Adesivos: Mercado em potencial mantém ritmo de investimentos apesar da redução dos lucros

A alta do dólar aumentou os custos de produção do setor, que já estavam elevados em razão do encarecimento das principais matérias-primas. Mesmo assim, a demanda Adormecida, sobretudo a do mercado de embalagens, faz os grandes grupos manterem a CONFIANÇA NO BRASIL.

Química e Derivados: Adesivos: grafico01O mercado de adesivos continua a fazer jus às previsões otimistas a seu respeito. Apesar da alta do dólar e da escalada do preço internacional das principais matérias-primas, como solventes, intermediários acrílicos e demais bases olefínicas, seu ritmo de crescimento anual tem se mantido, no Brasil e no mundo, a despeito da redução acentuada das margens de lucro. A média global do setor, cujas vendas em 2000 representaram US$ 30 bilhões, oscila entre 2% e 4%.

O Brasil, com faturamento total por volta de US$ 800 milhões, não foge da taxa mundial, com incremento de cerca de 2,6% ao ano.

Entretanto, por ter forte demanda latente, as perspectivas podem ser ainda um pouco melhores, a ponto de atrair o interesse de investidores internacionais.

Simbólico no entusiasmo com o mercado brasileiro é o novo investimento da norte-americana Rohm and Haas em sua fábrica de Jacareí-SP.

Uma das gigantes do ramo, sobretudo após ter adquirido a conterrânea Morton em 1999, a R&H consome atualmente US$ 15 milhões na montagem de uma linha de produção de adesivos de poliéster e poliuretano para embalagens de laminados e também para aplicação industrial.

Química e Derivados: Adesivos: Janaudis - nova fábrica da R&H em Jacareí.
Janaudis – nova fábrica da R&H em Jacareí.

Programada para entrar em operação até o final do ano, a unidade, segundo seu gerente comercial, Carlos Janaudis, “terá capacidade para atender a todo o Mercosul, cujo consumo desses adesivos está por volta de 10 mil t/ano.”

O consumo sul-americano desses adesivos, utilizados para aderir as camadas dos laminados de papel, alumínio ou plástico, cresce a um ritmo veloz, proporcional ao grande potencial ainda a ser explorado pelo mercado de embalagens da região. Só para se ter uma idéia, o consumo per capita sul-americano (cerca de 3 kg anuais) ainda é cerca de dez vezes menor em comparação ao norte americano. “A distribuição de alimentos industrializados chega cada vez a pontos mais distantes de consumo, o que obrigatoriamente demanda acondicionamento em embalagens”, lembra Janaudis.

A nova unidade da R&H produzirá também o insumo básico, o poliéster, e poderá formular adesivos base solvente, base álcool ou base água. Além dos aromáticos, normalmente aplicados onde não há contato direto com o alimento, a empresa tenciona manter a produção de adesivos alifáticos (sem TDI e MDI) para embalagens esterilizáveis e pasteurizáveis. A fábrica vai dispor ainda de novos adesivos a curto prazo, como o Mor-Free, de base poliuretânica, indicado para embalagens laminadas de saladas in natura. Por ser permeável ao oxigênio do ar, mantém a vida útil dos vegetais. Até agora, no Brasil, não há adesivo similar, o que tem comprometido a conservação dessas saladas. De acordo com Janaudis, a permeabilidade do Mor-Free é até dez vezes maior do que a dos convencionais.

Química e Derivados: Adesivos: grafico02.Com a compra da Morton a unidade de adesivos da Rohm and Haas, até então atuante apenas nos acrílicos base água PSA (pressure sensitive adhesive) para fitas e etiquetas, foi reestruturada de modo a aproveitar os produtos da adquirida. Foram criadas três divisões: a de PSA; a de embalagens, que inclui os adesivos e catalisadores de PU e poliésteres para laminados; e a automobilística, para o qual comercializa dispersões de borrachas para autopeças. Dessas, no Brasil, apenas a área automotiva não faz parte ainda dos planos, a não ser para fornecer adesivos PU para colagem de tetos de carros e de desmoldantes para estofados, enquanto os adesivos PSA já são fabricados em Jacareí.

Química e Derivados: Adesivos: Hot-melts da Henkel - embalagens são fundidas junto com o adesivo.
Hot-melts da Henkel – embalagens são fundidas junto com o adesivo.

Custo preocupa – Além de tirar proveito do dinâmico mercado nacional de embalagens, a produção local da Rohm and Haas minimiza um pouco o alto custo atual da produção dos adesivos, dependente de muitos insumos importados.

