Couro: Fimec se consolida como feira global

A Feira Internacional de Couros, Químicos, Componentes, Acessórios, Equipamentos e Máquinas para Calçados e Curtumes (Fimec) bateu todos os seus recordes na 28ª edição, se consolidando como um dos principais eventos internacionais da cadeia produtiva do couro. Realizada de 15 a 18 de abril em Novo Hamburgo-RS, gerou negócios equivalentes a três meses de produção do setor, registrando ainda 54,3 mil visitantes -4 mil a mais em comparação com 2003 – e 500 expositores em 38 mil m² de área. A presença de mais de 400 compradores do Peru e da Colômbia foi interpretada como uma reação à alta do euro, evidenciando a intenção desses tradicionais clientes da Europa em comprar componentes, matérias-primas, insumos e bens de capital no Brasil, com preços em real muito mais em conta.

Somente para a Colômbia, com aproximadamente 300 visitantes, a expectativa é animadora: seis importadores daquele país planejam adquirir US$ 1,6 milhão ao longo do ano em produtos exibidos na feira. E mais: a expectativa de vendas em operações de exportação projetadas a partir das rodadas de negócios da Apex, a agência do governo federal responsável pelo fomento do comércio exterior, é de US$ 9 milhões.

Química e Derivados: Couro: Os 500 expositores garantiram receita para três meses. ©QD Foto - Fernando de Castro
Os 500 expositores garantiram receita para três meses.

O presidente da Fimec Julio Seidl salientou ainda a presença de delegações da Nova Zelândia, Arábia Saudita, Bangladesh, Reino Unido, Israel e Suíça, além dos visitantes tradicionais da Argentina, Uruguai e Itália, com missões sempre expressivas. “Estamos diante de um grande evento que definitivamente coloca o Rio Grande do Sul e o Brasil na vanguarda da cadeia produtiva do couro”, afirmou Seidl.

Como 50% do processamento do couro, desde a esfola dos animais até o produto acabado, deriva de reações químicas, os pesos pesados dessa indústria marcaram presença na Fimec 2004. A Basf apresentou os novos recurtidores LD 4101 e 4102. O primeiro com alto poder de enchimento das partes vazias do couro e o segundo, um recurtidor resínico com bom poder de enchimento e igualização de tingimento. Além disso, a companhia lançou três novos óleos, o LA-LS (sintético), LA GP (natural sulfitado) e o LA PM 50, também natural, sulfoclorado para napas macias e firmes.

O grupo alemão aproveitou a Fimec para divulgar também seus números mais recentes com relação à sua atividade corporativa na América do Sul. Anunciou ter faturado 1,8 bilhão de euros na Região Sul em 2003, dos quais 1 bilhão de euros resultaram das vendas no Brasil. Em 2004, a companhia pretende investir 200 milhões de euros em suas unidades latino-americanas. Em todo o mundo, a Basf faturou 33 bilhões de euros no ano passado e empregou 87 mil pessoas.

A Degussa, outra empresa alemã apostando na Fimec, lançou seu novo pacote de aditivos para poliuretano, o Tegostab B 8950, o Tegostab B 8951, a Tegoamina 100, a Tegoamina MEG e antiestáticos, estabilizadores, catalisadores e desmoldantes para PU e borracha. Segundo Aloísio Nunes Sposito, chefe de produto da unidade poliuretano, a Fimec é um palco privilegiado no sentido de difundir a produção da empresa, por se constituir num dos principais eventos da cadeia produtiva do couro. “Nossa participação na Fimec visa estabelecer contato com fabricantes de solados para sapatos, tênis e sandálias, além de reforçar nossa posição de importante fornecedor de produtos e especialidades nessa área”, sentenciou o executivo.

Assim como a Degussa, a brasileira MK Química também reservou à Fimec a promoção de seu mais recente produto, uma nova linha de engraxantes, cujo desenvolvimento levou em conta a tendência de produção para couros macios e com toque agradável, demandados pelo mercado de estofamentos. A diretora de mercados da MK, Lisiane Kogler, lembrou que “para os diversos tipos de artigos em couro, as exigências de maciez e flexibilidade são cada vez maiores. O consumidor exige suavidade no contato com o couro”, justificou a empresária.

Os novos produtos da MK ganharam o nome de Superdema, foram desenvolvidos com tecnologia própria e com matérias-primas de procedências selecionadas e visam atender às demandas, tanto dos produtores de couros para calçados e artefatos como também dos produtores de peles direcionados a vestuário e estofamento. Conforme Kogler, a família Superderma contém produtos altamente versáteis em termos de aplicação e também engraxantes específicos à produção de artigos especiais. “A Superdema da MK Química do Brasil é um complemento às alternativas de produtos para o acabamento molhado, que já conta com neutralizantes, corantes, recurtidores e auxiliares”, acrescentou.

