Fertilizantes: Venda de fertilizantes bate recorde com apoio externo

Desempenho agrícola excelente amplia a demanda por adubos só satisfeita com pesadas importações, oneradas pela infra-estrutura deficiente

Química e Derivados: Fertilizantes: fertilizantes_abre. ©QDO consumo nacional de fertilizantes mantém forte ritmo de crescimento, desde 1991, de modo a permitir a duplicação da produção de grãos com aumento de apenas 20% da área cultivada, até a última safra. Embora a atividade agrícola seja forte exportadora, a importação de intermediários e ingredientes básicos atende à maior parte do abastecimento local, e já se configura como desafio estratégico para o futuro da agropecuária local.

A dependência de importados é dramática no caso dos principais ingredientes potássicos, cuja produção local, mantida pela Cia. Vale do Rio Doce, com minas de silvinita em Sergipe, arrendadas por 25 anos junto à Petrobrás, mal atende a 10% da demanda brasileira, país listado entre os maiores importadores mundiais de cloreto de potássio. Do Chile vem o salitre de potássio, em baixo volume. O Brasil também importa pequena quantidade de sulfato de potássio, destinado a culturas como a do fumo e da videira, pouco afeitas ao outro sal. Em 2003, o cloreto de potássio foi o insumo químico mais importado pelo Brasil, uma conta de US$ 623 milhões (FOB).

A relação de importados mais significativos, elaborada pela Abiquim a partir dos dados do Sistema Alice do governo federal, traz na segunda e terceira colocações outros importantes fertilizantes, respectivamente, o diidro­geno-ortofosfato de amônio (mais conhecido como monoamônio fosfato ou MAP), mesmo com mistura com diamônio fosfato (DAP) e a uréia. Somados, os dois representaram uma despesa de US$ 586 milhões. Ambos refletem a baixa produção de insumos nitrogenados no País, prejudicada pelo alto custo de gás natural e de derivados de petróleo necessários para a síntese da amônia, a pedra angular dessa família de adubos.

Química e Derivados: Fertilizantes: fertiliza01. ©QDAs importações não ofuscaram o brilho do setor. “Em 2003, as indústrias de fertilizantes entregaram aos produtores agropecuários do Brasil 22.796 mil t de produtos acabados, um recorde fantástico”, comemorou Eduardo Daher, diretor da Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda). O entusiasmo se justifica pelo aumento de entregas de 19,3% ter sido obtido sobre o resultado de 2002, que já era recordista. Em termos de nutrientes (N, P2O5 e K2O), o crescimento de demanda foi de 23%, evidenciando uma evolução qualitativa, em favor de produtos mais concentrados, ou seja, de maior conteúdo tecnológico. A base desse crescimento foi obtida com insumos trazidos do exterior.

Química e Derivados: Fertilizantes: vinheta_1. ©QDA dependência de importações tem a desvantagem óbvia de prejudicar o desempenho da balança comercial brasileira. Além disso, introduz um fator de risco na cadeia produtiva, representado pela possibilidade de variações cambiais, que podem amplificar os efeitos de súbitas elevações de cotações internacionais dos produtos. Há também a considerar o peso crescente do custo dos fretes marítimos internacionais no custo dos ingredientes importados, que acaba sendo transferido para o formulador de fertilizantes e, por conseqüência, para os agricultores. Sem falar no fato de a cadeia logística dos insumos estar operando no limite de capacidade, pressionada pela baixa qualidade da infra-estrutura de transporte e armazenamento do País.

Já no campo dos ingredientes fosfatados, a situação é quase tranqüila, com a produção brasileira respondendo por mais da metade do consumo nacional (em termos do nutriente P2O5). A situação deve ficar ainda mais favorável com a concretização dos investimentos anunciados pela Fosfértil/Ultrafértil, maior produtor nacional, e da Copebrás para os próximos anos.

A produção de fosfatos já conseguiu reverter seu maior problema, a baixa concentração de fósforo das jazidas locais, que exige uma flotação anterior ao processamento químico do material. Aliás, o custo de mineração é mais alto no Brasil, enquanto no Marrocos, China, Rússia e Estados Unidos (juntos esses países detém 67% das jazidas mundiais) são obtidos minérios com mais de 20% em P2O5, contra a média brasileira de 10% a 12%.

