Dois setores que registraram crescimento pujante de negócios nos últimos anos se reúnem no Transamerica Expo Center, em São Paulo, de 14 a 16 de maio.
Com o intuito de promover o encontro entre compradores e vendedores dentro das cadeias produtivas, além de propiciar o intercâmbio de conhecimento e de experiências, redundando em aperfeiçoamento profissional, a FCE Cosmetique e a FCE Pharma esperam receber mais de 20 mil visitantes, dos quais a maioria é formada por profissionais e especialistas em seus ramos de negócios.
Embora sejam atividades empresariais distintas, existe uma forte afinidade de processos e ingredientes usados por ambos os segmentos, de tal forma que o compartilhamento do espaço entre as feiras é justificado e desejado.
“Mesmo com o forte crescimento de ambos os setores, a tendência mundial não é de afastamento, mas de aproximação entre eles, a ponto de alguns fabricantes unirem conceitos dos dois campos em seus produtos, caso dos cosmecêuticos e de alguns produtos funcionais”, explicou Lígia Amorim, diretora-geral da NürnbergMesse do Brasil, empresa organizadora dos encontros setoriais.
“Há muitas empresas que pedem para colocar seus estandes na zona de intersecção entre a Cosmetique e a Pharma, porque têm negócios em ambas, mas estamos sempre avaliando se é o caso de separar totalmente as feiras.”
Ela admite que várias outras companhias têm um foco bem definido em apenas uma dessas áreas de negócios. Para satisfazê-las, a organização dividiu o espaço de exposições do Transamerica Expo Center em duas áreas distintas, uma para Pharma e outra para a Cosmetique. No meio das duas, sem que exista uma separação física evidente, há a “zona mista”, para empresas interessadas nos dois mercados.
“Redesenhamos a planta da exposição para oferecer esses espaços, todos eles com acessos diferenciados, evitando que um visitante interessado em apenas um segmento tenha de andar por toda a área até encontrar o expositor desejado”, salientou Lígia. O redesenho dos espaços foi acompanhado de outras medidas para aumentar o conforto dos presentes e também promover negócios durante os eventos.
Ligia: Zona mista para expositores com atuação nas duas áreas
“Sabemos que o trânsito de São Paulo é caótico, estamos divulgando e recomendando aos visitantes que usem meios de transporte coletivo, como metrô e ônibus, para chegar e sair do local”, informou.
As opções de transporte podem ser encontradas no site: www.fcecosmetique.com.br, no item “como chegar”. Os bolsões de estacionamento foram ampliados para suprir a demanda.
A NürnbergMesse também atuou nas entidades de representação setoriais para reforçar as rodadas de negócios, cujo principal objetivo é multiplicar os contatos comerciais durante os eventos. Lígia considera que as feiras têm encontrado grande receptividade ao longo dos anos por conta dos esforços empreendidos por esses setores para oferecer aos visitantes oportunidades de atualização profissional, gerando negócios e apresentando tendências atuais de mercado. “Muitas vezes os expositores precisam demonstrar a eficácia dos seus produtos mediante atividades de aplicação de produtos finais. No caso da Cosmetique, podem ser feitos tratamentos de pele e de cabelos no local, porém de forma comedida, para evitar a banalização desse artifício”, considerou. “Nós recomendamos que os estandes sejam atraentes e amigáveis para receber os visitantes; e não é preciso ocupar uma área muito grande para conseguir isso.”
Este ano, na sua 18ª edição, as feiras estão recebendo um volume 5% maior de inscrições prévias, em relação a 2012, quando a feira teve uma visitação de quase 21 mil pessoas. “Não estamos esperando número muito maior que isso; e é o ideal para uma feira de negócios desses setores”, avaliou. Ela espera uma presença maior de visitantes estrangeiros, notadamente da América Latina, por conta da realização em paralelo do XXI Colamiqc –Congresso Latino-Americano e Ibérico de Químicos Cosméticos, considerado o maior congresso científico da América Latina, que terá por tema “Tecnologia sustentável: inovação além da ciência cosmética”. A realização do congresso conta com o apoio da Associação Brasileira de Cosmetologia (ABC). “Estamos preparados para receber bem os visitantes estrangeiros”, informou a diretora das feiras, salientando que elas recebem habitualmente grande visitação internacional.
Cosméticos avançam – O Brasil responde por 58% das vendas de produtos cosméticos e de higiene pessoal da América Latina, obtendo faturamento que o coloca na terceira posição mundial, atrás apenas dos Estados Unidos e do Japão. Dados da consultoria internacional Euromonitor apontam venda total de US$ 41,7 bilhões de produtos de higiene e beleza no varejo brasileiro em 2012, enquanto os dados da Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (Abihpec) chegaram a US$ 14,3 bilhões em vendas da indústria em 2012 (com queda de 5,4% em relação ao ano anterior, embora em reais tenha havido um aumento de 15,9%).
