Adesivos: Substituição da fixação mecânica garante crescimento a longo prazo

Além das oportunidades na construção civil sustentável, a motivação mercadológica provocada pela substituição da fixação mecânica e da soldagem pela ação química dos adesivos mostra que o setor tem boas perspectivas em vários outros tipos de clientes.

A tendência é global e apontada por vários analistas do mercado como um dos pontos-chave para manter o crescimento ano após ano da indústria mundial de adesivos, que, mesmo com a crise internacional, registrou acréscimo de 3% em 2012, totalizando vendas próximas a US$ 43 bilhões.

A substituição da fixação mecânica, embora ocorra também na construção, é mais forte e relevante financeiramente em alguns setores: na produção de aparelhos eletrônicos portáteis, como celulares, tablets e computadores, na indústria automotiva e de transportes em geral, e também na de equipamentos médicos e de energia e petróleo.

São esses os clientes que registram as maiores taxas de aumento de uso de adesivos, superando os acréscimos globais do PIB. E também aqueles para quem os departamentos de pesquisa e desenvolvimento das empresas mais dedicam os neurônios de seus técnicos a fim de criar novas soluções.

Vale lembrar que o uso de adesivos, no lugar de rebitagens, parafusos e soldas, não só facilita e limpa a produção como torna os produtos finais mais leves, resistentes e receptivos ao uso de novos materiais, como plásticos de engenharia, cerâmicas e compósitos.

Química e Derivados, Adesivo estrutural bicomponente da 3M
Adesivo estrutural bicomponente da 3M

Um exemplo de empresa de adesivos envolvida com essa tendência de longo prazo é a norte-americana Lord, com fábrica local em Jundiaí-SP. Com foco principal no mercado de transportes – no qual estão incluídas as indústrias de carros leves, caminhões, ônibus e a aeroespacial –, a empresa é responsável pela mudança de várias etapas produtivas nas indústrias desses setores.

Com um maior volume de negócios nos Estados Unidos e na Europa, mas com exemplos crescentes no Brasil, a empresa tem criado produtos para que as montadoras de carros, ônibus e caminhões possam trocar soluções mecânicas e/ou arcaicas de fixação por outras mais eficientes, utilizando alguns de seus adesivos estruturais base acrílico, de PU e epóxis ou os elastoméricos.

Química e Derivados, Sandro Leonhardt: adesivos no lugar de rebitagens e soldas
Leonhardt: adesivos no lugar de rebitagens e soldas

Na fabricante de ônibus Marcopolo, por exemplo, a empresa fez uma modificação para atender contrato temporário (dois anos) de fornecimento do cliente. Substituiu a colagem do teto dos ônibus, no qual se utilizavam 400 parafusos em toda a sua extensão, por um sistema com adesivo de poliuretano em que se passou a usar apenas 40 parafusos em cada lado e somente para manter o teto de compósito de plástico firme durante o processo de cura.

“Foi um ganho de processo incrível. Imagina o trabalho de fazer os 400 furos, colocar os rebites e depois vedá-los, em uma produção de 40 ônibus por dia”, explicou o gerente regional para a América do Sul da Lord, Sandro Leonhardt. Segundo ele, no momento, está em desenvolvimento um processo similar, com uso de adesivo acrílico, para colagem de aço.

Um outro projeto envolveu o uso de adesivo epóxi para colagem de peça única de capô e para-choque em caminhão da Volvo. Foi escolhido o adesivo epóxi bicomponente por sua versatilidade de colagem, ou seja, capacidade de aderir vários materiais (PRFV, plástico de engenharia, metal) e sua alta resistividade. A aplicação era toda robotizada e durou toda a produção de um modelo de caminhão da montadora sueca no Brasil.

Na indústria de carros leves também há exemplos interessantes. Em Catalão-GO, a Mitsubishi começou a usar o adesivo estrutural base acrílica Versilok, 100% sólidos, sem solventes, para colagem da parte interna com a externa das portas dos carros. “Onde a folha interna é unida com a externa tem uma dobra. Com o adesivo, todo esse perímetro da dobra é colado sem a necessidade de soldagens e retrabalho”, afirmou Leonhardt. Com o mesmo princípio, capôs e porta-malas podem ser colados.

A tecnologia anteriormente utilizada pela Mitsubishi brasileira (Grupo Caoa) para essa aplicação era o epóxi monocomponente. Mas, ao contrário do acrílico, que cola em 20 minutos em temperatura ambiente, o epóxi só cura em forno do revestimento no final da produção do carro. Isso significa que a colagem incompleta faz a peça perder o seu dimensional, durante o movimento da linha de produção, exigindo ajuste posterior.