Resta conviver com o curto suprimento de enxofre e ácido sulfúrico, sem fonte natural no Brasil. O desenvolvimento econômico da China arrasta para a Ásia a maior parte da oferta mundial desses itens. A partir do enxofre, obtém-se o ácido sulfúrico com o qual é solubilizado o fosfato presente na rocha (fluorapatita) moída. Por via úmida, a mais freqüente, conforme o processo utilizado, podem ser obtidos dois resultados: o superfosfato simples, ingrediente de fertilizantes para uso em fórmulas NPK, ou mesmo de aplicação isolada, consistindo fonte de fósforo e enxofre para plantas; e também ácido fosfórico (tendo por subproduto o gesso – sulfato de cálcio). O ácido fosfórico encontra emprego industrial amplo, além de também atuar como solubilizador de fosfato da rocha original, dessa feita conduzindo à fabricação do superfosfato triplo, mais concentrado que o anterior.

O encarecimento do enxofre afeta a demanda do superfosfato simples, deslocando-a na direção de outros produtos mais concentrados, como o MAP, o DAP e o super-triplo, todos obtidos a partir do ácido fosfórico. “Isso nem sempre é interessante, pois os solos brasileiros, em geral, são carentes também em enxofre, um macronutriente secundário dos vegetais”, explicou o agrônomo João Bosco Olivito Nonino, gerente-geral de vendas da Copebrás, empresa do grupo Anglo American. Ele estima a necessidade brasileira em enxofre entre 2,5 milhões e 3 milhões de t/ano.

Química e Derivados: Fertilizantes: Daher - movimentação de cargas do setor atingiu o limite físico.
Daher – movimentação de cargas do setor atingiu o limite físico.

A migração para linhas sem enxofre também se verifica nos nitro­genados, com prejuízo para o sulfato de amônio, favorecendo o uso do nitrato de amônio e da uréia. Nesses casos, o formulador precisa encontrar outra fonte de suprimento de enxofre para as plantas. “O gesso pode ser usado como corretor de acidez total do solo (remoção de alumínio) e também como fonte de enxofre, e é um material de baixo custo”, comentou. Atualmente, a Copebrás mantém o gesso residual em depósitos revestidos com mantas impermeáveis, evitando problemas ambien­tais. Outra aplicação possível para o sulfato de cálcio seria na construção civil, tanto em edificações como na compactação de estradas de terra. “Essas aplicações estão sendo desenvolvidas no Brasil.”

Dentro do plano de investimentos da Petrobrás até 2011, consta a instalação de unidades de dessulfurização de derivados de petróleo na faixa de destilação do óleo diesel. Cada uma das refinarias da estatal seria equipada com pelo menos uma unidade dessas, muitas das quais dotadas de unidades recuperadoras de enxofre (URE), que poderão atenuar a situação (vide QD-420, pág. 72).

Setor concentrado – A produção de intermediários e ingredientes fertilizantes apresenta-se altamente concentrada no Brasil. Nasceu a partir de esforços dispersos na década de 1940 por parte de empresas como IAP, Copas, Manah e Elekeiroz, na etapa de mistura e formulação de ingredientes, usando principalmente itens importados e fosfatos derivados da apatita retirada de Ara­çoiaba da Serra e Jacupiranga, ambas em São Paulo. O sulfato de amônio passou a ser ofertado pela Cia. Siderúrgica Nacional em 1947, permanecendo isolada no segmento até 1958, quando a Refinaria Presidente Bernardes, de Cubatão, começou a produzir o nitro­cálcio, o nitrato de amônio revestido de calcáreo.

Na década de 1960, contando com incentivos governamentais, vários empreendimentos tomaram vulto, entre eles a exploração de rocha fosfática de Araxá-MG, que permitiu a introdução dos termofosfatos, além de ampliar a oferta de matéria-pirma para as nascentes Ferticap (1964), Copebrás (1966) e Policarbono (1968), respectivamente em Santo André-SP, Cubatão-SP (onde já fabricava negro-de-fumo), e Ipatinga-MG. Na década, os nitrogenados ganharam impulso, com a entrada da Cosipa e da Usiminas no sulfato de amônio, em 1967 e 1963.

