Atuação responsável quer indústria mais solidária

O sistema de gestão de saúde, segurança e meio ambiente, coordenado no Brasil pela Abiquim, vai incluir em seus códigos práticas voltadas de forma específica para a implantação e o apoio a projetos sociais na vizinhança das fábricas

Química e Derivados: Atuação: atuacao_vinheta.Nas vésperas de comemorar dez anos de implementação no Brasil, o programa Atuação Responsável, lançado em 1992 pela Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), tem um novo desafio pela frente. A partir deste ano a meta dos coordenadores do sistema de gestão de saúde, segurança e meio ambiente é discutir formas de tornar seus cerca de 130 signatários mais comprometidos com a comunidade. De forma objetiva, isso significa incentivar a participação dessas indústrias em projetos sociais da vizinhança, tanto no aspecto organizacional, como até mesmo financiando obras ou outras iniciativas espontâneas da sociedade.

O marco da nova postura da Abiquim será o 5º congresso do Atuação Responsável, marcado para 21 a 23 de agosto, em Guarulhos-SP, e com o tema central de “Sustentabilidade Empresarial”. No próximo encontro anual, no qual as associadas farão um retrospecto do programa e apontarão as próximas diretrizes a ser seguidas, a idéia é colocar como objetivo para 2002 a inclusão de novas práticas e princípios fundados na chamada responsabilidade social.

“Já está praticamente certo de que em 2002 teremos reformulado nossos 12 princípios éticos diretivos [ver QD-382, pág. 9], sob o manto das questões sociais”, afirma o coordenador da comissão de Atuação Responsável da Abiquim, Heinz Mayer. Outra hipótese levada em consideração seria incluir práticas específicas em um dos códigos do programa, mais provavelmente o de diálogo com a comunidade. Com essas atitudes, para Mayer, a Abiquim não só segue uma tendência mundial, visto que países como Canadá já reformularam seus princípios diretivos, como atende a uma demanda interna, levando-se em conta os vários projetos sociais atualmente desenvolvidos por muitos signatários nacionais.

Química e Derivados: Atuação: Kós - empresas nacionais precisam ser engajadas.
Kós – empresas nacionais precisam ser engajadas.

Embora as companhias européias, e em menor grau as americanas, tenham políticas assistencialistas bem definidas, no Brasil essa questão ganha importância diretamente proporcional às carências locais. “Quando a empresa começa a dialogar com a vizinhança, problemas como falta de moradia adequada, de saúde, educação e desemprego fazem parte freqüente das preocupações”, lembra o gerente técnico da Abiquim, Marcelo Kós. “Se a indústria química quer de fato adotar uma política de boa vizinhança e melhorar sua imagem, objetivos centrais do Atuação Responsável, ela precisa obrigatoriamente no Brasil ter uma postura engajada.”

Fruto dessa consciência em maturação é saber que as modificações no Atuação Responsável devem ser guiadas por experiências já em andamento, sobretudo por grandes grupos associados ao programa. Empresas como Bayer, DuPont, Basf e OPP desenvolvem projetos sociais no Brasil há algum tempo. “Assim como as práticas de saúde, segurança e meio ambiente do Atuação em boa parte foram criadas a partir de sugestões desse tipo de empresa, pensamos em fazer o mesmo no novo quesito”, afirma Kós.

Não é filantropia – Um bom exemplo de companhia engajada em obras sociais é a Bayer. Em sua principal unidade produtiva, em Belford Roxo-RJ, na Baixada Fluminense, uma das regiões mais violentas e carentes do País, a empresa desde 1993 tenta colocar em prática o conceito de responsabilidade social. Hoje o grupo financia a fundo perdido cerca de US$ 250 mil por ano em várias frentes de trabalho e em cooperação com uma federação de 120 associações de bairro da cidade carioca.

“Nosso trabalho não é filantropia, mas sim um modo de responsabilizar a comunidade por ações que nós, como grupo estruturado, podemos ajudar a acontecer”, diz Diomedes Ferreira Junior, chefe de comunicação social e coordenador da responsabilidade social na Bayer. Para exemplificar, Ferreira cita o projeto minifábricas, iniciado em 1995. Trata-se de uma espécie de linha de financiamento que a Bayer coloca à disposição das associações de bairro para o desenvolvimento de fabriquetas na redondeza.

