Ambiente – Alstom investe na captura CO2

A Alstom, uma das maiores fabricantes de equipamentos para o setor energético do mundo, quer se tornar referência mundial no fornecimento de tecnologias capazes de reduzir as emissões de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera, o principal gás responsável pelo aquecimento global. Para isso, o grupo francês começa a apostar pesado no sucesso de seus projetos de captura e armazenamento de CO2 gerado com a queima de combustíveis fósseis, como carvão, gás e óleo, utilizados em grande escala pelas termoelétricas. Chamada mundialmente de CCS (de Carbon Capture and Storage), a tecnologia desenvolvida pela Alstom ainda está em fase experimental, mas, se depender dos esforços da companhia, não vai demorar muito tempo para fazer parte do portfólio da empresa.

“Nosso desafio é iniciar a venda comercial de tecnologias de CCS já a partir de 2015”, disse o engenheiro químico e diretor mundial de atividades de CO2 da Alstom, Philippe Paelinck, que ocupa uma das salas do escritório da companhia em Paris. Ele esteve no Brasil no final de junho especialmente para detalhar as ações do grupo na área ambiental.

Química e Derivados, Philippe Paelinck, Engenheiro químico e diretor mundial de atividades de CO2 da Alstom, Ambiente
Philippe Paelinck quer ver tecnologias de captura do gás a partir de 2015

Segundo Paelinck, no momento, a companhia está envolvida em dez projetos piloto de captura de gás carbono, todos situados em países desenvolvidos – Estados Unidos, Canadá, Alemanha, França, Polônia, Noruega e Suécia –, regiões com índice de emissão de CO2 muito alto e onde já é possível obter incentivos governamentais (subsídios e outras formas de apoio) que ajudem a cobrir os custos gerados pela produção de eletricidade associada à implementação da tecnologia CCS. “As centrais de energia equipadas com dispositivos de CCS podem ter custos iniciais de 30% a 50% superiores em relação aos gastos aplicados na construção de uma usina comum”, afirmou o executivo.

Um projeto piloto de CCS ainda em estudo pela Alstom na Noruega, realizado em parceria com a petrolífera local Statoil, prevê a captura de 80 mil toneladas de dióxido de carbono por ano gerado de uma termoelétrica a gás. Porém, cada tonelada de CO2 abatida nessa central vai gerar, inicialmente, um custo de cerca de 70 euros. Mas, segundo expectativas dos executivos da empresa francesa, espera-se que os gastos com os projetos de CCS caiam gradualmente à medida que essa tecnologia avance no mundo e os investidores comecem a faturar com a comercialização de créditos de carbono. Estudos de mercado citados pela Alstom indicam que o custo da CCS poderá ser reduzido para 35 a 50 euros por tonelada de CO2 captado até 2020, e para 30 a 45 euros por tonelada em 2030.

Embora estimativas apontem para um crescimento expressivo nas próximas décadas da participação de fontes energéticas que não emitam o gás poluente (como eólica, nuclear, e hidráulica), os combustíveis fósseis ainda irão responder por 60% da capacidade de produção de eletricidade no mundo em 2030, segundo previsões da Agência de Energia Internacional (IEA). Até lá, estima-se um aumento anual de emissões de CO2 da ordem de 18 bilhões de toneladas, tendo o carvão como principal vilão. Encontrado facilmente em todos os continentes, as reservas já comprovadas do mineral são suficientes para abastecer o mercado mundial por pelo menos cerca de 150 anos. Não há dúvidas, portanto, de que esse combustível continuará sendo queimado em quantidades estratosféricas em caldeiras instaladas principalmente nos Estados Unidos, China, Índia, Austrália e na Europa Ocidental. De acordo com projeções da IEA, sozinho, o carvão ainda responderá por 75% dos despejos totais de dióxido de carbono em 2030.

Desde a revolução industrial, os níveis de CO2 na atmosfera cresceram mais de 35%, de 280 partes por milhão para as 381 ppm atuais. Teme-se que concentrações superiores a 550 ppm resultem em efeitos altamente desastrosos para o meio ambiente. Estudos do Painel Intergovernamental das Mudanças Climáticas, órgão da Organização das Nações Unidas (ONU) criado em 1998, apontaram, entretanto, que os projetos de CCS poderão contribuir em 55% para a redução total das emissões de dióxido de carbono até 2100. Segundo pesquisa da Agência de Energia Internacional, os custos para estabilização das emissões aumentariam em 70% sem a alternativa de captura e armazenamento de CO2.