Desde a alta do petróleo, há casos de aumentos de matérias-primas superiores a 70%, como em muitos solventes e intermediários acrílicos. No exemplo específico do monômero acetato de vinila, componente principal para a fabricação dos adesivos vinílicos de PVA, de hot-melts e de várias dispersões, a alta do preço em dólar desde maio de 2000 até maio de 2001 chegou a 11,8%.

Acrescida à desvalorização do câmbio em reais, resultou em aumento de 29%. E nem com a produção local da Union Carbide é possível compensar as perdas das importações, pois a detentora do monopólio cobra preço igual ao internacional (com o valor das alíquotas agregado).

Outros investimentos anteriores aos da Rohm and Haas também conseguiram compensar um pouco o custo encarecido com a desvalorização cambial, beneficiando-se sobretudo de economias de escala. O melhor exemplo é o da Henkel, maior produtora mundial de adesivos, que investiu US$ 4 milhões em dois projetos para produção de hot-melts de embalagens também em Jacareí, o primeiro finalizado em outubro de 1999 e o seguinte, em fevereiro de 2000. “Se não fosse a expansão, o impacto do aumento de custo de produção de até 70% teria sido pior”, diz Sérgio Redondo, gerente regional de vendas da divisão de adesivos industriais.

Química e Derivados: Adesivos: Redondo - investimentos minimizaram a crise.
Redondo – investimentos minimizaram a crise.

Com produção total de 5 mil t/ano de hot-melts em 2001, a primeira etapa do projeto foi para ampliar os granulados tipo Gala, indicados para cartões e cartolinas. A segunda fase expandiu e modernizou a linha dos base borracha PSA, voltados para fraldas e absorventes descartáveis. Este último tem a peculiaridade de ser revestido com um filme plástico compatível com a formulação do hot-melt de borracha, permitindo que o adesivo seja fundido com a embalagem no coleiro (equipamento usado para fundir a 160ºC o adesivo sólido para aplicação posterior por sistemas de mangueiras e bicos). “Antes o adesivo vinha embalado em cartões de papelão revestidos com silicone, que precisavam ser retirados e depois descartados”, diz Redondo.

A divisão de embalagens para alimentos da Henkel Adesivos Industriais (que ainda atua, de forma segmentada, na áreas de montagens de contêineres, cabos e fibras, e na indústria gráfica e de laminação) é a mais importante para a empresa. Além do dinamismo dos clientes, um dos motivos principais, de acordo com o gerente regional da Henkel, é em razão de as embalagens serem grandes consumidoras de hot-melt, um dos adesivos de maior potencial no mercado. “Por serem 100% sólidos, os custos de frete, armazenagem e de seguros são muito mais competitivos em relação aos solúveis”, diz.

Além dos hot-melts, a divisão também produz cerca de 3 mil t/ano de adesivo pastoso de caseína, extraído de proteína do leite importada da Europa. Volta-se para rotulagem de garrafas de vidro de vinho, cerveja e destilados. Embora bem diferente de alimento, o mercado de cigarros também é atendido pela divisão, visto que suas exigências organolépticas são rigorosas da mesma forma. Para esse mercado, a Henkel produz 1.500 t/ano de dispersões de EVA. Também desse polímero em breve passará a produzir hot-melts especiais para embalagens de alimentos super congelados, que suportam temperaturas de -30ºC e se compatibilizam com revestimentos coating e de filmes de polietileno. Por enquanto, a Henkel só importa esses produtos.

Crescimento rápido – O setor correspondente a embalagens, conversão de papel e de cigarros corresponde a cerca de 25% da demanda total de adesivos no País, segundo pesquisa da EcoPlan Consultoria de 1997. Em franca expansão, vem atraindo o interesse de outras empresas, como a Alba Química, que até então se centrava mais nos segmentos de colas de consumo, construção, madeira e moveleiro. Há cerca de três anos, a empresa criou uma divisão de embalagens e indústria gráfica que hoje já corresponde a cerca de 25% do faturamento de sua divisão de adesivos vinílicos industriais.

Química e Derivados: Adesivos: grafico03.A base para a arrancada foi dentro da especialidade da Alba: os adesivos de PVA (acetato de polivinila). De acordo com o gerente da área, Milton Campos, a estratégia contemplou quatro frentes de atuação: 1) adesivos aplicados em fechamento de cartuchos na indústria cosmética; 2) fechamento de caixas de papelão ondulado; 3) rotulagem de garrafas plásticas com papel por meio de uma emulsão de EVA; e 4) laminação de papel-cartão com papelão microondulado. Nesse último caso, a Alba precisou desenvolver em seu centro de pesquisas de Cotia-SP uma emulsão de terpolímero de PVA com baixos sólidos (25%). Segundo Campos, foi a única maneira para competir em custos com os mais baratos amidos, gastando menos matéria-prima.

