Cerâmica: Nanopartículas permitem fórmulas inovadoras
Pesquisa leva ao desenvolvimento de matérias-primas com propriedades diferenciadas
Quando se fala a palavra cerâmica, a esmagadora maioria dos mortais logo pensa em louças, vasos, artefatos sanitários, itens de decoração e vários outros produtos presentes há séculos no cotidiano dos habitantes dos mais variados cantos do planeta.
Esse material que todos conhecem é originário da argila, matéria-prima encontrada em abundância na natureza.
Bem menos conhecidos, outros tipos de cerâmicas começam a ser a cada dia mais comentados. Desenvolvidas a partir de pesadas somas que começaram a ser investidas no final dos anos 70 pelos países ricos, as chamadas cerâmicas avançadas ou especiais são obtidas em laboratórios, a partir da síntese química de diversas substâncias.
Conforme a sua composição, elas contam com características que as credenciam para funções as mais diversas, tornando-se úteis para diferentes segmentos da economia. Entre as propriedades dessas matérias-primas encontram-se, por exemplo, a elevada resistência mecânica, a possibilidade de agüentar temperaturas altíssimas e o fato de não serem atacadas pela corrosão (veja no quadro abaixo quais são as principais cerâmicas especiais, suas características e em quais funções são mais utilizadas). Tais propriedades estão fazendo com que essas matérias-primas substituam metais, polímeros e outros materiais em dezenas de aplicações.
A expectativa dos especialistas é de que no futuro a utilidade dessas cerâmicas deve se multiplicar. O otimismo deve-se ao avanço da nanotecnologia, ciência voltada para o estudo e manuseio de partículas cujo tamanho gravita na casa dos milionésimos de milímetros. Quanto menores e mais puras as partículas das matérias-primas pesquisadas, maiores são as possibilidades de adequar suas propriedades a aplicações hoje presentes apenas na imaginação dos pesquisadores científicos que se dedicam ao assunto.
Pesquisa – No campo da pesquisa de cerâmicas avançadas, o Brasil encontra-se em boa posição, guardadas as proporções do atual estágio da produção científica brasileira perante as dos países avançados.

“Ao todo, contamos com mais de 50 grupos de estudos instalados em diferentes universidades de Norte a Sul do País. Na década de 80, o Brasil contava com 10 doutores especializados em cerâmicas, hoje temos mais de 300”, revela José Carlos Bressiani, vice-presidente da Associação Brasileira de Cerâmica (Abre) e diretor de pesquisa, desenvolvimento e ensino do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), um dos pólos nacionais de excelência no tema.
Inúmeras são as pesquisas realizadas nas universidades brasileiras. Muitos estudos já estão implantados ou encontram-se em vias de serem aproveitados pela indústria. Outros estão em etapas de desenvolvimento científico e visam o aproveitamento desses materiais em projetos que nos próximos anos podem se tornar muito úteis para diversos segmentos da economia.
É importante ressaltar que o desempenho positivo dos pesquisadores nacionais deve-se mais ao talento do que ao apoio financeiro recebido. A falta de investimentos não resume-se apenas às minguadas verbas destinadas pelas diferentes esferas governamentais à pesquisa científica. A iniciativa privada, que se beneficia de patentes de aplicações desenvolvidas em laboratórios, não tem dado a devida recompensa para as universidades. “Recebemos apenas R$ 180 mil por ano da iniciativa privada para a manutenção de nosso laboratório, que custa em torno de R$ 1,3 milhão por ano.
Se tivéssemos maior apoio, nossas pesquisas poderiam caminhar de forma mais eficiente”, avalia Elson Longo, diretor do Laboratório Interdisplinar de Eletroquímica e Cerâmica (Liec) da Universidade Federal de São Carlos (Liec/UFSCar) , cujos trabalhos voltados para o desenvolvimento de materiais são respeitados no Brasil e no exterior.