Química e Derivados: Atuação: atuacao_vinheta1.Dessas minifábricas, já operam uma serralheria de portas e janelas, uma fábrica de chinelos, uma vassouraria, várias escolinhas de informática, além de uma fábrica de instrumentos musicais e de fantasias de carnaval a partir de garrafas PET.

Química e Derivados: Atuação: Ferreira - obras sociais em Belford Roxo - RJ.
Ferreira – obras sociais em Belford Roxo – RJ.

“A associação nos encaminha o pedido, normalmente com a lista de equipamentos e máquinas necessárias, nós avaliamos a seriedade do negócio e, caso aprovado, financiamos”, explica Ferreira. Depois de iniciado o projeto, que passa a ser administrado apenas pela comunidade, a Bayer de vez em quando checa o desempenho da minifábrica. “Já houve casos em que precisamos repassar o negócio para outros interessados, visto que os anteriores não estavam trabalhando a contento.”

Além das minifábricas, a Bayer distribui diariamente 2.400 sopas (liofilizadas) em 46 escolas comunitárias de Belford Roxo, atendendo cerca de 3.600 crianças de até seis anos de idade. A empresa mantém ainda uma escolinha de futebol para 350 crianças, promove uma olimpíada infantil anual e um campeonato de futebol entre as associações de classe.

Há outras atividades relacionadas, como cursos de saúde e meio ambiente em escolas, distribuição de material didático e uma horta comunitária para crianças, com o ensino de técnicas básicas de cultivo.

Química e Derivados: Atuação: A Bayer distribui sopas em escolas.
A Bayer distribui sopas em escolas.

Essas iniciativas da filial brasileira da Bayer têm chamado a atenção da matriz alemã. “A Alemanha quer usar nosso projeto como exemplo para outros países”, diz o chefe de comunicação. “Apesar de haver várias obras interessantes de outras afiliadas pelo mundo, a matriz reconheceu que nossa estratégia é mais abrangente, não se fixa apenas em um campo do assistencialismo.” Além de ter lhe valido alguns prêmios, a experiência da Bayer brasileira deve ser compartilhada nas discussões do Atuação Responsável na Abiquim. Diomedes Ferrreira acredita que vários projetos da empresa poderiam ser base para novas práticas do código de diálogo com a comunidade. Aliás, no próximo congresso, no dia 22 de agosto, ele apresentará um painel sobre a implantação de um conselho comunitário.

Estratégico – Embora o tema “sustentabilidade empresarial” tenda a parecer um efeito de linguagem com intenções marqueteiras, seus fundamentos têm sido abordados de forma mais séria, sobretudo por grandes empresas.

Modelo de desenvolvimento empresarial que procura colocar em equilíbrio os aspectos econômico, social e ambiental, a sustentabilidade, na verdade, pode servir como eficiente princípio estratégico.

A central petroquímica gaúcha Copesul, por exemplo, tem a expressão “desenvolvimento sustentável” em alta conta. “’Mais do que jogo de cena, trata-se do nosso objetivo estratégico”, afirma sua executiva da unidade de segurança, saúde e meio ambiente, Carla Rangel. Embora ainda não seja contemplado no Atuação Responsável, do qual a central tornou-se signatária a partir de 1992, o tema é a base do sistema de gestão integrado da empresa, que engloba também as práticas de suas certificações (ISO 14001, ISO 9002 e a breve OHSAS 18002, de segurança).

Química e Derivados: Atuação: grafico1.Para Carla, o tripé financeiro-social-ambiental deve estar sempre harmonizado. “Não adianta lucrar muito e ao mesmo tempo poluir ou deixar de lado os colaboradores e vizinhos; a longo prazo, a imagem da empresa pode se desgastar e, conseqüentemente, o valor das suas ações”, diz Carla. “Isso sem falar na queda de motivação e produtividade dos colaboradores, na animosidade da comunidade, nas multas, entre outros efeitos negativos.”

Química e Derivados: Atuação: Carla - sustentabilidade é estratégia da Copesul.
Carla – sustentabilidade é estratégia da Copesul.

Para manter esse equilíbrio, o inverso também é verdadeiro. “Não podemos tornar a empresa uma instituição de caridade ou uma ONG ambientalista, em detrimento dos lucros”, continua a executiva da Copesul. Essa posição aparentemente contida da central, porém, significou em ações comunitárias, em 2000, um total investido de R$ 3,3 milhões, dividido entre projetos sociais, culturais, ambientais e eventos esportivos.

