Agroquímicos: avanços exigem insumos mais eficientes

Avanços tecnológicos exigem atualizar formulações e adotar insumos mais eficientes e seguros

O agronegócio brasileiro teve um ano difícil em 2022. Pressionado pela alta dos custos com insumos (agroquímicos) e com redução de safra por motivos climáticos, o setor registrou em redução de 4,22% no valor da produção em relação a 2021, alcançando a cifra de R$ 2,45 trilhões pelos cálculos do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea, da Esalq-USP), em parceria com a Confederação Nacional da Agricultura (CNA).

É preciso ressaltar que o ano anterior foi o recordista da série histórica, somando R$ 2,56 trilhões. Com a queda, a participação do agronegócio no PIB recuou de 26,6% para 24,8%.

Os dados do Cepea mostram que a atividade agrícola responde por 72,7% do valor adicionado pelo conjunto do agronegócio, enquanto a pecuária representa os demais 27,3%. Em 2022, a agricultura emagreceu 6,39%, enquanto a pecuária engordou 2,11%. Mesmo assim, o agronegócio lidera as exportações, com valor total de US$ 159,1 bilhões, 47,6% do total exportado pelo país em 2022. Os produtos do complexo soja (grãos, farelo, óleo e derivados) constituem o principal item exportado, com US$ 60,95 bilhões. Os dados de comércio exterior foram divulgados pela Secretaria de Comércio e Relações Internacionais do Ministério da Agricultura e Pecuária em janeiro de 2023.

Agroquímicos: Avanços tecnológicos exigem adotar insumos mais eficientes ©QD Foto: iStockPhoto

A obtenção de resultados tão expressivos depende da utilização intensiva e correta de tecnologia, com destaque para insumos químicos, dos corretivos e fertilizantes de solos até os defensivos contra plantas invasoras, insetos e microrganismos patogênicos. Aos agricultores, 2022 trouxe uma elevação significativa de custos. No caso dos agroquímicos, o Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Vegetal (Sindiveg) apresentou levantamento realizado pela consultoria Kynetec que indicou elevação de 28,3% no custo médio dos produtos aplicados, entre 2021 (US$ 8,00/ha) e 2022 (US$ 10,27/ha). Isso ainda reflete os impactos da Covid-19 e da guerra na Ucrânia sobre as cadeias produtivas e logísticas internacionais.

Outros dados do Sindiveg/Kynetec (resumidos em gráfico nesta edição) mostram que a área total pulverizada (PAT) aumentou 7,31% no período, enquanto o valor dos produtos agroquímicos aplicados cresceu 37,7% em 2022. No período, a quantidade de produtos efetivamente lançados nos cultivos registrou evolução de apenas 6,47%. Cabe explicar que o critério PAT é calculado pela multiplicação da área cultivada pelo número de aplicações realizadas e também pelo número de produtos empregados nas aplicações. “Esse critério permite comparar melhor os dados obtidos em cada safra e cultivo, para compreender as tendências de mercado”, explicou André dos Santos Dias, diretor geral para a América Latina da Kynetec, empresa de consultoria de alcance global que adquiriu no ano passado a brasileira Spark Inteligência Estratégica que pesquisava o mercado brasileiro de defensivos desde 2013.

As participações relativas entre os grupos de produtos praticamente não se alterou no período. Os herbicidas lideram com folga, representando 49% da quantidade aplicada em 2022. Na sequência, aparecem disputando cabeça a cabeça os inseticidas (21%) e os fungicidas (20%). Os adjuvantes e reguladores de crescimento ficaram com 9%, enquanto o tratamento de sementes manteve seu 1%.

Registros avançam em agroquímicos

O número de produtos avaliados e aprovados para registro no Brasil segue em ritmo acelerado (veja gráfico), refletindo a pujança do mercado agrícola. E esse ritmo deve crescer ainda mais nos próximos anos, como explica Flávio Hirata, diretor da Allier Brasil, consultoria especializada em registro de agroquímicos.

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Hirata: normas estaduais geram mais dificuldades para o setor

“Há um grande número de produtos técnicos e formulados sendo registrados agora porque houve um grande número de pedidos de registro há 10 a 12 anos, que é tempo consumido durante o processo, em média”, comentou.

