Atuação responsável: Verificação externa dá novo alento ao programa
Para aumentar a credibilidade do sistema de gestão de saúde, segurança e meio ambiente, um grupo de auditores passará neste ano a verificar se as empresas signatárias estão realmente implementando suas práticas
Este ano promete ser marcante para a história do Atuação Responsável no Brasil. Não só porque o programa comemorou dez anos em abril, mas principalmente por causa da série de mudanças e aperfeiçoamentos que a entidade organizadora, a Abiquim, pretende logo implementar nesse sistema internacional de gestão de saúde, segurança e meio ambiente específico da indústria química.
A modificação mais significativa, e muito próxima de ocorrer, é o início das verificações externas de progresso, um projeto em maturação há algum tempo e fundamental, segundo os especialistas, para melhorar a imagem do programa. Com essa avaliação, um comitê formado por terceiros audita a empresa para atestar se ela implementa com seriedade as 116 práticas contidas nos seis códigos do Atuação Responsável.
Até então a forma de averiguação baseia-se em uma auto-avaliação, na qual as próprias companhias respondem a um questionário, emitido todo o ano pela Abiquim e voltado para sondar o seu nível de engajamento. Essa metodologia é considerada muito parcial pelos críticos do programa.
Em maio começou o treinamento dos envolvidos nas primeiras experiências piloto, a serem realizadas até agosto em unidades da Basf, Akzo Nobel e OPP, empresas voluntárias no projeto. A estruturação do comitê verificador também está praticamente definida pela Abiquim. Será constituído por representantes da associação, por auditores treinados de órgãos certificadores (BVQI e ABS), por técnicos de empresas terceiras e signatárias do programa e, ainda, por membros da comunidade. “Montamos uma estrutura dentro da Abiquim que será responsável pela coordenação e pelos treinamentos dos auditores da verificação”, explicou o gerente técnico da entidade, Marcelo Kós.
Depois das verificações piloto, o plano é até o final do ano tornar o procedimento oficial. Mas isso não significará, num primeiro momento, transformá-lo em algo mandatório, sobretudo porque há muitas empresas na Abiquim ainda não muito desenvolvidas no Atuação Responsável. Outra precaução para o início do processo

é não expor em demasia os resultados das primeiras avaliações. Haverá um cuidado especial em não se alardear um sistema de pontuação a ser criado para dar notas às empresas, qualificando seu envolvimento com o programa. Segundo Marcelo Kós, a intenção é enfatizar mais o relatório final da verificação, uma espécie de resumo do que foi apurado na auditoria.
Rumo ao PNQ – A incipiência do processo de verificação também faz a Abiquim hesitar se vai conceder ou não um certificado de conformidade com o Atuação Responsável, nos moldes dos emitidos pelas normas ISO, por exemplo. Para o gerente da Abiquim, aliás, o Brasil não deve seguir o mesmo caminho a ser adotado em breve pelos Estados Unidos. Isso porque, em meados deste ano, a associação da indústria química norte-americana (ACC) definirá a forma pela qual será concedido um certificado do Responsible Care. Por pressão da indústria automotiva, que exigiu esse procedimento de seus fornecedores químicos, à ACC só resta decidir se o certificado será auferido de forma conjunta com a ISO 14001 ou se terá caráter independente e obrigatório aos associados.
No Brasil, a idéia em gestação, de acordo com Marcelo Kós, é tornar o processo de verificação uma etapa obrigatória para um projeto mais ambicioso em vez de limitá-la a apenas um “diploma” para ser pendurado na parede. Com o propósito definido no último congresso do Atuação Responsável (ver QD-395, pág. 10) de estender os valores do programa para a sustentabilidade empresarial, o plano em cogitação é fazer com que a verificação seja uma ferramenta de gestão para atingir um objetivo maior: a conquista do Prêmio Nacional da Qualidade (PNQ). A verificação seria apenas uma etapa intermediária para preparar a empresa para concorrer ao prêmio.
