Cosméticos – Fragrâncias – Espécies vegetais da Amazônia podem abrir mercados sofisticados para a produção local

Apujança das preciosidades aromáticas da Amazônia extasia homens e mulheres de todos os lugares do mundo. Notas tropicais, equatoriais e exóticas inspiram a criação de perfumes marcantes lançados por grifes renomadas há algum tempo. Esse sucesso se reflete em números. No ano passado, as vendas de perfumes e fragrâncias no País foram estimadas em R$ 2,38 bilhões pela Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (Abihpec). Trata-se do segundo maior segmento do setor, superado apenas pelos produtos para cabelos. No entanto, o nível de projeção internacional ainda está aquém do espaço merecido.

Essências, extraídas de flores, frutos, raízes, sementes, folhas e cascas de plantas nativas da Amazônia, ajudam a formar, embora de maneira tímida, a imagem e a identidade do Brasil em perfumaria no exterior. Na Amazônia, o maior reservatório de plantas do mundo, há mais de 300 mil espécies aromáticas identificadas. Sabe-se, porém, que mesmo com esforços ainda serão necessários muitos anos de trabalho e dedicação para transformá-las em inesquecíveis perfumes.

Apesar de ter de avançar mais no concorrido mercado de perfumaria internacional, o Brasil conta com perfumistas de grande estirpe, como o francês Jean Luc Morineau. Há mais de trinta anos radicado no País e apaixonado pela biodiversidade local, ele contribui para projetar no exterior a identidade brasileiraem perfumaria. Comoprova disso, foi o único perfumista a expor essências e aromas no Salon Du Brésil a Paris, promoção do Fórum Brasil-França, realizado em setembro último no Le Palais des Congrès, de Paris. “Apresentamos ao mercado europeu uma coleção inédita de 28 essências derivadas de flores, frutos e plantas da Amazônia, aproveitando a oportunidade para estar junto a nossos clientes presentes à feira, como a Amazon Green, de Santarém, no Pará, a Ceres e a Oliva Plus, de São Paulo”, informou Morineau.

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    Entre as essências criadas por ele, a que mais agradou o olfato dos europeus foi a Tropical. Trata-se de uma sofisticada mistura de matérias-primas sintéticas e naturais, como essências de cupuaçu, manga e maracujá, que pode ser aplicada em diferentes formulações e substratos como perfumes, colônias, xampus e cremes hidratantes. Dependendo da composição, a base a incorporar essa essência poderá conter entre 40 e 250 matérias-primas diferentes.

    Outra essência brasileira que fez grande sucesso nessa temporada no salão parisiense foi a de madeiras do Pará. Nesse caso, Morineau lançou mão de uma mistura de notas amadeiradas oriundas de madeiras e raízes típicas da região, como orize, patchouli e priprioca, e cascas de preciosa, utilizando nada menos que 180 diferentes componentes. Também muito apreciadas foram as essências de flores copaíba, flores de urucum, flores de maracujá e de várias orquídeas brasileiras.

    “O Brasil tem uma imagem muito boa na Europa e o mundo inteiro sonha com a Amazônia”, afirmou o perfumista. No campo das fragrâncias, o País representa um novo parceiro, que começa a despontar internacionalmente, transmitindo uma imagem jovem e em crescimento, embora ainda sejam produzidas localmente muitas adaptações de perfumes franceses. Apreciada e classificada com bom potencial lá fora, a perfumaria brasileira encontra maior participação em certos países, como Portugal, Espanha e Alemanha, mas, curiosamente, é pouco demandada entre os países latino-americanos, segundo Morineau.

    O perfumista possui atualmente uma coleção própria de 7.500 essências ativas e dispõe em seu histórico de mais de 30 mil desenvolvimentos. Como profissional dos mais respeitados no mundo, Morineau fincou raízes no País, inicialmente, trabalhando para a suíça Firmenich. Em 1991, ele fundou a L`Atelier Parfums, uma das mais conceituadas e criativas casas de essências do mercado brasileiro, que também participa e oferece cobertura a criações internacionais. Morineau é freqüentemente convidado a tomar parte de investigações e projetos em perfumaria em conjunto com universidades e institutos de pesquisa. Ele recorda que, anos atrás, interpelado pelo Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia, foi o responsável pela descrição olfativa de 340 amostras de óleos essenciais no Pará, trabalho que lhe custou dez dias de dedicação intensa, mas prazerosa, segundo ele.