Apenas em meados de 1970, com o apogeu da mentalidade de substituição de importações, a atividade tomou impulso, com o deslanche de vários projetos industriais nas linhas N e P. Em 1974, o governo lançou o Profertil, visando a auto-suficiência a ser atingida em 1980, o que quase foi conseguido nas linhas N e P. Um problema desse programa foi ter incentivado a construção de várias unidades de baixa escala produtiva, ou seja, pouco econômicas. O potássio continuou dependente de importações, embora tenham sido iniciados investimentos em Sergipe, a cargo da Petromisa.

Química e Derivados: Fertilizantes: fertiliza02. ©QDA partir de 1985, os planos oficiais passaram a buscar incrementos constantes na produção agropecuária, ampliando o consumo de fertilizantes, cujas indústrias, agora com pesada participação oficial, estavam com capacidade produtiva lotada e sem previsão de investimentos. Para atender às metas de safra cada vez maiores, a importação de fertilizantes foi apontada como saída mais rápida, em detrimento de investimentos industriais. Os vários planos econômicos da década desesti­mularam investimentos no setor, pela fixação oficial de preços de venda quase sempre corroídos pela inflação (alta) do período, além de não apresentarem garantia de desenvolvimento do mercado, pois os preços dos produtos agrícolas também eram igualmente tabelados e contidos.

Química e Derivados: Fertilizantes: Complexo da Copebrás em Catalão reforçou proteção ambiental. ©QD Foto - Divulgação
Complexo da Copebrás em Catalão reforçou proteção ambiental.

A chegada do governo Collor de Mello trouxe fortes mudanças no setor. O Plano Nacional de Desestatização incluiu entre os ativos a privatizar grande parte da indústria de fertilizantes. A maior parcela dos ativos da Petrobrás na produção de nitrogenados (em nome da Petrofertil) foi alienada mediante leilão, em 1992, para um consórcio formado por onze empresas produtoras de insumos fertilizantes e formuladores, denominado Fertifos. Movimentos de fusões e aquisições levaram à consolidação dos acionistas, hoje em número de sete. O grupo de origem holandesa Bunge possui 52,31% do capital acioná­rio da Fertifos, seguido pela norte-americana Cargill, com 33,07%, pela nacional Fertibrás, com 12,76%, e pela Fertipar, com 1,37%. Menos de 1% é dividido entre as companhias Campos Gerais, Heringer e Adubos Triângulo.

O consórcio harmoniza os interesses dos grupos concorrentes, sem haver hegemonia do sócio majoritário. Por força dos estatutos do consórcio, as decisões relevantes só podem ser tomadas com aprovação mínima de dois terços do capital, obrigando a compor interesses.

O consórcio Fertifos detém 79,86% do capital da Fosfértil que, por sua vez, possui 99,99% do capital da Ultrafértil, ambas produtoras de insumos nitroge­nados e fosfatados, atuando de forma consolidada e sendo o player mais expressivo do mercado nacional, atendendo a 30,1% do fornecimento de nutrientes fosfatados e 23,3% dos nitroge­nados para as formuladoras das regiões Sudeste e Centro-Oeste. A Fosfertil Ultrafertil produziu 1,4 milhão de toneladas de nutrientes, sendo 869,1 mil t de P2O5 e 570,4 mil t de N.

O conselho de administração da Fosfertil Ultrafertil aprovou, no final do ano passado, um plano para investir R$ 280 milhões na atividade mineradora de Tapira-MG, no complexo mine­roquímico de Catalão-GO e no complexo de industrial de Uberaba-MG, de modo a ampliar a oferta de fertilizantes fosfa­tados para 1,77 milhão de t/ano a partir de 2005. O plano prevê adicionar 330 mil t/ano de concentrado fosfático em Tapira, e mais 143 mil t/ano em Catalão, perfazendo uma capacidade total de 3,2 milhões de t de concentrado.

Química e Derivados: Fertilizantes: fertiliza03. ©QDO complexo industrial de Uberaba ampliará em 153 mil t/ano a capacidade produtiva de ácido sulfúrico, e em 180 mil t/ano a de ácido fosfórico. Isso capacitará a unidade a ofertar o total de 1,9 milhões de t/ano de sulfúrico e 676 mil t de fosfórico.