Química e Derivados: Adesivos: grafico04. Outro desenvolvimento em Cotia, onde também está a produção dos adesivos da Alba, foi um PVA resistente ao óleo, para embalagens de papel para autopeças. A divisão de embalagens produz ainda caseínas para rotulagem, mas de acordo com Milton Campos em uma proporção irrisória. “Estamos tentando reduzir o custo desses adesivos para poder participar do competitivo mercado de cervejarias, cujos principais fabricantes obrigam os fornecedores a aviltarem seus preços”, ressalta Campos. Também na área de hot-melts, por meio de importação da filial inglesa da controladora Borden, a Alba fornece formulações de EVA para fechamento de embalagens de congelados e para colagem de lombadas de livros.

A atuação da National Starch & Chemical é mais um exemplo de empresa com crescimento rápido em resultado do desempenho do mercado de embalagens, conversão de papel e rotulagens de bebidas.

Química e Derivados: Adesivos: Brenna - adesivos para máquinas velozes.Com foco principal em amidos de mandioca e milho, a divisão de adesivos da empresa, com escritório em São Paulo, só foi estruturada há cerca de quatro anos, período suficiente para se firmar no mercado, segundo explica seu diretor comercial, Gabriel Birenbaum. “Nesse período crescemos a uma taxa média de 25% ao ano”, comemora.

Com atenções exclusivamente voltadas para as aplicações industriais, a National conta com o trunfo de ter inaugurado fábrica há um ano em Trombudo Central-SC, onde produz dextrinas para embalagens e conversão de papel, caseínas para rotulagem, e dispersões e emulsões de EVA e PVA, utilizadas em cigarros, embalagens e madeira. As dextrinas são obtidas a partir do amido de milho produzido na fábrica e também são produzidas em outra unidade nacional, em Palmital-SP.

Operando em dois turnos, e com capacidade para 560 t/mês, a fábrica produz cerca de 40% dos adesivos comercializados pela empresa. Outros 30% do faturamento procedem de outras fábricas no Mercosul, como na Argentina, onde a National conta com unidade de hot-melts para fraldas e absorventes (descartáveis). O restante, também em sua maioria hot-melts especiais, vem de fábricas européias.

De acordo com o gerente de vendas da divisão, Ridnei Brenna, o foco da National é fornecer apenas para mercados com máquinas de alto desempenho. “Nossas formulações, com maior valor agregado, visam operações de alta produção”, diz. Cita como exemplo caseínas específicas para máquinas com capacidade para rotular 60 mil garrafas por hora, iguais às da cervejaria líder nacional Ambev.

Outro exemplo são fornecimentos de adesivos vinílicos para o mercado de madeira para exportação de portas e painéis, que suportam altas temperaturas, intemperismos e com capacidade de colagem estrutural.

Química e Derivados:Química e Derivados: Adesivos: Walkiria - PVA para madeiras no Sul.Mais madeira – Aproveitando o mesmo mercado de exportação de madeira que a National Starch visa com seu adesivo de PVA, a Alba, líder no setor moveleiro, também criou soluções para os clientes exportadores. Setor concentrado no Sul do País, uma de suas maiores demandas tecnológicas em termos de adesivos é a tolerância à operação em temperaturas baixas. Utilizando sua tecnologia de cross-linked (cadeias cruzadas), que permite alterações na estrutura molecular do polímero vinílico, a Alba lançou nova família de PVAs que suportam colagens com temperatura ambiente de 3ºC, contra no máximo 13ºC de versões anteriores.

Na verdade, conforme diz a gerente de negócios, Walkiria Dantas, o novo adesivo possui um TMFF (temperatura mínima de formação de filme) de 3ºC. “Há regiões, como a de Caxias do Sul-RS, em que a temperatura chega a esses níveis constantemente”, diz. “Com essa resistência, a colagem é mais rápida e fácil.” Os desenvolvimentos são de Cotia-SP, embora a divisão de adesivos industriais da Alba tenha mudado recentemente para Curitiba-PR. O faturamento dessa unidade (há ainda a divisão de adesivos de consumo, responsável por metade das vendas totais da empresa, avaliada em torno de US$ 100 milhões) cresceu 31% de 1999 para 2000 e 12,3% em volume. Porém, com a alta das matérias-primas os adesivos vinílicos sofreram aumentos de 25% e os de contato (base de policloropreno) cerca de 15%.

No mercado nacional com consumo próximo a 50 mil t/ano de PVA, outra empresa com participação importante é a Rhodia, produtora do homopolímero desde 1958 em sua unidade multipropósito em Paulínia-SP.

