Biodiesel – Governo estuda antecipar metas para reanimar os produtores

Produto da esterificação de ácidos graxos de origem vegetal ou animal com um álcool, geralmente o metílico, o biodiesel caiu nas graças dos investidores e produtores nacionais, a ponto de justificar a antecipação das metas estipuladas na Lei 11.097, de janeiro de 2005. A capacidade produtiva do éster puro (o B100) autorizada pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) supera a marca de 3,8 bilhões de litros anuais, muito mais que os 2,4 bilhões de litros projetados para abastecer o mercado de diesel com 5% de éster incorporado, formando a mistura B5.
Embora as contas de oferta e demanda mostrem um panorama tranquilo, a realidade é menos animadora. Parte das unidades autorizadas pela ANP simplesmente não consegue obter o éster dentro das especificações técnicas oficiais estabelecidas pela mesma agência. Outra parte atinge a qualidade esperada, porém seus indicadores econômicos desaconselham a botar os reatores em operação. Apesar disso, o mercado vem sendo abastecido com a mistura B3 desde junho de 2008, com um consumo médio de 1,5 bilhão de litros de biodiesel puro por ano. A mistura B4 estava prevista para entrar em vigor a partir do segundo semestre deste ano, mas poderá ser antecipada para abril, dependendo de aprovação oficial. Isso representará uma demanda próxima de 1,9 bilhão de litros/ano do B100. Na letra da lei, o prazo máximo para a adoção do B5 estava marcado para 2013, mas poderá ser aplicado na segunda metade de 2010.
A antecipação soa como boa música aos ouvidos dos produtores. No ano passado, segundo a ANP, foram produzidos 1,2 bilhão de litros do éster no país, volume suficiente para fazer do Brasil o terceiro maior produtor – e também consumidor – de biodiesel, sendo superado apenas pela líder Alemanha e pelos Estados Unidos. O volume também evidencia uma ociosidade no parque produtor da ordem de 70%.
Os preços recebidos pelo éster refletem a situação. A comercialização do produto está sendo feita por meio de leilões comandados pela ANP. A agência estipula um teto e os produtores oferecem lances para suprir lotes previamente determinados, vencendo quem pedir o menor preço. O leilão de 27 de fevereiro, por exemplo, comercializou 315 milhões de litros e tinha R$ 2,60/kg (quase R$ 2,36/l) como teto. O preço médio verificado ao final do certame ficou em R$ 2,15/litro, um deságio de 8,72%. Houve críticas à participação da Petrobras Biocombustíveis (PBio), subsidiária integral da Petrobras fundada em 2008 para atuar nas áreas de álcool e biodiesel. Afinal, só há dois compradores nesses leilões: a Petrobras e a Refap S/A (associação entre a estatal e a Repsol YPF).
“Não entramos no primeiro lote e vencemos o seguinte com o preço de R$ 1.815 por tonelada, suficiente para remunerar nosso custo variável, que era a meta deste leilão”, respondeu Alan Kardec Pinto, presidente da PBio. Ele comentou que o leilão estava superofertado. O primeiro lote tinha oferta de mais que o dobro do volume a negociar. O lote vencido pela estatal, de 63 mil m³, quase 20% do total, contava com o quádruplo de éster colocado em disputa.
A PBio conta com três unidades de produção, em Candeias-BA, Quixadá-CE e Montes Claros-MG, com total de capacidade para 115 mil m³ (ou 115 milhões de litros) anuais. Opera também a unidade experimental de Guamaré-RN, para 57 mil t/ano. Quixadá e Montes Claros estão em desengargalamento para elevar o total instalado para 172 milhões de litros durante 2009, chegando a 195 milhões, em 2010. “Precisávamos dessa contratação para manter as unidades funcionando à plena carga para certificar a produção perante o licenciador e também para desengargalar as linhas”, justificou Kardec.