Química e Derivados: Fertilizantes: fertiliza04. ©QD“Uberaba também ganhará uma nova linha de solubi­lização de superfosfato triplo, para 350 mil t/ano, além de nova granulação de MAP, com mais 350 mil t/ano”, explicou o diretor de relações com o mercado, Luiz Antonio Bonagura. As unidades dos ácidos sulfúrico e fosfórico seguirão adotando as tecnologias originais da Technip e Monsanto, já usadas pela empresa.

Investimento goiano – Segunda maior produtora de insumos para a produção de fertilizantes, a Copebrás concluiu em abril de 2003 investimentos de US$ 140 milhões na montagem do complexo químico de Catalão-GO, cuja produção de rocha fosfática foi ampliada de 600 mil, em 2001, para 1,2 milhão de t/ano. Contando com suprimento reforçado de matéria-prima, foram instaladas unidades produtoras de ácidos sulfúrico e fosfórico, linhas de solubilização, granulação e de fabricação de fosfato bicálcico. Com isso, as vendas da empresa pularam de US$ 120 milhões, em 2002, para US$ 200 milhões, correspondentes à metade do faturamento do grupo Anglo American no Brasil. “A Copebrás, com fábricas em Catalão e Cubatão, é uma referência para todas as unidades do grupo em eficiência de produção”, afirmou João Bosco Nonino.

O complexo de Catalão opera interligado à unidade de Cubatão-SP, suprindo-a com rocha. “Os fertilizantes obtidos em Catalão são, basicamente, vendidos aos formuladores do Estado de Goiás, que sempre foram nossos parceiros fiéis”, disse. Os fertilizantes devidamente formulados podem, eventualmente, tomar o rumo dos estados vizinhos. A fábrica paulista atende aos misturadores de São Paulo, Paraná, do Sul de Minas Gerais e parte de Mato Grosso, operando eficiente estrutura logística.

A unidade de Catalão foi construída a partir de tecnologia importada, mas a montagem usou equipamentos predominantemente nacionais. “Estamos nos preparando para ampliar em 20% a capacidade da unidade gioana a partir de 2005, por meio de uma revamp, com baixo investimento”, informou Nonino.

Ante o potencial de crescimento do agro­negócio no País, ele considera plausível pensar em novos investimentos, “acompanhando a evolução da demanda.” No entanto, salienta a importância de a trajetória do setor ser consistente, sem flutuações, dado o longo período necessário para a amortização dos projetos.

Química e Derivados: Fertilizantes: fertiliza05. ©QDNonino considera que as reservas de minérios fosfatados são boas no Brasil, existindo notícias de jazidas ainda inexploradas na região Norte. “As minas devem operar por pelo menos 25 anos para justificar a exploração”, comentou. A disponibilidade de minérios nessa região seria particularmente interessante, pois há indícios de que a próxima região a ser explorada pela agricultura esteja compreendida entre os Estados do Maranhão, Piauí e Tocantins, hoje referida pelo acrônimo “Mapito”.

Química e Derivados: Fertilizantes: Nonino - unidade goiana ganhará mais 20% de capacidade em 2005. ©QD Foto - Cuca Jorge
Nonino – unidade goiana ganhará mais 20% de capacidade em 2005.

Além do evidente custo de transporte, o setor de fertilizantes ainda enfrenta a barafunda tributária nacional, que impõe diferentes alíquotas de ICMS para cada Estado da União. “É muito confuso: de Catalão para o Mato Grosso, a alíquota é de 8,4%; de Cubatão para o Mato Grosso, é de 4,8%”, criticou Nonino. “E, ainda por cima, tem a Cofins.”

Integração total – A cadeia produtiva de grãos e derivados no Brasil apresenta elevado grau de integração. Os grupos Bunge, Cargill e a Archer Daniels Midland (ADM) exemplificam a aplicação do conceito, atuando em todas as etapas de produção e comercialização de produtos. Bunge e Cargill são sócias na Fertifos (controlando a Fosfertil Ultrafertil), e compraram ao longo do último decênio vários misturadores importantes, como IAP, Manah e Ouro Verde (Bunge/Serrana) ou Solorrico e Fertiza (Cargill). A ADM, sem contar com suprimento pró­prio de insumos fertilizantes, compra-os no mercado local ou os importa, valendo-se de sua experiência em comércio exterior e logística.