    “Na minha fábrica eu formulo tudo o que sou capaz de sonhar”, afirmou. Só com as suas viagens feitas pelo menos duas vezes ao ano para a Amazônia, nas quais penetra nos recônditos da floresta, com o auxílio de guias e acompanhado por pesquisadores de universidades, Morineau desenvolveu 300 essências de plantas nativas da floresta, adquiridas por muitas empresas para exportação.

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    Morineau: o mundo inteiro sonha com a Amazônia

    No topo das preferências – As essências florais e frutais continuam no topo da preferência européia. As fragrâncias masculinas em voga possuem notas de saída cítricas, são amadeiradas no corpo e contam com fi xadores em âmbar e almíscar. “O mercado francês lançou há dez anos as notas gourmets, derivadas de pêssego, morango, vanila, açúcar, chocolate, canela, entre outras especiarias, e elas continuam a exercer influência em vários mercados”, informou o perfumista.

    Outra tendência mundial também presente no País é criar fragrâncias em versões feminina e masculina para produtos da mesma marca. Empresas de prestígio internacional lançam a cada temporada novas fragrâncias, utilizando o mesmo nome, e somente mudam a sua cor. Assim ocorre na Dior, com o perfume Poison, o primeiro a dar origem a uma linhagem de sucessores, como Tendre Poison, Hipnotic Poison, Pure Poison e Midnight Poison, atualizados de acordo com as tendências e as evoluções olfativas de cada temporada.

    “Com raras exceções, o Brasil ainda não tem grandes extensões de terras dedicadas a grandes projetos e plantações de rosas, jasmins, narcisos, tuberosas e ainda pouco domina as tecnologias de extração de matérias-primas naturais”, afirmou Elisabeth W. Maier, perfumista da Dierberger.

    De acordo com ela, o Brasil ainda estaria importando mais de 90% das essências florais extraídas da natureza. O mesmo, porém, não se pode afirmar da oferta de essências cítricas. Óleos essenciais cítricos, como os de limão, bergamota, laranja amarga e mandarina, e de outras plantas, como citronela, palmarosa, vetivert, eucalipto e cipreste, obtidos por prensagem a frio, destilação a vapor, até mesmo por autoclave, integram a oferta brasileira há mais de cinqüenta anos.

    A Dierberger, em 1950, iniciou a extração de óleos essenciais obtidos de suas próprias plantações de matérias-primas aromáticasem Barra Bonita-SP, incluindo em sua produção químicos aromáticos, como matérias-primas sintéticas para a composição de fragrâncias. “Mas a própria Dierberger importa absolutos de jasmim, da Índia e do Egito, absolutos de rosas, de Marrocos e da Bulgária, narcisos, do sul da França, entre outros, para desenvolver novas fragrâncias, ao ritmo de pelo menos 400 novas por ano, para abastecer os mercados de perfumaria fina, cosméticos e de produtos de limpeza”, informou Elisabeth.

    Aos poucos, porém, a oferta de óleos essenciais obtidos de ativos naturais da Amazônia tende a crescer. A Dierberger também passou a desenvolver há dois anos fragrâncias com o óleo essencial de priprioca, com características amadeiradas, e passou a ofertá-las ao mercado.

    Fragrâncias com notas verdes, florais, musk e óleos essenciais cítricos criadas por Elisabeth já foram premiadas. Criações formuladas com óleos essenciais de limão, bergamota, mandarina, cedro, vertivert e sândalo, e também com absolutos de rosas e de jasmins, entre outras, carregam na bagagem o histórico de abrir caminho para que muitos fabricantes de perfumes brasileiros possam exportar.

    Um dos bons exemplos desses casos é a criação de Elisabeth para a Surya Henna, tradicional fabricante de henna (colorante natural para cabelos), que ingressou no mercado de perfumaria. “Trata-se da fragrância Sensual, desenvolvida com notas cítricas, florais exóticas e amadeiradas, muito bem aceita na Europa e que acabou abrindo portas para a exportação do nosso cliente Surya Henna”, informou Elisabeth.