Problema de origem – Algumas dificuldades do setor decorrem do planejamento inicial do Programa Nacional de Produção de Biodiesel. A ideia era obter o éster por meio de um parque descentralizado de pequenas usinas que seriam alimentadas por óleos vegetais extraídos por pequenos produtores rurais e pelo abundante etanol de cana. Seria uma forma de viabilizar economicamente a política federal de assentamentos. Isso também considerava o uso de múltiplas fontes de ácidos graxos, como mamona, dendê e outras oleaginosas. Na prática, não foi o que aconteceu.
“Mais de noventa por cento da produção de biodiesel no Brasil usa a soja”, afirmou o empresário Munir Aboissa, proprietário da Aboissa Óleos Vegetais. Ele empreendeu recentemente uma viagem de sete mil quilômetros pelo Centro-Oeste brasileiro, a principal região produtora de soja e biodiesel, na qual visitou mais de cinquenta fábricas. “Os dez por cento restantes são feitos de algodão, óleo recuperado de cozinhas e sebo animal”, acrescentou. Ele explica a preferência pelo fato de a soja ser o único cultivo capaz de oferecer óleo suficiente para a produção do éster de boa qualidade sem provocar desequilíbrios.
Na atual situação de mercado, o biodiesel é uma alternativa de mercado razoável. “Sem considerar a glicerina, o spread entre o óleo de soja e o biodiesel é razoável, considerando os R$ 2,60 estipulados como teto no leilão da ANP”, calculou. No fim de fevereiro, o óleo de soja bruto em Mato Grosso estava cotado a R$ 1,60 por kg.
Porém, no ano passado, antes da eclosão da crise mundial, as cotações da soja estavam muito altas e inviabilizaram o éster, situação agravada pela escassez e alto custo do metanol. Segundo Aboissa, quem entrou nos primeiros leilões da ANP pensando em usar óleo de soja barato, não conseguiu entregar os volumes contratados e ficou inabilitado para participar dos mais recentes. As outras oleaginosas também tinham preços altos e encontram usos na alimentação humana, como o girassol e o algodão. O óleo de mamona, inicialmente tido como o ideal para o biodiesel, embora não seja comestível, é produto nobre, com vastas aplicações químicas. “Dos óleos vegetais, o de mamona é o mais caro no mercado mundial”, disse.
A glicerina, a princípio trombeteada como renda adicional para os produtores, revelou-se pouco atraente. “A glicerina bruta valia mil dólares a tonelada, mas atualmente não passa de US$ 130/t FOB Santos-SP”, comentou. A bidestilada caiu de R$ 4,50/kg para R$ 1,00/kg. “Isso não paga nem o frete de Mato Grosso para São Paulo”, calculou. Em peso, a glicerina é produzida na razão de 1:10 em relação ao éster. Com preço aviltado, alguns produtores estão queimando o coproduto em suas caldeiras.
Aboissa aposta na soja como matéria-prima principal para o biodiesel por longos anos. Ele comentou que 92% da disponibilidade de óleos e gorduras no país vem da soja. Em valores médios dos últimos anos, da safra de 62 milhões de toneladas de grãos, a metade é esmagada no próprio país, ofertando óleo e farelo, este usado na alimentação animal. “A capacidade nacional de esmagamento chega a 50 milhões de t/ano, mas tornou-se ociosa desde a Lei Kandir, que favoreceu a exportação de grãos sem apoiar a agregação de valor local”, criticou.
Das 31 milhões de toneladas esmagadas em média por ano, cerca de 20% são extraídas como óleo, ou 6 milhões de t. A metade disso é consumida no Brasil na forma de alimentos. “Perto de 3 milhões de t/ano de óleo são usadas industrialmente ou exportadas, isso é mais do que suficiente para fazer todo o B5 sem tirar comida de nenhum brasileiro”, afirmou. Se for preciso, basta reduzir a exportação de grãos e ampliar a ocupação das esmagadoras locais.
Aboissa comentou que, enquanto a soja registrava picos de preços no ano passado, os produtores de biodiesel passaram a disputar o sebo animal com as saboarias. “Não há alternativas graxas para a fabricação de sabão”, explicou. “Os saboeiros puxaram o preço do sebo para cima, desestimulando o uso na produção do éster, situação já revertida.”