Em 2002, a ADM inaugurou sua misturadora própria de fertilizantes em Ron­donópolis-MT, que pode processar 3 mil t/dia de insumos. Totalmente automatizada, a unidade formula adubos específicos para soja, milho, feijão e algodão, entre outras. Atualmente, a unidade está em fase de ampliação para 4 mil t/dia, a ser concluída até o final de junho deste ano.

Na outra ponta da cadeia, a ADM opera a maior linha singular de envase de óleo de soja do mundo. Instalada no parque industrial de Rondonópolis, é capaz de encher 25 mil garrafas de óleo por hora. As operações do grupo de origem norte-americana no Brasil foram iniciadas em setembro de 1997, obtendo crescimento médio da ordem de 15% ao ano. Atualmente, a ADM já é a terceira maior processadora de soja do Brasil, com capacidade para esmagar mais de 6 milhões de t/ano, além de ser uma das três maiores exportadoras de milho e sorgo do País. A unidade brasileira contribuiu com US$ 1,7 bilhão para o faturamento total do grupo de US$ 30,7 bilhões em 2003.

Ponto-chave para o desenvolvimento de negócios é a bem estruturada cadeia logística, que integra os modais rodoviário, ferroviário e fluvial, de modo a integrar as operações do interior com os terminais próprios em Santos-SP, Vitória-ES e Paranaguá-PR, além de Nueva Palmira, no Uruguai.

Química e Derivados: Fertilizantes: vinheta_2. ©QD“Fica até difícil saber se o fertilizante é o frete de retorno da soja ou o contrário”, comentou Eduardo Daher, diretor da Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda), ao comentar o alto grau de integração do setor. No campo dos insumos, ele cita atuação, além da Fosfertil Ultrafertil e da Copebrás, da Petrobrás (que produz nitrogenados em Sergipe e Bahia, notadamente uréia) e da Vale do Rio Doce (cloreto de potássio, em Sergipe).

Limite suportável – A expansão do agronegócio brasileiro ocorre pela conjunção de fatores favoráveis ao País, a começar pelo aparecimento de doenças como a vaca louca e a gripe asiática dos frangos, que obrigou os compradores mundiais a buscar fornecedores de produtos mais sadios, como o Brasil. Além disso, a safra agrícola americana foi prejudicada pelo clima, enquanto a Ásia ampliou a demanda por grãos e proteínas animais. Com o incremento das exportações, inclusive de produtos processados, o complexo agropecuário industrial conseguiu ampliar a produção e recuperar preços, até mesmo das commodities.

Já a safra em andamento (2003/2004) apresentará redução de produção para menos de 130 milhões de toneladas de grãos, por causa de fatores climáticos adversos e da ocorrência da ferrugem asiática nas lavouras de soja. Mas os preços seguem em alta.

Química e Derivados: Fertilizantes: fertiliza06. ©QDNo caso dos adubos, Daher comenta que houve elevação de preços, tanto pela encarecimento das matérias-primas (a exemplo do enxofre e do petróleo, a fonte dos nitrogenados), quanto pelo encarecimento de transportes. “Mesmo assim, a relação de preços de produtos agrícola versus fertilizantes foi muito favorável nos últimos dois anos, tanto assim que justificou o consumo maior de adubos por unidade de área plantada, contribuindo para aumento da produtividade setorial”, comentou.

Ao mesmo tempo, o volume alcançado pelo setor fez acender a luz amarela, pedindo a atenção dos produtores e consumidores. “Esse recorde está perigosamente próximo do limite físico possível de movimentação de produtos”, alertou. O desempenho da economia chinesa já havia atraído para o Oriente os navios transoceânicos de grande capacidade. Nos últimos meses, os asiáticos passaram também a requisitar uma categoria intermediária de embarcações, os Panamex, compatíveis com as dimensões do Canal do Panamá. “Desde outubro, os fretes marítimos para o Brasil praticamente dobraram de preço”, lamentou.

A movimentação de produtos dentro do País também é crítica e poderá chegar ao caos no segundo semestre. Como a produção de grãos é sazonal, com maior consumo de adubos no terceiro trimestre, há uma distribuição histórica de demanda de 34% no primeiro semestre, e 66% no segundo. “Em 2004, estamos verificando que a distribuição será de 30%/70% ou pior”, afirmou. “Vai ser difícil atender a todos os pedidos.”

