Distribuição – Setor se prepara para atender a demanda após a pandemia

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A distribuição de produtos químicos procura se adaptar às circunstâncias de mercado e se prepara para a recuperação gradual das atividades econômicas em escala mundial. A agilidade e flexibilidade das empresas comerciais permitiram concentrar esforços nos segmentos que se mantiveram ativos, alguns até cresceram, embora isso nem sempre alivie a queda abrupta de demanda de clientes tradicionais, como a fabricação de tintas e vernizes.

As distribuidoras também aderiram às recomendações internacionais dos órgãos de saúde, colocaram o pessoal administrativo e comercial para trabalhar de casa, adotaram sistemas de higiene e segurança entre os profissionais da área operacional com sucesso. Foram poucos os casos relatados de contaminações de pessoal e não houve interrupção de atividades. Ponto positivo para o setor, que é responsável pelo abastecimento de grande parte dos insumos químicos usados na produção de produtos de higiene, limpeza, medicamentos e outros, todos úteis contra a pandemia de Covid-19.

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Medrano: transformação digital ganhou velocidade nessa crise

“O setor está se esforçando para operar da forma mais normal possível, tanto que não houve desabastecimento, apenas alguns casos pontuais de atrasos de embarques de produtos vindos do exterior, causados pela reorganização das frotas de navios”, comentou Rubens Medrano, presidente da Associação Brasileira dos Distribuidores de Produtos Químicos e Petroquímicos (Associquim). A Ásia, especialmente a China, é um grande fornecedor de insumos químicos e foi a primeira região a ser afetada pela pandemia. Como os chineses optaram por um fechamento total da região afetada, houve uma interrupção dos fluxos de mercadorias, causando uma sobrecarga nos portos que se refletiu em todo o mundo.

Medrano comentou que nunca viveu um momento de crise tão forte e com tal abrangência geográfica em toda a sua vida. “Isso terá reflexo no futuro do setor que deverá se preocupar mais com o relacionamento com seus clientes e com suas relações comerciais”, apontou. Isso pode desencadear uma onda de desconcentração nas fontes de suprimento, buscando produtos de origens diversas, porém com custos semelhantes. “O ideal seria ter produção local e competitiva”, salientou. Considerando a complexidade da cadeia de produção química, mudanças nesse sentido podem demorar vários anos.

Além da Covid-19, há outros fatores desestabilizadores no mercado global. A começar pelas eleições nos Estados Unidos. Como avaliou Medrano, a pandemia está retardando a campanha eleitoral, com isso os discursos dos candidatos tendem a ficar mais agressivos. No caso de Trump, que tenta a reeleição, foi feita uma opção por atacar a China. “Mas os chineses hoje são líderes em tecnologia, veja o caso da comunicação 5G, e querem assumir um papel tão importante quanto o dos Estados Unidos no mundo, isso tem um impacto forte em toda a economia global”, disse.

No Brasil, a Covid-19 exige desembolsos governamentais cada vez mais elevados para manter auxílios à população mais carente e às empresas cujos negócios desabaram. “Em menos de dois meses já se gastou tudo o que seria economizado com a reforma da Previdência Social”, comparou. E a doença ainda não está controlada.

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Além disso, o país entrou num clima de instabilidade política muito forte, gerando insegurança para os agentes econômicos. “Essa confusão toda é muito ruim, pois tira a previsibilidade e ainda vai atrasar as reformas tributária e fiscal que são tão necessárias”, lamentou.

De março a maio, a relação cambial entre dólar e real foi profundamente alterada, como reflexo global da pandemia, passando da faixa de R$ 4,50 para R$ 6,00. No começo de junho houve uma acomodação, e o dólar recuou para R$ 5,50, porém com forte instabilidade. “Variações cambiais abruptas são muito prejudiciais à distribuição, mas por enquanto não provocaram inflação porque a demanda está muito contida”, salientou.

Como comentou, a atividade comercial química aprendeu desde o Plano Real a trabalhar com preços indexados ao dólar, construindo uma parte de seu hedge com estoques de importados. “O problema é que não está sendo possível repassar a variação cambial em todos os casos porque faltam compradores”, avaliou. A pressão sobre o caixa das companhias aumentou e exige atenção constante, como ressaltou o dirigente. “É preciso encontrar um equilíbrio, não se pode ficar sem produto para entregar”, comentou.

