Comércio: Encontro une setor na América Latina

Realizado nos dias 11 e 12 de março, o Encontro Brasileiro de Distribuidores de Produtos Químicos e Petroquímicos (EBDQuim) conseguiu a proeza de enclausurar os duzentos participantes no auditório do Club Med de Trancoso-BA durante um dia e meio de painéis.

Com programa extenso e exaustivo, o encontro permitiu atualizar os representantes de quase 50 empresas comerciais brasileiras, além de várias estrangeiras, sobre as tendências e problemas que afetam ou afetarão o setor nos prximos anos, sempre com o apoio de entidades de classe locais e estrangeiras, além de palestrantes da indústria química.

Entre os painéis, dois fatos marcantes. Seis distribuidores brasileiros receberam os primeiros certificados de conformidade com o Programa de Distribuição Responsável (Prodir), a saber: Cosmoquímica, Ipiranga Comercial Química, Best Química, Gotaquímica, Beraca/Sabará e Makeni. Além disso, representantes do comércio químico do Brasil, Argentina, Chile, Colômbia, México, Paraguai, Peru e Uruguai elaboraram a “Carta de Trancoso”, documento por meio do qual criaram uma comissão com a tarefa de constituir a Associação Latino-Americana dos Distribuidores de Produtos Químicos e Petroquímicos (Aladquim).

“A formação de uma entidade representativa do setor em âmbito regional amplo é coerente com os movimentos atuais de segmentação do setor por grandes blocos comerciais, a exemplo da possível criação da Alca, além da profusão de acordos bilaterais entre vários países”, explicou Rubens Medrano.

Já há esforços internacionais para harmonizar regulamentos aduaneiros e sanitários, eliminando barreiras não-tarifárias, fator que apóia a iniciativa do setor.

Ao mesmo tempo, o Conselho Internacional de Associações do Comércio Químico (ICCTA) divulga e incentiva a adoção de seus Programas de Distribuição Responsável, padronizando muitas operações.

“Temos consciência das dificuldades em montar uma entidade setorial desse porte, mas elas precisarão ser vencidas para que possamos defender nossos interesses e o livre comércio entre os países”, afirmou.

Química e Derivados: Comércio: Os seis primeiros distribuidores certificados pelo Prodir - Beraca, Makeni, Best, Gotaquímica, Cosmoquímica e Ipiranga.
Os seis primeiros distribuidores certificados pelo Prodir – Beraca, Makeni, Best, Gotaquímica, Cosmoquímica e Ipiranga.

Temário diversificado – O encontro começou com palestra do economista José Roberto Mendonça de Barros, professor da FEA-USP, consultor, e ex-secretário de política econômica do Ministério da Fazenda. Na sua análise, o governo Lula conseguiu recuperar a credibilidade internacional do País, por meio de um programa fiscal rígido.

No entanto, isso acarretou a queda no PIB, atrasou investimentos no País, redundando em desemprego. Para 2004, seus cálculos apontam uma expansão do PIB da ordem de 3,5%. “É um resultado ainda decepcionante, muito aquém da necessidade social do País”, lamentou.

Assustador foi ouvir de empresários o comentário que o palestrante teria sido muito otimista na sua previsão.

Em seguida, as perspectivas e vicissitudes do setor petroquímico foram detalhadas pelo presidente do conselho da Abiquim, Carlos Mariani Bittencourt.

Em faturamento líquido, a química brasileira foi ultrapassada pelos concorrentes mundiais, tendo despencado do quinto posto mundial, em 1990, com US$ 32 bilhões, quase alcançando a China, então com US$ 34 bilhões, para a 11ª posição em 2002, ainda que tivesse faturado US$ 37 bilhões.

Nesse ano, a China já assumiu a quarta colocação, com US$ 97 bilhões, tendendo a bater a marca de US$ 100 bilhões já em 2003.

A petroquímica mundial está na iminência de um período de escassez de insumos e produtos, que provocará a elevação de preços e a recuperação de margens no setor industrial. Pelo lado da oferta de eteno, o Oriente Médio apresentará grande crescimento até 2010, chegando a 15 milhões de t/ano.

A China também investe para dobrar a capacidade instalada, perfazendo 13 milhões de t/ano em 2010.

“Enquanto a China investe para crescer 13,1% ao ano, e o Irã, 40% ao ano, o Brasil ampliará sua capacidade petroquímica em 4,8% ao ano de 2003 a 2010”, ressaltou Mariani.

No caso brasileiro, a questão fundamental é o suprimento de nafta ou gás natural em quantidade e preços suficientes para justificar o investimento em novas capacidades petroquímicas.

