Bicarbonato de Sódio: Produto Tradicional tem Mercados para Avançar e Ampliar a Produção de Forma Sustentável

Indústria Investe para Ampliar Produção de Forma Sustentável

O bicarbonato de sódio possui as características clássicas de uma commodity: movimenta grandes volumes e tem baixo valor. Além disso, versátil, o insumo transita por diversos setores da indústria. Mas, nem por isso, trata-se de um mercado insosso e de pífios investimentos. Cada vez mais, os fabricantes têm se aperfeiçoado no desenvolvimento de processos produtivos mais sustentáveis e inovadores.

O mercado nacional conta com uma ampla rede de importadores e distribuidores, e dois grandes fabricantes: a Carbonor e a Totalmix. Juntas, as duas companhias têm capacidade produtiva de cerca 160 mil toneladas por ano.

No entanto, em 2020, a demanda ficou aquém desse volume. Segundo dados de Fernando Caribé, diretor-comercial da Carbonor, no período, a indústria brasileira consumiu cerca de 120 mil t do insumo – desse total, 20 mil t foram importadas.

Essa é a tradição. O Brasil costuma importar cerca de 20 mil t por ano do insumo, sendo que a maioria vem da Europa (cerca de 80%).

Se depender do desempenho do setor nestes primeiros meses de 2021, este padrão será mantido.

Dados da distribuidora e importadora Atias Química apontam que, de janeiro a maio, já entraram no país 7 mil t do produto. Eugen Atias, CEO da Atias Química, explica que o baixo preço do bicarbonato de sódio faz com que a maior parte das vendas seja realizada diretamente com o fabricante.

“Esse produto é o exemplo claro do que é uma commodity, ou seja, grande volume e baixíssimo valor somado aos seus variados usos e finalidades”, resume Atias.

A demanda mundial do bicarbonato de sódio é de cerca de 5 milhões de toneladas por ano e, segundo Robinson Bertoli, Sourcing and Business Development Brazil, da Manuchar, o volume está em linha com a capacidade instalada da indústria.

Vale aqui dizer que, até a pandemia, operava-se com expectativa de crescimento de consumo da ordem de 2,5% ao ano.

Voltando às importações, a China já chegou a vender muito para o Brasil, porém hoje os números são mais modestos, e vêm despencando. “Os produtos chineses não são bem aceitos no mercado brasileiro”, diz Caribé.

Ele explica que essa recusa tem a ver, por exemplo, com questões como a qualidade, diversidade de fabricantes e o atendimento via trading, sem a garantia de manutenção da marca recebida anteriormente.

Registros de 2016 dão conta de que a indústria nacional consumia um volume médio 850 t a 1,8 mil t por ano do produto chinês. Em 2019, o país asiático chegou a exportar para o Brasil algo em torno de 1,6 mil t.

No entanto, no ano passado, esse volume foi reduzido significativamente, não alcançando a marca de mil toneladas. “Esta queda se deve principalmente ao aumento no custo da logística internacional”, acrescenta Bertoli

Solução Verde: Combinar os Processos de Produção do Bicarbonato de Sódio e do Óxido de Cálcio

Considerada a líder do setor no país, a Carbonor tem capacidade instalada para produzir até 80 mil t/ano do produto.

Em 2020, a companhia inaugurou uma unidade para produção do dióxido de carbono (CO2) e do óxido de cálcio (CaO) e seus derivados (cal virgem, cal hidratado e óxido de cálcio precipitado), a partir da calcinação de calcário.

Fernando Caribé, diretor-comercial da Carbonor sobre Bicarbonato de Sódio - Fabricantes buscam suprir a demanda com processos mais sustentáveis ©QD Foto: Divulgação
Fernando Caribé, diretor-comercial da Carbonor

“Nossa expectativa é ter maior segurança no abastecimento do insumo, redução do custo e maior competitividade para expansão dos negócios”, diz Caribé.

A nova planta, localizada no seu polo industrial de Camaçari-BA, foi projetada para que a produção do bicarbonato de sódio se tornasse mais sustentável e minimizasse os riscos de desabastecimento.

O CO2 é uma das matérias-primas essenciais para a fabricação do insumo, e passou a ser fabricado a partir de fonte não-fóssil, em prol da redução da emissão de poluentes atmosféricos. Antes, o CO2 utilizado era obtido com a queima de combustível fóssil.

A empresa destaca que o caráter inovador da iniciativa está em combinar os processos de produção do bicarbonato de sódio e do óxido de cálcio, de forma a utilizar o CO2 decorrente da obtenção do óxido de cálcio para a fabricação do bicarbonato de sódio.

Com isso, segundo a Carbonor, atinge-se uma redução de 75% no consumo de combustível fóssil na cadeia produtiva do insumo.

Em prol de ações mais sustentáveis, a Totalmix também investiu em processos industriais mais limpos.

Em 2019, a companhia criou uma unidade de liquefação de CO2.