Hirata explicou que o registro de um produto técnico (às vezes dito, impropriamente, ingrediente ativo) demora de quatro a seis anos, enquanto um formulado (produto final) consome outros cinco a sete anos. “Isso representa um custo excessivo para as empresas e também um risco, porque não se sabe o que pode acontecer em um prazo tão longo”, disse. Hirata apontou como exemplo o caso das formulações de glifosato em solução líquida, com pedidos de registro protocolados há dez anos. “O mercado mudou, esse tipo de apresentação perdeu a preferência dos agricultores que passaram a consumir mais os tipos granulados”, comentou. Há casos de produtos em processo de registro que foram banidos do mercado brasileiro, com total perda de interesse comercial, resultando em perda de tempo e dinheiro.

Apesar de criticar a demora na avaliação dos pedidos, Hirata considera a legislação brasileira sobre agroquímicos como uma das mais rigorosas do mundo, sendo capaz de garantir a segurança da população, ou seja, dos consumidores de produtos agrícolas, bem como dos trabalhadores que manipulam esses produtos. “É possível melhorar o processo, tornando-o mais ágil sem prejudicar a segurança dos consumidores, há bons avanços no PL 6.299 que está em tramitação desde 2002; mas também há nele alguns problemas”, avaliou Hirata.

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Um ponto positivo do projeto de lei é a instituição de uma “fila única” para protocolar os pedidos de registros, e não mais um protocolo em cada órgão fiscalizador (Ministério da Agricultura, Anvisa e Ibama). Caberia ao Ministério da Agricultura coordenar o procedimento, sem que isso implique subordinação entre os órgãos. “Como está hoje, o procedimento é demorado e ineficiente. Se algum órgão pede uma alteração no rótulo, por exemplo, o processo precisa voltar para os demais para nova aprovação, seria melhor que isso fosse feito em conjunto”, criticou.

As regras atuais permitem que o interessado peça tutela judicial para acelerar a avaliação de um pedido de registro, acelerando o procedimento (sem garantia de aprovação). Segundo Hirata, em 2022, a Anvisa avaliou e aprovou 59 agrotóxicos novos por ordem judicial. “Essa possibilidade surgiu há dez anos e era pouco usada, mas agora virou rotina”, comentou. Por sua vez, o PL 6.299 prevê que, depois de dois anos do protocolo, se não houver ainda o resultado da avaliação, seja concedido o registro temporário imediato do produto. “Isso é um ponto que gera muita polêmica e merece atenção”, comentou Hirata.

Com base em décadas de atuação na atividade, ele avaliou que o volume represado de pedidos de registro não está aumentando nos últimos anos, embora o número de pedidos venha crescendo. Isso mostra que há um fluxo constante de avaliações sendo promovidas pelos três ministérios envolvidos. “Anvisa e Ibama têm equipes qualificadas de tamanho razoável para lidar com os pedidos; o Ministério da Agricultura dispõe de estrutura enxuta e muito experiente, o que permite que o serviço flua bem”, considerou.

Hirata comentou que o ritmo de entrada de pedidos parece formar ondas. Isso se deve ao fato de uma empresa registrar um produto novo e obter sucesso de vendas. Ao ver o resultado positivo, os concorrentes se apressam para pedir registros similares, ou seja, “entram na onda”. “Pelo nosso acompanhamento, posso dizer que o Brasil terá uma nova onda de pedidos de registro em 2023 e 2024, porque empresas que não atuavam aqui conseguiram registros e foram muito bem, isso atrairá uma leva de novos players, especialmente da Índia e da China”, afirmou. Aliás, a participação das companhias indianas está em fase de crescimento, não só na venda de produtos técnicos, mas também de formulados. Na China, ele observa que a cadeia química dos agroquímicos está se deslocando para a região Oeste daquele país, onde há menos restrições ambientais.

No Brasil, a mudança de orientação política no governo federal, resultante das eleições do ano passado, cria alguma ansiedade em relação aos agroquímicos. Hirata ressalta que continuará fazendo o melhor trabalho possível para seus clientes e que o sistema de registros pouco depende do governo de plantão porque os critérios para aprovação estão previstos em lei. “Nos últimos sete anos, tivemos recordes sucessivos de aprovação de registros, não percebemos diferenças com os governos de Dilma, Temer e Bolsonaro nesse tema”, ressaltou. “A Marina Silva, ministra do Meio Ambiente, tem posições firmes e claras, talvez isso até contribua para aperfeiçoar o PL 6.299.”

