Fabricantes mantêm produtos atualizados – Bombas

O mercado nacional de bombas industriais começou a dar sinais de recuperação. Entre janeiro e junho de 2018, com base em dados da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas (Abimaq), as vendas dos fabricantes locais cresceram 8,5%, em comparação com o mesmo período de 2017. O consumo aparente desses equipamentos tem previsão de crescer 17,3% neste ano, em relação a 2017.
Os bons números acima escamoteiam algumas dificuldades e podem gerar uma ilusão de prosperidade. Há um crescimento de vendas em curso, mas a base de comparação é muito fraca, basta lembrar que o faturamento do segmento de bombas industriais ainda está abaixo do obtido em 2010. Além disso, o aumento da competição com importados estrangulou as margens de lucro dos fabricantes nacionais, fato evidenciado pelo aumento de 12% das importações e pela queda de 30% das exportações no primeiro semestre deste ano. Por isso, os números acima não foram recebidos com muita alegria.
A importação pode ter sido ainda maior. “O setor de óleo e gás importa equipamentos completos, bombas incluídas, em skids e o processo de importação considera o conjunto, sem identificar cada componente”, explicou Biagio Pugliese, diretor comercial da KSB Brasil. Ele comentou que isso também se verifica na importação de linhas de lavagem de garrafas e envase de bebidas, cabines de pintura e outros. Até o ponto em que o levantamento da entidade setorial pode apurar, a entrada de bombas chinesas para construção civil cresceu muito nos últimos anos. Os Estados Unidos são, também, origem importante de bombas trazidas para o Brasil.
“Há empresas locais que importam bombas e aqui colocam a sua placa de identificação, uma espécie de private label, isso é uma resposta ao alto custo de produção daqui que inibe investimentos em produção”, considerou.

Embora as vendas da KSB tenham aumentado 15% no primeiro semestre deste ano, Pugliese comenta que o panorama de negócios se apresenta confuso, com os principais segmentos clientes postergando projetos, uns pela instabilidade política provocada pelas eleições, outros pela incerteza com a taxa de câmbio e outros fatores econômicos. “A indústria química, por exemplo, opera com faturamento em dólares abaixo do verificado em 2010, quase não tem projetos de investimento; o setor de óleo e gás também está estagnado, os projetos de refino não estão andando e só há duas plataformas em construção, mesmo assim no exterior”, apontou.
O setor de saneamento básico caminhou em sentido oposto, registrando 30% de aumento de vendas no primeiro semestre. Porém, Pugliese adverte para o fato de muitas companhias estatais terem antecipado suas compras para não serem afetadas pelas vedações legais impostas em anos eleitorais. “Pode ser que as vendas do segundo semestre fiquem menores, portanto”, disse. Para ele, a maior participação de empresas privadas nesse setor é benéfica, por permitir mais agilidade às negociações, mas também aumentará a competição com importados, exigindo esforços dos fabricantes locais e também do estado, na correção de deficiências de infraestrutura e na redução da carga tributária. “Considerando o custo de produção e impostos, nossos produtos estão mais caros que os fabricados na Europa”, avaliou.
A mineração brasileira também está desenvolvendo poucos projetos de investimento. A ocorrência de acidentes com impacto ambiental levou à redução de produção mineral. “O Chile é muito forte nesse setor, mas é atendido pela KSB de lá”, lamentou.
O avanço de projetos de termelétricas traz alento para os fabricantes de bombas. “Cada geradora precisa de bombas para alimentar caldeiras, recircular o condensado e para o sistema de resfriamento, são pedidos grandes, mas com forte pressão para baixar preços e apertar margens”, comentou.
O setor sucroalcooleiro passou os últimos anos direcionando o caldo de cana mais para a produção de açúcar do que para o etanol. Neste ano, houve mudanças no cenário internacional e o preço do açúcar despencou e aumentou a atratividade do etanol. “Vamos ver na próxima entressafra, que começa em novembro, se os usineiros investirão mais nas destilarias, que usam mais bombas”, comentou. A cogeração de eletricidade pela queima do bagaço também exige comprar mais bombas.
O setor químico comprou poucas bombas para a produção, mas está apresentando forte demanda por equipamentos para combate a incêndio, em especial nos terminais logísticos. “Esse foi o segmento que mais cresceu em 2018”, apontou.
Por ter um parque instalado de bombas muito grande no Brasil, a reposição de equipamentos e as atividades de manutenção representam uma fatia maior no faturamento da KSB. “Peças e serviços hoje representam 30% do total faturado, a média histórica não chegava a 20%”, informou.