Em fevereiro deste ano, essa planta entrou em operação comercial e assim passou a utilizar o CO2 da fermentação alcoólica, proveniente da produção de etanol de cana de açúcar ou de milho da Cooperativa Agroindustrial Vale do Ivaí (Cooperval).

A fabricante destaca ainda que as unidades de produção de bicarbonatos em São Carlos do Ivaí e a de Jandaia do Sul, ambas do Paraná, possuem o selo de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), um reconhecimento internacional de inovação e sustentabilidade tecnológica.

O bicarbonato de sódio tem características físico-químicas que o colocam na rota da sustentabilidade, o que, de alguma forma, acaba impulsionando a expansão do setor.

Prova disso se viu no ano passado quando entrou em vigor a nova regulamentação da Organização Marítima Internacional (International Maritime Organization), a IMO2020.

A medida apertou o cerco contra a poluição gerada pelo transporte marítimo, estabelecendo um novo limite de emissão de dióxido de enxofre (SO2) no ambiente. “Com isso, temos a expectativa de aumento de consumo nessa aplicação, que também já é utilizada por indústrias e termoelétricas poluidoras”, afirma Caribé.

Segundo ele, com a mudança, passou a se exigir dos armadores uma redução significativa da emissão de gases tóxicos pelos navios, e a lavagem a seco com o bicarbonato de sódio é uma das principais opções para solucionar esse problema.

“A vantagem da utilização dos lavadores a seco em relação aos demais disponíveis no mercado é que ele não gera água residual, ou seja, a produção é mais limpa”, acrescenta Bertoli.

Consumo do Bicarbonato de Sódio por Setor:

  1. Nutrição Animal = 25%
  2. Ramo Alimentício = 21%
  3. Tratamento de Gases = 12%
  4. Indústria Farmacêutica e Cosmética = 8%
  5. Produtos de Limpeza = 8%
  6. Hemodiálise = 6%
  7. Químicos = 5%
  8. Demais Setores = 15%
Gráfico com a Demanda Mundial do Bicarbonato de Sódio por setor: Química e Derivados. Fonte: Manuchar
Demanda Mundial de Bicarbonato de Sódio por setor

Versátil e Multifuncional, o Bicarbonato de Sódio tem como principal mercado consumidor o setor de nutrição animal (rações).

A aplicação responde por 25% da demanda mundial. O ramo alimentício vem logo em seguida, absorvendo 21% do total, enquanto o segmento de tratamento de gases consome 12%.

As indústrias farmacêutica/cosmética e a de produtos de limpeza ficam com 8% cada. Por fim, as categorias de hemodiálise, 6%, e de químicos, 5%, segundo dados da Manuchar.

A grande penetração da substância no segmento de nutrição animal tem explicação.

O produto é fonte dietética de sódio e, por sua composição química não incluir o cloro, permite que se alcance o balanço eletrolítico ideal na formulação de dietas para a melhor produtividade zootécnica.

Entre os ruminantes, contribui para a neutralização do excesso de ácidos formados no interior do rúmen, resultando em melhoria da qualidade do leite e dos demais índices de produtividade.

“Com o uso de bicarbonato de sódio, a acidez do estômago pode ser enfrentada”, afirma Bertoli.

O insumo é amplamente utilizado na alimentação animal e pode ser adicionado alimentação de vacas, ovelhas, cabras, aves e suínos.

No caso dos alimentos e bebidas, ele age como um agente de crescimento. Ao ser submetido a temperaturas superiores a 60ºC, a substância se decompõe, liberando (CO2) e areando a massa, de modo a fazê-la crescer.

Por conta dessa propriedade, o produto é empregado na fabricação de biscoitos, bolos e afins. “O bicarbonato de sódio é um ingrediente essencial para os fermentos em pó, no preparo das pré-misturas e para aumentar a vida útil das farinhas”, diz Bertoli.

Na indústria farmacêutica, o insumo age como antiácido, sendo utilizado em sais de frutas efervescentes, além de ser empregado no tratamento de diálise renal.

Ele também está presente em cremes dentais branqueadores e produtos da categoria de cuidados pessoais, como talcos e desodorantes.

O bicarbonato de sódio pode ser usado ainda para o controle de pH e alcalinidade, no tratamento de água; assim como atua como absorvente dos gases ácidos resultantes das queimas de combustíveis em caldeiras, no tratamento de efluentes.

O insumo pode também ser aplicado à composição de fluidos utilizados em perfurações na indústria do petróleo e gás.

Outra função, agora para a área têxtil, se dá quanto ao tratamento da lã e da seda.

No mesmo segmento, age como agente neutralizador, no branqueamento de tecidos, além de ser um catalisador na produção de poliéster e agente de absorção para estampar tecidos.

O produto também está presente na maioria dos extintores de incêndio secos. “Ele absorve o calor, decompõe-se no gás carbônico (CO2) que interrompe a chama”, explica Bertoli.