    Entre os mais recentes desenvolvimentos, Elisabeth destaca as linhas Brazilian Fruit e Caipirinha, da Nativa e Natural, desenvolvidas especialmente para exportação. “Formulamos várias fragrâncias para a linha Brazilian Fruit, como brilhos labiais de carambola, banana e guaraná, e para a linha Caipirinha criamos o perfume, com notas de limão e acordes de rum, além de esfoliante, gloss, hidratante e sabonete utilizando óleos essenciais de limão e lima”, relatou Elisabeth. A linha de perfumes e cosméticos Caipirinha foi apresentada com destaque na última Beauty Fair, de Paris, realizada em outubro deste ano.

    Produção local de lavanda – Cem mil matrizes plantadas e cultivadas pelo empresário Fernando Amaral em terreno de dez hectaresem Monte Verde, no sul de Minas Gerais, abrem perspectivas para que o mercado brasileiro possa contar com a produção local de óleos essenciais de lavanda de alta qualidade. Trata-se da primeira plantação com cultivo orgânico de que se tem notícia no País. Derivados da Lavandula dentata, uma espécie rústica e nativa de lavanda selvagem, plantada oito anos atrás. Os óleos possuem base menos volátil, agem como fragrâncias apresentando notas marcantes e cheiro incomparável e ainda possuem grande potencial analgésico, comprovado por pesquisas realizadas por Amaral em conjunto com profissionais do departamento de química da Universidade de São Paulo.

    “Sei que muitos não acreditam que a lavanda possa vingar no Brasil, mas tenho a intenção de tornar o País competitivo em óleo de lavanda”, revelou Amaral. Formado em osmologia, na Suíça, onde se especializou no estudo de plantas aromáticas e na classificação de seus odores e dos efeitos psicológicos produzidos pela rica e ampla flora terrestre nos seres humanos, Amaral fundou na Suíça, em1995, aWorld’s Natural Fragrances, a WNF, empresa transferida anos depois para o Brasil.

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    Flores com essências atraentes, desde a esq.: orquídea, copaíba, lírio-do-brejo e maracujá

    Especializada na produção de óleos essenciais e essências extraídas de plantas aromáticas, a WNF detém processo de extração de óleos utilizando a tecnologia de hidrofusão. Descoberta no mundo em 1920, essa técnica permaneceu guardada a sete chaves e foi transmitida pessoalmente por um de seus precursores, Pierre Roulet, para Amaral, na Suíça.

    “Destilamos toda a planta, na época da florescência, no final de julho e início de agosto, obtendo os óleos essenciais e os hidrolatos, sendo estes últimos muito utilizados nas formulações de cremes e loções cosméticas A nossa previsão é de ofertá-los ao mercado a partir de 2008, pois estamos no momento realizando testes e análises químicas para identificar todos os seus componentes”, informou o empresário.

    Além das fragrâncias, os óleos essenciais derivados de plantas aromáticas pela tecnologia de extração da WNF também têm indicações terapêuticas. Por poder entrar no preparo de fitocosméticos, encontram boa aceitação entre grandes e conceituados laboratórios e fabricantes, como Welleda, Natura, Nazca, Viscaya, Biotherm, Decleor e Lancôme.

    “A WNF foi a primeira empresa a produzir no País extratos isoativos distribuídos exclusivamente pela Ipiranga Química. A produção ocorre por meio de processo no qual isolamos os princípios ativos das plantas, aplicando uma base glicólica, e não utilizando a glicerina como solvente extrator, e depois submetendo as plantas à hidrodifusão. Essa técnica oferece várias vantagens às indústrias cosméticas, pois, por meio dela, consegue-se padronizar os extratos e evitar qualquer tipo de contaminação.”

    Há cerca de três anos, segundo Amaral, a WNF, via distribuição da Ipiranga Química, oferece ao mercado mais de oitenta extratos isoativos para a fabricação de xampus, sabonetes e cremes. Esse fato vem propiciando às indústrias substituir os extratos glicólicos convencionais pelos isoativos, considerados bem mais estáveis e de mais fácil adição nas formulações.

