Biocombustível – Europa quer obter etanol do lixo
Enquanto a Enel, uma das maiores fornecedoras europeias de energia elétrica, anuncia em Veneza a construção da primeira central elétrica movida a hidrogênio no mundo, a empresa britânica Ineos Bio anuncia que acaba de desenvolver uma tecnologia capaz de obter significativa quantidade de bioetanol obtido de resíduos agrícolas, bem como do lixo orgânico descartado pela população das grandes metrópoles. Trata-se de um projeto que já está suscitando o interesse dos fabricantes de automóveis europeus. Atentas às crescentes pressões ambientais e a um novo perfil de consumidor, as montadoras do Velho Continente apostam em uma futura frota de veículos com reduzidas emissões de CO2.
Há cerca de um ano, Stavros Dimas, comissário europeu para o ambiente, sugeriu uma medida que previa um teto máximo de emissão de gás carbônico para as frotas automobilísticas: uma média de 120 gramas por quilômetro. Na cidade de Londres, outra decisão drástica foi a instituição de um pedágio cotidiano, no valor de 25 libras esterlinas, e obrigatório para os veículos que superam a emissão de 225 gr/km de CO2. Assim, é fácil entender por que a prioridade das montadoras é a diversificação das tecnologias.
Para superar esses obstáculos, uma montadora japonesa desenvolveu um veículo movido com uma bateria elétrica de hidrogênio; uma solução que não libera dióxido de carbono, mas que por causa do seu alto custo, somado à dificuldade de encontrar postos para o abastecimento de hidrogênio, ainda não atraiu a atenção da maioria dos consumidores.
Por isso, a alternativa estudada pela Ineos – uma das três maiores empresas químicas do mundo – entusiasmou segmentos automobilísticos, ambientalistas e outras instituições europeias. Os testes realizados pela empresa no laboratório de bioquímica de Fayetteville, no estado de Arkansas, nos Estados Unidos, demonstraram significativos progressos e resultados auspiciosos. A tecnologia desenvolvida pela empresa britânica é capaz de gerar 400 litros de bioetanol obtido de uma tonelada de resíduos.
Dan Coody, prefeito da cidade de Fayetteville acolheu positivamente a novidade, declarando que “orgulha-se por esta tecnologia ter sido desenvolvida em território americano, pois o bioetanol de segunda geração ajudará a administração da cidade a reduzir os seus aterros e, ao mesmo tempo, a minimizar o impacto de suas emissões de gás carbônico”.

O procedimento adotado pela indústria é relativamente simples. Em sua fase inicial, prevê o incineramento do lixo em temperaturas muito elevadas, transformando os resíduos em estado gasoso. Depois de resfriados, os gases obtidos com este procedimento, como o hidrogênio e o monóxido de carbono, servem de alimento para bactérias naturais que produzem bioetanol bruto que, posteriormente, será refinado e poderá ser utilizado isoladamente ou combinado com outros combustíveis veiculares.
Além de garantir uma redução de 90% nas emissões de gás expelida pelos escapamentos, outra vantagem do bioetanol obtido de resíduos orgânicos é o seu baixo impacto ético e ambiental, já que constitui um aliado importante do processo de reciclagem do lixo.
Na opinião de Peter Williams, diretor-executivo da Ineos Bio, o principal benefício do bioetanol de segunda geração consiste no fato de este combustível não ser produzido em detrimento da agricultura tradicional. Nos Estados Unidos, por exemplo, estima-se que um quarto da colheita de milho seja destinada ao setor de biocombustíveis. “Agora não será mais necessário escolher entre comida ou combustível”, sublinha Williams.
Segundo os dados divulgados pela empresa, dentro de poucos anos pelo menos 10% da frota de veículos européia será abastecida com bioetanol de segunda geração e estima-se que, até 2010, a produção deste tipo de combustível deverá atingir uma escala industrial.
O projeto da Ineos Bio é reduzir em pelo menos 10% a dependência do petróleo nos países do Velho Continente e da América do Norte, enquanto que a meta estabelecida pela União Européia é, já nos próximos dois anos, abastecer com biocombustíveis pelo menos 5% de sua inteira frota de veículos de transporte rodoviário e aumentar esse percentual para 10% até 2020.
“Esperamos anunciar a inauguração de nossa primeira planta industrial piloto em breve e a nossa grande expectativa é comercializar o bioetanol de segunda geração daqui há dois anos”, antecipa o diretor Williams.

Outra alternativa ecológica é um veículo de três rodas alimentado com gás natural. Chamado “Clever” (Compact Low Emission Vehicle for Urban Transport) e projetado pelos engenheiros da universidade de Bath, na Inglaterra, o carro emite somente 60 gramas de bióxido de carbôno a cada quilômetro, enquanto que um carro tradicional movido a gasolina produz cerca de 400 para percorrer a mesma distância. O preço médio do veículo é de 10 mil euros. Entre as principais montadoras européias, a Fiat acaba de lançar o modelo Fiat 500 Pur – O2 com a tecnologia stop & start, ou seja, um sistema que bloqueia automaticamente o motor do automóvel durante uma parada e o ativa novamente quando o motorista engata uma marcha ou solta o pedal do freio.