Por sua vez, o vice-presidente da Basf S/A Fernando Figueiredo criticou a falta de atenção do governo para com o setor produtivo nacional, em especial o químico e petroquímico. “A grande importação de produtos revela oportunidades de investimento”, afirmou.

No entanto, a falta de infra-estrutura logística de qualidade e de suprimento de matérias-primas e insumos, aliadas ao alto custo tributário das operações locais, em ambiente de baixa segurança institucional pela falta de marcos regulatórios entravam o deslanche dos projetos, que acabarão sendo transferidos para outras regiões do mundo.

Assuntos globais – A presença de representantes de associações do comércio químico da Europa e da América do Norte permitiu perceber muitas semelhanças com os cogêneres brasileiros. A palavra de ordem é cortar custos, já que a concorrência acirrada emagrece as margens de lucro também nessas regiões.

“Estamos substituindo nosso sistema de ligações telefônicas por outro, que usa a estrutura da internet, com ferramentas de tecnolgia das informações, para cortar despesas”, afirmou o belga Edgar Nordmann, presidente da distribuidora Nordmann, Rassmann GMBH & Co e presidente da Associação Européia de Distribuidores Químicos. Lá como aqui, a saúde financeira das companhias torna-se relevante para manter bom relacionamento com fornecedores, interessados em negociar contratos com empresas saudáveis.

Outro tema muito próximo à realidade brasileira e confirmado pelos pares de ultramar diz respeito à sucessão em empresas de estrutura familiar.

Um painel iniciado por exposição do experiente consultor Renato Bernhoeft tratou do assunto. Thomas Coyne, presidente da George S. Coyne Chemical, e chairman da Associação Nacional dos Distribuidores Químicos (EUA), revelou comandar uma empresa familiar fundada em 1868, que já está no comando da quarta geração.

“Estamos preparando o processo sucessório dentro da família, buscando as pessoas mais aptas e vocacionadas para a tarefa”, explicou, embora esteja na faixa da chamada meia-idade.

Outras experiências internacionais realçaram a importância de preparar a substituição do empreendedor, até com o auxílio de gerentes sem vínculo familiar com os detentores do capital da companhia, caso necessário.

Química e Derivados: Comércio: Medrano abre EBDQuim, observado por Mendonça de Barros, Mariani e Bonetti (ICCTA).
Medrano abre EBDQuim, observado por Mendonça de Barros, Mariani e Bonetti (ICCTA).

Marcante, em especial nos palestrantes europeus, é a preocupação com possíveis novas regras a serem implantadas sobre produtos químicos.

Uma proposta legislativa européia denominada Reach, nascida a partir de um documento apresentado ao Parlamento Europeu (este chamado “Livro Branco”) pretende instituir um complexo sistema de registro de cada produto químico.

Conforme o grau de risco toxicológico do material, poderá ser necessário também avaliar o produto ou ainda conseguir autorizações para uso e transporte.

“Caso seja aprovado como está, o Reach cria uma barreira não-tarifária para o comércio com a Europa, além de aumentar as despesas da indústria e comerciantes do setor”, afirmou Martim Afonso Penna, diretor-executivo da Associação Brasileira do Cloro (Abiclor).

Bruno Stephan, vice-presidente executivo da Verband Chemiehandel (VHC), da Alemanha, acompanha de perto os trâmites da proposta Reach.

Ele detalhou vários aspectos, evidenciando critérios discricionários e abusivos, cujos custos de acompanhamento sequer foram dimensionados.

O impacto da legislação poderá ferir de morte vários segmentos da indústria química européia.

“Com as recentes mudanças na composição do Parlamento Europeu, que enfraqueceram os ‘verdes’, não acredito que o Reach seja aprovado”, afirmou.

No entanto, dada a atual percepção negativa dos produtos químicos na sociedade européia, ele entende plausível que passem a ser exigidos registros dos produtos, com sua descrição sucinta, indicações de usos e informações relevantes para transporte e manuseio.

O amplo temário ainda permitiu a várias associações e sindicatos empresariais detalhar seu escopo de trabalho e serviços oferecidos aos membros.

Nessa parte, coube ao presidente do International Council of Chemical Trade Associations, Giorgio Bonetti, também presidente da Associação Italiana de Comércio Químico, convidar todos os presentes a participar do Congresso Anual da Federação Européia do Comércio Químico (FECC), a ser realizado em Rimini, na Itália, de 6 a 8 de junho. Mais informações sobre o evento podem ser encontradas no site www.fecc-congress.org.

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