A cadeia produtiva da soja está muito bem estruturada no Brasil, país onde se encontram alguns dos maiores produtores mundiais do grão. Há muitos anos esse ramo do agronegócio acompanha as tendências mundiais de preços, sabe negociar e planejar as safras futuras. “Os produtores são arrojados e o parque industrial reúne os maiores players globais”, comentou. Alguns deles já entraram na produção de biodiesel.
Alternativas – Outros cultivos podem oferecer vantagens à produção do biodiesel. Embora a soja seja a alternativa mais viável hoje, é preciso salientar que ela não é a mais produtiva. “Um hectare de soja gera 450 kg de óleo, enquanto o pinhão-manso pode dar três vezes mais óleo em extração física sem solvente”, comentou Adam Gutz, coordenador de negócios de óleos especiais da Aboissa. O pinhão-manso ainda não está suficientemente desenvolvido para plantio no Brasil, gerando frutos de maturação desuniforme que impõem alto custo de colheita. O nacionalíssimo dendê, ou óleo de palma, também é mais produtivo que a soja, mas também é usado para fins alimentares e encontra bom valor de mercado.
Gutz revela alguma preocupação com a tecnologia que está sendo aplicada nas unidades de transesterificação. “Há investimentos usando todos os tipos, desde as mais conhecidas marcas internacionais e desenvolvimentos da pesquisa universitária nacional, até instalações caseiras, sem nenhuma comprovação de resultados”, relatou. Geralmente, as do terceiro grupo não atingem as especificações da ANP (Resolução nº 7, de 19 de março de 2008) e sua glicerina exige purificação, acrescendo custos.
A existência de vários tipos de produtores, muitos dos quais sem canais diretos de comercialização, está criando um mercado secundário. “As grandes companhias compram a produção das pequenas que não têm cadastro para entrar nos leilões”, explicou. O mecanismo dos leilões deve acabar até 2011. Depois disso, cada distribuidora de diesel deverá comprar o B100 para fazer a mistura em suas instalações. Por enquanto, essa operação está sendo feita nas refinarias.
Produto da esterificação de ácidos graxos de origem vegetal ou animal com um álcool, geralmente o metílico, o biodiesel caiu nas graças dos investidores e produtores nacionais, a ponto de justificar a antecipação das metas estipuladas na Lei 11.097, de janeiro de 2005. A capacidade produtiva do éster puro (o B100) autorizada pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) supera a marca de 3,8 bilhões de litros anuais, muito mais que os 2,4 bilhões de litros projetados para abastecer o mercado de diesel com 5% de éster incorporado, formando a mistura B5.
Embora as contas de oferta e demanda mostrem um panorama tranquilo, a realidade é menos animadora. Parte das unidades autorizadas pela ANP simplesmente não consegue obter o éster dentro das especificações técnicas oficiais estabelecidas pela mesma agência. Outra parte atinge a qualidade esperada, porém seus indicadores econômicos desaconselham a botar os reatores em operação. Apesar disso, o mercado vem sendo abastecido com a mistura B3 desde junho de 2008, com um consumo médio de 1,5 bilhão de litros de biodiesel puro por ano. A mistura B4 estava prevista para entrar em vigor a partir do segundo semestre deste ano, mas poderá ser antecipada para abril, dependendo de aprovação oficial. Isso representará uma demanda próxima de 1,9 bilhão de litros/ano do B100. Na letra da lei, o prazo máximo para a adoção do B5 estava marcado para 2013, mas poderá ser aplicado na segunda metade de 2010.
A antecipação soa como boa música aos ouvidos dos produtores. No ano passado, segundo a ANP, foram produzidos 1,2 bilhão de litros do éster no país, volume suficiente para fazer do Brasil o terceiro maior produtor – e também consumidor – de biodiesel, sendo superado apenas pela líder Alemanha e pelos Estados Unidos. O volume também evidencia uma ociosidade no parque produtor da ordem de 70%.