    Hoje, por hidrodifusão, a WNF promove a extração de óleos essenciais de lavanda, de alecrim, de menta, de lemongrass, de palmarosa e de patchouli. Mas há potencial para criar oito mil blendas de óleos essenciais e desenvolver projetos especiais, como o cheiro criado para o personagem Shrek por Amaral para a Becker Brasil.

    O cultivo de lavanda em particular abrangeu cinco espécies diferentes: a Lavandula estoechas, a L. purpurea, a L. intermedia, a L. officinalis e a L. dentata, para que Amaral chegasse à conclusão de que esta última seria a que melhor se adaptaria às condições de clima e solo brasileiros.

    A demanda mundial por lavanda para fins cosméticos tem dimensões gigantescas. Segundo Amaral, é a fragrância mais admirada e comercializada no mundo. Termo originado do latim, lavanda significa lavar. De cada dez perfumes produzidos, oito levam lavanda em sua composição. Concentrado no sul da França, seu plantio representa a base econômica de toda a região de Provence e Grasse.

    No Brasil, a estimativa é a de que o País importe algo em torno de US$ 300 milhões só em óleos de lavanda ao ano. Seria a Lavandula angustifolia, única registrada internacionalmente pela França.

    Inicialmente, segundo os cálculos de Amaral, a WNF teria condições de produzir 20 toneladas de Lavanda dentata ao ano. “O Brasil tem a maior biodiversidade inexplorada em aromas do planeta. Na França, a colheita da lavanda é feita apenas uma vez por ano, enquanto, no Brasil, estamos conseguindo até seis colheitas ao ano”, afirmou Amaral.

    Na aprazível Monte Verde, ele também planta lemongrass e estima poder atender o mercado com uma produção inicial de quatro toneladas/ano a partir de 2008, já fazendo planos para ampliar o cultivo nos próximos meses, hoje totalizando 50 mil matrizes. Originária da Índia, lemongrass é um cítrico suave com toque adocicado, mas a matriz utilizada no plantio de Amaral é nativa.

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    Amaral investe em lavanda de qualidade em Monte Verde

    “Já temos demanda de mercado por lemongrass de, no mínimo, cinco toneladas ao mês. No Brasil, não há produtor e conseguimos alcançar um grau de qualidade destacado, e já aprovado pelas indústrias de perfumaria e cosméticos”, informou. Na fazendaem Minas Geraistambém são cultivadas dez mil matrizes de alecrim. O óleo essencial derivado do alecrim é também muito apreciado pela perfumaria, por sua ação refrescante, agindo também como potente agente circulatório em cosméticos.

    Da Amazônia – Ativos naturais de castanha do Pará, andiroba, açaí, buriti, guaraná e cupuaçu estão na ordem do dia entre os mais apreciados da Amazônia e compõem as especialidades da Isan Essências, entrando na composição de inúmeras fragrâncias para relaxamento, energização e anti-stress.

    A castanha-do-pará, além de proporcionar suavidade aos cabelos, é comprovadamente antioxidante, emoliente, hidratante e evita a formação de radicais livres. A andiroba possui ação antiinflamatória e anti-séptica para uso em xampus, condicionadores e cremes e as fragrâncias de açaí costumam ser utilizadas em xampus, cremes e condicionadores.

    “Muitos cosméticos estão dando preferência aos ativos da Amazônia, como loções, hidratantes, cremes, xampus, condicionadores, géis e sabonetes e a nossa linha está obtendo ótima aceitação nos mais diferentes mercados internacionais, e temos clientes que já estão exportando produtos com notas olfativas de ativos da Amazônia há algum tempo”, revelou Nelson Ramos Salazar, sócio-diretor e perfumista da Isan.

    Fornecedor de essências também para o setor automotivo, Salazar aponta novas preferências nesse setor: “Tradicionalmente, a linha automotiva utiliza essências com notas frutadas, porém, já observamos tendência de utilização de perfumaria fina também nesse setor”, disse. Nos fornecimentos para domissanitários, que costumam utilizar essências de lavanda, eucalipto, pinho, coco e maçã vermelha, por exemplo, Salazar observa que o cheiro e a fixação estão sendo cada vez mais preponderantes para a escolha desses produtos, com as notas olfativas remetendo à sensação de bem-estar.

