Comércio – Cenário favorável aos negócios permitirá recuperar lucratividade

Química e Derivados, Perspectivas 2013 - Comércio - Cenário favorável aos negócios permitirá recuperar lucrosUma conjunção de fatores internacionais e locais cria um ambiente favorável aos negócios da distribuição química em 2013. O objetivo setorial para o ano consiste em recuperar as margens de lucro, muito pressionadas durante 2012, que, aliás, registrou elevação de faturamento apenas razoável.

Presidente da Associação Brasileira dos Distribuidores de Produtos Químicos e Petroquímicos (Associquim) e do sindicato estadual congênere (Sincoquim), Rubens Torres Medrano informou aumento entre 3% e 5% no faturamento setorial de 2012 (com base em dados preliminares) em relação aos US$ 6,5 bilhões de 2011.

“Em vendas, foi um ano bom, especialmente porque o ano anterior já registrara um faturamento alto, mas o crescimento ficou abaixo do que esperávamos no início de 2012”, comentou.

Ele também ressaltou a pressão sobre as margens de lucro do setor, provocada pelos aumentos das despesas da distribuição, com destaque para os salários. “Alguns setores econômicos estiveram muito ativos durante 2012 e acirraram a competição pela mão de obra. Isso obrigou o setor a oferecer aumentos salariais acima da inflação e da elevação da produtividade, fenômeno que precisa ser adequadamente avaliado em 2013”, informou Medrano.

A distribuição química moderna emprega pessoal qualificado, cada vez mais necessário para identificar os movimentos de mercado e se antecipar a eles. A evolução do Programa de Distribuição Responsável (Prodir) também incentivou a contratação de pessoal mais capacitado. O lado ruim disso é que os profissionais qualificados são os mais requisitados por todos os segmentos de mercado.

Química e Derivados, Rubens Torres Medrano, Associquim/Sincoquim, disputa por mão de obra qualificada elevou custos
Medrano: disputa por mão de obra qualificada elevou custos

“De forma geral, o pessoal que trabalha no setor químico tem grande facilidade de adaptação a qualquer outra atividade, ainda mais os da distribuição, ramo em que a flexibilidade operacional é enorme”, comentou.

Atualmente, as empresas de distribuição formam em casa (in house) os seus profissionais, não existindo uma iniciativa consolidada do setor para isso.

“Temos excelente relacionamento com o CRQ, faculdades e escolas técnicas de química e engenharia química, mas cada empresa precisa recrutar seus estagiários e profissionais, complementando sua formação específica”, informou Medrano. Para ele, as diferenças culturais entre as distribuidoras tornam difícil estabelecer um programa padronizado de formação.

Bons ventos – O cenário que se vislumbra no início de 2013 é animador. Medrano avalia que a presidente Dilma deve colocar em marcha todos os seus projetos caso pretenda se candidatar à reeleição em 2014. Além disso, é preciso fazer deslanchar as obras para a Copa do Mundo de Futebol de 2014 e para a Olimpíada de 2016. As medidas de incentivo ao consumo e à produção, a exemplo da redução das taxas de juros, devem apresentar resultados mais nítidos, tudo isso convergindo para o aumento da demanda por insumos químicos.

Há alguns entraves persistentes. “A infraestrutura nacional continua sendo lamentável e exige investimentos urgentes”, comentou Medrano. Essas deficiências afetam diretamente a distribuição química. Estradas ruins e portos com operação lenta implicam elevação de custos, por exemplo, sem falar no preço da eletricidade e sua escassez.

É preciso considerar o conturbado ambiente internacional. “Os Estados Unidos estão crescendo lentamente e a Europa encolhe, enquanto a Ásia segue como incógnita; nesse quadro, o Brasil é um candidato forte a receber excedentes de produtos químicos”, alertou o dirigente setorial. Ao incentivar o consumo popular, o governo favorece a importação de insumos mais do que os investimentos na produção local. “Para a distribuição, é muito importante contar com uma indústria química nacional forte, mesmo porque ela é para nós, ao mesmo tempo, fornecedora e cliente”, disse.