“Alimento o sonho de que, em três anos, mais da metade dos indicados para o prêmio sejam da indústria química e, indo mais longe, que boa parte dos finalistas e até mesmo o ganhador sejam com mais constância do nosso setor”, afirma Kós. Embora ainda nada esteja definido, cogita-se até mesmo que o relatório final da verificação seja semelhante ao exigido pela Fundação Nacional para o Prêmio da Qualidade (FNPQ) aos pretendentes à conquista do PNQ. Outra possibilidade aventada é fazer com que a verificação (que pode vir a se chamar verificAR) seja antecedida por uma primeira etapa de auditoria de conformidade legal.
A conjunção do Atuação Responsável com o PNQ pode significar alterações no programa para adaptar as práticas às exigências do prêmio. Isso pode fazer os códigos serem resumidos e, mais ainda, correlacionados aos questionários e às premissas do PNQ. “Vamos fazer com que o Atuação forneça os ‘comos’ para conquistar o prêmio, ou seja, torná-lo a sua base conceitual”, explica Marcelo Kós. Aliás, uma troca de experiência com a central petroquímica gaúcha, a Copesul, já agraciada com o PNQ e bastante avançada no programa da Atuação Responsável, pode ser uma prática valiosa no futuro.
Mudança de conceito – O objetivo da Abiquim com relação ao PNQ só deve ser levado adiante de forma mais definitiva quando as mudanças estruturais do programa, previstas também para este ano, se concretizarem. Isso porque ficou acordado em 2001 que até o próximo congresso anual, marcado para a primeira semana de outubro, vários gargalos serão corrigidos e aperfeiçoamentos acrescentados aos códigos. Para começar, os próprios princípios éticos diretivos, espécie de mandamentos do programa, serão revisados pelo comitê executivo do AR.
A mudança fundamental é a inclusão da chamada responsabilidade social, termo que sintetiza o envolvimento das empresas com a comunidade, por meio do apoio e coordenação de projetos assistencialistas. Mas, de forma conceitual, a mudança ultrapassará esse aspecto. A revisão e o rearranjo dos códigos, promovidos por todas as comissões do programa (de transporte, saúde, segurança, meio ambiente, etc), pretendem repensar o conceito de responsável. Mais uma vez quem explica é o gerente Kós, da Abiquim: “Vamos expandir o conceito para além da sáude, meio ambiente e segurança, incluindo os aspectos sociais e econômicos, o que significa em suma pensar no programa como uma ferramenta para o desenvolvimento sustentável.”
Justamente por ampliar o leque do conceito de responsabilidade é que essa nova intenção da Abiquim pode levar os associados a se candidaterem ao PNQ, cujo princípio é premiar a empresa com visão séria no quesito sustentabilidade. Não por menos, a já premiada Copesul é uma das mais engajadas nessa estratégia (ver QD-395, pág. 12), com o costume até de publicar anualmente um balanço social e ambiental, relatando os investimentos e ganhos nessas áreas.
A sustentabilidade, embora possa parecer um termo de significado vago, na verdade tem a ver com a sobrevivência das empresas. Nenhuma corporação com pretensões de se manter por um período razoável e, melhor ainda, de se expandir no mercado competitivo, pode ignorar o fato de que sua imagem para ser positiva vai depender de um conjunto de medidas e costumes responsáveis. Qualquer desleixo no aspecto ambiental ou social, em qualquer lugar do mundo, pode afetar as ações da própria empresa ou do principal cliente na bolsa de valores de Nova York, por exemplo. Isso quando não serve de pretexto para barreiras alfandegárias ou quando, pior ainda, a deixa em má reputação junto ao público consumidor.
Por essa razão que as comissões técnicas e executivas do Atuação Responsável estão trabalhando durante o ano para reformar os códigos e resumi-los ou, quando possível, integrá-los. “A idéia é transformar o signatário em uma companhia responsável de forma geral, em todos os aspectos, levando-a à excelência, e não em um simples implementador de normas”, diz Kós. Por isso a reforma não significa apenas incluir práticas sociais, mas também, por exemplo, mudanças nas ambientais, estimulando o emprego de tecnologias limpas para minimizar gastos com tratamento.