Um ponto positivo para o setor, segundo o presidente da Associquim, é que as distribuidoras brasileiras apresentam elevada solidez financeira, fruto de anos e anos de depuração. Mas podem aparecer problemas, caso a pandemia perdure por muitos meses.

Alguns segmentos de mercado, a exemplo de domissanitários, álcool em gel, alimentos, medicamentos e produtos para higiene pessoal e agropecuária acumulam bons resultados neste ano. Outros, como têxteis e tintas, despencaram. “Os consumidores estão muito cautelosos e com pouco dinheiro na mão, nesse cenário não se pode esperar uma recuperação imediata, mesmo com a reabertura do comércio”, afirmou.

Além disso, como ressalta o dirigente setorial, a economia nacional já não estava muito bem antes da pandemia. “Os resultados de 2019 foram ruins para a distribuição química e o PIB cresceu muito pouco, menos do que em 2018; começamos 2020 sem grandes expectativas”, disse. “Depois da pandemia, já esperamos resultados ainda piores para 2020, mas vamos superar essas dificuldades e podemos até pensar em novos modelos de gestão mais robustos e atualizados.”

A pandemia poderá acelerar o processo de transformação digital da distribuição química, acompanhando a onda da revolução 4.0. “A Associquim já vem alertando os seus associados há algum tempo para a necessidade de investir em sistemas de dados e de inteligência artificial (IA) atualizados como o caminho para o futuro das operações”, comentou Medrano.

O 9º Encontro Brasileiro dos Distribuidores Químicos (EBDQuim), realizado de 9 a 10 de março, em São Paulo, teve na tecnologia da informação um dos seus focos. Executivos de companhias internacionais e dirigentes de associações confirmaram a tendência de expansão de meios de interação com distribuídas e clientes, tanto para prestar informações quanto para suporte técnico.

Embora essas ferramentas (que envolvem todo o back office – serviços de suporte ao comércio, como financeiro, logística e comércio exterior – e o relacionamento com clientes, via CRM) permitam ganhos importantes de produtividade de eficiência, nem sempre podem ser aplicadas diretamente nas negociações.

Como explicou Robert Stuyt, diretor da ICTA – International Chemical Trade Association, com sede na Europa, com base em dados levantados em 2019, quase 90% dos produtos químicos são vendidos diretamente pelos fabricantes ou pelos seus distribuidores, ficando apenas 10% para plataformas de e-commerce. “Produtos químicos têm características muito complexas, estão sujeitos a regulamentos rígidos, sua venda é feita mediante pedidos com baixa padronização e muitas vezes precisam de orientação técnica prévia, tudo isso dificulta a venda por plataformas”, considerou.

Ele mesmo identificou o aumento de negócios mediante plataformas, mas há limitações. “O contato direto, olho no olho, agrega valor antes da compra”, afirmou. O uso das redes sociais permite transferir informações entre as partes e não deve ser negligenciado.

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O consultor Guenther Eberhard, da suíça Districonsult, acredita que a distribuição química aderirá rapidamente ao conceito 4.0, mas precisa decidir qual a sua posição estratégica nesse ambiente. “Simples compras e vendas podem ser feitas mediante plataformas abertas de B2C ou B2B, com cuidado com a proteção dos dados”, afirmou.

Fazer qualquer tipo de avanço nesse sentido requer que toda a documentação dos produtos seja digitalizada, o sistema CRM atualizado e o pessoal interno esteja preparado para lidar com as ferramentas. “As informações tecnológicas devem ser distribuídas pelas redes, mesmo pelos canais não convencionais, de forma ampla”, disse.

No entanto, ele apontou diferenças entre as estratégias de atuação de buscar o menor custo de atendimento versus o máximo valor percebido pelo cliente. “As tecnologias digitais não mudaram as regras de marketing”, afirmou. Eberhard também salientou a importância de atuar junto aos clientes para o desenvolvimento conjunto de sistemas digitais, com benefícios mútuos.

