A produção nacional de biodiesel em 2009 chegou a 1,6 bilhão de litros.
Quase um quarto desse volume – ou 454 milhões de litros – foi obtido nas quatro usinas em operação do Rio Grande do Sul. Uma quinta usina está em implantação, e uma sexta, em fase de projeto no estado.
As unidades gaúchas, em média, são projetadas para fabricar 220 milhões de litros por ano. Do ano retrasado para o passado, a matriz nacional do biocombustível cresceu 48,4%.
O topo do ranking por estados ficou assim: RS, com 28,2%; MT, 22,8%; GO, 16,7%; SP, 14,7%.
Esses números fazem parte do levantamento da Maxiquim, consultoria especializada em análise e projeção de cenário e ambiente de negócios da indústria química.
Atualmente, 64 usinas de diesel oleoquímico estão em funcionamento no território brasileiro. O mercado, em 2010, terá um adicional de mais 1 bilhão de litros por conta dos novos projetos que irão processar mais biocombustível com a finalidade de atender à especificação B5, ou seja, com 5% de material graxo transesterificado adicionado ao óleo de refinaria.
Mariana Pacheco Corrêa, engenheira química e responsável pelo setor de análise de fontes renováveis da Maxiquim, considera coberta de êxito a experiência brasileira com o biodiesel. De fato, trata-se de uma medida que teve bons resultados e poderia até demandar outras aplicações. Um hidrocarboneto de origem vegetal já foi testado e aprovado como um excelente componente para solventes e óleos de limpeza, mas é muito caro para competir com os produtos de origem petroquímica.
Mariana aponta como principal gargalo do biodiesel o custo das matérias-primas que equivalem a 80% das despesas. Isso engloba as oleaginosas, o metanol, os catalisadores e outros aditivos que eventualmente podem entrar na mistura para melhorar as propriedades de combustão e conservação do éster.
Mariana entende como acertada a ideia de o governo federal incentivar outros cultivos para que o fabricante de biodiesel não se torne completamente dependente da soja, a oleaginosa escolhida pelos fabricantes como melhor alternativa do momento para suprir suas usinas. Ela considera a saca do grão cara e pondera que somente 20% de seu peso é efetivamente recuperado como óleo.
Mariana recomenda procurar alternativas para a cara soja
“O amendoim, o girassol e o algodão esmagados geram respectivamente 50%, 45% e 40% de óleo.”
Dessa maneira, Mariana complementa que é importante apostar nas diversas culturas que o país poderá desenvolver, como a da canola, do azeite de dendê e do pinhão-manso, além do aproveitamento da gordura animal pós-abate e gorduras pós-consumo (óleos de fritura).
Outras fontes, também objeto de estudo são as microalgas. As universidades próximas ao litoral com estímulo do Cenpes, o centro de pesquisas da Petrobras, estão empenhadas em obter resultados satisfatórios para essa forma de vegetação marinha como matéria-prima do biodiesel.
De acordo com Mariana, a produção de soja do país tem um limite e não será suficiente para a etapa após o B11, com 11% de éster no diesel, prevista para entrar em vigor em 2013. Com isso, o novo combustível integrado à matriz produtiva do país certamente irá estimular pesquisas de inovação e tecnologia tanto de processo quanto em termos de aplicação.
No curto prazo, explica Mariana, a indústria tem como desafio imediato transformar os 10% de glicerina bruta resultantes do processo em substância de grau farmacêutico, a fim de agregar valor ao produto.
A melhoria do produto demandará novos catalisadores, mais caros, que deverão ser incorporados à reação e fará movimentar alguns segmentos da indústria química, pois os 2,6 bilhões de biodiesel previstos para 2010 irão gerar 260 milhões de litros de glicerina bruta como subproduto.
Óleo valorizado – É o que pensam os líderes da produção de biodiesel no Brasil. O diretor-executivo da União Brasileira da Indústria de Biodiesel (Ubrabio), Sérgio Beltrão, afirma que a soja, nos próximos dez anos, será a fonte oleaginosa principal para produzir biodiesel. Segundo ele, todas as pesquisas voltadas para criar alternativas de matéria-prima são incipientes e incapazes de atender às necessidades de escala produtiva, diferente da soja.
Conforme Beltrão, embora a soja seja pobre em óleo, essa substância foi sempre subaproveitada e desvalorizada. O que agregava valor era o farelo resultante do grão esmagado, usado em rações animais.