Medrano critica algumas decisões governamentais que beneficiam apenas alguns segmentos, sem atentar para os efeitos gerados na cadeia produtiva completa. “Faltam planos de longo prazo. O governo deveria exigir contrapartidas para evitar que essa situação perdure, incentivando o setor como um todo a ganhar produtividade e competitividade”, salientou. “Medidas paliativas e isoladas não resolvem muita coisa.”

Essa forma de atuação fragmentada acaba por onerar demais as matérias-primas e intermediários, enquanto facilita a importação de produtos acabados. “Isso é muito perigoso”, considerou. A Resolução 13, do Senado Federal, encerrou em 2012 a atuação dos portos incentivados, uma aberração tributária. “Porém, ainda somos obrigados a emitir notas fiscais complementares para ingressar com produtos no estado de São Paulo, isso exigiu a adaptação dos nossos sistemas informatizados, ou seja, gerou um custo que não estava previsto”, informou.

Medrano atribui à maturidade da distribuição o fato de o mix médio de produtos privilegiar os fabricantes nacionais, mantendo uma relação de 80% para estes e 20% para os importados. É preciso considerar que alguns itens contam com produção local insuficiente para suprir a demanda. Outros itens são importados porque os clientes desejam contar com fontes alternativas de suprimento, até por razões estratégicas, ou para ter preços para comparar. “De qualquer forma, os preços internacionais de químicos caíram muito desde o início da crise, em 2008; isso nem sempre é dumping, mas uma circunstância de mercado”, considerou, ao avaliar a imposição de direitos de proteção de mercado para alguns produtos químicos locais.

É preciso ainda considerar a dinâmica mundial do setor químico. Segundo Medrano, a China dá sinais de não se conformar mais com o papel de fornecedora de commodities de baixo custo e qualidade questionável, e deve ampliar sua posição em produtos de alto valor. Ao mesmo tempo, o advento do gás de xisto (shale gas) nos Estados Unidos proporciona matéria-prima barata em volume capaz de reanimar a indústria química e petroquímica de lá, especialmente dos derivados de etileno, além de aliviar a conta de energia dos americanos. “Um reflexo disso é o aumento anunciado da produção de cloro/soda, que terá reflexos no Brasil já em 2013”, comentou. “Apenas taxar os insumos químicos não ajuda a desenvolver o país.” Ele ofereceu o exemplo do México, país que está em fase de crescimento econômico e industrial acelerado, aproveitando em parte o encarecimento da mão de obra chinesa e a proximidade com o mercado norte-americano.

Os movimentos de comércio internacional favorecem a distribuição, embora não seja ela a maior importadora de produtos químicos. “As grandes indústrias consumidoras importam diretamente os seus insumos principais, até indústrias químicas locais trazem de fora produtos para suprir a demanda local”, explicou. Tanto assim que a distribuição responde por 11% a 12% do mercado químico nacional, percentual crescente, porém ainda distante dos 20% a 25% verificados na Europa e nos Estados Unidos.

Os clientes da distribuição procuram esse canal comercial para adquirir produtos de firmas idôneas, que recolhem os tributos devidos e garantem a qualidade, entregam no prazo combinado, mantêm estoques, oferecem prazo de pagamento, entre outros serviços. Nesse sentido, os aumentos de tarifas aduaneiras representaram aumento de custos. “Quem já está bem estabelecido e tem o nome conhecido leva uma clara vantagem”, afirmou.

Oportunidades – A história da distribuição química aponta um ponto de inflexão de tendências por década. Segundo Medrano, os anos 1990 foram marcados pela abertura comercial e pelo Plano Real, que alteraram profundamente o setor, mudando o relacionamento com as distribuídas e com os clientes. Entre 2000 e 2010, houve um período de fortes investimentos em bases operacionais, algumas das quais ainda ociosas. Nos últimos anos, o Prodir tem alavancado as mudanças setoriais, conferindo ao setor uma valorização expressiva por meio da qualificação dos serviços e da responsabilidade ambiental.

