Distribuição – Custo financeiro levou à recuperação

A Carbono Química, segunda maior distribuidora de solventes hidrocarbonetos do Brasil, ingressou no dia 5 de maio com um pedido de recuperação judicial na 8ª Vara Cível de São Bernardo do Campo. A medida foi tomada para preservar a continuidade dos negócios da distribuidora, ameaçada por um elevado índice de endividamento.

“O problema todo começou na crise global de 2008”, explicou o diretor Rodrigo Gabriel. No início de 2009, os preços dos produtos químicos desabaram em todo o mundo, acompanhando as cotações do petróleo que tinham recuado da faixa de US$ 140 por barril, em outubro de 2008, para perto de US$ 30/barril, em janeiro seguinte. “Alé m disso, o dólar americano teve um momento de alta em relação às demais moedas”, disse o diretor. Enquanto esses movimentos aconteciam, a distribuidora tinha o equivalente a de US$ 3 milhões a US$ 3,5 milhões em produtos químicos de origem estrangeira em trânsito para o mercado brasileiro.

“Os preços desses produtos chegaram a cair pela metade durante o transporte, mas os desembaraçamos e os estocamos, acreditando em uma recuperação breve do mercado que não aconteceu”, explicou. Pelo contrário, com todos os players estocados, os preços seguiram em baixa por vários meses. “Foi então que o dólar entrou em desvalorização, piorando a nossa situação”, lamentou Gabriel.

A Carbono aplicou na recomposição do capital de giro todos os recursos financeiros disponíveis que tinha, mas ainda precisou recorrer a empréstimos bancários, a juros elevados e com a exigência de cauções elevadas (até 125% do valor liberado). Como não houve uma retomada dos preços em mais de um ano, foi preciso tomar novos empréstimos.

Pelo porte das operações com solventes, superada apenas pela poderosa BR Distribuidora, a Carbono estava muito exposta aos humores desse mercado, no qual a rentabilidade é usualmente baixa. “Em meados de 2010, o governo estadual paulista de José Serra resolveu aumentar de 18% para 22% a alíquota do ICMS cobrada dos solventes”, informou. A reação de uma parte dos clientes foi comprá-los por meio de suas filiais em outros estados, situação na qual recolhiam apenas 12% de ICMS (interestadual). “Ainda que cobrássemos deles a diferença, ficávamos ainda em situação pior: tínhamos lucro contábil, mas ele estava na forma de créditos de ICMS, de difícil resgate”, explicou.

Durante todo o ano de 2010, a Carbono promoveu um enxugamento de sua estrutura, revendo custos internos e otimizando operações. Porém os custos financeiros só aumentavam. “Estávamos fazendo vendas cada vez mais rápidas, com margens baixas, porque precisávamos gerar faturas que pudessem caucionar novos empréstimos”, comentou.

Revista Química e Derivados, Rodrigo Gabriel, diretor da Carbono Química
Gabriel: problemas começaram com a crise de 2008

A situação chegou ao limite no começo de 2011. “Malograda uma tentativa de operação estruturada com um agente financeiro para renegociar o passivo de forma sustentável, decidimos buscar a alternativa judicial mais adequada para proteger a companhia, a recuperação judicial”, informou Rodrigo Gabriel. O juiz encarregado do caso terá até meados de julho para decidir se aceita o pedido da Carbono, que terá mais sessenta dias para apresentar um plano de recuperação de suas finanças. Os credores terão, então, 180 dias para estudar a proposta e apresentar sugestões, abrindo novo prazo para a requerente avaliá-las. Ao final desses procedimentos e com base nos planos acordados, o juiz determinará o prazo durante o qual os pagamentos aos credores ficarão suspensos.

Embora o processo tenha a intenção de proteger a empresa, ele acarreta alguns inconvenientes. O mais evidente é o estancamento de todos os créditos a quem pleiteia a medida. “Já estamos comprando produtos à vista dos nossos principais fornecedores, nos preparamos financeiramente para tanto”, informou o diretor. Ele disse ter se reunido com as 20 maiores das suas distribuídas e teve delas a garantia de que o relacionamento será mantido.

A reestruturação da distribuidora foi concluída, dando prioridade aos negócios mais bem estruturados e rentáveis, com alta eficiência no aproveitamento de recursos. “A Carbono hoje é 60% do que foi há dois anos e meio”, informou. Um dos negócios mantidos é exatamente o de solventes. “Com a nova regulamentação da ANP, e apesar do ICMS, esses produtos devem voltar a ter margem satisfatória”, considerou Gabriel.

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