Os preços recebidos pelo éster refletem a situação. A comercialização do produto está sendo feita por meio de leilões comandados pela ANP. A agência estipula um teto e os produtores oferecem lances para suprir lotes previamente determinados, vencendo quem pedir o menor preço. O leilão de 27 de fevereiro, por exemplo, comercializou 315 milhões de litros e tinha R$ 2,60/kg (quase R$ 2,36/l) como teto. O preço médio verificado ao final do certame ficou em R$ 2,15/litro, um deságio de 8,72%. Houve críticas à participação da Petrobras Biocombustíveis (PBio), subsidiária integral da Petrobras fundada em 2008 para atuar nas áreas de álcool e biodiesel. Afinal, só há dois compradores nesses leilões: a Petrobras e a Refap S/A (associação entre a estatal e a Repsol YPF).

“Não entramos no primeiro lote e vencemos o seguinte com o preço de R$ 1.815 por tonelada, suficiente para remunerar nosso custo variável, que era a meta deste leilão”, respondeu Alan Kardec Pinto, presidente da PBio. Ele comentou que o leilão estava superofertado. O primeiro lote tinha oferta de mais que o dobro do volume a negociar. O lote vencido pela estatal, de 63 mil m³, quase 20% do total, contava com o quádruplo de éster colocado em disputa.
A PBio conta com três unidades de produção, em Candeias-BA, Quixadá-CE e Montes Claros-MG, com total de capacidade para 115 mil m³ (ou 115 milhões de litros) anuais. Opera também a unidade experimental de Guamaré-RN, para 57 mil t/ano. Quixadá e Montes Claros estão em desengargalamento para elevar o total instalado para 172 milhões de litros durante 2009, chegando a 195 milhões, em 2010. “Precisávamos dessa contratação para manter as unidades funcionando à plena carga para certificar a produção perante o licenciador e também para desengargalar as linhas”, justificou Kardec.
Problema de origem – Algumas dificuldades do setor decorrem do planejamento inicial do Programa Nacional de Produção de Biodiesel. A ideia era obter o éster por meio de um parque descentralizado de pequenas usinas que seriam alimentadas por óleos vegetais extraídos por pequenos produtores rurais e pelo abundante etanol de cana. Seria uma forma de viabilizar economicamente a política federal de assentamentos. Isso também considerava o uso de múltiplas fontes de ácidos graxos, como mamona, dendê e outras oleaginosas. Na prática, não foi o que aconteceu.
“Mais de noventa por cento da produção de biodiesel no Brasil usa a soja”, afirmou o empresário Munir Aboissa, proprietário da Aboissa Óleos Vegetais. Ele empreendeu recentemente uma viagem de sete mil quilômetros pelo Centro-Oeste brasileiro, a principal região produtora de soja e biodiesel, na qual visitou mais de cinquenta fábricas. “Os dez por cento restantes são feitos de algodão, óleo recuperado de cozinhas e sebo animal”, acrescentou. Ele explica a preferência pelo fato de a soja ser o único cultivo capaz de oferecer óleo suficiente para a produção do éster de boa qualidade sem provocar desequilíbrios.
Na atual situação de mercado, o biodiesel é uma alternativa de mercado razoável. “Sem considerar a glicerina, o spread entre o óleo de soja e o biodiesel é razoável, considerando os R$ 2,60 estipulados como teto no leilão da ANP”, calculou. No fim de fevereiro, o óleo de soja bruto em Mato Grosso estava cotado a R$ 1,60 por kg.
Porém, no ano passado, antes da eclosão da crise mundial, as cotações da soja estavam muito altas e inviabilizaram o éster, situação agravada pela escassez e alto custo do metanol. Segundo Aboissa, quem entrou nos primeiros leilões da ANP pensando em usar óleo de soja barato, não conseguiu entregar os volumes contratados e ficou inabilitado para participar dos mais recentes. As outras oleaginosas também tinham preços altos e encontram usos na alimentação humana, como o girassol e o algodão. O óleo de mamona, inicialmente tido como o ideal para o biodiesel, embora não seja comestível, é produto nobre, com vastas aplicações químicas. “Dos óleos vegetais, o de mamona é o mais caro no mercado mundial”, disse.
