Engenharia – Empresas ainda acreditam em obras públicas e privadas
No momento em que as taxas de juros estão baixas, a inflação está crescendo e é modesta a expectativa de expansão da economia brasileira, as empresas do setor de engenharia industrial estão otimistas. “As perspectivas econômicas de curto prazo são muito boas.
Mas, a médio e longo prazo preocupam, uma vez que o Brasil está mais voltado, agora, para estimular o consumo do que o investimento duradouro”, avalia Antonio Müller, presidente da Associação Brasileira de Engenharia Industrial (Abemi).
O presidente da Niplan Engenharia, Paulo Nishimura, concorda que as expectativas são favoráveis e positivas: “Acreditamos no forte crescimento industrial e em infraestrutura, ainda que ressalvados pelo atual momento de cautela decorrente da crise econômica europeia.”
À frente de uma entidade que reúne 140 empresas dos segmentos de projeto, construção, montagem e fabricação, além de algumas empresas industriais, com faturamento global da ordem de US$ 34 bilhões por ano, Müller defende que o governo privilegie o setor com medidas positivas, tais como a desoneração do investimento produtivo.
Ele lembra que, nos últimos anos, houve um volume recorde de investimentos no setor produtivo, impactando positivamente a engenharia industrial. “O crescimento do faturamento das empresas de projetos foi impulsionado por investimentos públicos e privados. Do lado dos governos, há demandas geradas por conta do PAC, da Copa do Mundo de Futebol e da Olimpíada do Rio, em 2016. Do lado da iniciativa privada, há investimentos no parque produtivo, bem como empreendimentos imobiliários, hotéis e shopping centers”, relata Müller.
Embora a atual política de investimentos do governo esteja concentrada em petróleo e gás, e em obras da Olimpíada e da Copa do Mundo, Müller considera “muito importante uma atuação mais firme nos segmentos de logística, geração e transmissão de energia, além de mineração”.

Para Müller, a engenharia industrial já atingiu, em algumas áreas, um nível de excelência comparável e até superior ao de muitas empresas internacionais. “Na área de montagem industrial, por exemplo, as empresas brasileiras estão vencendo várias concorrências internacionais e isso é um indicativo dessa evolução. E o setor de fabricação offshore está passando por um crescimento espantoso, rompendo todos os desafios”, observa.
Por outro lado, a crise que atinge os mercados da Europa e dos Estados Unidos está provocando um aumento da concorrência por projetos no Brasil. Segundo Müller, é natural que as empresas estrangeiras procurem mercados emergentes, como o brasileiro. “Eu acredito que a engenharia pode se beneficiar dessa aproximação com as empresas mundiais, desde que a liderança dos novos projetos fique com grupos brasileiros. O problema é que, embora o Brasil tenha avançado muito no desenvolvimento de projetos executivos, temos algumas limitações em engenharia básica. As empresas brasileiras precisam assumir o início dos projetos, etapa na qual são definidos os conceitos e tecnologias a serem aplicados no empreendimento.”

Há 22 anos atuando no segmento de construção e montagem industrial, Nishimura concorda que a concorrência é forte, mas não se assusta: “A confiança do mercado no compromisso do desempenho dos
contratos da Niplan é um diferencial que nos posiciona positivamente no mercado. Outra vantagem competitiva é a pluralidade dos segmentos em que a Niplan atua (para todos os tipos de indústrias).”
O padrão de qualidade “diferenciado” da Niplan também conta pontos, afirma Nishimura: “Temos uma equipe altamente qualificada e com processos que asseguram a entrega do resultado dentro dos padrões previstos. Diferencial que, aliado à prioridade e atenção à segurança do trabalho, contribui para a imagem positiva da empresa no mercado.”

A Niplan tem um importante histórico de serviços prestados nos segmentos químico, petroquímico, petróleo, refino, papel e celulose e etanol. Atualmente, está presente em diversos projetos, como nas refinarias da Petrobras em Cubatão, Paulínia e no Paraná, além da Bahia.
Concorrência – A maior presença da engenharia brasileira nos projetos básicos pode estimular o aumento do conteúdo local nos projetos, mesmo que haja a participação de concorrentes internacionais. Nos últimos anos, a Abemi e suas associadas têm feito “um esforço gigantesco”, informa Müller, para diagnosticar os problemas no processo produtivo, desde a etapa de projeto até a operação, incluindo a fabricação de componentes.Os resultados desse levantamento estão sendo aplicados para aumentar a produtividade do setor. “Fizemos dois seminários de competitividade para compartilhar experiências entre as empresas e estamos editando algumas publicações para orientar os engenheiros e o pessoal técnico nas obras. Há uma atividade constante de revisão e melhoria e, para isso, temos buscado parcerias com entidades norte-americanas. Os Estados Unidos são a nossa principal referência de produtividade e buscamos aprender com a experiência deles”, declara Müller.Para aumentar a produtividade e reduzir custos, Nishimura revela que a atividade é estruturada em gestão de recursos humanos equipada com processos. “A nossa busca pela elevação da produtividade está embasada no treinamento contínuo das pessoas e na melhoria dos nossos processos produtivos.”O presidente da Abemi considera também que, para aumentar a produtividade e reduzir custos, o setor tem feito “um trabalho intensivo”. Mas, a carga tributária, as limitações da legislação trabalhista e os custos de transporte no país praticamente impedem que as empresas brasileiras cheguem aos níveis de preços praticados no mundo, mesmo em países centrais, como a Alemanha e os Estados Unidos.
“Esse desafio de reduzir os custos indiretos cabe ao governo. A equipe da presidente Dilma Rousseff parece estar focada no desenvolvimento da indústria e tem sinalizado algumas mudanças, como a redução de encargos sociais. Porém, essas são medidas tímidas para que a indústria e a engenharia nacional possam deslanchar. Outros problemas são a falta de financiamentos mais baratos e o câmbio, que continua desfavorável”, afirma Müller.
Durante alguns anos, a Abemi liderou o Programa de Mobilização da Indústria Nacional de Petróleo e Gás Natural (Prominp), que formou cerca de 80 mil profissionais em vários níveis, como montadores, técnicos, engenheiros, pessoal de projeto e administrativo.
No momento, trabalha-se para criar um sistema de treinamento e certificação da mão de obra, nos moldes do The National Center for Construction Education and Research (NCCER), dos Estados Unidos, que há 20 anos mantém um programa de qualificação e certificação de trabalhadores. No final de 2011, o número de empregados no setor era da ordem de 418,7 mil, incluindo profissionais de nível superior (33,4 mil), técnico (22,8 mil) e outros (352,6 mil) – administrativos, nível básico e médio.No caso da Niplan, Nishimura diz que há investimento contínuo em cursos profissionalizantes (por exemplo, escola de solda), que, em parceria com instituições como o Senai, já formaram diversos profissionais para esse mercado.
O desenvolvimento de tecnologia é constante. Müller destaca que, na área de óleo e gás, o Brasil é líder no segmento offshore. A Petrobras é, portanto, internacionalmente, um benchmark em tecnologia. Nos outros segmentos da engenharia industrial, incluindo o segmento de refino de petróleo, existe constantemente um investimento internacional de pesquisa e desenvolvimento. “Novidades existem em todos os segmentos da engenharia industrial”, conclui Müller.
“Existem novos processos, como metodologias de construção, implantação de linhas de produção e novos conceitos de solda para redução de tempo e recursos”, arremata Nishimura.

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