A alternativa de fornecer óleo para as usinas de biodiesel criou um novo ânimo nos agricultores, principalmente os proprietários de minifúndios do Rio Grande do Sul que estão motivados a operar com soja, pois as usinas pagam bem pela saca do grão. Com relação a uma possível escassez da oleaginosa para atingir a meta B11, em 2013, Beltrão diz que o governo já realiza um estudo para suprir essa demanda.
Atualmente, o Brasil exporta anualmente 30 milhões de toneladas de grão de soja, 50% de toda a produção nacional, a preços baixíssimos. Gradativamente, esse volume será redirecionado para abastecer a indústria de biodiesel. Para Beltrão, os projetos com oleaginosas alternativas só começarão a sair do papel depois de 2020. “Nós não podemos esperar até lá. Queremos produzir”, sentenciou.
Beltrão faz questão de ressaltar que a Ubrabio está alinhada com a política governamental de comercialização do biodiesel, apoiada nos leilões organizados pela Agência Nacional do Petróleo. Embora os leilões do sistema ANP/Petrobras possam parecer uma afronta à economia de livre mercado, segundo Beltrão, atualmente, não existe outra alternativa de repasse do biodiesel, pois, no curto prazo, somente as agências do governo têm condições de aferir a qualidade do combustível.
Neste momento existe espaço para a prática criminosa de vender diesel fóssil a 100% e colocar na nota que tem biodiesel na mistura, pois somente a ANP tem equipamentos e técnicos devidamente treinados para coibir eventuais delitos. Beltrão entende que a política de comercialização deverá ser aberta a longo prazo, pois a ANP já encomendou pesquisas para desenvolver equipamentos portáteis que possam apontar o teor de biocombustível adicionado ao óleo de refinaria. Por enquanto a ANP mantém inspetores próximos às distribuidoras para atestar a qualidade do biocombustível.
“A conta é simples. Se a Shell trouxer R$ 10 bilhões de diesel de refinaria, terá de comprar R$ 500 milhões para adicionar 5% de biodiesel no produto em 2010. Só que a Shell é uma grande empresa com credibilidade. Mas como fica uma pequena distribuidora no interior do país? Se existe falsificação de combustíveis, mesmo com toda a tecnologia à disposição para a gasolina e o álcool, quem garante que, em pontos mais remotos, não teremos alguém vendendo óleo de refinaria a 100% como se fosse mistura de biodiesel”, questiona Beltrão.
“Os leilões garantem que ninguém sai lesado, nem os fabricantes de biodiesel, nem os distribuidores honestos, nem o consumidor final”, defende o diretor-executivo da Ubrabio.
A ANP divulgou na primeira quinzena de março os resultados do 17º leilão de biodiesel, realizado para abastecer o mercado nos meses de abril, maio e junho. O preço de referência foi de R$ 2,30 e o preço médio ponderado ficou em R$ 2,23/litro Das 33 empresas vencedoras, a Granol, de Goiás, liderou as vendas por unidade com 70 milhões de litros.
A Região Sudeste vendeu 96,5 milhões de litros seguida das Regiões Sul (95,9 milhões de litros), Nordeste (75,0 milhões de litros) e Norte (23,8 milhões de litros), em números aproximados. Nesta etapa, entraram apenas os produtores de biodiesel com atividade dentro da Resolução ANP n° 25 de 2/9/2009. Eles são detentores do Registro Especial da Secretaria da Receita Federal e do Selo “Combustível Social”. Num segundo lote, entraram os produtores sem esse selo. O leilão adotou a modalidade pregão, na forma eletrônica.
O volume aprovado pela diretoria da ANP é suficiente para abastecer o país com a mistura B5 no segundo trimestre deste ano, conforme o previsto. Caso seja necessário, a ANP poderá antecipar a entrega do biodiesel de algumas vendas homologadas em reunião de diretoria, ou utilizar parte dos 80 mil metros cúbicos que sobraram do 1º trimestre de 2010.
A ANP informa que foram excluídas das vendas a Brasil Ecodiesel (BA e MA) e CLV (MT), que tiveram o selo social suspenso pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) por um ano; a Araguassú (MT), por causa de erro no cadastramento; e a Petrobras Biocombustível, unidade de Quixadá-CE, em razão dos recursos de empresas concorrentes. O próximo leilão deverá ocorrer em 90 dias a contar do encerramento do último.