Outro peso pesado da economia mundial galgando espaço no mercado de calçados é a General Eletric. A maior corporação global adquiriu recentemente a OSI Specialities, empresa com 40 anos de experiência em produtos para solados de calçados, e integrou esses ativos à GE Silicones. A partir daí, passou a oferecer silicones surfactantes desenvolvidos para formulações de espumas de poliuretano microcelular, tipo poliéster.

Os lançamentos exibidos na Fimec 2004 serão vendidos com o código comercial Niax L. Mostrou ainda uma família de catalisadores também desenvolvidos para sistemas poliuretânicos microcelulares e pele integral. Segundo o especialista em desenvolvimento da GE Silicones Paulo Simões, essa foi a segunda investida da empresa na Fimec. “O mercado de curtumes e de calçados é importante. Quem ainda não entrou de alguma maneira irá ingressar”, acredita o técnico. Para a Fimec 2005, a GE Silicones já confirmou presença.

Na área de adesivos e colas, ficou evidente a preocupação com o meio ambiente. Nesse aspecto o Grupo Brascola, um dos líderes nacionais do segmento, apresentou uma linha completa de materiais livres de solventes aromáticos, o Aquapren Water Plus, adesivo poliuretânico disperso em água com resistência mecânica ao calor; o Aquapren Montagem, formulado para a montagem de calçados; o Aquapren Base, substrato utilizado antes do Aquapren Plus; e o Aquapren Preparo, usado na preparação de cabedais de calçados de couro ou sintéticos, também com alta resistência às temperaturas elevadas e pega permanente, como informou o fabricante.

Há ainda o Aquapren Aquafixa para colagem de couro e tecido e o Aquapren Pasta também para cabedais e montagem de calçados. A Artecola, segundo seu diretor Eduardo Kunst, também está abandonando os solventes, principalmente o tolueno. Ao mercado coureiro calçadista, a empresa de Gravataí oferece diversas linhas de adesivos poliuretânicos apresentados como produtos de alta qualidade e totalmente recicláveis.

Curtentes de tanino – Especializada na produção de curtentes e recurtentes à base de tanino vegetal, a Tanac, de Montenegro-RS, vem apostando a cada ano no aumento da preferência da indústria de curtumes pelo consumo de curtidores naturais. “O cromo é um metal pesado, o tanino é natural, pode ser empregado e colocado em contato com a pele humana sem restrições”, explica o assistente-técnico da Tanac, Antônio Vieira Feijó. A empresa conta com 15 tipos de taninos diferentes, cores e concentrações, sendo fornecidos em estado líquido ou sólido em pó. Dependendo da cor do produto final e, funciona como corante natural.

De qualquer maneira, enquanto a indústria não consegue um substituto para o cromo capaz de conferir a durabilidade desejada, Feijó considera viável promover formulações contendo o metal e o tanino na etapa de curtimento, até como forma de diminuir o teor do cromo. “O casamento dos dois dá um couro forte para qualquer aplicação e ao mesmo tempo flexível e espesso”, assinalou.

A Tanac trabalha forte hoje com a genética das plantas. Com isso, já conseguiu gerar um tanino retirado da acácia-negra com a estrutura química da castanheira e do quebracho, com pH mais baixo. Esse é o caso do Supertan XL cujas propriedades são semelhantes ao do quebracho. Atualmente, o grupo exporta seus produtos para 70 países. A localização das áreas de plantio próxima ao paralelo 30º de latitude tem mostrado em estudos que aos sete anos, a acácia-negra está pronta para o corte. Já em outras regiões, a planta leva dez anos até amadurecer.

A filial brasileira da empresa alemã Trumpler, localizada em Novo Hamburgo, levou amostras de curtidores vegetais retirados do quebracho e um recurtidor à base de sulfato de alumínio. Conforme o gerente-comercial da empresa, Cláudio Leonhardt, no recurtimento propriamente dito o cromo foi praticamente banido, permanecendo somente na etapa de curtimento e naquelas aplicações realmente necessárias, como nos couros para sapato. “Na Europa, os fabricantes de artefatos de couro já evitam comprar o material com a presença desse metal pesado”, finaliza Leonhardt”.

Apesar do sucesso da Fimec os empresários e executivos presentes ao evento continuam preocupados com a decisão do governo federal em derrubar as alíquotas de exportação do wet blue – couro curtido de baixo valor agregado -, ameaçando diretamente a indústria nacional de curtume capaz de processar todas as etapas do couro. “Esse é o tema que realmente está nos preocupando. Sentimos uma séria ameaça”, advertiu o presidente da Associação das Indústrias de Curtume do Rio Grande do Sul, César Müller, por ocasião da entrevista coletiva que marcou o final do evento em 18 de abril.

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