Apesar dos números favoráveis de desempenho que vêm registrando nos últimos anos, as indústrias de cosméticos e farmacêutica, acostumadas a taxas de expansão anuais de dois dígitos, já dão sinais de que se preparam para novos tempos, não tão promissores. “As empresas estão otimizando processos para fazer frente à valorização do dólar, ao aumento da carga tributária e à recessão que afeta a economia brasileira”, declara João Hansen, presidente da Associação Brasileira de Cosmetologia (ABC).
Os movimentos de ajuste nas empresas de cosméticos envolvem a retirada de linha de produtos menos competitivos e/ou com margens menores de rentabilidade. “A ordem é se readequar, diminuir custos para poder sobreviver à crise geral”, sentencia Hansen. O processo atinge a estrutura e o portfólio das indústrias. O Brasil é o 3º maior mercado de cosméticos do planeta. As tendências, até recentemente, indicavam chegar ao 2º posto em cinco anos.
Um dos primeiros decretos do ajuste fiscal do governo, este ano, referente ao recolhimento do IPI sobre as vendas dos atacadistas, instituiu uma alíquota de 22% para grande parte das mercadorias de beleza, ou seja, uma elevação de preços até 14% acima da inflação. A Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (Abihpec) avalia que a decisão do governo provoca um aumento real de 12%, em média, nos preços ao consumidor.
Se o valor das matérias-primas estiver em alta, o desafio das empresas será buscar um ponto de equilíbrio entre custo e preço, enfatiza Hansen. “Não é a primeira crise que enfrentamos no Brasil e é certo que não haverá desabastecimento”, adiciona. “O momento de crise é também de oportunidades”, emenda Enilce Oetterer, diretora da ABC. O que fazer? Melhorar a escala de produção, realinhar ou buscar novos ingredientes são perguntas que circulam nas cabeças dos executivos da área.
Partindo da máxima de que “todo mundo quer” ter pele e cabelo bonitos, uma boa aparência, e, por isso, “ninguém vai deixar de usar cosméticos”, Hansen acredita que os produtos para maquiagem, cabelos, pele e fragrâncias devem continuar com desempenho em evolução. Conforme dados do Euromonitor, o Brasil é líder no consumo mundial de desodorantes e perfumaria; o segundo em produtos para cabelos, masculinos, infantis, para banho, depilatórios e proteção solar; o terceiro em produtos cosméticos de cores; o quarto em higiene oral; e o quinto em pele. E há, indica Hansen, uma tendência de incremento no uso de produtos com FPS (fator de proteção solar). As 2.470 empresas do setor geram 5,6 milhões de empregos.
Em termos globais, a tendência de consumo é por produtos mais naturais, vegetais, que gerem, ao mesmo tempo, benefícios ao usuário. Dentro da linha funcional, valoriza-se o uso de frutas, flores e os elementos exóticos. Para a pele, a preferência se dirige aos produtos que propiciem maior suavidade, declara Fábio Caravieri, gerente de marketing da Clariant.
A freada no ritmo dos negócios também está obrigando o setor farmacêutico a rever as suas projeções. A expectativa era crescer de 11% a 14% este ano. Agora, calcula-se que a expansão será de 7,8%, revela Bruno Abreu, gerente de regulação de mercados do Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos no Estado de São Paulo (Sindusfarma). Pela primeira vez em sete anos, o setor não deverá registrar uma evolução de dois dígitos no faturamento. O Brasil é o 6º principal consumidor mundial de medicamentos. O cenário otimista contemplava subir para a 5ª posição em 2016 ou 2017.
Na sombra de um mercado em transformação, a 20ª edição da FCE Cosmetique e FCE Pharma, realizada de 12 a 14 de maio, no Transamérica Expo Center, em São Paulo, propiciou o lançamento de uma série de produtos, incluindo experimentações in loco. Os organizadores contabilizaram a visita de 16.792 profissionais qualificados: tomadores de decisão, fornecedores, distribuidores e revendedores do país e do exterior.