A glicerina, a princípio trombeteada como renda adicional para os produtores, revelou-se pouco atraente. “A glicerina bruta valia mil dólares a tonelada, mas atualmente não passa de US$ 130/t FOB Santos-SP”, comentou. A bidestilada caiu de R$ 4,50/kg para R$ 1,00/kg. “Isso não paga nem o frete de Mato Grosso para São Paulo”, calculou. Em peso, a glicerina é produzida na razão de 1:10 em relação ao éster. Com preço aviltado, alguns produtores estão queimando o coproduto em suas caldeiras.
Aboissa aposta na soja como matéria-prima principal para o biodiesel por longos anos. Ele comentou que 92% da disponibilidade de óleos e gorduras no país vem da soja. Em valores médios dos últimos anos, da safra de 62 milhões de toneladas de grãos, a metade é esmagada no próprio país, ofertando óleo e farelo, este usado na alimentação animal. “A capacidade nacional de esmagamento chega a 50 milhões de t/ano, mas tornou-se ociosa desde a Lei Kandir, que favoreceu a exportação de grãos sem apoiar a agregação de valor local”, criticou.
Das 31 milhões de toneladas esmagadas em média por ano, cerca de 20% são extraídas como óleo, ou 6 milhões de t. A metade disso é consumida no Brasil na forma de alimentos. “Perto de 3 milhões de t/ano de óleo são usadas industrialmente ou exportadas, isso é mais do que suficiente para fazer todo o B5 sem tirar comida de nenhum brasileiro”, afirmou. Se for preciso, basta reduzir a exportação de grãos e ampliar a ocupação das esmagadoras locais.
Aboissa comentou que, enquanto a soja registrava picos de preços no ano passado, os produtores de biodiesel passaram a disputar o sebo animal com as saboarias. “Não há alternativas graxas para a fabricação de sabão”, explicou. “Os saboeiros puxaram o preço do sebo para cima, desestimulando o uso na produção do éster, situação já revertida.”
A cadeia produtiva da soja está muito bem estruturada no Brasil, país onde se encontram alguns dos maiores produtores mundiais do grão. Há muitos anos esse ramo do agronegócio acompanha as tendências mundiais de preços, sabe negociar e planejar as safras futuras. “Os produtores são arrojados e o parque industrial reúne os maiores players globais”, comentou. Alguns deles já entraram na produção de biodiesel.
Alternativas – Outros cultivos podem oferecer vantagens à produção do biodiesel. Embora a soja seja a alternativa mais viável hoje, é preciso salientar que ela não é a mais produtiva. “Um hectare de soja gera 450 kg de óleo, enquanto o pinhão-manso pode dar três vezes mais óleo em extração física sem solvente”, comentou Adam Gutz, coordenador de negócios de óleos especiais da Aboissa. O pinhão-manso ainda não está suficientemente desenvolvido para plantio no Brasil, gerando frutos de maturação desuniforme que impõem alto custo de colheita. O nacionalíssimo dendê, ou óleo de palma, também é mais produtivo que a soja, mas também é usado para fins alimentares e encontra bom valor de mercado.
Gutz revela alguma preocupação com a tecnologia que está sendo aplicada nas unidades de transesterificação. “Há investimentos usando todos os tipos, desde as mais conhecidas marcas internacionais e desenvolvimentos da pesquisa universitária nacional, até instalações caseiras, sem nenhuma comprovação de resultados”, relatou. Geralmente, as do terceiro grupo não atingem as especificações da ANP (Resolução nº 7, de 19 de março de 2008) e sua glicerina exige purificação, acrescendo custos.
