportados um ao lado do outro na carroceria de um caminhão. Para otimizar o frete, já há casos de transporte com empilhamento desses contentores flexíveis. “Porém, para maior segurança, nesse caso eles podem ser unitizados mediante paletização, com aplicação de fitas de arquear, filmes tipo stretch ou mesmo engradados de madeira, para melhorar a estabilidade”, destaca Mara.