Hirata aponta a falta de agilidade na avaliação dos pedidos de registro como um fato gerador de distorções no mercado. “A demora nos registros é a maior barreira não-comercial para o ingresso de novos players e para o aumento da concorrência no setor; quem tem o registro vende, quem não tem, fica fora do mercado”, afirmou.

O caso do imidacloprid, um inseticida do grupo dos neonicotinoides, é exemplar. Em 2012, o Ibama iniciou processo de reavaliação do inseticida, tendo em vista possíveis danos ambientais decorrentes do seu uso, em especial contra abelhas. O processo só foi encerrado em 2022 e ratificado em 2023. “Durante dez anos, o Ibama não avaliou o registro de novos produtos formulados porque esse produto técnico estava sendo reavaliado. Com isso, fechou a porta para a entrada de novos fornecedores, ou seja, sem querer, acabou criando uma reserva de mercado para quem já tinha o registro”, detalhou. Um efeito colateral dessa medida foi o incentivo à venda de empresas detentoras de registros de formulações de imidacloprid para outras, interessadas em ingressar no mercado brasileiro.

Uma fonte de perigo para a população é o uso de produtos formulados de origem ilícita, decorrentes de importações ilegais (contrabando e descaminho) ou da falsificação. “Dados levantados pelo Instituto de Desenvolvimento Econômico e Social de Fronteiras – Idesf apontam que produtos de origem ilegal já representam 20% do mercado de agroquímicos no Brasil, prejudicando os cultivos que ficam desprotegidos e colocando a saúde dos consumidores em risco, uma vez que não há controle algum de qualidade e segurança desses insumos”, disse Hirata, lamentando esse quadro e admitindo se tratar de um problema de difícil solução. (veja coluna da Abifina sobre esse tema nesta edição)

No campo dos produtos biológicos para controle de pragas da agricultura, Hirata explica que os registros saem rapidamente, levando de seis a doze meses. “A avaliação de produtos biológicos tem prioridade, é um campo novo e promissor”, salientou. Ele também comentou que os ensaios de laboratório desses produtos são de 30% a 50% mais caros do que os de produtos químicos tradicionais (sintéticos).

Os biológicos tem prazo de validade curto, e isso inviabiliza a importação, mas também incentiva a investir na produção local. “Há muitos investimentos em curso, empresas estrangeiras vêm para cá trazendo tecnologia”, afirmou. Mas Hirata também alertou para a importância de conhecer bem as cepas dos microrganismos que serão replicados e aplicados.

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“O problema é que há casos de violação de patentes que podem dar muita dor de cabeça para quem se envolveu com isso.” Um decreto de 2020 autorizou a produção on farm (nas fazendas) de insumos biológicos e houve vários investimentos por aqui.

Ao comentar sobre os registros federais de agroquímicos, Hirata explicou que é preciso recolher uma taxa de manutenção desses registros todos os anos, entre fevereiro e março, sob pena de suspensão. “Neste ano, foram recolhidos R$ 79 milhões para manter os registros em vigor, apenas na esfera federal”, calculou. Produtos em processo de avaliação também pagam outras taxas, um custo elevado que gera reclamações de empresas interessadas em participar do mercado brasileiro.

Mas as dificuldades e custos não param por aí. Cada estado da federação possui sua legislação específica, exigindo cadastramento dos produtos. “A cobrança estadual é feita para cada cultura alvo, isso dá um trabalho enorme e custa caro”, lamentou.

Ele comentou que a mudança de classificação feita pela Anvisa das substâncias agroquímicas, passando de quatro para cinco categorias, exigiu a adaptação de bulas e rótulos em âmbito federal, bem como nas secretarias de agricultura de 27 estados, com regulamentos diferentes entre si. “Sem o cadastro, o produto não pode ser vendido no estado e, muitas vezes, ele sequer pode ingressar no estado, complicando o transporte de produtos para outros destinos”, disse Hirata. “A legislação muda e a interpretação das normas em cada estado varia também, é impossível acompanhar tudo isso. Falta clareza, é péssimo para a imagem do país lá fora, sem mencionar o custo de tudo isso”, criticou.

Evolução tecnológica

O salto de produtividade realizado pelo setor agropecuário do Brasil nos últimos 30 anos é notável. Isso resultou do desenvolvimento de tecnologia local e do avanço nos produtos técnicos agroquímicos e de suas formulações. É preciso considerar que a evolução tecnológica caminhou em várias vertentes: qualificação de pessoal, máquinas e equipamentos, técnicas de cultivo e insumos, como fertilizantes e defensivos. E há impactos cruzados. Ou seja, quando os agricultores trocam uma forma de aplicação por outra, do trator para aviões de pulverização, é preciso que os produtos tenham sido formulados para a nova modalidade para que o resultado seja o esperado.