Segundo informou, já houve uma antecipação de entregas em janeiro deste ano, pois os compradores tentaram evitar a incidência da nova Cofins. “Tivemos um crescimento de 46,5% nas vendas desse mês, que não podem ser creditadas apenas pelo atraso na adubação de cobertura da safrinha”, disse. Em fevereiro e março, os negócios apresentaram uma queda compensatória.

Comparando os dados de produção e importação de fertilizantes, o diretor da Anda considera que a indústria nacional precisaria dobrar de tamanho para assumir um porte compatível com o potencial do agronegócio. “Falta estabilidade desse setor para suportar investimentos de longa maturação”, considerou. Além disso, no caso do potássio, dificilmente será possível evitar a importação, dada a baixa ocorrência de minérios ricos no elemento no País. Já nos nitrogenados, ele vê como empecilho o fato de alguns países produtores de petróleo e gás natural, como a Venezuela e os do Oriente Médio, concederem fortes subsídios à fabricação dessa linha de produtos. No Brasil, além de inexistirem subsídios, sobram impostos sobre a produção, invia­bilizando a concorrência. “No fósforo, há vários investimentos anunciados e já efetivados no País”, comentou.

Além disso, é preciso acompanhar a conjuntura mundial que indica um deslocamento da produção agrícola para longe da Europa e dos EUA, ainda mantidas com pesados subsídios. Na Europa, o consumo de fertilizantes caiu mais de 3% (em nutrientes) no período 2202/2003, em comparação com 2000/2001, mantendo a tendência de anos anteriores. Dados da Associação Européia de Fertilizantes comprovam que, pela primeira vez, o consumo de nitro­genados ficou abaixo de 9 milhões de t/ano. O consumo mundial de fertilizantes, no mesmo período, cresceu 2,3% (em nutrientes).

Daher recomenda cautela na avaliação dos dados. “A Europa é um mercado maduro, sem perspectivas de aumento de área plantada e com produção excessiva”, afirmou. Na região, a chamada “agricultura orgânica”, que dispensa a adição de ingredientes químicos suplementares, e a agricultura de precisão, que aumenta a eficiência da aplicação de fertilizantes, permitindo a redução das dosagens, são práticas crescentes e impactam negativamente o mercado. “A Europa e os EUA usavam adubações tão pesadas que até geravam problemas de poluição, situação muito diferente da existente no País”, afirmou.

De qualquer modo, pode haver um aumento de capacidade ociosa nas fábricas do primeiro mundo, que poderiam abastecer mercados emergentes, pelo menos até que investimentos nessas regiões deslanchem.

Química e Derivados: Fertilizantes: vinheta_3. ©QDAmbiente com limites – No Brasil, o setor de fertilizantes se adequa aos regulamentos ambientais em vigor, além de se preparar para novos controles, ainda em elaboração. “Na área industrial, já atendemos à regulamentação sobre efluentes líquidos”, afirmou Daher. Segundo informou, a próxima etapa legislativa diz respeito às emissões fixas das chaminés industriais, cujos limites ainda não estão claramente definidos.

“As normas internas da Anglo Ame­rican são muito mais severas que as normas oficiais brasileiras”, disse Nonino, da Cope­brás. Para a empresa, a questão ambiental é priori­tária, ao lado da participação em projetos de cunho social.

“A Anda acompanha o desenvolvimento da legislação e participa das discussões sobre novos limites”, explicou Daher. Um ponto relativamente recente no Brasil diz respeito a informar e limitar a presença de contaminantes nos fertilizantes. No caso dos produtos N, P e K, esse tema é pouco relevante. “Nos micro­nutrien­tes, é freqüente o aproveitamento de resíduos de outras indústrias, que podem conter elementos indesejáveis, que precisam ser especificados e limitados por norma oficial”, explicou. Ele informou que o governo federal tem consultado a entidade para montar um banco de dados técnicos obtidos no Brasil e no mundo, com o objetivo de produzir regulamentos compatíveis com exigências internacionais e com as peculiaridades do País.

Química e Derivados: Fertilizantes: fertiliza07. ©QDA aplicação de normas ambientais exa­gerada­men­te severas preocupa a entidade, dada a hetero­genei­dade de seus membros. Fazem parte da associação tanto os grandes fornecedores de insumos, quanto os pequenos mistura­dores, de influência apenas regional, que teriam grande dificuldade de adaptação.

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