A existência de vários tipos de produtores, muitos dos quais sem canais diretos de comercialização, está criando um mercado secundário. “As grandes companhias compram a produção das pequenas que não têm cadastro para entrar nos leilões”, explicou. O mecanismo dos leilões deve acabar até 2011. Depois disso, cada distribuidora de diesel deverá comprar o B100 para fazer a mistura em suas instalações. Por enquanto, essa operação está sendo feita nas refinarias.
Projetos ousados – O uso do biodiesel ajuda o Brasil a reduzir a importação de óleo diesel puro, um problema da matriz nacional de combustíveis. A cada ano, em média, a importação supre entre 5% e 7% da demanda nacional. Esse volume pode ser substituído pelo biodiesel, com vantagens ambientais, a exemplo da redução de fumaça e da emissão de poluentes. Estima-se que os motores atuais possam operar sem problemas com misturas com 20% de éster (B20), já vendidas na Alemanha, por exemplo.
A PBio vai investir US$ 480 milhões entre 2009 e 2013 para deter uma capacidade produtiva total de 858 milhões de litros de B100, dos quais 640 milhões no Brasil, ao final do período. Isso será feito com unidades novas e também pela aquisição de instalações prontas. “Ainda neste ano, a PBio deve comprar duas usinas de biodiesel no país”, informou Kardec. “Estamos avaliando as oportunidades.”
O plano da estatal é alcançar uma posição de 24% no mercado nacional do éster em 2013. As unidades existentes estão ampliando suas capacidades, inclusive a de Guamaré, que tem perfil adequado para desenvolvimento de processos. Kardec comentou que essa usina é pequena, porém abastece o Rio Grande do Norte. Uma usina inteiramente nova será construída na Região Norte, para 115 milhões de litros/ano.
A PBio também conta com uma parceria com a portuguesa Galp para instalar uma fábrica de 318 milhões de litros de biodiesel com uso preferencial de óleo de dendê, a ser instalada até 2013. “A parceria com a Galp é importante por abrir uma porta para o mercado europeu”, comentou Kardec. Na África, a estatal pretende instalar uma usina para 115 milhões de litros.
O uso de plantas alternativas à soja é uma das prioridades da PBio. “A soja e o algodão são as matérias-primas mais usadas, mas a médio prazo teremos um uso maior de dendê, girassol e mamona”, comentou Kardec. O pinhão-manso está em estudos e deve ter seu plantio comercial liberado em 2010.

“O processamento do óleo de soja é muito semelhante ao dos outros óleos, exceto o de mamona”, explicou Alberto Oliveira Fontes Jr., gerente de engenharia da PBio. O óleo de mamona gera um biodiesel muito denso e viscoso, fora das especificações oficiais, impondo a blendagem com outros ésteres. Processar óleo de mamona exigiria equipamentos mais robustos, com mais etapas de lavagem e de separação. Em geral, dependendo de cada tipo de óleo, basta aumentar ou diminuir a dosagem do antioxidante na formulação para evitar problemas.
A PBio comprou tecnologia da Crown Iron (EUA) e usa metanol em todos os processos. “Já conseguimos fazer biodiesel com etanol a título de experiência”, informou. “O metanol é melhor no custo e na eficiência de processo.” Por ser a PBio uma subsidiária da Petrobras, segue as mesmas normas rigorosas de saúde, segurança e meio ambiente, e não tem problemas em manipular e estocar o metanol, produto químico muito tóxico.
Fontes explicou que o metanol é recirculado no processo, depois de retiradas a glicerina, a água e as impurezas. “O consumo mensal desse álcool é muito baixo”, confirmou. Todas as unidades da PBio estão equipadas para limpar o metanol para reaproveitamento posterior. As licenças ambientais, como frisou o gerente de engenharia, exigem contar com estrutura de recuperação do álcool, evitando o lançamento de resíduos perigosos.Cícero Salgado, coordenador da unidade de negócios de etanol da Aboissa, encontrou um quadro diferente no Centro-Oeste. “As grandes indústrias reaproveitam o metanol, as pequenas fazem alguns ciclos e depois precisam pagar por um serviço de recuperação do álcool”, informou. Há um mercado para esse tipo de serviço especializado na região. A Aboissa mantém uma parceria com a Speichim, de Iperó-SP, para eliminar a água e o residual de glicerina do metanol sujo. Isso exige contar com uma unidade de destilação. O álcool assim recuperado pode ser revendido para a produção de biodiesel, sem problemas.