Estudo realizado pela Kynetec em parceria com o Instituto ProHuma de Estudos Científicos – um consórcio de empresas do setor que visa a formação de um banco de dados para dar suporte à melhor avaliação do risco de exposição ocupacional no país – registra um aumento do uso de sistemas autopropelidos de aplicação de agroquímicos nos últimos dez anos.

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Limberger: bem orientado, agricultor aceita inovações

“Isso é coerente com o avanço das grandes plantações na região Centro Oeste, onde faz sentido ter equipamentos de alta produtividade dedicados a essa operação”, comentou Cristiano Limberger, key account manager da Kynetec.

Isso também explica o avanço das aplicações aéreas, embora este tenha sido menos relevante. O gráfico que relaciona tipos de formulação com as modalidades de aplicação foi elaborado com o critério de área linear tratada (ALT) e sem considerar o tratamento de sementes.

A tabela com os percentuais de uso de formulações por ano foi calculada com o critério de Área Total Pulverizada (PTA). Entre 2016 e 2021, verifica-se uma perda de participação das suspensões concentradas (SC) e de concentrados solúveis (SL), sem, contudo, alterar a posição relativa das principais apresentações de agroquímicos.

Limberger adianta que observar as variações pelo agregado do setor não é a melhor forma de avaliar tendências. “Isso deveria ser feito cultura a cultura, ao longo de um prazo maior, o que permitiria tirar conclusões mais seguras”, salientou. Ele apontou que há uma preferência clara de mercado pelas formulações SL e WG (grânulos dispersíveis em água) quando se fala em herbicidas, enquanto os fungicidas usam mais os tipos SC e EC (de emulsão concentrada). “No agregado, SC caiu, mas registrou crescimento em números absolutos”, observou.

Ele também cita o caso da soja, que pouco usava produtos de contato, preferindo os sistêmicos. “Com o aparecimento da ferrugem asiática no Brasil, a aplicação de fungicidas na soja cresceu vertiginosamente e mudou o mercado”, avaliou Limberger.

Ele também observa que a evolução tecnológica das formulações é contínua, mesmo que não se altere a forma de apresentação.

A Kynetec conduz estudos sobre a preferência dos produtores agrícolas por determinados tipos de formulações, mas esses dados são protegidos por cláusulas de confidencialidade firmadas entre a consultoria e os contratantes. Limberger comentou que a mudança no tipo de formulação de um mesmo produto é até bem aceita pelos produtores rurais, mas exige um trabalho de divulgação e orientação de uso muito bem feito. “Por exemplo, se o produtor não souber formar a calda com a novidade, o resultado será desastroso e o produto será rejeitado”, comentou. Ele apontou o caso das formulações WG, que surgiram no mercado nacional há mais de cinco anos, mas registraram alguns casos de insucesso por fata desse suporte técnico.

“Além disso, qualquer mudança na formulação precisa passar pela maratona do registro, então o fabricante precisa estar muito seguro do resultado para mexer nela”, disse.

Insumos para formulações

O avanço das formulações exige respostas mais complexas por parte da indústria química, no sentido de aumentar a eficácia e a eficiência das aplicações, bem como reduzir o impacto ambiental. Há um arsenal de opções de tensoativos, neutralizantes, compatibilizantes e outros à disposição dos formuladores. Mas os desafios apresentados por estes tendem a aumentar, por exemplo, pela popularização dos produtos biológicos de controle.

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Quaglio: óleos naturais têm efeitos interessantes no campo

“De dez anos para cá, reforçamos o desenvolvimento de solventes não derivados de petróleo, incluindo óleos vegetais e seus ésteres etílicos, metílicos e de glicol”, comentou Claudinei Luiz Quaglio, diretor comercial da Biofragane, tendo sido responsável pelo desenvolvimento de insumos para agroquímicos e fertilizantes da empresa.

Além dos solventes, também produz umectantes, dispersantes, antiespumantes e biocidas para conservação de formulações, além de oferecer pigmentos e corantes e essências aromáticas, para dar a cor e o odor final do produto.

