Biocidas conjugam proteção às tintas e ao meio ambiente – Abrafati 2019
O mercado de biocidas para tintas tenta alcançar um equilíbrio entre dois grandes problemas que se entrelaçam. O primeiro são as exigências para limitar o uso da clorometil metil-isotiazolinona (CMIT/MIT), insumo que domina a maioria das formulações do mercado. O seu substituto imediato seria a butil-isotiazolinona (BIT), inclusive com vantagens tecnológicas. Ocorre que a explosão ocorrida em 2018 em uma grande fábrica de intermediários químicos na China reduziu a oferta mundial da BIT, cujos preços dispararam, embora tenham começado a recuar a partir do segundo trimestre de 2019. O desafio atual, portanto, é garantir aos clientes produtos eficazes e seguros, mas que tenham custos adequados à situação do mercado de tintas.
“As tintas decorativas no Brasil usam muito CMIT/MIT, que é barato e eficiente”, comentou Luiz Wilson Pereira Leite, diretor de marketing e de negócios internacionais da Ipel, que fabrica esses insumos no Brasil e na China. “Percebemos que, embora não existam restrições regulatórias sobre isso no país, alguns clientes estão reduzindo o uso de CMIT/MIT por iniciativa própria, motivando a buscar soluções.” A Ipel oferece alternativas, além da BIT, cujos preços ainda estão elevados, mas, como admite o diretor, são produtos mais caros que a CMIT/MIT. “O mercado não paga, o preço dos biocidas está abaixo do praticado pelas resinas.”
No entanto, produtos de nicho, como tintas para dormitório de crianças e para clínicas, aceitam bem biocidas mais sofisticados, alguns encapsulados, sem problemas. “Nos produtos premium, a diferenciação e a garantia qualidade falam mais alto”, disse Pereira Leite.
“O Brasil precisa instruir seu povo para que se desenvolva uma demanda mais qualificada por tudo, inclusive pelas tintas”, observou Ridnei Brenna, diretor-gerente da Thor Brasil. Como o consumidor não exige grande durabilidade do filme seco, as indústrias aplicam poucos biocidas nas formulações, em comparação com os fabricantes europeus, por exemplo. “No caso da proteção ao filme seco, indicamos nossos produtos encapsulados AMME, cuja dosagem na Europa é de 2%; aqui no Brasil, formuladores usam doses de 0,3%, como uma parte já é liberada no momento da pintura, o residual é zero, ou seja, o filme não ficará protegido”, criticou.

Ele aponta que todos os fabricantes de tintas econômicas recebem uma dose de fungicidas, quase sempre muito baixa. Mas só as tintas standard ou premium recebem fungicidas e algicidas, em dosagem um pouco melhor, mas ainda baixa. “Percebemos que o comprador de tintas decorativas imobiliárias procura preço e está pouco preocupado com a proteção do patrimônio que as tintas podem proporcionar”, disse.
Brenna apontou que os clientes buscam por inovações que reduzam custos, especialmente na parte logística. Isso motivou a Thor a produzir formulações biocidas muito concentradas, reduzindo os gastos com embalagem, transporte e armazenamento. As formulações vendidas no país passaram por um processo de tropicalização, adequando-se melhor ao mercado. “Temos 62 formulações LPB, desenvolvidas no Brasil com apoio da matriz, usando os ingredientes ativos, em sua maioria, da própria Thor, que mantém produção integrada”, explicou.
Da mesma forma, o estabelecimento de uma rede de distribuidores químicos para essas formulações também impulsionou a presença regional da companhia. “A distribuição é efetiva aqui e em sete países da região, sempre por meio de empresas estabelecidas, com pessoal técnico qualificado e estruturas de pós-venda, com elevados índices de segurança”, informou Brenna. O distribuidor recebe formulações prontas e as entrega aos clientes, mediante acompanhamento, sem fracionar ou alterar o produto.
A questão do uso da CMIT/MIT é vista com tranquilidade por ele. “Lá fora, os produtos usados como biocidas são os mesmos que vendemos por aqui, não há grandes problemas com isso”, disse. Caso se queira deixar de lado a CMIT/MIT, a Thor pode oferecer soluções alternativas, como a BIT, em mesclas com outros ativos ou isoladamente, a BIT/MIT, mistura com alta sinergia, que pode ser incrementada com bronopol e liberadores de formol.