Expectativas adiadas – O começo do ano apontava para um crescimento de vendas e resultados, porém a pandemia chegou e dificultou a vida de muitos segmentos de mercado atendidos pela distribuição. No momento, embora ainda não se saiba quando essa doença será controlada, a maioria das companhias entrevistadas espera uma retomada de negócios consistente, ou seja, as previsões do começo do ano foram adiadas, mas não eliminadas.

“Estamos conseguindo manter nosso ritmo de crescimento de vendas em torno de 10% em moeda local mesmo com essa crise”, comentou Jan Krueder, diretor presidente da Química Anastácio. Ele admite que a variação cambial tem forte impacto nesse crescimento. Como informou, a distribuidora já obtinha mais da metade de suas vendas com produtos voltados para domissanitários, nutrição humana e animal, agroquímicos, farmacêuticos e higiene pessoal. Essas atividades não forma prejudicadas pela pandemia, ao contrário, até tiveram um crescimento de demanda.

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Krueder: produtividade até aumentou com home office

“Os produtos para os demais segmentos industriais foram muito afetados, tiveram queda de 70% de vendas em abril, com uma recuperação a partir de maio”, avaliou. “Esses mercados entram em junho com mais de dois terços da demanda anterior à pandemia”. Com base nesses números, Krueder prevê para agosto a normalização da atividade industrial no país. “A Medida Provisória do emprego ajudou a manter muitos postos de trabalho e, a partir de junho, vários setores devem voltar a contratar pessoal, reaquecendo a economia”.

Krueder considera importante contar com atuação diversificada em 18 unidades de negócio autônomas. “Com isso, não dependemos de um só segmento de mercado, o que nos dá mais segurança para manter o faturamento e um conhecimento mais completo de cada atividade”, salientou. Ele citou o caso do setor de cosméticos e produtos de higiene pessoal que registrou comportamentos díspares entre as várias linhas produzidas. “Sabonetes e itens de higiene tiveram forte crescimento de vendas, mas maquiagem e itens de beleza recuaram, um resultado direto do distanciamento social”, disse.

Também são mantidas fontes de suprimento muito diversificadas, com origem em 72 países diferentes. “Temos plano B e plano C para cada item, a parada da China foi contornada com outros fornecedores”, explicou.

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Ao mesmo tempo, ele defende que o momento é favorável ao crescimento dos negócios da distribuição química. “A cadeia produtiva global está um pouco desorganizada e vai demorar um pouco para se normalizar, mas a distribuição está girando bem, tem seus estoques e pode suprir a demanda neste momento”, avaliou Krueder. Ele também verifica que os compradores industriais não estão fazendo pedidos grandes, mas apenas na quantidade necessária, ou seja, não tem a escala mínima para comprar diretamente dos fabricantes, nem quer correr riscos com importações. “A distribuição ajuda seus clientes a preservar o caixa, oferecendo estoques e financiamento, nós assumimos o risco de manter o suprimento. É o momento de a distribuição mostrar serviço, aproximando-se mais dos fornecedores e dos clientes, além de fazer a lição de casa, reduzindo ineficiências e custos”, ressaltou.

A previsão de retomada da economia é compartilhada por João Miguel Chamma, diretor-superintendente da Metachem. “O fundo do poço já passou, vários segmentos industriais começarão a retomar suas atividades entre junho e agosto, a situação econômica vai melhorar, mas não sei se conseguiremos voltar ao nível de antes da pandemia”, ponderou. “Acredito que igualar as vendas com a valor obtido em 2019 será uma grande vitória”.

A Metachem tem forte posição no fornecimento de insumos para nutrição humana e animal, que não sentiram nenhum impacto, mantendo o ritmo de crescimento. “A área de pet food, por exemplo, obteve resultados melhores, o que nos leva a imaginar que as pessoas que foram trabalhar em passaram a dar mais comida aos animais de estimação”, disse.

A Metachem também lida com aditivos para vários clientes industriais, a exemplo de tintas, lubrificantes, adesivos e espumas, entre outros. “Os produtos para tintas automotivas foram muito prejudicados, as montadoras praticamente paralisaram a produção em abril, estão voltando lentamente”, apontou. O mesmo problema repercutiu na venda de aditivos para lubrificantes. “Aqui, é preciso considerar que há menos carros rodando com a imposição do distanciamento social, portanto até as trocas de óleo diminuíram”. A construção civil também dá sinais de atividade, mais percebida nas reformas domésticas e pequenas construções do que nos grandes empreendimentos. A venda de colchões e estofados parou, tanto nas linhas residenciais (flexíveis), quanto nas espumas para automóveis e caminhões (espumas rígidas).