“Partimos de uma ampla linha de óleos naturais, como limoneno e de andiroba, além do óleo de alho, um eficiente fungicida que está em fase final de testes por parte de um cliente”, informou Quaglio. Ele disse que a produção de óleo de cravo está crescendo fortemente na Índia, refletindo a busca dos fabricantes de defensivos por produtos naturais. “No ano passado, nossos clientes nos pediram 40 tipos diferentes de óleos, isso demonstra que o mercado nacional está atento e procurando satisfazer essa demanda.”

A crise global de suprimentos decorrente da Covid-19 e da guerra na Ucrânia incentiva a desenvolver fornecedores locais de insumos para o setor. Com isso, a fábrica da Biofragane, situada em Ponta Grossa-PR, tem recebido investimentos continuamente, da ordem de R$ 1,5 milhão a R$ 2 milhões por ano de capital próprio, para atender a demanda. “Já temos uma área contígua pronta para abrigar expansão”, afirmou.

O desenvolvimento de produtos e aplicações é uma via de mão dupla, como explica Quaglio. Tanto os clientes pedem soluções para problemas, quanto os fornecedores apresentam a eles inovações que podem melhorar as formulações. “Como o setor de defensivos usa produtos técnicos antigos, lançados há anos, é preciso combinar dois, três ou até quatro ativos para se obter o resultado desejado no campo, mas a compatibilização desses ingredientes é uma dor de cabeça para os formuladores”, apontou.

A Biofragane quer ampliar sua participação no setor dos agroquímicos oferecendo novos desenvolvimentos a partir de fontes naturais, sem etoxilados. “Estamos trabalhando com alquil poliglucosídeos derivados de cana de açúcar”, adiantou.

No campo dos biológicos, a empresa atua com o éster metílico de óleo de soja e outros itens. “Calculo que o Brasil esteja consumindo 70 mil t/ano de éster metílico de soja no setor agro”, disse Quaglio. A conta não inclui o biodiesel. “O preço do éster vendido ao setor agro é duas vezes mais alto do que a cotação do biodiesel, é outro mercado”, considerou.

A busca por soluções mais sustentáveis para compor formulações está ampliando o consumo de óleos vegetais e ésteres, confirmou Diego Maranhão, business unit head para agro bioenergy and chemical industry da distribuidora internacional Caldic (que assumiu e integrou a quantiQ). “Estamos formando parcerias com fornecedores de ésteres metílicos e óleos degomados”, salientou.

Outra linha importante em crescimento são os aditivos para formulações base água.

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Maranhão: preferência cresce pelo óleo mineral do grupo II

“É um desafio lidar com produtos técnicos sem usar solventes orgânicos, mas contamos com os produtos da Vanderbilt Minerals, com tecnologia exclusiva de argilas modificadas que atuam como agentes de suspensão, com desempenho melhor que o dos tensoativos”, explicou.

Essas argilas tiveram suas vendas multiplicadas por três desde 2020. A Caldic também oferece o dimetil sulfóxido da Gaylord, com ampla aceitação de mercado.

Essas linhas de atuação prometem renovar o portfólio da distribuidora para os agroquímicos, ainda sustentado pela venda de solventes aromáticos e óleos básicos minerais. “Temos o AB-9 da Braskem, solvente que domina quase 30% desse mercado, mas é um produto maduro, que tende a declinar”, avaliou Maranhão.

Nos óleos minerais, que perdem espaço para os vegetais, ela explica que disputam mercado os produtos do grupo I e II. “O grupo II apresenta melhor qualidade e não tem resíduo de enxofre, mas é mais caro que o grupo I”, explicou. “Há clientes que exigem o grupo II, apesar da diferença de preço.” A Caldic conta com linha de envase própria em seu centro de distribuição de Guarulhos-SP, embalando óleo mineral para clientes com os rótulos destes (private label). Maranhão estima entre 80 mil e 100 mil t/ano a demanda agrícola por óleos minerais no Brasil.

Embora o Brasil seja o maior mercado mundial para agroquímicos, com grande aumento nos últimos anos de área plantada e de produtividade, justificando a Caldic ter duplicado suas vendas em valores ao setor nos últimos três anos, Maranhão destaca que 2023 começou com dificuldades. “Há estoques muito grandes em todas os elos da cadeia produtiva, foram formados numa estratégia defensiva por causa da pandemia, mas agora começam a ser desovados”, comentou. Ele prevê que esse movimento deve se encerrar até o segundo trimestre do ano. “Houve uma retração das cotações internacionais no segundo semestre de 2022, mais forte nas commodities, isso aumentou o custo de manutenção dos estoques.”