Além disso, afora o epóxi, pontos de solda eram necessários para firmar a peça, o que exige uma linha apenas para lixar e retirar as saliências. “O adesivo é mais caro, mas o ganho na produção, com a retirada da solda e dos retrabalhos, paga rapidamente o seu uso”, disse. Em final de homologação em outra montadora no Brasil, a tecnologia é padrão nos Estados Unidos em montadoras como Chrysler, GM e Ford; e na Europa, na Mercedes-Benz e na BMW.

Outro mercado no qual a Lord desenvolveu aplicações no Brasil – e, aliás, com mais facilidade, por serem empresas nacionais que não precisam homologar seus processos nas matrizes – foi o náutico. Um trabalho conjunto com os principais fabricantes de barcos permitiu que os processos manuais, em que cada peça do barco era colada uma a uma no chassi com rolos ou pincéis ou fixada com parafusos, fossem substituídos por uma colagem única com adesivo acrílico 100% sólidos. “O que levava uma semana passou a levar três horas para curar sob pressão toda a estrutura interna do barco”, comemorou o gerente.

O campo de ação da Lord para difundir mais aplicações para seus adesivos no Brasil e na América Latina é muito grande, segundo explicou Leonhardt. Há potencial de sobra na indústria de transporte (por exemplo, para colagem de trailers de caminhões, hoje ainda sob o domínio das centenas de rebites) e, mais recentemente, o mercado de óleo, gás e energia passou a ser visto como uma nova frente de negócios para a empresa globalmente.

Neste caso, o Brasil, com vários investimentos na camada do pré-sal e na colagem de pás eólicas, por exemplo, torna-se um alvo para a venda de adesivos estruturais (conexão de tubulações de petróleo ou gás seria um possível uso). Bom lembrar que a Lord também é tradicional fornecedora de compósitos elastoméricos antivibração, muito comuns na indústria aeroespacial e na de transportes em geral, que podem ser usados em tubulações de óleo e gás.

A confiança nos mercados emergentes é tanta que a Lord investe R$ 50 milhões em nova fábrica em Itupeva-SP, a ser inaugurada em 2015 e que aumentará sua capacidade atual de produção de mil toneladas/ano para 2,5 mil t, com espaço para maior crescimento. A nova unidade, em terraplanagem, ocupa terreno de 40 mil m2, contra 8 mil m2 da atual, a ser descontinuada.

A meta global da Lord incorpora essa confiança nos BRICs. Hoje, 50% dos negócios da empresa estão nos Estados Unidos, mas o objetivo, para 2030, é fazer com que 70% das vendas sejam oriundas de outros países. Cumprindo esta meta, que inclui dobrar de tamanho a cada cinco anos, a Lord chegará em 2030 a um faturamento global de US$ 4 bilhões, contra o faturamento de US$ 1 bi previsto para 2013. E a perspectiva de os seus adesivos tomarem o mercado dos ultrapassados sistemas de fixação mecânica, sobretudo em países emergentes, com certeza deve contribuir com a estratégia da empresa.

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2 Comentários

  1. O adesivo epoxi e poliuretana são bons demais, e podem ser feitos a partir de fonte renovável (o que daria uma ideia mais verde). Talvez esse adesivo epoxi usado não estava acompanhado de um endurecedor a T ambiente, ou é necessário epoxi com grupos que colem melhor peças metalicas (epoxi com titanio, prata). Eu como estou começando com o epoxi, levanto a bandeira do grupo oxirano que é bem reativo, por causa da tensão do anel.

  2. Olá amigo, ótimo texto.
    Eu gostaria de desenvolver meu TCC sobre esse tema: Vantagens de aplicação de Adesivos e relação a processos convencionais (Rebites, Parafusos, Solda).
    Você saberia me indicar alguma empresa que poderia me apoiar fornecendo amostras, estudos, pesquisa, relatórios, etc. Qualquer coisa seria útil. Eu quero comparar as propriedades mecânicas, custo-benefícios, e outras vantagens e desvantagens dessa inovação tecnológica.
    E também algumas referências bibliográficas sobre o tema?
    Eu queria fazer esse trabalho, mas não estou conseguindo fontes suficientes para desenvolver esse estudo.
    Grato pela atenção, aguardo retorno. Adriano

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