    E foi justamente por captar esse tipo de conceito entre os consumidores que a empresa criou a linha Bem-Estar, utilizando notas florais, cítricas, frutais, alavandadas, mentoladas e frescas.

    Sem fronteiras – As fragrâncias pertencem a um mundo sem fronteiras. É o que se aprende nos primeiros contatos com a química e a arte da perfumaria, área de criação e conhecimento capaz de provocar diferentes sensações.

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    Hidrofusão extrai o óleo da Lavandula dentata

    Segundo ensina Antonio Carlos Vanzo Júnior, gerente técnico regional para a América Latina de fragrâncias da IFF Essências e Fragrâncias, unidade brasileira do grupo americano International Flavors & Fragrances, líder mundial no fornecimento de fragrâncias para perfumaria fina, os patchoulies podem vir das folhagens colhidas na Indonésia. Botões de cassis, mimosas, narcisos e jasmins, dos campos de cultivo espalhados pela França, e os osmanthus, da China. As folhas de violeta vêm do Egito, e as rosas dos tipos centifoglia ou damascena, do Marrocos ou da Turquia. A Itália contempla o mundo com as mandarinas e os preciosos orris absolutos, as matérias-primas mais bem cotadas e com as quais se obtêm fragrâncias utilizando as raízes da bela Íris, cujo custo por quilo pode superar a 10 mil euros.

    Assim, não existe dúvida, as matérias-primas mais valorizadas no mundo advêm como dádivas da natureza. Por essa razão, as casas de fragrâncias mais conceituadas, como a IFF, além de produzir matérias-primas sintéticas, dão prioridade à fabricação de seus próprios ingredientes naturais, não se importando se, para isso, será necessário percorrer grandes distâncias, pois o mais importante é extrair as mais puras essências, segundo Vanzo Júnior, selecionando os locais de plantio onde o sol, a lua, a terra, a água e a atmosfera garantirão o melhor cultivo e as melhores safras.

    “Manejamos aproximadamente oitenta espécies botânicas para produzir mais de 120 tipos de óleos essenciais naturais no Laboratório Monique Remy, instalado em Grasse, no sul da França, cidade considerada o berço da perfumaria fina. A região possui clima único para o desenvolvimento de flores, com invernos amenos (entre 5ºC e 15ºC) e verões generosos (entre 25ºC e 32ºC), fundamentais para a concentração, no inverno, das substâncias aromáticas, para que se possa colher o melhor das essências na primavera”, informou.

    Anualmente, a empresa publica e divulga um completo catálogo, o IFF Wins, com informações sobre as fragrâncias masculinas e femininas criadas por sua equipe de mais de cem perfumistas que conquistaram a preferência dos usuários, batendo recordes de vendas.

    Em apoio às inúmeras criações, os laboratórios da IFF utilizam as mais modernas técnicas para a obtenção de óleos essenciais, como destilação por arraste de vapor, hidrodestilação ou extração de compostos aromáticos por solventes, além das técnicas para purificação, segundo Vanzo Jr., como destilação fracionada e destilação molecular. Mas ainda há outras igualmente interessantes, como as técnicas de extração por fluido supercrítico por uso de dióxido de carbono (CO2), uma das mais avançadas e que permite selecionar, para Vanzo Jr., as faixas de peso molecular para a separação entre todas as substâncias.

    Nesse processo de extração, o gás carbônico é conduzido além dos seus pontos críticos de pressão e temperatura, obtendo-se um fluido que combina propriedades favoráveis dos líquidos (densidade e poder de solubilização) e dos gases (transporte e compressibilidade). Em seguida, esse fluido entra em contato com o vegetal, extraindo todos os aromáticos puros. Com a redução da pressão, o fluido volta ao estado gasoso, encerrando o processo. “A grande vantagem oferecida pelos óleos essenciais obtidos por meio dessa técnica é o fato de eles serem extremamente puros, exclusivos e reconhecidamente possuírem grande valor no mercado de perfumaria”, destacou.

    Na opinião de Vanzo Jr., algumas áreas de desenvolvimento de fragrâncias estão fazendo a fama do Brasil lá fora. Esse é o caso das fragrâncias criadas para sabonetes em barra e para desodorantes.