Na sua avaliação, as vendas dos clientes produtores de agroquímicos segue o mesmo ritmo de 2022, que foi bom, ou talvez até esteja acima dele, justificando a expectativa otimista com os negócios.

Maranhão também considera que o perfil dos produtos agroquímicos para o futuro deve favorecer as apresentações com menores volumes, ou seja, mais concentradas, de preferência com base água, usando insumos de origem natural renovável. “É uma tendência que está bem delineada”, considerou. Na área de bioprodutos, a Caldic atua nos campos dos bioestimulantes e dos produtos biológicos. Neste segmento, composto por seres vivos, como fungos e bactérias, o desafio para os formuladores é maior do que no caso dos produtos tradicionais. “Os ingredientes não podem interferir com a vida dos organismos, isso exige selecionar tensoativos, dispersantes e outros que sejam compatíveis”, salientou. O shelf life curto dos biológicos também é um obstáculo para o avanço dessa alternativa, que está sendo muito disputada por grandes empresas.

“Trazemos da Europa um espalhante adesivo que é um biopolímero oriundo de fermentação com alta compatibilidade com os produtos biológicos”, informou Maranhão, ressaltando que esse espalhante está sendo testado por clientes. As fermentações industriais podem contar com auxílio dos aditivos para processo da Roquette, melhorando seu desempenho.

Entre os dispersantes para linhas biológicas, a distribuidora oferece os lignosulfonatos, obtidos do processamento da lignina, um dos componentes das paredes das células vegetais. Em outra vertente, a Caldic também atua na área dos produtos bioestimulantes, oferecendo derivados de extratos de algas, com efeito positivo no desenvolvimento e fortalecimento das plantas. “Quando se aplica um defensivo, o resultado será melhor quando há uma aplicação de bioestimulantes”, defendeu Maranhão. A distribuidora também oferece extratos de milho e beterraba, produzidos pela Roquette, que oferecem aminoácidos e açúcares para estimulação das plantas cultivadas.

Indústria ativa para aumentar agroquímicos

A indústria química brasileira está investindo para ampliar a oferta de insumos e também de produtos formulados no ramo dos agroquímicos. Nos últimos anos, verificou-se um aumento na importação de produtos formulados, expondo dificuldades da produção nacional, exigindo reação por parte dos fabricantes locais.

“Nos últimos cinco anos, houve um aumento expressivo de produtos técnicos entrando no país, bem acima dos produtos formulados, mas é importante ter em mente que isso vai depender muito de molécula para molécula. Por exemplo, no caso do herbicida não-seletivo glifosato, houve um aumento expressivo do produto formulado entrando no país, por falta de capacidade de suprimento da demanda local. Por outro lado, o fungicida de contato clorotalonil registrou teve muito mais produção local e importação do produto técnico, causando uma queda na importação do produto formulado”, considerou Henrique Alves, gerente de maketing de industrial solutions da Dow para a América Latina. Esse movimento de importação dependem da capacidade produtiva local, tipo de tecnologia, situação do regulatório e interferência do grau de infestação da safra. “É mais uma questão da indústria do que da demanda”.

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Zaremba: fabricação local de defensivos tem investimentos

“A importação de defensivos já formulados é algo que sempre aconteceu, alguns anos mais, outros menos pronunciadamente. No entanto, um ponto importante a se ressaltar é que as grandes empresas de defensivos estão investindo cada vez mais na produção de formulação local devido aos problemas logísticos vivenciados recentemente, ao aumento de custos de energia e a problemas regulatórios na Europa. Mas o grande driver é que a agricultura no Brasil não para de crescer e a expectativa é que siga sendo muito relevante para o PIB e para as exportações do nosso país”, afirmou Gunther Zaremba, diretor de vendas do negócio Agro da Nouryon para a América do Sul.

“Apesar da tendência de aumento da importação de formulados, há que se ressaltar que várias empresas de agroquímicos estão anunciando expansões em suas capacidades de formulação locais, muitas vezes alinhadas à necessidade de mitigar os riscos associados à cadeia logística, atender demandas just in time, e viabilizar a crescente demanda por produtos biológicos, que em sua maioria, por restrições de shelf life, são preferencialmente formulados localmente”, avaliou Edson Pitta, gerente de marketign do segmento de Crop Solutions da Indorama Ventures, que comprou no ano passado a Oxiteno.