Em linhas gerais, as mudanças técnicas, que incluirão ainda os outros aspectos, como o da segurança e o transporte, visam dar uma estratégia de eficiência mais ampla à fábrica. Não por menos, no Canadá, país inventor do Responsible Care, há um código de manufatura que coordena todas questões do processo de forma integrada, desde a saúde e segurança até o controle ambiental ou o gerencimento de produto. Isso não quer dizer que os brasileiros imitarão os canadenses, mas com certeza levarão em conta essas experiências.
Além disso, a modificação no programa atende a vários propósitos. Em primeiro lugar, melhora a imagem da empresa junto à comunidade externa, sendo encarada como um agente social mais participante e preocupado em produzir de forma limpa e controlada. No mesmo sentido, sua boa fama será ainda maior caso o plano de tornar o setor um forte concorrente ao PNQ se concretize. E, por fim, internamente, no âmago da Abiquim, as modificações atendem a uma demanda cada vez maior por parte dos líderes do programa, ou seja, as empresas de grande porte mais envolvidas e adiantadas na implantação. Isso porque são essas empresas (cerca de 10% das 140 associadas) que mais desejam ver o programa se expandir para a sustentabilidade.
Não é caro – Essa posição de vanguarda em querer transformar o Atuação Responsável em um sistema mais amplo de gestão traz várias vantagens para o programa no Brasil. Com a atitude das empresas grandes, as pequenas e médias se vêem forçadas a cumprir pelo menos o básico, ou seja, implementar os códigos de modo mais sério e rápido. Tal ação indireta sobre os signatários, aliás, se compatibiliza com uma postura recém-adotada pela Abiquim. No final do ano passado, cinco empresas foram desligadas do programa e da associação por não se comprometerem em adotar o Atuação Responsável.

A maioria das empresas com posição de liderança já estão com quase todos os códigos 100% implantados e entram no chamado nível 6, correspondente à etapa de melhoria contínua. Já as mais atrasadas ou ainda não conseguiram se envolver plenamente (e estão sendo pressionadas para tal, caso contrário serão também afastadas) ou então se inscreveram há pouco tempo, por terem sido convidadas por associados como empresas parceiras. Este último é o caso de 17 empresas transportadoras e uma de tecnologia ambiental (ver boxe pág. 36). A pressão sobre as “atrasadas” é cada vez maior e mais resistente a desculpas.
“Não se pode dizer, como muitos tentam alegar, que é caro implementar o Atuação Responsável, em razão de supostos investimentos em equipamentos de controle ambiental e automação”, critica Antonio Pizzigatti Jr, vice-coordenador executivo do programa e diretor industrial da Rohm and Haas.
Para ele, toda a empresa pode seguir os códigos sem abalar suas finanças, bastando tomar atitudes de conscientização simples na produção e no cotidiano do trabalho. “Conhecer melhor os equipamentos para evitar acidentes e vazamentos, realizar a manutenção correta, treinar os funcionários, fazer a coleta seletiva e a separação de resíduos são procedimentos que praticamente não demandam aportes financeiros”, diz ele.
Pizzigatti não só acredita na real possibilidade de os pequenos e médios serem bons implementadores do AR, como crê ser justamente para esses tipos de empresa que o programa precisa ter ênfase redobrada. Isso porque os grandes, como a própria empresa dirigida por ele, normalmente já possuíam sistemas parecidos no passado. “Para as empresas de grande porte, o Atuação teve o principal mérito de ordenar os processos já utilizados”, explica o diretor.

A vanguarda natural dos grandes, preocupados em ter seus próprios sistemas de gestão, foi o que fez inclusive o programa surgir no Canadá e depois no resto do mundo. A troca de experiências entre esses grupos formou um programa comum a todos e enriquecido com a fusão de vários conhecimentos e objetivos. Da mesma forma, é o atual humor dos grupos mais importantes que leva o programa a ser modificado não só no Brasil como em vários outros países que já mudaram ou pensam em mudar a ética e as práticas do Responsible Care.