Marisa Camacho, diretora da Nicrom, é menos otimista. “Não espero uma recuperação total das vendas em 2020, alguns clientes talvez nem voltem a operar, e a própria distribuição será diferente depois dessa crise”, comentou. Para a distribuidora, houve uma retração de faturamento da ordem de 30% em abril e maio, mas a rentabilidade até aumentou no período. Isso se explica pelo fato de os segmentos que mantiveram o ritmo de negócios, como personal care e domissanitários, compram itens de maior valor. “Além disso, nós nos tornamos muito mais seletivos com o crédito aos clientes e também adotamos uma política de preservar as margens de lucro, entendendo que isso nos ajuda a compensar o risco da operação durante a crise”, explicou.

Assim como as congêneres, a Nicrom não registrou aumento significativo de casos de inadimplência, mas houve vários pedidos para alongamento de prazos de pagamento que foram negociados caso a caso.

“Como trabalhamos em vários segmentos de mercado, os efeitos da crise foram sentidos com menos rigor, as áreas de agronegócio, alimentos, bebidas, além de personal care e domissanitários, tiveram bom desempenho, ao contrário de algumas atividades industriais, como a produção tintas”, detalhou. “Também é preciso salientar que somos uma empresa bem enxuta, com um quadro de pessoal leve e eficiente.”

Marisa também apontou não ter enfrentado problemas de suprimento por contar com uma rede confiável de fornecedores, mas a alta do dólar e sua posterior queda foram abruptas e criaram grande instabilidade na economia. Para o futuro, ela tende a promover mudanças de portfólio, reduzindo a atuação em segmentos muito ligados a produtos simples de consumo e ao desempenho do PIB, enfatizando as linhas voltadas para domissanitários e personal care.

A Bandeirante Brazmo, com longa atuação em segmentos muito afetados pela pandemia, como tintas, adesivos e materiais para construção, obteve melhores resultados com áreas menos prejudicadas, como os produtos para agropecuária e domissanitários, ambos com forte crescimento. “Tivemos bons resultados com a venda de hidroxipropil metil celulose, ou HPMC, para a fabricação de álcool em gel, um volume relativamente pequeno, mas com boa contribuição para a margem de lucro”, ressaltou Carlos Eduardo Marin, diretor-superintendente da distribuidora.

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Marin: estoques subiram, mas começam a voltar ao normal

Ele explicou que foram tomadas várias ações com fornecedores e clientes para conviver melhor com a situação. “No primeiro momento, a ponta final da cadeia não gira, os pedidos pararam e podeia haver aumento de inadimplência, especialmente nos clientes pequenos e médios”, apontou Marin. A ação da distribuidora foi estabelecer negociações com os clientes para alongar prazos e manter um fluxo de negócios ativo.

Em seguida, a distribuidora recorreu às distribuídas, mostrando a elas que era necessário renegociar também com elas novos prazos de pagamento e volumes transacionados. “Houve uma compreensão geral na cadeia produtiva, pois todos tinham problemas e queriam manter fluxos de caixa”, disse.

A travada brusca da economia global desmanchou todo o planejamento do ano. “Crescemos em 2019 e tínhamos a expectativa de crescer ainda mais em 2020, por isso estávamos importando volume maior de produtos quando apareceu o coronavírus”, relatou Marin. A mercadoria que já estava em trânsito foi recebida, mas não desembaraçada imediatamente. Tudo o que não havia sido embarcado, foi suspenso. “O tempo médio de estoques aumentou no primeiro momento, mas depois de dois meses começamos a voltar aos padrões anteriores de estoques, ajustando cada produto ao ritmo de venda”, disse.

A venda de importados representa 30% do faturamento da distribuidora, segundo Marin. Grande parte de suas fontes está na China, onde começou a pandemia, mas não houve problemas com os fabricantes de lá. “Tivemos alguns atrasos provocados pela reorganização dos navios com roteiros que incluem o Brasil”, explicou. Outra fonte importante de suprimentos está nos Estados Unidos, onde não houve nada que atrapalhasse a produção e a entrega dos produtos. “A logística dentro do Brasil, dos portos para nossas instalações e dali para os clientes, não registrou dificuldades”, comentou.