“Na Europa e nos Estados Unidos são muito usadas as misturas de MIT com piritionatos”, comentou. Ele destacou uma tecnologia exclusiva da Thor de obtenção de cloro-isotiazolinona, a CIT, com processo produtivo que prevê a aplicação de um terminador de reação, impedindo a formação de MIT. “A CIT pode ir direto para a lata, sem mistura com outros bactericidas e sem a necessidade de rotulagem específica, é um produto de vanguarda na Europa”, comentou.A tecnologia dos biocidas vai muito além das sínteses, exigindo muito cuidado para estabilizar as formulações nas tintas, sem interferências com o desempenho das resinas e aditivos. “Há segredos industriais em cada etapa”, afirmou Adriana Batista, gerente de vendas da Thor Brasil.
Karina Zanetti, especialista técnica da Miracema-Nuodex, aponta mudanças no mercado de biocidas para tintas. “Houve um período de forte commoditização, com evidente orientação a preços, porém os clientes perceberam que isso é ruim, eles ficaram vulneráveis ao ataque de micróbios, agora a demanda voltou a ficar mais técnica, mais focada em resultados”, afirmou.
Como a indústria brasileira de tintas de base água opera com o uso intensivo de slurries, diferente do que ocorre em outros países, a possibilidade de contaminações microbiológicas é mais elevada e inspira cuidados intensivos. “Por isso, a sanitização das linhas de produção é fundamental, um serviço que oferecemos aos clientes”, comentou. “Se houver biofilme instalado nas linhas, não há biocida que funcione depois.”
A Miracema-Nuodex associou DBNPA, CMIT/MIT e liberadores de formol (dimetilol-ureia) em uma formulação que tem aplicação sanitizante e conservante in can.
Karina observa que o crescente uso de embalagens plásticas para tintas precisa ser acompanhado de cuidados com os bactericidas. “O balde plástico não veda tanto quanto a lata, há trocas de ar no headspace, isso inviabiliza o uso de biocidas voláteis”, explicou. O blend oferecido pela Miracema-Nuodex fica ativo na tinta e não no headspace.
A companhia internacional de origem suíça Lonza está em reestruturação. No primeiro semestre deste ano, separou as divisões farmacêutica e de produtos industriais, que passaram a operar de forma independente. No Brasil e na Argentina, as áreas internas da companhia estão sendo revisadas, com novas atribuições para a equipe remanescente, como explicou Alessandro Machado, gerente comercial para a América do Sul de produtos industriais.
A Lonza sempre deu prioridade a um trabalho mais profundo com seus clientes, na linha de assumir toda a responsabilidade pela proteção microbiológica, desde a seleção e análise de matérias-primas, avaliação de processos produtivos, desinfecção e conservação da tinta e do filme seco. “Nós nos propomos a garantir a qualidade e o desempenho das tintas, indo além das normas, com um custo-benefício adequado, obviamente mediante contrato que estabeleça remuneração por critérios objetivos”, explicou. Há várias formas de estabelecer essa remuneração, todas negociáveis entre as partes. “Os velhos BIDs são a pior opção para quem quer oferecer um serviço melhor, o sistema está sendo melhorado, com a exigência de outros aspectos além do preço do biocida”, afirmou. “Quem optou apenas por preço quebrou a cara.”
Machado comentou que a demanda pela BIT cresceu com algumas restrições à CMIT/MIT e também pela alcalinização das formulações das tintas base água. “A BIT funciona bem em pHs altos, ao contrário da CMIT/MIT”, explicou. A restrição de oferta global de um intermediário para a fabricação da BIT catapultou seu preço, agora voltando ao patamar usual. A Lonza ofereceu alternativas para seus clientes, aproveitando moléculas próprias, criadas para cosméticos, formando blends. “Esses blends adequados para tintas devem ocupar um espaço no mercado mesmo depois de o preço da BIT voltar ao normal, pois muitos clientes querem ter opções e não depender de apenas uma molécula”, considerou.
Machado informou que há um movimento europeu para produzir tintas sem usar biocidas, o conceito biocide free. “É possível conseguir isso usando insumos de qualidade, em plantas higienizadas e processo GMP, também com ingredientes que tenham também efeito biocida, como o ácido benzóico”, disse Machado. “Isso é uma tendência ou apenas modismo? Ainda é cedo para dizer”.