O exemplo da Rohm and Haas é especialmente feliz para ilustrar esse novo humor. O nível de implementação de seus códigos oscila de 90% a 100%, com exceção do gerenciamento de produto, ainda na casa dos 80%. Mas a previsão é todos estarem implantados até o final do ano. Este cenário, de acordo com o diretor Pizzigatti, além de forçar a empresa a entrar no nível de melhoria contínua cria um ambiente propício para ambicionar algo a mais: no caso, a responsabilidade social, dentro do esboço maior do desenvolvimento sustentável.
“Essa é nossa meta, que por sua vez será embasada nas modificações a serem feitas no Atuação Responsável”, explica. Aliás, embora as atuais práticas do programa ainda não englobem políticas sociais, a Rohm and Haas já tomou uma atitude nesse sentido: adotou uma escola municipal em Jacareí-SP, onde sua unidade está instalada, para ajudá-la no necessário. Com o trabalho voluntário dos próprios funcionários da R&H, a princípio serão construídas duas salas de aula e um refeitório.
Sistema integrado – A Henkel é bom exemplo de grupo signatário com a vantagem natural de estar adiantado às próximas etapas do Atuação Responsável. Isso se deve, principalmente, à política global do grupo alemão de se enquadrar nos conceitos da sustentabilidade.
A empresa, aliás, publica anualmente um relatório específico de saúde, segurança e meio ambiente para divulgar suas conquistas nessas áreas. Até mesmo a intenção do programa da Abiquim de tornar-se um preparativo para ganhar o Prêmio Nacional da Qualidade encontra paralelo na Henkel. Não que especificamente a empresa esteja se preparando, mas é um dos planos do grupo em todo o mundo integrar seus sistemas de gestão.
Conforme explica o gerente de engenharia e qualidade ambiental, Sergio Crude, dentro de cinco anos a Henkel pretende mesclar o sistema de segurança, saúde e meio ambiente (SHE) com o de qualidade. “Acreditamos que a empresa responsável tem conduta igual em todos os aspectos, quer atingir a excelência de forma geral e não só ter qualidades isoladas”, diz.
Além da Henkel, Crude analisa que essa tendência de unificar os sistemas de gestão é mundial e visa buscar o equilíbrio entre o econômico, o social e o ambiental. Esse novo cenário não permitirá, por exemplo, afirmar que uma empresa age de forma correta apenas por ter um ou outro certificado ambiental, de qualidade ou de segurança. O virtuoso será o que conseguir enxergar em todas as normas, de forma conjunta, a sua ferramenta de gestão. “Isso, portanto, faz as empresas e associações buscarem unificá-las”, explica o gerente.
Esse futuro bastante provável de ocorrer também facilitaria o trabalho de normatização. “Ninguém agüenta mais tantos certificados, cada dia aparece um diferente para atender a exigência de um determinado cliente”, reclama Crude. No seu entender, se muitos mercados, por exemplo, tivessem conhecimento da abrangência do Atuação Responsável, não haveria necessidade de se obter muitas certificações ambientais, de segurança e saúde ocupacional. A Henkel, por exemplo, precisa ter ISO-9000, QS-9000, ISO 14001, OHSAS 18001 e, no futuro, a nova ISO-TS 16949 (para qualidade e exigida por montadoras européias). “Se os fornecedores e clientes chegassem a um consenso, por exemplo em torno de uma certificação única para a sustentabilidade e de gestão integrada, essas normas não teriam mais significado”, conclui. “O Atuação Responsável, com seu plano de abarcar o desenvolvimento sustentável, poderia até preencher essa lacuna no futuro.”

Um outro aspecto em que a Henkel está adiantada às mudanças a serem implementadas no programa diz respeito à responsabilidade social. Nesse sentido, por exemplo, vale destacar que foi a única empresa química a receber o prêmio Exame de boa cidadania, destinado em 2001 a 11 empresas com atuação destacada em projetos sociais. De acordo com Sergio Crude, em saúde, segurança, meio ambiente e projetos sociais a filial brasileira tem investido cerca de US$ 700 mil por ano. Apenas em 2001, na comemoração de 125 anos da Henkel, foram investidos em 125 projetos, por 52 países (entre eles o Brasil), 1,25 milhão de euros em projetos de assistência.