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Marin prevê que 2020 terminará com uma queda de vendas da ordem de 30%, concentrada no segundo trimestre, o mais afetado pelas medidas de distanciamento social. “Os resultados financeiros, porém, estão equilibrados com o que projetamos; o dólar mais caro ajudou a distribuição”, considerou. “Como temos a maior parte das vendas com base em produtos de fabricação local, a linha de commodities sofre menos que a de especialidades, estas tiveram redução de consumo.”

Ele não acredita em um retorno rápido aos patamares anteriores de consumo de produtos químicos, uma vez que a população está com baixo poder aquisitivo e com muita insegurança para voltar a comprar produtos além dos absolutamente necessários.

“A pandemia mudou as perspectivas de mercado, estamos reduzindo as compras para acompanhar o ritmo dos clientes e olhando para novas fontes de suprimento na Europa e nos Estados Unidos”, ressaltou Klaus Peter Rudnik, diretor da Multichemie.Ele comentou que, embora a China tenha se tornado um fornecedor muito importante de insumos químicos, há uma oferta considerável de produtos de qualidade feitos em países ocidentais. “Os custos na Europa e Estados Unidos são competitivos e a logística é até mais fácil, com a metade do lead time em relação à China”, avaliou.

A desconcentração de compras hoje muito dependentes da Ásia é uma necessidade que se tornou patente com a pandemia, mas também é preciso considerar o risco de instabilidades políticas na região. “O melhor seria ter produção local, na falta desta, é preciso contar com fontes seguras de suprimento”, considerou Rudnick.

Com presença marcante como fornecedor de insumos químicos para tratamento de água e intermediários para fabricação de tintas, a Multichemie registrou forte queda de demanda com o aparecimento da Covid-19. “No começo, os clientes consumiram seus estoques e agora só compram em cima da hora, em quantidades menores”, relatou. Como seu portfólio é composto quase todo por importados, a variação cambial pesou forte nos negócios. “O mercado está muito concorrido, não é possível repassar toda a variação do dólar para os clientes”, comentou. Rudnick ressaltou que importa produtos sem produção local e têm valor elevado. “Prefiro não trazer itens que custam menos do que o frete, por exemplo”, salientou.

Na sua avaliação, o Brasil é um mercado muito grande, sujeito a instabilidades, mas capaz de superar suas crises. “Estou no ramo desde 1977, passamos pela hiperinflação, planos econômicos diversos e abertura comercial, mas o país sempre superou as dificuldades e voltou a crescer”, frisou. “Haverá uma recuperação desta crise, não sei quando, é preciso ter paciência, as coisas poderão mudar, mas sempre haverá mercado.”

Na região Nordeste, a crise desencadeada pela Covid-19 não tardou e afetou o mercado com a mesma força com que atingiu a região Sudeste. “Tivemos uma queda de volumes e de margens, embora as cotações mais altas do dólar tenham melhorado os preços de venda”, comentou André Castro, diretor da Morais de Castro. Como informou, as vendas de insumos para domissanitários, alimentos e farmacêuticos segue firme, mas o consumo por parte das indústrias têxteis e de espumas de PU despencou. “Acredito que os volumes de vendas e os resultados de 2020 ficarão abaixo do que havíamos projetado, mas não será uma queda dramática, há muitas oportunidades de negócios interessantes que estamos aproveitando”, salientou. Castro citou o caso do carbômero para produção de álcool em gel, que sumiu do mercado em março e abril. “Desenvolvemos uma alternativa com um éter celulósico que teve boa aceitação”, disse. “Da mesma forma, o momento de crise nos ajudou a oferecer mais alternativas para problemas antigos ou novos dos clientes”.

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Castro: momento foi bom para oferecer soluções aos clientes

A Morais de Castro, apesar do momento difícil, não precisou demitir ninguém, nem reduzir jornada de trabalho, e informa que o sistema de trabalho de casa foi bem assimilado pela equipe, cuja produtividade se manteve, ou até cresceu. “É possível que, mesmo depois de superada essa doença, adotemos um regime de trabalho mais flexível, permitindo que o pessoal trabalhe mais tempo de casa”, comentou.