No ano passado, com o preço do petróleo e do gás natural em forte alta, associado à pujante economia mundial, o metanol passou por um período de escassez e de elevação de preços. A situação teria sido ideal para impulsionar a entrada em cena do etanol, o que não ocorreu. “Para fazer uma tonelada de B100, é preciso usar 140 litros de etanol ou 103 litros de metanol, uma diferença considerável”, explicou. A rota metílica também é cerca de 10% mais eficiente, a reação é mais rápida e a separação da glicerina mais simples.
A Aboissa também oferece aos interessados instalações completas para produzir o éster metílico de ácidos graxos fabricadas pela Gianazza Engineering, da Itália. A empresa possui muitas instalações em operação na Europa. “Estamos querendo instalar uma no Brasil para servir de vitrine, mas a dificuldade é a importação de todos os equipamentos, que ficou cara com o dólar acima de R$ 2,00”, avaliou Salgado.
Contar com tecnologia experimentada e aprovada evita dissabores com produtos fora das especificações da norma. “Começamos a vender o biodiesel em 2007, quando ainda não existia o padrão da ANP”, comentou Fontes. Ele saudou a instituição da norma oficial, muito parecida com a dos EUA e da Europa. “É possível exportar o éster com as especificações da ANP para esses destinos”, informou, embora reconheça que ainda há parâmetros que devam ser melhor estudados para uma perfeita harmonização com as exigências internacionais. Com a normalização, ele prevê que todos os produtores se adaptem tecnologicamente. No caso da PBio, a tecnologia exige o uso de catalisador metilato de sódio, fornecido pela Evonik. Em termos de escala, o gerente de engenharia salienta que a escala ótima para esse tipo de planta é sempre superior a 100 mil t/ano.
O uso do biodiesel ajuda o Brasil a reduzir a importação de óleo diesel puro, um problema da matriz nacional de combustíveis. A cada ano, em média, a importação supre entre 5% e 7% da demanda nacional. Esse volume pode ser substituído pelo biodiesel, com vantagens ambientais, a exemplo da redução de fumaça e da emissão de poluentes. Estima-se que os motores atuais possam operar sem problemas com misturas com 20% de éster (B20), já vendidas na Alemanha, por exemplo.
A PBio vai investir US$ 480 milhões entre 2009 e 2013 para deter uma capacidade produtiva total de 858 milhões de litros de B100, dos quais 640 milhões no Brasil, ao final do período. Isso será feito com unidades novas e também pela aquisição de instalações prontas. “Ainda neste ano, a PBio deve comprar duas usinas de biodiesel no país”, informou Kardec. “Estamos avaliando as oportunidades.”
O plano da estatal é alcançar uma posição de 24% no mercado nacional do éster em 2013. As unidades existentes estão ampliando suas capacidades, inclusive a de Guamaré, que tem perfil adequado para desenvolvimento de processos. Kardec comentou que essa usina é pequena, porém abastece o Rio Grande do Norte. Uma usina inteiramente nova será construída na Região Norte, para 115 milhões de litros/ano.
A PBio também conta com uma parceria com a portuguesa Galp para instalar uma fábrica de 318 milhões de litros de biodiesel com uso preferencial de óleo de dendê, a ser instalada até 2013. “A parceria com a Galp é importante por abrir uma porta para o mercado europeu”, comentou Kardec. Na África, a estatal pretende instalar uma usina para 115 milhões de litros.