Segundo Pitta, a Indorama também mantém projetos de expansão e produção local de várias especialidades para as soluções agroquímicas, bem como o lançamento de componentes para as formulações mais recentes do mercado, além de inovações para o melhor desempenho dos produtos de proteção de cultivos, adjuvantes, fertilizantes e químicos utilizados na agricultura.

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Inovações

O avanço da tecnologia de cultivos está sendo apoiado pela indústria química, que procura se antecipar às demandas ainda em formação. É o caso da Clariant, fornecedora global de especialidades químicas para a agricultura que acompanha os desafios dos produtores rurais e formuladores em relação às mudanças climáticas, regulamentações e economia global.

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Florez: agricultura de precisão usa caldas com menos água

“O desenvolvimento de novos insumos está focado nas principais tendências do mercado agrícola e uma delas, sem dúvida, é oferecer soluções para novas tecnologias de aplicação, incluindo drones. Com tecnologias de precisão, os agricultores podem aplicar defensivos agrícolas em menores quantidades e com maior acuracidade e efetividade, tornando a pulverização de culturas mais precisa, econômica e segura. Porém, as novas aplicações têm menos água e precisam de novas formulações específicas para esse tipo de aplicação”, comentou Daniel Florez, marketing lead de Crop Solutions Americas.

A Clariant conta com uma linha de adjuvantes para solucionar os maiores desafios das aplicações com drones, com destaque para o Synergen® DRT que ajuda a controlar a deriva e a volatilidade das gotas finas durante a aplicação e melhora a cobertura e a penetração dos ativos nas folhas, aumentando o desempenho biológico e tornando a pulverização com drones mais sustentável e ecologicamente correta. “Essa nova tecnologia adjuvante mostrou que com pequenas doses se obtém um desempenho robusto no controle da deriva, mesmo quando usado com misturas de produtos, destacando-se a maior eficácia dos herbicidas na dessecação de plantas daninhas”, informou Florez.

A Dow mantém a oferta de soluções com produção local para melhorar o desempenho das formulações de seus clientes.

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Lucelena: OD e SC avançam e pedem modificadores reológicos

“É notável que a indústria busque alternativas sustentáveis e formulações mais ecológicas venham ganhando espaço e recebendo mais atenção, buscando remover inertes proibidos e mais agressivos da formulação final. Esses dois tipos de formulação vêm ganhando espaço, como OD (dispersão em óleo) e SC (suspensão concentrada), e é expressivo o número de registros de novos produtos com essas formulações. Portanto, estamos desenvolvendo modificadores reológicos para formulações OD para termos como uma solução de prateleira em 2023”, adiantou Lucelena Cardoso, gerente de pesquisa e desenvolvimento do negócio de soluções industriais da Dow.

A Indorama, atenta às necessidades do mercado, mantém o ritmo de inovações, citando como desenvolvimentos recentes o Surfom ULV 8 (adjuvante para mistura de tanque em aplicações por drone. “É uma técnica de aplicação que vem crescendo globalmente, o que demanda novas soluções em defensivos e adjuvantes que aumentem sua eficiência”, comentou Pitta. O Surfom 8152 é adjuvante para formulações de Glufosinato e suas combinações, um dos herbicidas que mais tem crescido em uso em grandes culturas como soja, milho e algodão. Outra novidade é o Surfom 8155, emulsificante para formulações complexas, tais como micro emulsões, possibilitando gerar formulações de compostos naturais e ativos químicos dissolvidos em solventes.

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Pitta: insumos podem ampliar a viabilidade dos biológicos

“Além dos lançamentos, a integração da Oxiteno com a Indorama nos permite complementar linhas de produtos já conhecidas no mercado, como Tersperse, Surfonic, Termul e Termix, com a linha de produtos Surfom, fazendo com que nosso portfólio seja cada vez mais completo, permitindo aos formuladores escolher a melhor solução para cada tipo de formulação”, disse Pitta.