No Brasil, todas as ações são coordenadas por comitês de voluntariado presentes em cada uma das unidades da Henkel (Jacareí-SP, Itapevi-SP, Diadema-SP e o escritório central em São Paulo). Uma rede de contatos com creches, asilos, escolas, entre outras entidades, recebe o auxílio desses membros dos comitês, que não só agilizam verbas como também se dedicam a trabalhos voluntários. “Reportamos nossas experiências à Abiquim, que poderá se servir de nossa forma de organização para nortear as novas práticas sociais do Atuação Responsável”, explica Sergio Crude, ele próprio participante do comitê de voluntários de Itapevi.
Os conselhos – Quando as práticas sociais forem integradas ao Atuação Responsável possivelmente devem seguir essa forma organizacional da Henkel de criar comitês por unidades ou regionais. Isso porque o atual código de diálogo com a comunidade, de preparação e atendimento a emergências (DCPAE), já prevê a criação de um conselho comunitário, cujo principal objetivo é integrar a comunidade vizinha com a fábrica ou região fabril. Existem alguns no Brasil, impulsionados pelo programa, e que vêm funcionando com resultados bastante satisfatórios. Aproveitar essa massa crítica para colocar em prática a nova vertente social dada ao AR será uma saída natural.
Mesmo sem ter o objetivo de envolver a empresa com projetos sociais, a simples reunião freqüente entre gente da fábrica e vizinhos faz desses conselhos uma ótima tribuna para se discutir assuntos de interesse da comunidade. Portanto, convites para a empresa ajudar em projetos ou carências da vizinhança tornam-se comuns. E apesar de o código apenas determinar que a empresa dialogue com os vizinhos e os conscientize e prepare para eventuais riscos de acidentes, iniciativas de solidariedade acabam surgindo nesses encontros.
No conselho comunitário consultivo da regional do ABC paulista, que reúne 12 empresas desse importante pólo químico e petroquímico, essas questões constantemente vêm à tona. Com 26 representantes da sociedade, entre professores, líderes comunitários, técnicos da Cetesb, membros da defesa civil, bombeiros e secretários de meio ambiente das cidades em torno, várias idéias de cooperação surgem nas reuniões formais trimestrais e nas informais que podem ocorrer a qualquer momento.
Nessas reuniões, segundo explica o assessor de qualidade, meio ambiente, saúde e segurança da PqU, Dilermando Nogueira, surgiram contatos entre a regional ABC, do Atuação Responsável, com o Rotary Clube da região, que podem vir a envolver as empresas com vários projetos voluntários.
A PqU, por exemplo, organiza um projeto de reciclagem de plásticos na Apae de Mauá. “Nas reuniões do conselho sentimos a alta demanda que a vizinhança possui e como eles querem que nos tornemos moradores também, participando mais ativamente com a melhoria de qualidade de vida da região”, afirma Nogueira.
Esse contato fez, por exemplo, a PqU financiar cartilhas de combate às drogas para um projeto organizado em escolas pela Polícia Militar. Ou ainda fez nascer a idéia de se criar um cinturão verde em Mauá, com financiamento de obras de melhoria em parques e praças, e se estudar a abertura de uma escola de informática aplicada. O trabalho mais recente promovido pelo conselho é a organização da semana do meio ambiente, marcada para o período de 3 a 9 de junho. Além de incluir um seminário para discutir as demandas ambientais da região, o evento também será palco de gincanas, festividades e concursos de redação e desenhos para as crianças das escolas vizinhas.

Criado em setembro de 2000, o conselho comunitário do ABC criou outras medidas práticas de melhoria no relacionamento entre empresa e sociedade. Por exemplo, foi criado um sistema 0800 integrado entre as empresas do pólo para se atender reclamações. Além da medida facilitar o o contato, serviu para medir a maior preocupação da população com as fábricas do ABC: o odor. “Qualquer cheiro desagradável, já levanta a suspeita sobre nós, o que muitas vezes não tem fundamento”, afirma o assessor da PqU e coordenador do conselho comunitário. Nogueira lembra um dia ter havido reclamação referente a um suposto cheiro de enxofre, que logo recaiu sobre a PqU. Depois provou-se ser proveniente de esgoto a céu aberto. “O enxofre é contaminante do processo petroquímico, não poderia ser nosso, mas mesmo assim procuramos solucionar o caso.”