    Contando com dois laboratórios de aplicação no Brasil, um no México, dois outros na Colômbia e na Argentina, sob sua alçada, Vanzo Jr. coordena mais de dois mil desenvolvimentos de fragrâncias por mês, e possui em estoque mais de seis mil ingredientes para atender às necessidades das indústrias usuárias de fragrâncias de toda a região, dois mil dos quais acondicionados sob temperaturas controladas em câmaras frias, como medida de preservação. Nesses laboratórios, além das criações, são também realizados estudos de compatibilidade e estabilidade das fragrâncias em relação às suas bases, abrangendo desde os itens de perfumaria fina até produtos de limpeza doméstica.

    Com quarenta fábricas, 39 centros de pesquisa e desenvolvimento, e marcando presença em trinta e cinco países, a IFF investe 7,5% do resultado das vendas em P&D e opera no Brasil desde 1951. Seu primeiro escritório foi instalado em 1962,em Petrópolis-RJ. Seisanos depois, mudou-se para a cidade do Rio de Janeiro. Em 1979, instalou novo centro criativo de fragrâncias e escritórios de vendas em Alphaville-SP, onde permanece até hoje. Em 1996, inaugurou uma unidade industrial exclusiva para aromasem Taubaté-SP. Atualmente, a IFF se dedica também à construção de um novo centro de fragrâncias, maior e ainda mais moderno, em Alphaville.

    Criações locais crescem – Perfumes europeus, americanos e nacionais costumam apresentar diferentes concentrações de essências, segundo o perfumista Jean Luc Morineau. Em média, os perfumes europeus contêm entre 18% e 24% de essências, os americanos, entre 18% e 30%, e os nacionais, entre 10% e 12%. “Isso explica em parte a diferença de fixação notada pelo brasileiro entre os produtos nacionais e os importados”.

    O clima predominantemente quente, com temperaturas elevadas, induz o consumidor brasileiro a apreciar perfumes mais suaves. Por outro lado, as altas temperaturas provocam o aumento da transpiração, o que leva os consumidores a buscar perfumes de mais longa duração. “Essa contradição constitui o maior desafio para os perfumistas brasileiros”, considera o perfumista Morineau.

    O mais importante, contudo, segundo ele, é que a produção brasileira de perfumes está inovando nos conceitos. “Pouco a pouco, os chamados contratipos estão perdendo importância, cresce a cada dia o volume das criações patrocinadas por clientes que valorizam a identidade dos perfumes nacionais, encomendando colônias com fragrâncias tipicamente brasileiras, com o objetivo também de exportá-las.”

    Na opinião de Mônica Paiva, responsável pela área de marketing na Isan, o mercado de perfumaria e cosméticos cresce consideravelmente a cada ano. Tanto isso é uma realidade que já se posiciona em terceiro lugar no ranking dos maiores produtores mundiais.

    Um dos segmentos de maior crescimento, segundo Mônica, é o de cuidados com a pele, com destaque para os produtos antiidade. “As pessoas estão cada vez mais se preocupando com o bem-estar, a longevidade e a qualidade de vida. Os homens também já estão aderindo aos novos conceitos e, por essa razão, o mercado está cada vez mais de olho neles”, comentou. De acordo com pesquisa realizada pela Fator de Solução/Kline Group, à qual a Isan teve acesso, em 2006 as fragrâncias femininas representaram 61,8% das vendas, enquanto as masculinas, 38,2%.

    Segundo Mônica, as tendências mais marcantes em perfumaria hoje apontam para as notas florais, frescas e gourmand. Na opinião da especialista, o Brasil assumirá importância cada vez maior no lançamento de tendências, sobretudo no que diz respeito aos ativos e essências provenientes da Amazônia.

    Na opinião de Tarcízio Candelária, diretor de Scent & Care Division da Symrise, os perfumes femininos possuem hoje uma grande concentração de notas florais. Nos masculinos, a predominância é de notas cítricas, similares aos cítricos femininos contendo extratos de cascas de frutos, como limão, tangerina, mandarina, laranja e bergamota, mas apresentando notas com diferentes intensidades.