“Com o reconhecimento da importância e eficácia da distribuição, ela está atraindo mais distribuídas e ampliando sua participação”, informou Medrano. No entanto, a maior oferta de produtos é acompanhada pela transferência de serviços adicionais que devem ser prestados pelo distribuidor. Isso implica investimentos em laboratórios, estruturas operacionais e pessoal técnico. O dirigente setorial avalia essas exigências como salutares para o setor, porém adverte que isso também representa custos adicionais.

A crise global de 2008 levou o setor a avaliar melhor suas operações, focando mais nos resultados do que no faturamento. “Nos anos 2000, houve uma febre de abertura de filiais com estrutura logística como forma de ampliar o faturamento, mas isso nem sempre trouxe resultados favoráveis”, comentou. “Ter vários sites só compensa se houver muita demanda para cada um deles.”

A ênfase no crescimento a qualquer custo também arrefeceu. No passado, especialistas chegaram a prever que as empresas de porte médio tenderiam a sumir do mapa caso não se tornassem grandes multinacionais ou adotassem a estratégia de atuação por nichos de mercado. “Muitas companhias médias conseguiram definir seu campo de atuação e estão em ótima forma”, considerou Medrano.

Isso se verifica pela composição do mix de vendas do setor. A mudança da relação tradicional de 70% de commodities e 30% de especialidades para os atuais 60%/40% indica o interesse setorial em agregar valor ao portfólio. “Commodities pagam o custo fixo, mas é preciso melhorar a rentabilidade, geralmente com a adição de especialidades, quase sempre importadas”, considerou. As investidas da distribuição no fornecimento de insumos para as indústrias de alimentos e de cosméticos são típicas desse fenômeno, embora os maiores clientes ainda sejam a produção de tintas e vernizes e a construção civil.

No cenário atual, Medrano considera que ainda há espaço para concentração de negócios (fusão/aquisição) na distribuição química nacional. Isso não se vê mais na Europa e nos Estados Unidos, onde movimentos muito fortes já foram feitos. Há espaço também para a entrada de novos players no Brasil, um país estratégico para as companhias globais do ramo. Em 2012, a Univar fincou a sua bandeira no país, mediante a compra da Arinos Química, por exemplo.

Resíduos sólidos – A aprovação, em 2012, da Política Nacional de Resíduos Sólidos colocou o setor em estado de alerta. Ainda vai levar alguns anos até que a distribuição química tenha a necessidade de se adaptar compulsoriamente às determinações oficiais, entre as quais se destaca o recolhimento e a destinação final das embalagens usadas de produtos. As normas oficiais impõem aos fornecedores a obrigação de retirar esses materiais e dar a eles um uso adequado, respeitando a legislação ambiental.

“Temos bastante tempo ainda, mas devemos nos preocupar desde já com a logística reversa, especialmente dos tambores”, ponderou Medrano. Ele salientou que a indústria de tintas já firmou um acordo para lidar com as latas pós-consumo, e essa atitude deve se estender pela cadeia.

Um dos efeitos imediatos é a adoção crescente dos IBCs, os contêineres especiais para produtos químicos. Com maior volume armazenado por unidade e maior facilidade de reutilização, essa modalidade apresenta vantagens logísticas consideráveis, mas seu preço ainda superior aos tambores é apontado como limitação ao uso mais amplo. Medrano observa que tanto o distribuidor quanto o cliente devem estar preparados para lidar com os IBCs. “Eles precisam ter, pelo menos, uma boa empilhadeira para movimentar o IBC”, comentou. Já existem empresas especializadas na limpeza dos contêineres para uso posterior, dentro das normas ambientais, mas, caso aumente a demanda, será preciso ampliar essa prestação de serviços.

Leia Mais:

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.