As atividades de manutenção de pós-venda são importantes também para a Netzsch do Brasil, que mantém estrutura para isso na fábrica de Pomerode-SC e nas suas filiais. “Manutenção e remanufatura de bombas geram receitas, mas isso não chega a um terço do faturamento”, considerou Osvaldo Ferreira, diretor-geral da empresa desde julho deste ano, em substituição a Silvio Beneduzzi Filho, que se aposentou. Ferreira explicou que as bombas fabricadas pela Netzsch, nas linhas de cavidades progressivas (Nemo), de lóbulos e de fusos, são muito robustas e apresentam vida útil longa, até 30 anos. “Elas operam em baixa rotação e seu desenho ajuda a prevenir desgaste prematuro, mas precisam ser bem especificadas para cada aplicação.”
Ferreira avalia o desempenho de mercado em 2018 como um pouco superior ao de 2017, sendo que 2016 foi muito ruim para a companhia, refletindo a situação geral do setor. “Em 2016, registramos uma queda de 30% nas vendas, ainda estamos no meio caminho da recuperação”, afirmou. Antes dessa crise, a Netzsch havia ampliado a fábrica para atender a demanda projetada, que não se realizou. “Conseguimos manter a estrutura intacta, sem corte de pessoal, mas ainda carregamos alguma ociosidade.”
No Brasil, o campo de aplicação mais relevante é o de petróleo, absorvendo 35% do faturamento. “Nesse setor, o preço do barril de óleo é que determina os investimentos; em 2016, o preço caiu e derrubou a demanda pelos equipamentos”, explicou.
Em contrapartida, o setor de papel e celulose apresentou demanda considerável de equipamentos em 2016 e 2017, para atender à expansão do parque produtivo nacional. Inauguradas as novas plantas, porém, houve retração, já esperada. “O setor de alimentos sempre vai bem, a produção de açúcar sofre variações a cada ano, e a indústria química, como a indústria em geral, não apresenta grandes investimentos e compra menos bombas”, disse.
O carro-chefe da companhia é a linha Nemo, muito conhecida no mercado. A unidade brasileira desenvolve os elastômeros utilizados no revestimento interno do canhão, adequando-os às exigências de cada aplicação. “Estamos recertificando os materiais conforme a norma Anvisa, antes seguíamos as orientações da FDA americana; os novos elastômeros foram apresentados durante a Fispal e são formulados com uma cor diferente da usual, para identificação mais fácil”, salientou.
A linha completa de bombas de fusos é desenvolvida pela fábrica de Pomerode e seus produtos são vendidos para todas as subsidiárias internacionais do grupo de origem alemã. “Temos modelos inclusive com acoplamento estanque, sem vazamento, para movimentar produtos químicos”, disse Ferreira. A linha compreende bombas com três fusos (para óleo bunker de navios, gerando alta pressão) e quatro fusos (usada em petróleo ou aplicações severas, apresentando alta vazão).
As bombas de lóbulos compreendem modelos para aplicação industrial, feitas ferro ou de inox (para alimentos e químicos) e versões para saneamento (de ferro fundido). “Essas bombas levam a marca Tornado, e são as linhas mais recentes na companhia”, salientou.
Corrado Vallo, diretor da Omel Bombas e Compressores, também aponta uma retração no mercado nacional de bombas. “O último ano bom mesmo de vendas foi 1992 ou 1993, quando faturávamos o dobro do que fazemos hoje”, informou. Como disse, houve alguma recuperação de negócios com a Petrobras nos governos Lula e Dilma, mas aquela euforia se revelou artificial e deixou problemas, como equipamentos prontos que não puderam ser faturados por causa da paralisação dos respectivos projetos.
De forma geral, atuar com equipamentos engenheirados sob encomenda ainda é mais rentável do que as linhas de prateleira, estas mais atingidas pelos importados. “O setor não mudou sua configuração, mas está com grande capacidade ociosa, até mesma nas fundições, um antigo gargalo da produção”, considerou.
Vallo comenta que a empresa consegue se manter em atividade por ter investido na diversificação de produtos e segmentos atendidos. “A prospecção de clientes em um campo tão amplo, que está sob o comando do meu irmão Marzio, tem um custo, mas está dando bons resultados”, informou.
Atualmente, os sopradores tipo Roots, trilobados, de deslocamento positivo, representam a linha mais vendida pela empresa nacional, sendo aplicado em sistemas de transporte pneumático em diversos mercados (cimento, grãos alimentícios e outros).Nas bombas centrífugas, a linha convencional voltada aos processos industriais é a que encontra maior demanda, seguida pelas dosadoras de baixa pressão. Depois aparecem as bombas sob norma API e as dosadoras de tamanho intermediário.
“Além disso, temos muito serviço de manutenção de equipamentos, porque temos um grande número de bombas instaladas no país”, comentou Vallo. A empresa também tem exportado seus produtos para Argentina, Peru e Colômbia, com bons resultados. “Nosso setor precisa que a Petrobras volte às compras e que as regras para exportação de produtos brasileiros nos permitam melhores condições de competitividade”, salientou.
Ele vê com cautela as recentes mudanças nas regras de conteúdo local nos investimentos da estatal petroleira. “O dólar mais caro nos ajuda, mas as mudanças facilitam a entrada de importados; a diferença é que o fabricante local dá assistência técnica efetiva”, afirmou.
Novidades – A Omel desenvolveu modelo de bomba de fluxo axial, que produz alta vazão (2.400 m³/h), adequada para estações de tratamento de água de grande porte. “O rotor dessa bomba parece uma hélice, e suas pás podem ser reguladas para se obter o volume desejado”, explicou Corrado Vallo. Outra inovação recente são as bombas de baixa vazão (low flow, de 0,3 a 25 m³/h), com um ou dois estágios, que podem suportar condições de alta temperatura e pressão.

