Cloro / Soda – Setor pede energia com preço menor
O setor de cloro/álcalis amargou uma queda de produção de 4,7% em 2011, provocada pelo apagão de eletricidade na Região Nordeste no início deste ano. Durante o período, o setor também verificou um forte aumento das importações de soda cáustica, evidenciando problemas estruturais do país, entre eles as deficiências logísticas e o alto custo da eletricidade.
Dadas as especificidades das demandas setoriais, a Associação Brasileira da Indústria de Álcalis, Cloro e Derivados (Abiclor) promete deixar de lado seu comportamento discreto (low profile) para assumir um papel mais relevante, com maior exposição na sociedade. “Não rompemos os laços com outras entidades, como a Abiquim e a Abrace, mas precisamos de respostas mais rápidas para nossas necessidades, em especial quanto ao preço do gás natural e da eletricidade”, explicou Aníbal do Vale, presidente da Abiclor e também da Carbocloro. “Queremos ter voz própria.”
No dia 5 de junho, com apoio da entidade setorial, será lançada em Brasília uma frente parlamentar, liderada pelo Deputado Federal Vanderlei Siraque (PT-SP, com base eleitoral na região do ABCD), com propósito de revelar as dificuldades por que passa o setor químico e petroquímico nacional e discutir soluções. “Mais de duzentos parlamentares já assinaram a proposta da criação da frente”, informou o diretor executivo da Abiclor, Martim Afonso Penna. O setor já possui experiência em caminhar sozinho pelos meandros burocráticos de Brasília, tendo conseguido sensibilizar o governo para implantar no ano passado preços de referência para a importação de soda cáustica em escamas, que também passou a respeitar as normas brasileiras de rotulagem e embalagem.

O setor de cloro/álcalis participará da conferência Rio+20, na qual apresentará uma palestra sobre sustentabilidade. Aliás, a produção brasileira de cloro/soda acompanha de perto as congêneres dos países desenvolvidos, com predomínio da tecnologia de células eletrolíticas a diafragma (63% da capacidade instalada), seguida pelas células com membranas (23%) e, finalmente, as células com amálgama de mercúrio (14%). Estas, embora não sejam mais construídas, ainda são encontradas em quase todos os países do mundo, como explicou o presidente da Abiclor. A tecnologia de membrana é mais moderna e eficiente, consumindo menos eletricidade por unidade produzida, daí ser a preferida em novos projetos.
Outro fator importante de sustentabilidade se refere ao uso do hidrogênio liberado durante a dissociação do cloreto de sódio. “Temos um aproveitamento superior a 80% do hidrogênio, tanto como insumo para outros produtos quanto como combustível para a geração de vapor de processo”, explicou Vale. Em 2011, segundo a Abiclor, o setor aproveitou 84,7% de todo o hidrogênio obtido, percentual próximo ao dos melhores produtores mundiais.

As metas setoriais de sustentabilidade incluem reduzir ainda mais as emissões de gases geradores do efeito estufa, usar a água de forma cada vez mais eficiente nos processos, além de promover uma atuação mais próxima das comunidades. Isso inclui a distribuição gratuita de hipoclorito de sódio para hospitais, escolas e órgãos públicos, tanto para sanitização da água quanto para a prevenção da dengue.
Também os indicadores de segurança em toda a cadeia produtiva de cloro/soda vêm sendo acompanhados. Considere-se que essa indústria produz um gás venenoso (cloro) e outro potencialmente explosivo (hidrogênio), portanto, precisa ser muito severa nos cuidados operacionais. Desde 2009, o índice de acidentes com afastamento por milhão de horas trabalhadas, porém, está aumentando. Em 2008, esse índice ficou em apenas um acidente, subindo nos anos seguintes para 1,43, 1,78 e, finalmente, 3,35 em 2011. Essa elevação se relaciona a casos registrados durante obras de ampliação e manutenção programada de unidades, como na Braskem de Alagoas, em maio de 2011.
Os indicadores de segurança no transporte de produtos do setor apresentaram um desempenho bem melhor, mantendo a tendência de queda iniciada em 2007, quando foi registrado 1,18 acidente por 10 mil viagens. Em 2011, esse índice foi de apenas 0,36, refletindo os esforços das empresas associadas.
Relevância – Embora reúna apenas oito empresas (Braskem, Carbocloro, CMPC, Produquímica/Igarassu, Dow, Canexus, Pan-Americana e Solvay Indupa), perfazendo a capacidade de produção total de 1.548 mil t/ano de cloro e de 1.690 mil t/ano de soda cáustica, construída mediante o investimento ao longo de décadas de US$ 1,7 bilhão, o setor é vital para o desenvolvimento de várias cadeias industriais. “Cerca de 85% dos produtos farmacêuticos, por exemplo, dependem do cloro para sua produção, assim como 60% de todos os produtos químicos”, explicou Vale.
Em 2011, o setor apresentou uma taxa de utilização de capacidades de 82%, em média, com pico de 92%. Em 2010, a média ficou em 87%, sendo a diferença atribuída ao apagão de fevereiro e à antecipação para o quarto trimestre do ano passado da parada programada de um cracker petroquímico de Camaçari-BA. Aníbal do Vale salienta que os mais recentes investimentos em expansão do setor foram efetuados em 2008 e 2009. Está prevista para os próximos meses a conclusão das obras de expansão da unidade de soda-cloro da Braskem em Alagoas, para suprir o aumento de 200 mil t/ano na fabricação local de PVC.
Ao mesmo tempo, as importações de soda passaram de 1,17 milhão de toneladas em 2011, 10,3% acima da quantidade importada em 2010. Isso representa quase a metade do consumo aparente do álcali no Brasil. Segundo a Abiclor, a maior parte dessas importações é realizada pelas indústrias de beneficiamento de minérios de alumínio instaladas na Região Norte.
No entanto, embora os dados apontem haver espaço no mercado para ampliar a produção, o setor resiste aos investimentos. “O problema está na falta de eteno petroquímico para aproveitar o cloro gerado; esse é o gargalo que está travando os investimentos”, explicou Vale. A produção de dicloroetano (o primeiro passo para a produção da resina de policloreto de vinila, o PVC) absorve 37% de todo o cloro gerado no Brasil. O segundo maior cliente, com 22%, é a produção de ácido clorídrico, seguido de perto pelo consumo para a obtenção do óxido de propeno, com 21%.