Curiosidade – Também vale a pena citar a experiência do conselho comunitário da Kodak, de São José dos Campos-SP, em atividade desde agosto de 1998. Formado apenas por dez famílias de um bairro vizinho, o Conjunto 31 de Março, e por seis representantes da própria Kodak, a empresa encomendou uma pesquisa para começar seus trabalhos. Queria saber qual era a principal preocupação da vizinhança com a fábrica de fotoquímicos e de revestimento de papéis de raio-X e fotografia. Para surpresa dos responsáveis, o que intrigava os vizinhos do bairro com cerca de 5 mil pessoas e 1.000 domícilios não era nem o odor, como no ABC, nem qualquer outra questão ambiental.
“Na verdade, a grande preocupação da maioria das pessoas era poder conhecer a empresa”, lembra o gerente para assuntos comunitários da Kodak, Aimberê Carvalho. Para ser mais preciso, um total de 84% dos pesquisados tinha essa preocupação.
Com o propósito de atender essa curiosidade, a Kodak criou um projeto de portas abertas, convidando três grupos por ano para visitações, cujos integrantes precisam ser indicados por membros do conselho comunitário.
Mas essa alienação com as questões de meio ambiente não desviou o foco do conselho. “Depois de uma troca de experiência com nossa matriz nos EUA, onde existia um conselho há mais tempo, percebemos que a atenção precisa ser dada a um assunto, de preferência o ambiental, em razão de sua abrangência”, explica Carvalho. Essa decisão fez a Kodak criar o projeto “Patrulheiros Ambientais”, um curso freqüente de seis meses que visa ensinar noções de meio ambiente a crianças de uma escola vizinha.
As 150 crianças já formadas pelo curso (30 por semestre) transformaram-se no que a Kodak denomina de multiplicadores de informação. “Eles podem ensinar as outras crianças, pelo convívio, a respeitar o meio ambiente, incutindo idéias como a reciclagem, a coleta seletiva, entre outros temas”, diz. Para provar que o esforço não foi em vão, Aimberê Carvalho cita dois casos: um garoto formado pelo curso criou um projeto de coleta seletiva na sua igreja e um grupo de meninas passou a ministrar palestras sobre meio ambiente em salas de aula.
De forma mais geral, a experiência do conselho, na visão do gerente, ajudou em muito a melhorar a imagem da empresa na vizinhança. Na pesquisa anterior à criação do conselho, a aceitação da empresa chegava a 94% pela população do bairro. Após alguns anos do trabalho comunitário o nível de simpatia atingiu 98,5%. Esse aumento, segundo Carvalho, explica-se por uma série de desentendidos que foram corrigidos depois de o relacionamento tornar-se mais aberto entre empresa-comunidade.
Um exemplo foi a Kodak ter provado que uma reclamação comum entre os vizinhos era infundada. Muitos se queixavam de um pó preto que persistia em sujar as casas próximas à fábrica. Com testes de laboratório, devidamente confirmados, foi atestado ser o pó preto na verdade proveniente da poluição gerada pela grande quantidade de carros em trânsito na próxima Rodovia Dutra. “A quantidade de pó era seis vezes maior ao lado da estrada”, justifica o gerente.
Mas também houve casos em que a população tinha razão. Certa madrugada um ruído estridente incomodou o bairro. Tinha origem na limpeza de tubulação das caldeiras da Kodak por hidrojateamento. “Reconhecemos o erro e passamos a fazer a limpeza apenas durante o dia”, afirma Carvalho. Esse relacionamento de vizinhos cordiais, que procuram chegar a um entendimento antes de começarem conflitos, pode ser um ótimo início para fazer cumprir o plano da Abiquim de tornar as empresas do Atuação Responsável mais envolvidas com as questões sociais.
Empresa de remediação ambiental torna-se signatária

Além das empresas transportadoras convidadas por signatários a participar do Atuação Responsável como parceiras na adoção dos códigos, em setembro de 2001, pela primeira vez, uma empresa de tecnologia ambiental assinou o termo de compromisso do programa. Trata-se da Ecosorb, de São Paulo, especializada em sistemas de contenção e absorventes de vazamentos de hidrocarbonetos e outros contaminantes.