Como tendência firme, ele apontou o uso de substâncias que exerçam controle biológico sem ser classificadas como biocidas. É o caso de alguns óleos vegetais e ésteres de origem natural. “É preciso avaliar se seu uso em tintas tem viabilidade”, advertiu.
Quando se fala em biocidas, a combinação BIT e piritionatos (estes para filme seco) é dominante nos principais mercados, segundo Machado. “Com a escassez de BIT, os clientes voltaram para CMIT/MIT”, disse. De qualquer forma, com ou sem biocidas, ele acredita que o setor deve fortalecer as atividades de controle microbiológico, aplicando produtos cada vez menos agressivos, sempre na dosagem correta.
A Lanxess opera com biocidas concentrados e formulados, todos fabricados na Alemanha, para atender à demanda de biocidas da indústria de tintas no Brasil. Os concentrados geralmente são vendidos aos distribuidores. “Atuamos mais com CMIT/MIT, bronopol e carbendazim, oferecemos formulações e apoio do nosso laboratório para os clientes”, afirmou Gabriel Morelli, da área de vendas técnicas da divisão de produtos de proteção de materiais. “Se o cliente aceitar, podemos garantir o tratamento completo da operação.”
Morelli apontou aumento na procura pela BIT nos últimos oito meses. “É um insumo fácil de lidar, atinge amplo espectro microbiano e é menos agressivo ao ambiente, sem sofrer restrições regulatórias”, explicou.
A Lanxes tem investido na tecnologia Next, de produtos encapsulados para filme seco. “A perda de ativos por lixiviação ou lavagem é bem menor com os encapsulados”, explicou. “Há nichos que exigem esse tipo de produto aqui no Brasil.”
Ampliando linhas – A novidade da Ipel neste ano foi a introdução de biocidas e repelentes de água para tintas para madeira. “Precisamos abrir novas frentes para crescer, tínhamos as moléculas em casa e agora estamos trabalhando esse novo mercado”, comentou Pereira Leite, da Ipel.
A empresa contratou o especialista Dulcídio Macedo, agora gerente de mercado, que orientou a montagem do laboratório de madeiras na Ipel e ajudou a desenvolver as aplicações. “A madeira é um material diferenciado, sofre com intempéries, insetos e fungos apodrecedores que precisam ser controlados”, disse Macedo. Usualmente, as tintas para madeira usam o fungicida IBPC e o inseticida cipermetrina, formulação bem estabelecida. “Quando bem formulada e estabilizada, a diclorooctil-isotiazolinona (DCOIT) tem efeito superior contra fungos e insetos”, salientou. Trata-se de insumo inovador, apresentado nos Estados Unidos como sendo seguro e de baixa toxicidade. “Lançamos também um hidrorrepelente que mantém a superfície limpa e tem um efeito fosqueante”, disse o especialista.
Esses ingredientes podem ser fabricados no Brasil, segundo Pereira Leite, bem como o IPBC estabilizado e a cipermetrina. “A cipermetrina é quase uma commodity, talvez seja melhor importá-la, mas o IPBC é especialidade, caso haja volume que justifique, produziremos aqui”, disse o diretor.
Além das moléculas para madeira, a Ipel também está atuando na venda de aditivos bactericidas e antioxidantes para biodiesel, um mercado crescente no Brasil. “São desenvolvimentos locais que estão sendo exportados para a Europa e América Latina, por exemplo”, comentou.
Tradicional fornecedora de secantes para tintas, a Miracema-Nuodex recuperou a posição de mercado nesses insumos. “Passamos a vender blends de secantes feitos sob medida para os clientes, obtendo excelentes resultados sem aumentar custos”, salientou a especialista Karina Zanetti. Durante a feira, a companhia divulgou o novo secante combinado (combo), com o intuito de reduzir o uso de cobalto na composição. “O cobalto ficou muito caro, é importante reduzir seu consumo”, explicou Karina.
A empresa também lançou o aditivo alcalinizante Liocoat 949, com um sal de boro na composição que se precipita no filme, melhorando a lavabilidade sem a adição de melhoradores. Ele também apresenta efeito espessante.
Indicado para tintas base água de vários sistemas, a Miracema-Nuodex oferece um novo antiespumante concentrado de base vegetal, o Liofoam 159, que apresenta tamanho reduzido de partículas, de modo a ampliar a área de contato.