A Euromonitor, em sua publicação Five Trends in Beauty for 14 Countries in North and South America, avalia que os produtos para cuidados capilares continuam a comandar o crescimento dos negócios setoriais no Brasil. Fortes campanhas publicitárias apoiam a entrada de novos produtos e marcas com apelos voltados para a qualidade, porém ainda um passo atrás das linhas premium, cujo crescimento local tem sido moderado. Os xampus dominam as vendas no segmento, mas há excelentes prognósticos para o crescimento dos produtos para tratamento capilar, condicionadores e pós-xampus. No país, os bons dados macroeconômicos e a elevação do salário mínimo têm explicado esse forte crescimento das vendas, além da afinidade cultural dos brasileiros aos produtos de higiene e beleza.
A consultoria apontou uma tendência na comercialização desses produtos, ainda muito ligada às vendas em supermercados, com o crescimento das redes de lojas especializadas em cosméticos, situadas em pontos estratégicos. Essa novidade tende a tomar mercado do sistema de vendas diretas. Os negócios pela internet também mostram ligeiro aumento.
Para o futuro, a consultoria aponta como sendo mais promissores os cosméticos colorantes, itens para cuidados pessoais masculinos e produtos para limpeza bucal. Ao mesmo tempo, nota-se uma retração das vendas dos sabões em barra, principal produto para banho no Brasil.
Toda a região da América Latina é considerada muito promissora pela Euromonitor no campo de higiene e bilhõesbeleza. A consultoria estima que os produtos mais populares (vendidos em supermercados) devem apresentar crescimento de 29,5% nos próximos cinco anos, percentual superior aos dos produtos premium, mais caros, que chegariam a 27,7%. Em escala global, esses aumentos ficam em 15,7% e 14,6%, respectivamente.
Farma tem queixas – Os resultados do setor são interessantes: as vendas de todo o setor farmacêutico no Brasil somaram R$ 49,63 bilhões em 2012, com elevação de 15,75% sobre o valor registrado em 2011. Foram comercializadas no ano passado quase 2,59 bilhões de unidades, 10,61% acima do alcançado em 2011. Em dólares, o faturamento ficou 1,09% menor, somando US$ 25,40 bilhões. Apesar disso, a indústria farmacêutica nacional acendeu a luz amarela em seus prognósticos. “Não temos certeza de que teremos um 2013 melhor que 2012. Sabemos que o setor crescerá bem acima do PIB, como sempre acontece, mas não estamos convictos quanto aos resultados”, analisou Nelson Mussolini, presidente executivo do Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos no Estado de São Paulo (Sindusfarma). Ele atribui um alto grau de incerteza ao controle oficial de preços dos medicamentos, que fixou reajustes abaixo da evolução dos custos de produção. Na média do setor, o aumento de preços autorizado em abril deste ano foi de 4,56%. “Em 2012, o dólar era cotado a R$ 1,60, agora está por volta de R$ 2,00 e isso influencia muito nossas operações, dependentes de insumos importados. Além disso, os salários ficaram 7,5% mais caros em 2012 e estão subindo perto de 8,3% neste ano, tudo isso pressionaa rentabilidade”, explicou. A inflação oficial de 2012 chegou a 6,5%.
A lei de controle de preços dos medicamentos, criada em 2003, atribui à Câmara de Regulação do Mercado de Medicamento (Cmed) o poder de arbitrar o percentual de aumento dos preços. O órgão define três faixas de reajustes, conforme o grau de participação de genéricos. A faixa em que os genéricos representam 20% ou mais do faturamento teve autorização de reajuste maior que as demais, chegando a 6,31%; a faixa intermediária, com 15% a 20% de genéricos, ficou com 4,51%; enquanto a faixa com menor peso de genéricos só pôde reajustar seus preços em 2,7%. “Esta última categoria agrupa os medicamentos mais avançados, protegidos por patentes, que precisam oferecer uma remuneração maior para quem investiu no seu desenvolvimento. Desta forma, está se desestimulando a inovação”, comentou Mussolini.
Em uma análise de médio prazo, ele salienta que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) cresceu 31,8% entre 2008 e 2012, enquanto o preço médio dos medicamentos teve evolução de 23% (com máximo de 30% e mínimo de 17%). “Essa lei de reajustes está ultrapassada, foi criada num contexto em que a moeda nacional era muito instável”, avaliou. Há um alento: segundo Mussolini, o governo federal tem se mostrado disposto a discutir a questão com o setor. O executivo salienta que a perspectiva setorial de baixa remuneração tende a apresentar reflexos. Um deles poderá ser a transferência paulatina das indústrias do setor para fora do estado de São Paulo, onde os custos são muito elevados e a tributação é excessiva. Ele aponta o estado de Goiás como um destino possível, com atividade farmacêutica já consolidada e boa atratividade.