Um destaque nesse montante foi a doação de R$ 1 milhão para a construção de um hospital de transplantes da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre-RS, a ser inaugurado em outubro. Vale ressaltar ainda o projeto Nossas Escolas, que visa dar apoio financeiro e de mão-de-obra voluntária em infra-estrutura e educação ambiental para escolas da região do pólo, em cidades como Montenegro e Triunfo. “Além de reformarmos banheiros, muros e salas de aula, também preparamos cursos de informática e educação ambiental nas escolas”, orgulha-se Carla.

A participação comunitária da Copesul, já há três anos documentada em um balanço social bastante detalhado em relatos e números, também servirá de base para sugestões da central na proposta de modificação do Atuação Responsável. Isso principalmente ao se levar em consideração a opinião da executiva da área, que participa ativamente do programa da Abiquim. Segundo ela, há dois tópicos primordiais para serem objetos de reflexão nos próximos anos. Um deles, logicamente, é a responsabilidade social, que deve ser implementada de forma efetiva nos códigos e princípios. O outro é a questão ambiental. “O código de proteção ambiental enfatiza muito a reciclagem de resíduos, mas hoje em dia temos que partir para a prevenção, com a adoção de tecnologias limpas”, lembra Carla Rangel.

No aspecto responsabilidade social, a executiva não tem a menor dúvida da importância. Como argumento, chama a atenção para a última reunião do World Business Council, realizada no Brasil sob a coordenação do Conselho Empresarial Brasileiro de Desenvolvimento Sustentável (Cebds). Segundo ela, nesse encontro internacional os participantes ficaram impressionados com os cases brasileiros de projetos sociais promovidos por empresas. E chegaram a uma conclusão: a ineficiência governamental de países pobres como o Brasil torna a iniciativa privada muitas vezes uma espécie de governo paralelo. “Temos que assumir essa responsabilidade”, diz.

Gestão ajuda – Da mesma forma que sua controlada Copesul, a OPP (é sócia meio a meio com a Ipiranga na central gaúcha) também está atenta à responsabilidade social. E, ainda de maneira similar à Copesul, o braço petroquímico da Odebrecht se fundou em seu sistema de gestão integrada de qualidade, saúde, segurança e meio ambiente para se preocupar com a questão.

Química e Derivados: Atuação: Soto - gestão integrada engloba responsabilidade social.
Soto – gestão integrada engloba responsabilidade social.

Na verdade, segundo explica Jorge Soto, gerente geral dessas áreas na OPP, antes mesmo do sistema integrado, criado em 1997, a empresa já tinha esse propósito como um de seus fundamentos éticos.

Esse fundamento, segundo Soto, pode ser encontrado nos princípios da chamada Tecnologia Empresarial Odebrecht (TEO), uma espécie de “lei sagrada” criada pelo fundador do grupo, Norberto Odebrecht. “Um dos conceitos, por exemplo, prega que a satisfação do cliente deve ter como pano de fundo a responsabilidade comunitária e ambiental, o que em outras palavras significa desenvolvimento sustentável”, declara o gerente. O TEO, além de enfeitar as paredes da OPP pendurado em quadros, serviu como base para o sistema de gerenciamento integrado (SGI), que abrange as práticas das normas ISO, OHSAS e, logicamente, o Atuação Responsável.

Química e Derivados: Atuação: grafico2.Para Jorge Soto, o SGI possibilitou ao grupo se antecipar de forma organizada aos objetivos próximos do Atuação Responsável de incorporar práticas assistencialistas. “Entre os objetivos do SGI está a melhoria contínua da saúde e segurança também dos vizinhos e o reconhecimento da sociedade de nossos trabalhos”, diz. “O Atuação Responsável é apenas uma das nossas ferramentas de gestão, portanto ele ter ou não práticas de responsabilidade social para nós não faz diferença.” Implantando de forma peculiar, segundo Soto, até 2002 todos os códigos do programa da Abiquim estarão adotados na OPP.

Química e Derivados: Atuação: grafico3.Os projetos comunitários da OPP estão muito envolvidos com a questão ambiental. Um bem famoso é a Operação Praia Limpa, para o qual a empresa já distribuiu mais de 38 milhões de sacolas plásticas, além de 3.640 papeleiras e contêineres para coleta de lixo em praias de São Paulo, Bahia, Alagoas e Rio Grande do Sul. Há também a promoção de vários cursos ambientais em escolas, de organização de programas de coleta seletiva e distribuição de hipoclorito de sódio para desinfecção de água em comunidades carentes, vizinhas às unidades da OPP. Vale destacar também a manutenção de cooperativas de reciclagem de materiais no RS, BA e AL e o fato de 25% dos funcionários do grupo participarem de trabalhos voluntários.