O convite para participar partiu da Oxiteno, empresa do grupo Ultra com alguma familiaridade com a Ecosorb, tendo em vista que esta possui como proprietário e presidente Rogério Igel, um dos herdeiros e acionistas do referido grupo petroquímico.
Assim como as transportadoras são convidadas pelas empresas químicas para facilitar o cruzamento de práticas do Atuação Responsável entre os dois setores, a Ecosorb, segundo Igel, também entrou no programa para ajudar os signatários químicos.
“Dentro do nosso plano de se tornar empresa de serviços ambientais, queremos realizar para a indústria o gerenciamento de risco exigido pelo programa”, explica.
De acordo com Rogério Igel, a intenção de prestar serviços para os signatários também inclui a coordenação e preparacão de simulações de planos de emergências para acidentes, sobretudo para aquelas empresas sem muita estrutura para esse tipo de projeto exigido pelo AR. “Queremos, porém, priorizar o treinamento e o gerenciamento que visa evitar as emergências”, diz Igel. Em primeiro lugar, porém, a Ecosorb vai implementar o Atuação Responsável internamente. Segundo seu diretor-superintendente, Pedro Maziero, até o final de 2002 a empresa pretende estar com o trabalho concluído. “Estamos adaptando os códigos e indicadores à nossa realidade com o apoio da Abiquim, cujas reuniões das comissões freqüento periodicamente”, afirma Maziero.
Fundada no final de 1998, com essa nova postura de ensinar a se evitar emergências a Ecosorb revela uma ampliação significativa na sua estratégia comercial. Isso porque a empresa iniciou seu trabalhos justamente para atender emergências, comercializando turfas absorventes de vazamentos de petróleo da canadense EarthCare (ver QD-371, pág. 39). Desde aquele período, aliás, já conseguiu internar no País mais de 300 toneladas desses produtos naturais, utilizados nos principais vazamentos da Petrobrás.
Nos acidentes dos últimos anos na Refinaria de Araucária-PR foram empregadas 40 t das turfas, e na Baía de Guanabara, no Rio, o vazamento foi em parte contido com 60 t desse produto que retém e quebra as moléculas dos hidrocarbonetos, para posterior descarte em aterros ou co-processamento.

Além da estatal do petróleo, a Ecosorb possui mais cerca de 250 clientes. Também comercializa, afora as turfas, barreiras de contenção, espécies de bóias que confinam as manchas de óleo para impedir seu alastramento no corpo d’água. Em breve nacionalizadas em fábrica a ser construída em Itatiba-SP, essas bóias são empregadas em conjunto com as turfas. Ainda em absorventes, a Ecosorb representa, da americana SPC, uma linha de sintéticos (de polipropileno) para aplicação fabril em mantas e tapetes, por exemplo, de usinagens e laboratórios. Para se ter uma idéia, enquanto a turfa absorve rejeitos ou contaminantes até seis vezes o seu peso, estes absorventes sintéticos chegam a reter até 20 vezes o equivalente da própria massa.
Outro produto comercializado pela Ecosorb é um dispersante biodegradável da Oxiteno, o Ultrasperse. Trata-se de tensoativo utilizado para dispersar poluidores em corpos d’água e facilitar a biodegração do óleo. No Brasil, o produto pode ser usado até a 2 quilômetros da costa, enquanto nos Estados Unidos o limite se estende às 30 milhas, cerca de 50 km, em razão de sua relativa toxidez ao ecossistema local.
De acordo com Rogério Igel, o propósito da empresa é ampliar a linha de tecnologias, com viagens a feiras internacionais, e também procurar soluções nacionais quando possível. Uma dessas tecnologias tupiniquins já está em desenvolvimento, através de um trabalho em conjunto com a Universidade Federal do Paraná e a Petrobrás. Trata-se do emprego de cepas de fungos autóctones na biorremediação do vazamento de Araucária. ”Estamos querendo levar essa experiência bem-sucedida para outros casos de contaminação no Brasil”, revela Igel.