    Química e Derivados, Antonio Carlos Vanzo Júnior, Gerente técnico regional de fragrâncias da IFF, Cosméticos - Fragrâncias - Espécies vegetais da Amazônia podem abrir mercados sofisticados para a produção local
    Vanzo Jr.: extração supercrítica confere alta pureza aos óleos

    “As fragrâncias masculinas também são dominadas por notas fougère, inicialmente consideradas fragrâncias femininas, mas depois adaptadas com misturas de especiarias, lavandas e frutais cítricos, verdes, herbais e gerânios.”

    Para a consultora Sonia Corazza, as tendências olfativas em perfumaria revelam a preferência por cheiros que possam resgatar a sensação de bem-estar e os momentos agradáveis da vida de cada pessoa, o que atualmente está fortemente ligado à natureza. As notas gourmand, gustativas, porém, também continuam em alta.

    A perfumaria fi na, segundo Sonia, deve ser subdividida em perfumes para o dia e para a noite. “Para o dia, os destaques entre os perfumes femininos são buquês florais sensuais, enriquecidos com âmbar ou musk, florais românticos e intensos com notas de saída verdes e marcantes, e os florais-frutais”, afirmou. Mas é preciso lembrar, segundo ressaltou, que as notas alimentícias, como cereais e farináceos, além dos tons leitosos estão convivendo com notas licorosas e achocolatadas, revelando a busca do conforto e de atmosferas de relaxamento e sensualidade. “Veja que no Fifi Awards, considerado o “Oscar” da perfumaria, os perfumes vencedores foram Nina (Nina Ricci), Perles de Lalique (Lalique) e Kenzo Amour (Kenzo Parfums), todos dentro dessa genealogia olfativa”, explicou Sonia.

    “Para homens, a tendência energizante é bem forte, com cheiros de cascas de frutos cítricos trazendo à tona a tendência para que se mantenham em forma, além de fougères sensuais e ambarados. Para os adolescentes, o destaque fica por conta das notas das flores de laranjeira e outros acordes alavandados e mixados aos musks brancos e a tons aldeídicos.

    Para a noite, prevalecem os perfumes com notas clássicas de chipre (combinação de bergamotas, jasmins, rosas, ilangue-ilangue etc.) para as mulheres e notas amadeiradas intensas para o público masculino. “Isso significa que a família dos ingredientes spice-amadeirados, com adição de couro e notas de olíbano, além de especiarias, como gengibre e todas as pimentas, continuarão fazendo sucesso entre as mulheres”, considerou a especialista.

    “No passado, há cerca de quinze anos, o mercado internacional inspirava o lançamento de perfumes na mesma direção olfativa, mas isso mudou de uns tempos para cá, pois as grandes empresas, como as brasileiras Natura, O Boticário e Avon, começaram a desenvolver idéias próprias, perfumes com personalidade brasileira, sem recorrer a inspiraçõesexternas”, afirmou Candelária, da Symrise.

    Outro ponto importante, segundo ele, é que as notas utilizadas em perfumaria fina acabam sendo também requisitadas para inspirar fragrâncias para outras linhas, como amaciantes de roupas, sabões em pó e produtos de limpeza. “A famosa fragrância Amarige, por exemplo, foi adaptada para produtos de limpeza e as notas florais são as mais requisitadas para limpadores e desinfetantes, entre outros produtos.”

    Antigamente, os produtos domissanitários contavam apenas com algumas opções em fragrâncias de jasmim, eucalipto, pinho ou lavanda, mas, atualmente, esse mercado está se sofisticando e pedindo grande variedade de fragrâncias, melhor elaboradas e de efeito mais duradouro, apreciando notas florais, florais alavandadas, florais com toque de perfumaria fina, frutadas e fragrâncias com notas marinhas. Tudo isso é muito importante para os fabricantes de fragrâncias, sendo bom lembrar que o Brasil talvez já seja o terceiro maior consumidor de sabões em pó do mundo, mercado que mais consome fragrâncias no setor domissanitário, seguido pelo de amaciantes de roupas, segundo maior em consumo de fragrâncias.