Muito por fazer – Algumas outras empresas, talvez por se basearem muito especificamente nos códigos do Atuação Responsável, não estão muito adiantadas na responsabilidade social. A Akzo Nobel, por exemplo, bastante adiantada na implantação do programa, encontra algumas dificuldades para ao menos colocar em prática o código mais próximo da questão, o de diálogo com a comunidade, preparação e atendimento a emergências. Uma das práticas recomendadas, a de preparar a vizinhança para acidentes, encontrou um inusitado empecilho: na região em que a fábrica está instalada, Itupeva-SP, não há defesa civil. A solução para a Akzo Nobel foi começar a formar uma entidade dessas com duas associações de bairro.

Outra grande empresa, a Rohm and Haas, também está imatura na implementação das práticas desse código. De acordo com o diretor industrial da unidade de Jacareí-SP, Antonio Pizzigatti, trata-se das práticas com menor grau de implementação de todos do Atuação Responsável: cerca de 30% apenas, contra uma média que vai de 75% do código de gerenciamento de produto a 100% no de saúde do trabalhador. “O trabalho mais substancial que temos feito limita-se a visitas a escolas e vice-versa, ou seja, de vez em quando recebemos crianças para conhecer o dia-a-dia da fábrica”, afirma.

Química e Derivados: Atuação: grafico4Mas Pizzigatti, como coordenador do programa na Rohm and Haas, promete dar atenção especial ao tema. A idéia é criar um conselho comunitário, com membros da sociedade, nos moldes dos existentes em Santo André-SP, Guaratinguetá-SP ou em Camaçari-BA. “Ouvir constantemente pessoas de fora tornará o diálogo mais produtivo”, constata Pizzigatti.

Porém, não se deve deixar de notar que o desenvolvimento sustentável também compreende a preocupação com os colaboradores, ou seja, com os próprios funcionários. E, nesse ponto de vista, Pizzigatti considera a Rohm and Haas adiantada. Para provar, lembra que em 1997 e 2000 a empresa registrou zero acidente com afastamento e em 1998 e 1999 apenas quatro com afastamento. Estes últimos, segundo ele, na verdade foram apenas atendimentos de primeiros socorros, sem muita gravidade. Outros indicadores positivos, e indiretamente ligados à responsabilidade social, dizem respeito ao fato de a empresa não ter recebido nenhum auto de infração de transporte de produtos perigosos e não-perigosos e ter reduzido incidentes nessa área (três em 1998, dois em 1999 e nenhum em 2000).

Química e Derivados: Atuação: grafico5.Outros desafios – Embora haja muito a fazer em responsabilidade social, este não é o único plano da Abiquim para melhorar o programa. O aspecto ambiental, principalmente, urge algumas alterações. Não apenas na maior ênfase ao uso de tecnologia limpa, em detrimento da tendência do programa em destacar a reciclagem de resíduos, mas também na inclusão de um assunto hoje em dia muito pertinente: o uso racional de energia. “Na época em que o código de proteção ambiental foi feito no Brasil, isso não era tão relevante como agora”, afirma Marcelo Kós, da Abiquim. Aliás, a questão energética, para ele, pode ser incluída ainda em outros códigos: no de gerenciamento de produto e no de diálogo com a comunidade.

Uma outra melhoria prestes a acontecer é o chamado processo de verificação de progresso. Trata-se das auditorias feitas por terceiros, que já ocorre em vários países e cujo objetivo é dar maior credibilidade ao programa. Até o momento, há apenas sistemas de auto-avaliação. Só algumas companhias, como a Copesul e a OPP, submeteram espontaneamente a grupos de outras empresas vizinhas a avaliação de alguns de seus códigos e práticas.

Química e Derivados: Atuação: grafico6.A primeira etapa do projeto de verificação externa ocorrerá de forma piloto neste ano, baseando-se em avaliações similares da associação norte-americana da indústria química (ACC). Empresas voluntárias, como Akzo Nobel, Basf e DuPont, já se candidataram a inaugurar o novo processo. Caso uma análise posterior de um conselho da Abiquim constate sua eficácia, o plano é expandir a verificação, a princípio voluntária, aos outros signatários. De acordo com Marcelo Kós, para a verificação serão formados grupos de cerca de seis pessoas, da comunidade e de outras empresas. Depois de apresentados e aprovados pela empresa auditada (que arcará com todas as despesas), eles passarão dois dias fazendo a auditoria dos códigos na fábrica.