Também de olho no setor de madeira e moveleiro, a empresa está lançando no segundo semestre novas formulações com propriedades de secagem rápida e maior tensão de descolagem para madeira. “Nossas pesquisas são voltadas para criar PVAs com características aprimoradas de selagem, de resistência à água e colagem rápida”, afirma a gerente de mercado da Rhodia, Gisleine Bellini.

Um desses novos desenvolvimentos é uma cola de PVA monocomponente para secagem rápida de assoalhos, tacos e parquetes já envernizados. Conforme explica o gerente de marketing Carlos Tomassini, o adesivo precisou ser base álcool, visto que se fosse base água mancharia a madeira. “Até então para essa aplicação os clientes usam uma cola de poliuretano, que além de ser bicomponente é mais cara”, diz.

Química e Derivados: Adesivos: Gisleine - foco em aplicações especiais.
Gisleine – foco em aplicações especiais.

Com mais de 30 formulações de PVAs, para uso em madeira, embalagem, construção civil e escolares, o laboratório da Rhodia se concentra em desenvolver PVAs especiais, como por exemplo os isentos de solventes. “As taxas de crescimento desses nichos específicos para PVA são bem superiores aos 5% anuais dos convencionais”, completa a gerente Gisleine.

Inteligentes na linha – A pesquisa com adesivos, porém, vai muito além dessas iniciativas com o PVA da Alba e da Rhodia. Há uma tendência internacional de desenvolvimento dos chamados smart adhesives (adesivos inteligentes), produtos que além da função comum de aderência agregam outras propriedades. No ponto de vista comercial, essa tendência visa atender a aplicações em setores cujo crescimento de consumo supera a média dos outros mercados dos adesivos. São os casos, principalmente, das aplicações em eletroeletrônica e para uso medicinal, com taxa mundial de crescimento de 5% a 10% ao ano.

Para começar pelo mercado médico, atendido por empresas como 3M, Loctite (Henkel) e National Starch, as principais aplicações são em curativos, montagem de seringas e em tecidos artificiais. Uma preocupação nessa área é criar adesivos base água compatíveis com a pele para uso em curativos do tipo Band-Aid. Só para se ter uma idéia do quanto precisa ser ainda desenvolvido, a Johnson & Johnson, dona desta marca, para atender sua política coorporativa ambiental passou a usar nesses curativos um adesivo base água, substituindo outro com solvente. O resultado é que os Band-Aids comuns perderam muito do poder de colagem na pele. Em sua linha de curativos para uso em práticas esportivas (Sport Strip), para garantir melhor aderência, a empresa manteve o adesivo PSA acrílico base solvente.

Adesivos: Tomassini - desenvolvimento para assoalhos. ©QD Foto - Cuca JorgeUma empresa bem envolvida na tendência do adesivo inteligente, inclusive por ser a criadora da expressão, é a 3M, uma das líderes mundiais no setor. “Smart adhesive significa que o adesivo deixou de ser apenas uma simples cola”, explica o gerente técnico da 3M do Brasil, Antonio Carlos Espeleta. Segundo ele, essas novas propriedades seriam, por exemplo, adicionar aditivos ou modificar molecularmente o adesivo para fazê-lo conduzir eletricidade, fazer contato elétrico, ser anticorrosivo, absorver ruído e vibração, entre outras novidades.

Química e Derivados: Adesivos: Espeleta - adesivos tendem a ser mais 'inteligentes'.
Espeleta – adesivos tendem a ser mais ‘inteligentes’.

Nessa vertente de dupla funcionalidade, de acordo com Espeleta, a 3M consome parte dos 2,5% do faturamento (US$ 16,7 bilhôes em 2000) sempre voltados para pesquisas no centro tecnológico em Saint Paul, nos EUA, onde trabalham 40 PhDs. Mas os esforços não se detêm só nessas pesquisas. Outro exemplo é a chamada tecnologia microrreplicada de produção de adesivos. “Isso possibilita ao adesivo ter estrutura com várias réplicas iguais de formas geométricas por cm², o que torna sua aderência uniforme, sem bolhas, entre outras vantagens”, diz.

Também vale destacar uma família de produtos aditivada com nanocompósitos para melhorar a resistência à temperatura ou ainda os chamados adesivos universais. Estes últimos, blendas poliméricas, possuem várias faixas diferentes de adesivos para combinar propriedades. Dessa forma, têm a capacidade de colar qualquer tipo de material, desde plásticos até metais.

Em razão da maioria desses adesivos da 3M ainda estarem em pesquisa ou em processo de patenteamento, Espeleta não deixa escapar muitos pormenores. Porém, levando-se em conta o conceito de adesivos inteligentes revelado pelo gerente, já se pode prever um futuro bastante promissor para o mercado, a fazer jus às previsões otimistas.

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