Álcool: Gasolina cara permitiu avanço do etanol, mas endividamento alto preocupa os produtores – Perspectivas 2016

Álcool: Gasolina cara permitiu avanço do etanol, mas endividamento alto preocupa os produtores

A produção de etanol continua crescendo no país.

A previsão é fechar o ciclo 2015/2016 com 29,8 bilhões de litros, uma expansão de 4,5% em relação ao período anterior, de acordo com informações do presidente da Datagro Consultoria, Plínio Nastari. O segmento vem registrando expansão desde 2011, quando se produziu 22,6 bilhões de litros – quase 32% de aumento em 5 anos.

Química e Derivados, Nastari: evolução tecnológica tornará etanol mais competitivo
Nastari: evolução tecnológica tornará etanol mais competitivo

O clima chuvoso favoreceu o desenvolvimento da cana-de-açúcar, que deverá apresentar uma safra “bastante robusta” este ano. A moagem da matéria-prima poderá totalizar 657 milhões de toneladas, sendo 605 milhões de t provenientes da região Centro-Sul e 52 milhões de t do Norte-Nordeste. Na safra anterior, de 2014/15, o Brasil moeu 632,19 milhões de t.

Para a safra 2016/17, que se inicia em abril, a Datagro projeta a moagem, só no Centro-Sul, de 610 milhões a 630 milhões de toneladas. “É provável que tenhamos uma safra com canas com maior teor de sacarose”, observa Nastari. Espera-se que o fenômeno climático El Niño tenha um efeito reduzido este ano, influenciando o amadurecimento dos canaviais. Resultado: safra maior, com maior produção de etanol e de açúcar.

O cenário positivo atual só é diluído numa visão a médio e longo prazos, quando, segundo Nastari, surgem “muitas incertezas”: o comportamento do clima, a definição da regra de competitividade entre o etanol e a gasolina, o nível de preços, o diferencial tributário…

Ele pondera que, nos últimos três anos, houve uma recuperação gradual da participação do etanol no mercado de combustível para motores de ciclo Otto, ao nível de 42% em 2015, em gasolina equivalente. Esta participação havia caído para 30,3%, em 2012, mas já foi de 45% em 2009. Isso quer dizer que 42% da demanda total por gasolina no país é suprida por etanol anidro (27% de mistura na gasolina) e hidratado (o etanol vendido nos postos de abastecimento).

Em outubro do ano passado, registrou-se um recorde no consumo mensal de 1,75 bilhão de litros. Sem números oficiais encerrados para o ano de 2015, a estimativa da Datagro é que o consumo de etanol hidratado atingiu 17,68 bilhões de litros em 2015, um crescimento significativo de 36% sobre 2014.

Já o etanol anidro apresentou uma variação de consumo próxima de zero. Caiu 1,6%. O teor de mistura aumentou de 25% para 27% em março de 2015, o que gerou um efeito de compensação. Mas despencou o consumo de gasolina pura, tipo A, para 30,19 bilhões de litros em 2015. Em 2014, foram consumidos 33,27 bilhões de litros.

Nastari explica que houve uma expansão do etanol no mercado de combustíveis mediante a recuperação parcial do diferencial de tributação com a gasolina. Em fevereiro de 2015, as alíquotas de PIS e Cofins subiram para R$ 0,22 por litro para a gasolina e R$ 0,15 para o diesel. Em 1º de maio, a Cide aumentou em R$ 0,10 por litro para a gasolina e R$ 0,50 para o diesel, recuando o PIS e o Cofins no mesmo valor, para evitar novo aumento de carga tributária.

A Cide tem um papel de amortização nos preços dos combustíveis, instrumento que estava sem ação até então, quando ela estava zerada. A Cide foi reduzida no passado com a intenção de evitar que os aumentos de combustíveis da Petrobras aos distribuidores chegassem ao consumidor. A arrecadação do PIS e Cofins é exclusiva da União; a Cide é repartida com os estados e municípios.