O fechamento da unidade de di-isocianato de tolueno (TDI) da Dow, em Camaçari, anunciado em março de 2012, embora ela já estivesse parada para manutenção desde outubro passado, representa a perda de um consumidor de apenas 1% do cloro nacional. “Esse percentual seria facilmente absorvido pelas aplicações do cloro gasoso ou do hipoclorito em tratamento de água para abastecimento residencial, ainda muito pouco usado no Brasil”, disse o presidente da Abiclor. “O consumo de cloro para esse fim poderia ser duplicado com facilidade, mesmo admitindo que as empresas de tratamento de água ficaram mais eficientes e reduziram o consumo de cloro por metro cúbico tratado.”
O maior cliente de soda cáustica é o setor de celulose e papel, que absorve 25% do álcali fabricado no Brasil (sem considerar as importações). Os usos químicos e petroquímicos absorvem 22%, mas a partilha das vendas é mais variada que a do cloro. Alguns segmentos, porém, perderam relevância no Brasil nos últimos anos. É o caso da indústria têxtil, cuja participação no consumo de soda cáustica despencou da média de 14% a 15% para meros 3% em 2011. “As importações de tecidos e roupas prontas estão matando esse setor”, apontou Vale.
Custos elevados – O faturamento líquido do setor de cloro/álcalis manteve a tendência de recuperação iniciada depois da queda de vendas de 2009, refletindo a crise global. De lá para 2011, o indicador passou de US$ 1.215,6 milhões para US$ 1.556,3 milhões. “Conseguimos voltar ao patamar de 2008, quando obtivemos US$ 1.514,8 milhões”, afirmou Vale.
No entanto, cabe mencionar que esses valores de faturamento foram obtidos com a moeda local (real) valorizada, condição que deixou de existir, acumulando uma desvalorização cambial próxima a 20% desde o início do ano. Essa variação cambial deverá influenciar diretamente os resultados de 2012, pois não é possível transferi-la imediatamente para o preço de venda aos clientes. “Nós precisamos ser competitivos com o dólar a R$ 1,50 ou a R$ 2,00”, disse.
Além disso, o setor acompanha ansiosamente as discussões sobre o preço da eletricidade, insumo que representa 45% do seu custo total de produção. O governo federal fala abertamente sobre a necessidade de reduzir o preço da eletricidade, mas as medidas anunciadas nem sempre são as mais adequadas. “O peso dos encargos na conta de eletricidade chega a 50%, é preciso reduzi-los, não adianta mexer no ICMS, que é repassado para as etapas seguintes”, defendeu Vale. O setor espera que a renovação das concessões venha a resultar na redução de preços da energia.

Ao mesmo tempo, o setor se esforça para aumentar a eficiência de conversão. Atualmente, o consumo específico de eletricidade é de 3,19 MWh por tonelada de cloro produzida. “Em 2001, usávamos 3,38 MWh por tonelada, ou seja, ficamos mais eficientes”, avaliou Vale. Cada tonelada de cloro também consome, em média, 1,64 t de sal e 505 kg de água para ser produzida.
Outro fator importante no custo é o preço do gás natural, hoje seis vezes mais caro no Brasil que nos Estados Unidos. “Fala-se em um novo aumento de 22% no preço do gás natural, mas já tivemos aumento neste ano, isso tira toda a competitividade da indústria nacional”, criticou. Gás caro afeta os custos de quem usa o produto como fonte energética, mas também desestimula outros investimentos produtivos nas cadeias químicas e petroquímicas, nas quais ele entra como insumo.
Outro item pesado na estrutura de custos do setor está nas operações logísticas. Embora o cloro seja geralmente consumido no local de produção ou nas suas imediações, há a necessidade de transportar seus derivados líquidos e também a soda cáustica. É preciso considerar também a condução do sal (de salgema ou marinho) para as fábricas. “O Brasil tem estradas precárias, portos ineficientes e caros, e ferrovias inexistentes; faltam modais alternativos”, lamentou.
Apesar disso, o presidente da Abiclor se declara um otimista moderado. “Temos muitas oportunidades de crescimento, pois o Brasil exporta alumínio e celulose, entre outros itens, mas é preciso ver como o mercado internacional vai se comportar”, comentou.
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