Onde Comprar Bicarbonato de Sódio?

Consulte o GuiaQD você encontra uma dezenas de fornecedores:

 

Empresas: O Bicarbonato de Sódio é Centenário e como se nota, muito utilizado em diversos setores industriais.

A Carbonor transita entre todos eles, com destaque para o farmacêutico, pois é a única detentora da tecnologia de produção da substância para hemodiálise na América do Sul.

Além da indústria, a fabricante atende o consumidor final. A empresa lançou o Bicarbon, um produto direcionado ao uso doméstico para higienização de frutas e verduras, limpeza de roupa e louça, entre outras aplicações.

A história da Carbonor tem início em 1983, com a produção do bicarbonato de sódio. Na época, a soda cáustica era utilizada como matéria-prima. Após 14 anos a empresa foi adquirida pela Química Geral do Nordeste, passando a se chamar QGN Carbonor.

Logo em seguida foi adquirida pela gigante mundial Church & Dwight. Em 2000, a QGN comprou a Bicarbon, indústria de bicarbonato de sódio, localizada em Diadema-SP, para nos anos seguintes ser adaptada para operar com barrilha (carbonato de sódio) – matéria-prima utilizada na produção do bicarbonato de sódio –, que atualmente é importada da Turquia.

Em 2017, investidores brasileiros adquiriram a planta, criando-se assim uma nova empresa, agora 100% nacional, e com o nome Carbonor S.A.

A Totalmix, que divide a produção nacional do bicarbonato de sódio com a Carbonor, por sua vez, iniciou sua produção em 2009 no segmento de dry mixes, em especial, de fermento químico. Nove anos depois, adquiriu a unidade fabril de bicarbonatos da Raudi, localizada em São Carlos do Ivaí-PR.

Hoje o seu principal segmento de atuação é no de sais químicos, os bicarbonatos de sódio, de amônio e de potássio. Esses produtos são produzidos com a marca Raudi.

O bicarbonato de sódio é um dos principais produtos comercializados mundialmente pela Manuchar, empresa líder em distribuição, logística e trading de produtos químicos em mercados emergentes.

“Somos reconhecidos pelos nossos fornecedores e clientes pela geração de valor agregado através da otimização de custos logísticos e financeiros, assim como pela confiabilidade e garantia de fornecimento”, pontua Bertoli.

Com um portfólio diversificado, a empresa tem parceria com produtores da Europa, China, Rússia e Brasil.

Ela atende a demanda de mercados diversos como o alimentício, de nutrição animal, tratamento de água, produtos de limpeza, cosméticos, farmacêuticos e tratamentos de gases tóxicos.

Devido à sua importância no portfólio da Manuchar, o bicarbonato de sódio conta com um gerente global integralmente focado no produto.

Essa medida gerou resultados positivos; as vendas do insumo no grupo cresceram 38%. Aliás, os negócios na empresa estão indo bem.

Manuchar: Em relação ao ano passado, a companhia registrou expansão de mais de 100%.

Robinson Bertoli, Sourcing and Business Development Brazil, da Manuchar Química e Derivados - Bicarbonato de Sódio - Fabricantes buscam suprir a demanda com processos mais sustentáveis ©QD Foto: Divulgação
Robinson Bertoli, Sourcing and Business Development Brazil, da Manuchar

“A nossa expectativa é de manter este ritmo de crescimento”, afirma Bertoli.

Vale lembrar que houve mudanças sobre a alíquota do imposto de importação – caiu de 20% para 10% com base na Resolução Camex 125/2016.

Bertoli explica que produto foi excluído da lista de exceções com alíquotas majoradas, conforme a Resolução Gecex (Nº 129, de 24 de dezembro de 2020).

“A redução de imposto de importação acaba contribuindo para os exportadores compensarem parte dos aumentos que estão enfrentando envolvendo a logística internacional”, afirma.

No caso da Atias Química, as vendas, neste ano, apesar de razoavelmente boas, ficaram aquém das expectativas. Atias comenta alguns porquês.

Um deles é a dificuldade para importar, por conta do aumento excessivo dos fretes internacionais.

Outra questão diz respeito à falta de produtos e de embalagens, além da alta dos preços dos insumos e da escassez de containers e navios vindos para América Latina.

Considerando as particularidades do setor, ele acrescenta a esse cenário o fato do produto ser comercializado pelos fabricantes em quantidades que teoricamente deveriam ser atendidas pela distribuição.

A Atias Química abastece o mercado com um pacote de matérias-primas para as linhas food, feed e cosmética, com destaque para a indústria alimentícia, sobretudo nas categorias de doces, bolachas e biscoitos.

A companhia conta com a parceria de fornecedores selecionados e reconhecidos em âmbito mundial, além de ter a seu favor mais de 50 anos de tradição no ramo da importação e distribuição de aditivos, ingredientes e produtos químicos.

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