A Omel oferece bombas centrífugas com acionamento magnético, com fabricação própria, indicadas para conduzir fluidos perigosos, impedindo vazamentos. “É um produto muito seguro, mas a procura é pequena porque não há norma oficial que obrigue seu uso”, comentou Vallo.

A KSB reavalia sua ampla linha de bombas para eliminar itens que tenham superposição de desempenho e aplicação, buscando aumentar a eficiência produtiva e reduzir custos. Um dos maiores focos da companhia no Brasil está voltado aos sistemas de esgotamento sanitário, em franco processo de crescimento no país. “São bombas submersíveis, já tínhamos a linha KRT, mas estamos fazendo um upgrade na parte hidráulica, no motor e na eficiência geral do equipamento”, comentou Pugliese. A atualização hidráulica foi estudada na matriz, na Alemanha, mas o desenho final e as demais atualizações são frutos do empenho da equipe local de desenvolvimento.
A KSB Brasil é referência no grupo internacional para a área de óleo e gás. “Em setembro, lançamos a bomba CHTR Vane Island horizontal multiestágios, bipartida horizontalmente, completando a linha de produtos sob norma API 610, 11ª edição”, informou. São bombas de baixa vazão e alta pressão, construídas com algumas peças trazidas da Alemanha. O produto é indicado para aplicações industriais e em refinarias de petróleo, incluindo alimentação de caldeiras de geração de vapor. Opera com vazões entre 5 e 25 m³/h, altura manométrica de 1.500 mca, aceitando temperaturas até 400ºC, gerando 250 bar na saída. O modelo permite intervenções de manutenção sem desmontar os flanges de conexão à sucção e descarga.
A KSB instalou em 2018 o primeiro sistema Power House, um gerador de eletricidade que usa uma bomba (funcionando em sentido inverso) acoplada a um gerador, de modo a aproveitar fluxos disponíveis com alguma pressão. O sistema foi instalado na Sabesp de Barueri-SP. “Esse tipo de bomba é mais eficiente que uma turbina para gerar eletricidade nessas condições, esperamos vender outros sistemas desse tipo porque eles oferecem retorno rápido do investimento”, disse. O produto foi divulgado durante a Fenasan deste ano (veja nesta edição).
Por sua vez a Netzsch anuncia avanços em materiais usados na construção de suas bombas Nemo. Durante a feira Achema, realizada em junho, na Alemanha, a companhia lançou um novo conceito construtivo que facilitará a manutenção. “Ainda não dispomos desse novo produto por aqui, mas estamos nos preparando para recebê-lo”, informou Ferreira.
Automação e controle – A Netzsch avançou para adequar seus produtos aos conceitos de indústria 4.0. “A Alemanha está muito avançada nisso, a ideia é oferecer bombas inteligentes, sem onerar seu custo”, explicou Ferreira. Isso se faz com a inclusão de sensores e dispositivos inteligentes de comunicação, de modo a coletar e transmitir dados que permitam analisar a tendência de operação de cada bomba. “O próprio equipamento pode fazer essas análise, ou deixar que o ssitema central de controle da planta o faça.”

Como informou, já existem protótipos em operação na Europa. A ideia é manter uma caixa de comando acoplada ao equipamento para permitir a comunicação com o cliente.
Pugliese comentou que a KSB está atenta ao desenvolvimento e aplicação dos conceitos de indústria 4.0, tanto na sua linha de produção, quanto nos produtos entregues aos clientes. “Porém, é preciso ter clientes que atuem no mesmo conceito 4.0”, advertiu. Atualmente, já é oferecido aos clientes um sistema de controle avançado dos motores que acionam as bombas, buscando elevar ao máximo a eficiência energética durante a operação. “Muitos clientes estão prestando atenção ao consumo de eletricidade e recebem bem esse sistema”, comentou.
A Omel acompanha o desenvolvimento de produtos para clientes interessados em aumentar a automação e o controle avançado de processos. “Colocamos acionador eletromagnético e transmissores de dados nos conjuntos, usando produtos de terceiros, compatíveis com o sistema dos clientes”, explicou Vallo. Embora essa modificação não tenha exigido alterações importantes nas bombas, foi preciso adquirir novas competências na produção.