    Química e Derivados, Tarcízio Candelária, Diretor de Scent & Care Division da Symrise, Cosméticos - Fragrâncias - Espécies vegetais da Amazônia podem abrir mercados sofisticados para a produção local
    Candelária: produtores locais criaram estilo próprio

    A participação de fragrâncias em cosméticos no Brasil também está entre as mais significativas do mundo, uma vez que o País se posiciona em terceiro lugar no ranking dos maiores produtores mundiais de cosméticos. Os maiores fornecimentos em volume de fragrâncias, segundo Candelária, destinariam-se aos produtos para cabelos, como xampus, condicionadores e cremes. Em 2006, só o mercado de xampus representou volume de 177 mil toneladas e um total de 420 mil toneladas foram consumidas em todos os itens destinados ao tratamento dos cabelos. O segundo maior consumo de fragrâncias caberia ao setor de desodorantes e sabonetes. Em 2006, só o mercado de sabonetes correspondeu em volume a 293 mil toneladas.

    Prazer do olfato – Os óleos essenciais são utilizados há mais de quatro mil anos. Acredita-se que seu uso inicial ocorreu no Egito. Naquela época, as técnicas de destilação ainda não eram conhecidas, mas os antigos povos egípcios colhiam as plantas aromáticas selvagens e as maceravam em óleos e gorduras. De acordo com alguns registros, o primeiro óleo vegetal a ser utilizado como ungüento na era neolítica foi o de gergelim.

    A perfumaria se compõe de matérias-primas de origem natural e sintética, de acordo com ensinamentos do perfumista Morineau. As naturais são extraídas de flores, como rosas, jasmins, ilangue-ilangue, gerânios e tuberosas, e são bem cotadas comercialmente. As matérias-primas extraídas de folhas e plantas fornecem à perfumaria notas verdes, cítricas, florais, frutais, refrescantes, como as folhas de violetas, lemongrass e eucaliptos, sendo muito utilizadas como notas de saída. Mais voláteis, essas notas são perceptíveislogo na abertura dos perfumes. As matérias-primas extraídas de madeiras, musgos e raízes, são utilizadas em notas de corpo e fixação do perfume. Em geral, são notas florais mais concentradas, amadeiradas, frutais cítricas, como limão, bergamota, laranja, mandarina e balsâmicas, podendo se compor de cedros, sândalos, musgos de carvalhos, vetivert e resinas. As notas de fixação ou de fundo costumam ser amadeiradas, almiscaradas, ambaradas e abaunilhadas e são cada vez mais desenvolvidas sinteticamente.

    As matérias-primas sintéticas reproduzem os perfumes naturais ou representam desenvolvimentos aromáticos que não encontram correspondentes naturais. A maior parte dos componentes aromáticos sintéticos é derivada de reações químicas. Os ingredientes químicos se dividem em: terpênicos, alifáticos, como os aldeídos, os primeiros ingredientes sintéticos utilizados em perfumaria, os álcoois, os ésteres, as cetonas e as lactonas, além dos benzenóides.

    Volume de vendas é crucial – Além da preocupação constante com a criação e o lançamento de novas tendências em fragrâncias, as empresas de perfumaria movimentam esse fabuloso mercado lançando mão de algumas estratégias promotoras de crescimento, apresentando, por exemplo, edições especiais derivadas de perfumes famosos, mas cuja longevidade será determinada pelos volumes de vendas. “A fragrância Amarige, por exemplo, deu origem à edição especial Amarige Mariage, que se tornou um sucesso de vendas e teve produção continuada”, informou Tarcízio Candelária, da Symrise.

    Entre as estratégias muito utilizadas para servir de alavanca de vendas, as empresas de perfumaria, principalmente no mercado norte-americano, mas também no Brasil, têm criado fragrâncias que serão assinadas por celebridades. Esse é o caso do Unforgettable Woman, assinado por Jennifer Lopez, e do “Luiza Brunet”, assinado pela própria, para a Avon.

    Outra importante tendência de mercado, segundo Candelária, iniciada há mais de dez anos, mas que se manifesta até hoje, é a aquisição pelas grandes corporações de marcas de perfumes de grande prestígio internacional, como Hugo Boss, adquirida pela Procter & Gamble; Calvin Klein, comprada pela Unilever; ou Louis Vuitton, vendida ao grupo L.V.M.H., também proprietário das marcas Guerlain, Kenzo e Givenchy.

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