Em resumo, Nastari afirma que, a partir de fevereiro de 2015, a Cide, mais PIS e Cofins, que estavam em zero, foram recuperados para 22 centavos por litro de gasolina. “Essa recuperação parcial já foi suficiente para gerar um estímulo ao consumo de etanol em relação à gasolina”, diz. Ele se referiu à “recuperação parcial” porque, em janeiro de 2000, a carga tributária era de R$ 0,28 por litro. Se corrigida pela inflação, isso representaria hoje R$ 0,93.

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Produção e consumo nacional de etanol

Preços – O aumento dos preços, desde setembro de 2015, serviu para equalizar oferta e demanda. Os preços ao produtor subiram, para o etanol hidratado, de R$ 1,18 por litro para R$ 1,88/l. “Isso dá uma ideia da evolução dos preços de junho até agora. Houve uma recuperação e teve impacto ao consumidor. Há uma redução no consumo de etanol mensal para ajustar a oferta e a demanda.” Nastari defende a importância de mais clareza e transparência na relação de competitividade entre a gasolina e o etanol.

No mercado externo, o consultor nota um “incremento marginal” tanto nas importações como nas exportações. O etanol é exportado por uma questão estratégica: como o etanol de cana produzido no Brasil possui baixa intensidade de carbono, o produto recebe um prêmio pela sua capacidade de reduzir a emissão de carbono. Como o ano foi muito seco na região Norte-Nordeste, importou-se etanol de milho, sem esse prêmio. No balanço, ele considera essas trocas positivas, pois incrementam o comércio internacional.

Pelas contas da Datagro, na safra 2015/16 o país exportou 1,8 bilhão de litros e importou 0,77 bilhão de l na safra 2015/16. Nos anos 2014/15, as vendas externas somaram 1,29 bilhão de l e as compras internacionais, 0,67 bilhão de l. Na safra 2013/14, exportou-se 2,73 bilhões de l e importou-se 0,31 bilhão de l. O “consumo interno vigoroso” justifica o declínio das vendas internacionais.

Pode-se dizer que o desempenho geral do setor álcool melhorou. Mas, também deve-se considerar que sofre com a dívida acumulada nos anos de crise.

Com 370 usinas em operação, 83 fechadas, 70 em recuperação judicial e nenhuma em implantação ou em projeto, o Brasil é o maior produtor de cana-de-açúcar do mundo e o segundo maior de etanol. Só perde para os Estados Unidos, cuja produção anual chega a 54 bilhões de litros. Mas, enquanto o Brasil substitui 42% da gasolina por etanol, nos EUA o índice é de apenas 10%.

O setor apresenta uma dinâmica de investimentos em mecanização de colheita e plantio e também na cogeração, principalmente na região Centro-sul. No Norte-Nordeste, o índice de mecanização é menor. Na área de mecanização, quase todas as empresas estão investindo, inclusive algumas do Norte-Nordeste. Em cogeração, alguns grupos se destacam: São Martinho, Raízen e a Jalles Machado.

Tecnologia – Também há várias novidades tecnológicas. No plantio, novas técnicas de multiplicação de mudas, como as pré-brotadas. A embriogênese somática, como forma de multiplicar e plantar a cana, poderá revolucionar e reduzir o investimento em 40% no plantio. “O etanol será mais competitivo a médio prazo”, prevê Nastari.

E há tecnologias ligadas à fermentação, que aumentam o rendimento, além de haver instrumentos para aumentar a eficiência na geração de energia elétrica usando resíduos de cana, bagaço e palha. Há ainda tecnologias para aproveitamento de resíduos para biodigestão gerando biogás e biometano.

Os efeitos da recessão são mais visíveis nos segmentos de mercado de alcoolquímica e outros fins. Dados da Datagro revelam que essa indústria deve absorver 2,16 bilhões de litros da safra 2015/16. Nas safras anteriores, os números foram mais animadores: 2,36 bilhões de l (2014/15) e 2,33 bilhões de l (2013/14).

A queda no consumo de quase 10% verificada atualmente é bem maior que a retração geral da economia brasileira. O álcool é utilizado em tintas e solventes (se a indústria automotiva cai, caem também as vendas de tintas e de álcool), bebidas, farmacêutica, cosméticos etc.