O uso de plantas alternativas à soja é uma das prioridades da PBio. “A soja e o algodão são as matérias-primas mais usadas, mas a médio prazo teremos um uso maior de dendê, girassol e mamona”, comentou Kardec. O pinhão-manso está em estudos e deve ter seu plantio comercial liberado em 2010.
“O processamento do óleo de soja é muito semelhante ao dos outros óleos, exceto o de mamona”, explicou Alberto Oliveira Fontes Jr., gerente de engenharia da PBio. O óleo de mamona gera um biodiesel muito denso e viscoso, fora das especificações oficiais, impondo a blendagem com outros ésteres. Processar óleo de mamona exigiria equipamentos mais robustos, com mais etapas de lavagem e de separação. Em geral, dependendo de cada tipo de óleo, basta aumentar ou diminuir a dosagem do antioxidante na formulação para evitar problemas.
A PBio comprou tecnologia da Crown Iron (EUA) e usa metanol em todos os processos. “Já conseguimos fazer biodiesel com etanol a título de experiência”, informou. “O metanol é melhor no custo e na eficiência de processo.” Por ser a PBio uma subsidiária da Petrobras, segue as mesmas normas rigorosas de saúde, segurança e meio ambiente, e não tem problemas em manipular e estocar o metanol, produto químico muito tóxico.
Fontes explicou que o metanol é recirculado no processo, depois de retiradas a glicerina, a água e as impurezas. “O consumo mensal desse álcool é muito baixo”, confirmou. Todas as unidades da PBio estão equipadas para limpar o metanol para reaproveitamento posterior. As licenças ambientais, como frisou o gerente de engenharia, exigem contar com estrutura de recuperação do álcool, evitando o lançamento de resíduos perigosos.
Cícero Salgado, coordenador da unidade de negócios de etanol da Aboissa, encontrou um quadro diferente no Centro-Oeste. “As grandes indústrias reaproveitam o metanol, as pequenas fazem alguns ciclos e depois precisam pagar por um serviço de recuperação do álcool”, informou. Há um mercado para esse tipo de serviço especializado na região. A Aboissa mantém uma parceria com a Speichim, de Iperó-SP, para eliminar a água e o residual de glicerina do metanol sujo. Isso exige contar com uma unidade de destilação. O álcool assim recuperado pode ser revendido para a produção de biodiesel, sem problemas.
No ano passado, com o preço do petróleo e do gás natural em forte alta, associado à pujante economia mundial, o metanol passou por um período de escassez e de elevação de preços. A situação teria sido ideal para impulsionar a entrada em cena do etanol, o que não ocorreu. “Para fazer uma tonelada de B100, é preciso usar 140 litros de etanol ou 103 litros de metanol, uma diferença considerável”, explicou. A rota metílica também é cerca de 10% mais eficiente, a reação é mais rápida e a separação da glicerina mais simples.
A Aboissa também oferece aos interessados instalações completas para produzir o éster metílico de ácidos graxos fabricadas pela Gianazza Engineering, da Itália. A empresa possui muitas instalações em operação na Europa. “Estamos querendo instalar uma no Brasil para servir de vitrine, mas a dificuldade é a importação de todos os equipamentos, que ficou cara com o dólar acima de R$ 2,00”, avaliou Salgado.
Contar com tecnologia experimentada e aprovada evita dissabores com produtos fora das especificações da norma. “Começamos a vender o biodiesel em 2007, quando ainda não existia o padrão da ANP”, comentou Fontes. Ele saudou a instituição da norma oficial, muito parecida com a dos EUA e da Europa. “É possível exportar o éster com as especificações da ANP para esses destinos”, informou, embora reconheça que ainda há parâmetros que devam ser melhor estudados para uma perfeita harmonização com as exigências internacionais. Com a normalização, ele prevê que todos os produtores se adaptem tecnologicamente. No caso da PBio, a tecnologia exige o uso de catalisador metilato de sódio, fornecido pela Evonik. Em termos de escala, o gerente de engenharia salienta que a escala ótima para esse tipo de planta é sempre superior a 100 mil t/ano.