Por ser ainda experiência piloto, alguns detalhes não estão definidos. No modo americano de avaliação, por exemplo, para coordenar a auditoria há um grupo profissional, de uma empresa terceirizada especialmente formada para coordenar a auditoria. O comitê de auditores conta ainda com membros da comunidade e de outras indústrias. No Brasil, não há planos de formar uma empresa similar, mas talvez a Abiquim treine alguém ou uma auditoria profissional para cumprir esse papel de coordenação. “Após o congresso, já devemos ter definida a metodologia”, diz Kós.

Química e Derivados: Atuação: grafico10.Críticas – Um dos motivos que levam as associações a caminharem em direção ao chamado pelos americanos de MSV (management system verification) é dar uma resposta aos críticos do programa. Ser auto-avaliado normalmente tem sido visto como uma ação cabotina. Foi para responder a terceiros também que a mesma associação norte-americana passou a estudar a adoção de um certificado do Responsible Care (o nome original), nos moldes do conferido pela norma ISO 14001.

Mais especificamente, a iniciativa da certificação americana se deve a uma reivindicação da indústria automotiva daquele país, que cogitou exigir o certificado ambiental da ISO de seus fornecedores químicos. Por estar envolvida com o Responsible Care já há treze anos, a ACC pretende atender essa demanda de clientes por meio de um certificado do programa, sem precisar assim recorrer a um outro sistema de gestão.

Química e Derivados: Atuação: Freitas - banho de ducha fria em sindicalistas.
Freitas – banho de ducha fria em sindicalistas.

Mesmo que o Brasil ainda esteja numa etapa anterior à americana, elaborando a verificação externa já em prática nos EUA, atitudes de melhoria podem amenizar as críticas e compensar algumas atitudes recentes não muito simpáticas. A principal delas ocorreu em abril numa reunião internacional do Responsible Care. Por pressão da ACC, os sindicatos de trabalhadores, representados internacionalmente pela federação dos sindicatos (ICEM), foram impedidos de assinar um acordo global para participar do programa. Isso teve efeito também no Brasil, onde a CNQ/CUT pretendia se fazer presente nos chamados conselhos comunitários.

No Brasil, segundo afirma o assessor do CNQ, Nilton Freitas, a resolução internacional, provocada pelos americanos, foi um banho de “ducha fria”. Colocados de escanteio pela Abiquim, os sindicatos só conseguiram espaço no Atuação Responsável em iniciativas isoladas, como uma da Basf, que permitiu a participacão de sindicalistas em conselhos do programa em Camaçari-BA e Guaratinguetá-SP.

“Isso demonstra que nem tudo está perdido, visto que a empresa teve coragem de nos convidar, de forma experimental e a contragosto do resto da indústria”, observa Freitas.

Afora esses problemas, outra constante no trabalho da Abiquim tem sido conscientizar as pequenas e médias indústrias signatárias sobre a importância do Atuação Responsável. “Para essas empresas, o programa representa um custo a mais e isso inibe um pouco a adoção das

Química e Derivados: Atuação: Mayer - princípios éticos devem ser revisados.
Mayer – princípios éticos devem ser revisados.

práticas”, diz o coordenador Heinz Mayer, também presidente do conselho de administração da Basf. Embora as grandes empresas estejam em um nível bastante avançado, sendo que 25 delas nos últimos graus (5 e 6) do sistema, há casos de pequenas ainda no nível mais baixo possível, sem nada implantado, e sem nunca ter enviado à Abiquim seus índices de auto-avaliação.

A dura realidade das empresas menores, que desde 1998 são obrigadas como associadas da Abiquim a ser signatárias, poderia de certa forma abalar a imagem do programa caso uma delas provocasse, por exemplo, um grave acidente. Mas, para Heinz Mayer, não é o caso. “Um hipotético acidente de uma dessas indústrias não deve ferir a credibilidade específica do Atuação Responsável, não muito conhecido para os leigos, mas de todo o setor químico”, diz. Talvez esteja aí a razão de fazer o programa ser levado mais a sério pelas empresas de menor porte.