Com base nesses dados, a Alstom tem pressa para aprimorar suas tecnologias e, assim, convencer as indústrias da necessidade de rápidos investimentos na área de CCS, mesmo que isso resulte inicialmente num aumento dos custos dos projetos de geração de eletricidade e, consequentemente, em um reajuste das tarifas aos consumidores finais. “Estamos altamente comprometidos com o desenvolvimento de tecnologias de descarbonização da geração a partir de combustíveis fósseis”, ressaltou o diretor da Alstom, que além dos projetos de captura do gás poluente, aposta na propagação de seus serviços para a melhoria da eficiência energética das fábricas e também no aumento dos negócios direcionados a projetos com energia renováveis.

Além dos países desenvolvidos, a Alstom foca suas atenções na Ásia, região que já está entre as mais poluentes do planeta, em razão da rápida expansão industrial da China e da Índia, dois consumidores vorazes de combustíveis fósseis. A IEA estima que, até 2030, aproximadamente 1.300 gigawatts (GW) de nova capacidade de geração de eletricidade serão instalados no mercado chinês, com grande predomínio (mais de 70%) de centrais movidas a carvão.

Com uma economia também em ascensão, o Brasil, que tem sua matriz energética fortemente baseada na geração hídrica, não entra na lista das regiões prioritárias para aplicação de projetos de CCS do grupo francês, exatamente por exibir um quadro bastante confortável em termos de emissão de CO2 na área de geração energética em relação aos outros grandes países produtores de energia. “Neste primeiro momento, não temos previsão de instalação de nenhum projeto de captura e armazenagem de carbono em países da América do Sul, mas isso não impede que o Brasil já comece a fazer um mapeamento das possibilidades existentes para aplicação futura da tecnologia”, disse Paelinck.

Atualmente, são conhecidas três tecnologias de captura de dióxido de carbono: pré-combustão, pós-combustão e oxicombustão. A Alstom concentra seus esforços no desenvolvimento das duas últimas técnicas de CCS, já que ambas podem ser aplicadas tanto em usinas já existentes quanto em novas centrais produtoras de eletricidade. Por envolver processos mais complexos, a tecnologia de pré-combustão não permite modificações nas fábricas em funcionamento, segundo avaliação do grupo francês. As usinas já construídas são consideradas estratégicas para os planos futuros do grupo, pois estimativas dão conta de que essas centrais ainda terão potencial para emitir dois terços do total de CO2 previsto para ser despejado na atmosfera em 2030.

A captura de pós-combustão, que envolve a remoção do carbono dos gases de exaustão, está em fase mais avançada, segundo a Alstom, por ser considerada uma tecnologia de fácil adaptação às usinas já existentes. Nesse processo, o dióxido de carbono é extraído após a queima do combustível por meio do uso de um solvente, que pode ser a amina ou a amônia. Após esta etapa, apenas componentes inofensivos ao meio ambiente, como nitrogênio e vapor de água, são lançados na atmosfera. Por sua vez, o CO2 puro é comprimido, ocupando menos de 1% do espaço que ocuparia em estado normal, para depois ser enviado a um sítio geológico escolhido para o armazenamento final.

Como o nome sugere, a tecnologia de oxicombustão consiste na queima do combustível sólido com oxigênio puro em lugar do ar comum, para aumentar a concentração de dióxido de carbono. O gás de combustão obtido com esse processo é composto principalmente de água e CO2, o que facilita as operações posteriores de separação e captura do gás poluente.

A tecnologia de pré-combustão usa o Ciclo Combinado de Gaseificação Integrada (IGCC), método que transforma por meio de uma reação química um combustível rico em carbono, como o carvão, em gás de síntese (CO e H2). Após algumas etapas, forma-se o CO2 que é separado, enviando-se o hidrogênio para alimentar uma turbina de ciclo combinado. Por ser uma tecnologia complexa e de alto custo, segundo informações da Alstom, a sua aplicação só se justificaria em unidades de poligeração, nas quais a produção de hidrogênio, metanol, gás de síntese, óleo diesel, entre outros produtos, além de eletricidade, ajudaria a recuperar o alto investimento.

De nada adianta investir na captura de CO2 em usinas de geração de energia se não for traçado simultaneamente um plano de armazenagem e possível transporte (por dutos ou navios) do gás poluente. Os locais mais propícios para a estocagem do carbono são aquíferos salinos, jazidas de petróleo e gás e minas de carvão. Na avaliação da Alstom, os aquíferos, constituídos por rochas porosas encontradas no fundo da crosta terrestre, são os reservatórios mais apropriados para injetar o dióxido de carbono. A quatro mil metros de profundidade, o CO2 ao passar dos séculos reagirá com os minerais ali presentes e formará um depósito de
calcário.

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