Nastari alimenta a esperança, contudo, de que quando a economia se recuperar, a tendência será a volta do crescimento para todos esses segmentos. O mercado de alcoolquímica também sofre uma ligeira redução por conta da diminuição dos preços da nafta e da maior competividade dos derivados de petróleo em relação ao etanol para usos químicos.

Usina – Um dos maiores produtores de açúcar e etanol do Brasil, o Grupo São Martinho anunciou que encerrou a safra 2015/16 com a moagem de 20 milhões de toneladas de cana, volume 7% maior em relação à quantidade de cana processada.

O Conselho de Administração do grupo autorizou a expansão da capacidade de processamento de cana da usina Santa Cruz, situada em Américo Brasiliense-SP, de 4,5 milhões para 5,2 milhões de t. O projeto contempla um aporte de R$ 41,7 milhões, que serão destinados à aquisição de máquinas e equipamentos agrícolas e industriais.

Haverá aumento da capacidade de produção de etanol e energia elétrica. Com a expansão do processamento de cana, a usina saltará a sua produção de etanol dos atuais 141 mil m3 para 200 mil m3. A cogeração de energia crescerá de 220 mil MWh para 258 mil MWh. Já a produção de açúcar passará de 347 mil t para 353 mil t por safra.

Os aportes necessários deverão ocorrer ao longo da safra atual e da safra 2016/17. A utilização da nova capacidade operacional da Santa Cruz se dará somente a partir da safra 2017/18.

CTC – O Centro de Tecnologia Canavieira (CTC) está operando uma planta de Demonstração de Etanol de Segunda Geração, na usina São Manoel, que possui uma capacidade de processamento de 100 t/dia de biomassa. Com investimentos da ordem de R$ 80 milhões, a unidade foi projetada para demonstrar a investidores, acionistas e clientes o potencial da tecnologia que pode representar um aumento da produção de etanol de até 50%, sem aumentar a área plantada de cana-de-açúcar.

O processo conta com quatro etapas: pré-tratamento, hidrólise enzimática, fermentação e destilação. O grande diferencial, informa o CTC, é a integração completa com o parque industrial já existente nas usinas, reduzindo o investimento. Assim, quem já faz etanol de primeira geração poderá escolher entre aumentar a sua produção, fazer mais açúcar ou ainda produzir energia elétrica, dependendo da demanda. A expectativa é testar todos os processos para que a tecnologia se torne comercial em 2016/2017.

Química e Derivados, Janeiro: aproveitamento da biomassa de cana aumenta
Janeiro: aproveitamento da biomassa de cana aumenta

Para o recolhimento e processamento da palha de cana-de-açúcar para geração de bioeletricidade, o CTC desenvolveu a tecnologia Palha Flex. “É uma solução sustentável de produção de energia. Por meio deste processo, as usinas terão a biomassa necessária para a cogeração de energia elétrica adicional ou o etanol de segunda geração (E2G)”, declara Viler Correa Janeiro, diretor de negócios do CTC.

A Usina Ferrari, em Pirassununga-SP, é capaz de processar 100 mil t de biomassa adicional durante a safra, o que poderia produzir energia elétrica para abastecer uma cidade de aproximadamente 125 mil habitantes. “O Palha Flex tem uma importância econômica muito grande, pois a palha que até então ficava no campo será utilizada como matéria-prima para a produção de eletricidade, aumentando a nossa receita e contribuindo para a segurança energética da região e do país”, ressalta Antônio Previte, diretor financeiro do Grupo Ferrari.

Diferenciais do Palha Flex: flexibilidade (atende as principais rotas de recolhimento de palha), maior planta para processamento de palha do país, integração agroindustrial e melhor custo benefício do mercado. Com sede em Piracicaba-SP, o CTC é o maior centro de tecnologia canavieira do Brasil e um dos mais renomados do mundo. Atua há mais de 40 anos no desenvolvimento e comercialização de tecnologias para o setor.

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