A Morais de Castro reduziu investimentos não essenciais e cortou despesas com viagens e cursos, entre outras providências, além de assumir uma postura mais cautelosa nas importações. “Acompanhamos os movimentos de mercado e as cotações do dólar para evitar prejuízos”, explicou. A distribuidora conta com fornecedores locais para a grande maioria de seu portfólio, buscando apenas complementos no exterior. Segundo o diretor, não houve problemas com os produtores locais, com os quais foi possível renegociar volumes.

“Olhando com calma, percebemos que esse período de crise pode ser aproveitado para nos prepararmos para a retomada de atividade econômica que está se aproximando”, comentou. Alguns segmentos industriais já emitem sinais de recuperação, embora lenta. O sistema de acompanhamento dos clientes, o CRM, estava atrasado, mas recebeu impulso e deve ficar pronto em junho, auxiliando o esforço de vendas.

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Tecnologia dos relacionamentos – As medidas de distanciamento social tiveram repercussão evidente na atividade comercial. As frequentes reuniões internas e externas, com clientes e fornecedores, foram reduzidas ao mínimo necessário e realizadas por telefone, teleconferência ou videoconferência, usando os mais variados sistemas e aplicativos. Isso não implica perda de eficácia, mas aponta para novos caminhos da interação entre as partes envolvidas nos negócios.

“Com o surgimento da pandemia, colocamos imediatamente 200 pessoas em home office e verificamos que a produtividade delas não caiu, até aumentou, em alguns casos”, avaliou Jan Krueder, da Química Anastácio. “Estamos estudando cada caso, talvez adotemos um regime de home office parcial, será melhor para todos.”

Isso pode ser feito porque a distribuidora fez um pesado investimento em uma plataforma de tecnologia da informação (TI) em 2019 e todos os profissionais das áreas comercial, administrativa e de apoio tinham recebido notebooks novos. “Esse sistema já admitia operação remota com alta segurança antes do coronavírus”, comentou.

“Sempre fomos muito fortes na atuação por meio telefônico, tanto em vendas como no suporte técnico, com a crise sanitária, colocamos toda a equipe comercial, tanto vendedores quanto o telemarketing, trabalhando de casa, sem problemas”, explicou Carlos Eduardo Marin, da Bandeirante Brazmo. A distribuidora adotou há anos a prática de um vendedor interno atender sempre um grupo fixo de cem clientes, criando um contato mais fácil, embora não presencial.

Química e Derivados - Chamma: retomada da economia ganhará ritmo depois de julho
Chamma: retomada da economia ganhará ritmo depois de julho

No caso dos vendedores externos, cuja função está direcionada ao desenvolvimento de novos clientes e negócios, eles passaram a trabalhar no sistema de teleconferência e também prestam suporte aos vendedores internos. “Nosso sistema de TI já estava preparado, temos um fluxo de dados constante e seguro com as filiais, os vendedores também têm acesso remoto, usando laptops ou computadores da distribuidora que foram preparados para isso”, explicou Marin. “Há uma auditoria de segurança permanente, não corremos riscos.”

Também a Nicrom colocou suas equipes de vendas e comércio exterior para trabalhar de casa, sem dificuldades. “Já contávamos com sistema de telefonia com transferência de chamadas e a nossa plataforma de TI permite operação à distância, estávamos preparados para isso”, afirmou Marisa Camacho. O trabalho dos vendedores internos passou a ser ainda mais utilizado na crise.

O trabalho em home office foi adotado pela Metachem e acompanhou as medidas sanitárias e o comportamento dos clientes. “Todos os vendedores estão trabalhando nas suas casas, usando telefone, internet, videochamada, qualquer meio disponível de comunicação, mesmo porque os clientes também não estão nas suas empresas e, se estiverem, não querem receber visitantes”, afirmou João Miguel Chamma.

Como a Metachem é muito atuante na área de aditivos para processos industriais, segmento de negócios que sempre tem inovações para oferecer aos clientes, Chamma verificou que o distanciamento social está atrasando essa transferência de novas tecnologias. “O trabalho continua sendo feito, mas está mais lento.”