Associquim inicia processo de distribuição responsável

O emprego do Atuação Responsável pela indústria química tem provocado um efeito cascata em outros setores correlatos. Mais recentemente, o de tintas, por meio da Associação Brasileira dos Fabricantes de Tintas (Abrafati), anunciou que em seu próximo congresso, em setembro, iniciará as discussões para a introdução no Brasil do Coating Care, um programa adotado pela indústria americana nos moldes do Responsible Care. Deve ser traduzido para “Responsabilidade em Tintas”.

Mas a iniciativa mais madura, sem dúvida, é a da Associação Brasileira do Comércio de Produtos Químicos (Associquim). Em 31 de maio, numa assembléia com todos seus 105 associados, a Associquim aprovou, depois de um ano de elaboração, o Processo de Distribuição Responsável (Prodir), uma versão brasileira do Responsible Distribution Process, da associação norte-americana de distribuição química (NACD).

Ao contrário do Atuação Responsável, o Prodir não será obrigatório aos associados. Para Glória Benazzi, assessora de logística e meio ambiente da Associquim e responsável pelo programa, essa escolha tem uma explicação: “O próprio mercado, com o tempo, vai obrigar as empresas a se adequarem às práticas do Prodir”, afirma Glória. Para ela, essa exigência deverá se tornar uma forma de a indústria qualificar suas distribuidoras.

Química e Derivados: Atuação: grafico7.A coordenadora acredita que a postura de adesão ao Prodir como forma de qualificação será melhor para ambas as partes.

Tanto as distribuidoras não precisarão ser constantemente auditadas por funcionários de várias indústrias, das quais distribuem seus produtos, como estas também não terão de realizar tantas vistorias. “Se a empresa tiver o Prodir, do qual pretendemos gerar um certificado, significa que ela está permantemente sendo auditada”, diz.

O programa da Associquim foi traduzido do similar americano e terá o mesmo número de códigos (9) e de práticas (34), contando ainda com um guia de implantação. As associadas devem confirmar sua adesão até 15 de dezembro, tendo a partir desta data 30 meses para implantar e implementar os códigos. A cada semestre, precisarão enviar à Associquim uma auto-avaliação do programa. No final desse período, devem passar por uma avaliação externa, provavelmente executada por uma auditoria independente. Está previsto também o descredenciamento do Prodir de empresas reprovadas nessas verificações.

Química e Derivados: Atuação: Glória - mercado vai obrigar a adoção.
Glória – mercado vai obrigar a adoção

Para Glória Benazzi, a recepção da indústria tem sido a melhor possível. Nem mesmo o fato de o Atuação Responsável ter como signatários-parceiros cerca de 17 empresas do ramo da distribuição e de transportes abala o relacionamento entre os dois setores. Segundo ela, faz parte do comitê-gestor do Prodir várias indústrias (por serem também distribuidoras) participantes do Atuação Responsável, como Clariant, Peróxidos e Ipiranga. “As empresas parceiras foram obrigadas por seus clientes a adotar o programa da Abiquim, mas a tendência é isso não passar mais a ocorrer em razão do Prodir”, diz.

Os princípios diretivos do processo de distribuição responsável

– Estender a todas as pessoas que tenham envolvimento direto ou indireto com a saúde, segurança e meio ambiente da empresa.
– Treinamento de todos os envolvidos nas atividades da empresa.
– Reconhecer e responder às dúvidas da comunidade relativas a produtos químicos, seu manuseio e transporte.
– Informar órgãos oficiais, funcionários e a sociedade quanto às informações fornecidas pelos fabricantes relacionadas aos riscos à sáude e ao meio ambiente dos produtos químicos e as medidas de proteção adequadas.
– Trabalhar com clientes, em concordância com as recomendações dos fabricantes relativas à pós-venda do produto, incluindo manuseio, uso, transporte e disposição final de produtos químicos.
– Operar as instalações de forma a proteger a saúde e a segurança dos funcionários, da sociedade e do meio ambiente.
– Colaborar na solução de problemas decorrentes de manuseio e disposição de produtos químicos perigosos ocorridos no passado.
– Promover os princípios e práticas do Processo de Distribuição Responsável pela troca de experiências, ou proporcionando assistência a outras empresas que produzam, manuseiam, usam, transportam ou descartam produtos químicos.
– Promover troca de experiência com entidades congêneres e órgãos governamentais de modo a aprimorar e divulgar junto à comunidade as normas de segurança a serem seguidas na distribuição de produtos químicos.

Química e Derivados: Atuação: grafico8.

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