“O Caged indica que o salário médio em Goiás é cerca de um terço da média paulista; ainda que a produtividade do trabalhador seja um pouco menor, a diferença compensa”, apontou. Ele explicou que essa mudança representa um investimento elevado e exige aprovação prévia das instalações pela Anvisa. Alternativas estudadas pelo setor incluem retardar o lançamento de novos produtos, atitude que compromete a posição de mercado das companhias e, a mais plausível, reduzir ou adiar investimentos em capacidades produtivas adicionais no Brasil. A recente desoneração de tributos sobre a folha de pagamentos, concedida pelo governo federal, não foi recebida com alegria unânime no setor. Segundo o presidente executivo, em geral, o setor farmacêutico é intensivo em capital e tecnologia, mas não em mão de obra. “Algumas empresas empregam mais pessoal e tiveram algum benefício”, admite. Além disso, a lei estabelece que as desonerações devem se traduzir em redução do preço final dos produtos beneficiados, ou seja, acabam sendo neutras para as indústrias, embora possam ajudar a conter a inflação.
Dados do Sindusfarma apontam que a carga tributária incidente sobre medicamentos no Brasil chega a 32,9%, um peso excessivo para produtos essenciais, ligados ao restabelecimento e à manutenção da saúde humana. “O sal de cozinha tem carga de 15%, nada contra, mas gostaríamos de um tratamento isonômico”, afirmou. “Não quero crer que o governo dê pouca atenção ao setor farmacêutico porque o impacto do preço desses produtos é pequeno no cálculo do IPCA.” O setor espera ser incluído no rol das atividades beneficiadas pela PEC 115/2012, obtendo assim a desoneração do PIS/Cofins.
Ao mesmo tempo, Mussolini não vê espaço para novas rodadas de fusões e aquisições no setor farmacêutico. “Já houve essa etapa, tanto no exterior como por aqui, com o objetivo de formar empresas com caixa forte para bancar esforços de pesquisa e desenvolvimento”, comentou. A título de exemplo: as cinco maiores empresas farmacêuticas mundiais investem entre 5% e 9% de seu faturamento em P&D.
No Brasil, Mussolini elogia os esforços de fiscalização da Anvisa, responsáveis pelo fato de o setor ter alcançado forte crescimento, porém com qualidade elevada. “Há mais empresas nacionais do que internacionais no setor, que sabe muito bem fazer o jogo dos genéricos, das patentes e das boas práticas de fabricação, atuando de forma competitiva”, considerou. Para ele, a qualificação abre para o setor um futuro promissor, apoiando a geração de conhecimento mediante a participação crescente em pesquisas e nos testes clínicos de novos fármacos. Além disso, há um estímulo marcante criado pela exigência de transferência tecnológica nas compras governamentais.
Essas compras, aliás, deveriam ser maiores. “O Brasil gasta pouco com a saúde pública, apenas 7,1% do total de gastos públicos; o Chile investe 16%; e a Argentina, 14,7%, apenas para citar países próximos”, comentou Mussolini. Nesse quadro, do faturamento setorial de quase R$ 50 bilhões, as compras de medicamentos pelo governo somam perto de R$ 10 bilhões, ou seja, 20%. Segundo o executivo, no país, os gastos privados em saúde superam ligeiramente os públicos, ou seja, quase a metade das despesas nesse item sai do bolso da população. “O SUS atende boa parte da população, por isso é importante que o fornecimento de remédios acompanhe esse serviço”, acrescentou.
Os dados da entidade também mostram que o setor apresenta um déficit na balança comercial de cerca de US$ 5,3 bilhões, número pequeno perto de outros setores, como o de eletrônicos e de fertilizantes. “As importações de medicamentos prontos são pequenas, o pesado está nos farmoquímicos”, avaliou. Nesse campo, ele entende que o Brasil perdeu a oportunidade de se tornar um player mundial nas décadas de 60 e 70, a exemplo do que fez a Índia. “Esse quadro é difícil de reverter, mesmo porque a maioria dos países do mundo depende da importação de farmoquímicos”, considerou. Ele afirma, porém, que o governo entende como ponto estratégico assegurar para o Brasil uma forte participação no campo dos produtos de origem biológica, cuja produção deve ser desenvolvida por aqui, independentemente da origem do capital investido.
Durante a FCE Pharma, o setor espera encontrar novidades relacionadas à tecnologia de produção. “O foco da feira neste ano recai na rastreabilidade, que exige contar com equipamentos e sistemas avançados, pois essa é a maior preocupação mundial”, salientou. A troca de informações e experiências daqui e do exterior durante o evento contribui para a evolução setorial e alavanca negócios importantes, segundo Mussolini.