A Morais de Castro colocou em home office todos os profissionais da área comercial e a grande maioria da área administrativa. “Nosso sistema de TI já permitia operação remota, mas houve um aumento grande de acessos fora das nossas instalações, mesmo assim, conseguimos que todos operassem, sem maiores dificuldades”, explicou André Castro. “No começo, senti alguma dificuldade do pessoal em se adequar ao sistema de trabalho em casa e receber apoio motivacional, mas isso foi logo superado, temos reuniões diárias com as equipes e elas estão alcançando suas metas”, comentou.

Operações seguras – As áreas comerciais e administrativas das distribuidoras demonstram funcionar bem, mesmo à distância dos escritórios. Isso não se verifica na parte operacional dos negócios, que exige a presença constante de trabalhadores para movimentar cargas.

As empresas comerciais do setor químico adotaram medidas de segurança laboral compatíveis com a pandemia. Com isso, foram instituídos controles de temperatura na entrada das instalações, reforçaram-se as práticas de higiene pessoal e de segurança, adotando medidas de distanciamento ocupacional, evitando aglomerações nos postos de trabalho e nos refeitórios. Além disso, foram distribuídos equipamentos de proteção individual adequados.

“No nosso caso, como temos operações com solventes e outros itens voláteis, uma parte dos operadores sempre usou máscaras de proteção, mas toda a equipe agora usa equipamentos adequados contra a doença, além de receberem orientações sanitárias”, explicou Carlos Marin, da Bandeirante Brazmo. “Temos uma operação enxuta, com pouca gente nas instalações, isso já é um distanciamento natural.” O controle da temperatura do pessoal é o indicador principal adotado pela companhia, sendo aplicado até aos profissionais externos, os caminhoneiros, por exemplo. “Na nossa base, os nossos motoristas é que manobram os caminhões, os motoristas externos nem entram na área.” Caso se detecte alguém com febre, a pessoa será encaminhada ao ambulatório e depois para casa ou para postos de atendimento médico. “Tivemos alguns poucos casos suspeitos, com afastamento por 15 dias, mas nada grave”, disse Marin.

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Como informou, há previsão de retorno aos escritórios em São Paulo a partir da segunda quinzena de junho, mas ainda é preciso esperar decisões municipais. “As operações de Joinville-SC já voltaram ao normal, e estamos esperando decisões oficiais para as bases da Bahia e Paraíba”, comentou.

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Marisa: é preciso manter as margens para compensar riscos

“Tivemos raros casos de contaminação com o coronavírus e todos eles com o pessoal que está em home office, não registramos nenhum caso até agora na área operacional”, relatou Jan Krueder, da Química Anastácio. A distribuidora colocou à disposição dos funcionários máscaras suficientes para quatro trocas diárias, mede a temperatura de todos os ingressantes nas dependências da companhia, conta com testes para quem apresente algum sintoma da doença, além de ter adotado distanciamento interno do pessoal, fiscalizado pelas equipes de segurança e saúde. “Os motoristas de terceiros que vem receber ou entregar produtos ficam segregados fisicamente do nosso pessoal de operação”, salientou. “Reforçamos a limpeza das instalações, usando desinfetantes de uso hospitalar e seguimos todas as orientações sanitárias, com excelente resultado”.

A Nicrom reforçou as práticas de higiene pessoal, oferecendo mais pontos para lavagem de mãos dentro da área operacional. “Quem chega à empresa tem a temperatura medida e deve fazer uma higienização, há álcool em gel disponível para todos e estamos distribuindo kits de higiene para todos os motoristas, bem como informativos sobre a Covid-19”, explicou Marisa Camacho. Até o momento, nenhum caso da pandemia foi detectado na distribuidora.

“Adotamos todos os protocolos de higiene e saúde nos dois armazéns próprios que temos em Itupeva-SP e no de Mauá-SP, que é terceirizado”, comentou João Miguel Chamma, da Metachem. Aplicou-se o distanciamento entre operadores e as práticas de limpeza e uso de EPI foram reforçados, com cuidado especial com os caminhoneiros. “Como a demanda caiu, tivemos tempo para adequar as instalações e já nos preparamos para um possível retorno das áreas administrativas em junho”.

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