As combinações de produtos técnicos em formulação única, bem como as misturas de tanque feitas com defensivos e fertilizantes foliares, exigem incluir soluções químicas mais avançadas, desenvolvidas especificamente para essa situação complexa. “Os agricultores precisam fazer aplicações conjuntas de diversos produtos para maximizar a eficiência de aplicação nos diferentes estágios de crescimento das culturas. A quantidade de diferentes combinações de produtos incompatíveis é incalculável e é por isso que o agricultor precisa de uma solução customizada de compatibilizantes para caldas em tanque. As ferramentas tecnológicas da Clariant permitem gerar uma solução customizada de adjuvantes e compatibilizantes de caldas que permite a maior efetividade de aplicação sem comprometer o controle de pragas e a nutrição dos cultivos, partindo de químicas de produtos amigáveis ao meio ambiente”, explicou Florez. Ele destacou a linha de compatibilizantes Synergen® C, na qual há alternativas para solucionar problemas de entupimentos de bicos causados por combinações de glifosato e fertilizantes foliares na mesma aplicação, enquanto outras linhas são indicadas para compatibilizar sistemas herbicidas com fertilizantes para misturas de defensivos agrícolas.

Pitta, da Indorama, vê no aumento da resistência de pragas, doença e plantas invasoras a razão para a formulação de combos de ingredientes ativos, de modo a combater as formas resistentes e ampliar o espectro de controle. “Os formuladores incluem dois, três e até mesmo quatro ingredientes ativos em uma única formulação; nosso comprometimento está em viabilizar soluções e metodologias para que esses desafios sejam superados pelos nossos clientes. Outro ponto relevante no desenvolvimento de nossas soluções é alinhar a performance à sustentabilidade, agregando valor aos produtos finais de nossos clientes, contribuindo para redução de toxicidade, redução nos impactos da cadeia logística e consequente redução de emissões, e no consumo de recursos finitos no campo”, salientou.

O avanço dos produtos biológicos chama a atenção também dos fornecedores de insumos químicos de formulação, interessados em oferecer respostas mais eficientes aos desafios desse novo segmento dos defensivos agrícolas.

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“Recentemente, a Nouryon inaugurou o Centro de Aplicação e Desenvolvimento no Brasil e temos trabalhado bastante com foco no segmento biológico, ainda um mercado pequeno, mas que está crescendo rapidamente. No futuro, ele será muito atrativo e temos que estar preparados e posicionados para atuar como first in mind dos nossos clientes. Em nossa visão, os biológicos serão uma grande ferramenta complementar aos químicos”, explicou Zaremba, salientando que o portfólio da companhia está em contínua revitalização, contando com parte da receita obtida com lançamentos realizados nos últimos cinco anos.

“Os biológicos já são uma realidade no Brasil. Cada vez mais a indústria vem se especializando nessa principal tendência global com enfoque em sustentabilidade e alternativas no manejo das lavouras do Brasil. Estamos desenvolvendo um portfólio específico para esse segmento, pautado em compatibilidade nas principais cepas da América Latina. Para esse ano, iremos construir uma fundação para esse mercado, focando em inovação e novos negócios para safra 23/24”, comentou Alves, da Dow.

“A adoção de biocontroles e bioestimulantes é inexorável e traz desafios complexos quanto a formulações que permitam manter os agentes biológicos viáveis pelo máximo de tempo possível, assim como sua compatibilidade com outros agentes biológicos e também ingredientes ativos químicos, o que por sua vez demanda alta dedicação de P&D no desenvolvimento de inovações que superem essas dificuldades”, avaliou Pitta. Nos últimos anos, a Indorama concentrou esforços para entender essas particularidades por meio do desenvolvimento de processos internos e com equipes especializadas nesse campo, com o objetivo de posicionar seu portfólio para esse tipo de aplicação, focando atualmente no desenvolvimento de novas moléculas para formulações de biológicos e suas combinações.

A Clariant considera os ativos biológicos como uma solução promissora para a proteção das culturas, porém a consistência da eficácia desses ativos não é comparável com a dos defensivos convencionais. Alguns dos problemas apontados pela companhia são a degradação dos microrganismos durante a armazenagem e os fatores ambientais. “É por isso que as formulações devem ser otimizadas com adjuvantes específicos que melhorem a eficácia biológica, sem afetar o crescimento e o modo de ação dos microrganismos. A Clariant pode desenvolver fomulações customizadas partindo de testes de biocompatibilidade que são essenciais para o desempenho final. Ao invés de fazer contagens em placa (CFU) para analisar o crescimento vegetativo dos microrganismos, a Clariant adota um método indireto, fluorométrico, conhecido como high-throughput para calcular a viabilidade do microrganismo em tempo recorde”, finalizou Florez.

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