Mais um peso pesado da química mundial, o grupo norte-americano Georgia-Pacific, resolveu investir no Brasil.
Com vendas líquidas de US$ 25 bilhões, em 2002, o grupo adquiriu em outubro de 2003 duas unidades industriais da Atofina no Brasil: a de resinas uréicas e fenólicas de Ananindeua, no Pará, e a de formaldeído e também dessas resinas termofixas em Jundiaí-SP.
Para selar o acordo, assinado no dia 13 depois de meses de negociação, veio ao Brasil o presidente da divisão química da companhia, Mario Concha, que aproveitou para revelar parte dos planos da empresa no País.
Com valor inferior a US$ 10 milhões (única aproximação numérica que o contrato de sigilo entre as empresas permite revelar), a negociação faz o grupo americano fincar pé no principal mercado da América Latina.
Depois de ter adquirido, a partir de 1998, unidades também de formol e resinas no Chile e na Argentina.
Concha critica alto custo das importações de fenol.
“De imediato aumentamos nosso faturamento na América Latina em no mínimo 25%”, afirmou Mario Concha, colombiano radicado nos Estados Unidos, referindo-se aos ganhos com as 60 mil t de formol e 100 mil t de resinas produzidas pelas duas fábricas brasileiras adquiridas.
Atualmente, o dirigente estima que a Georgia-Pacific fature cerca de US$ 50 milhões no continente sul-americano, com as fábricas nos países vizinhos, onde produz 190 mil t de formol e 105 mil t de resinas termofixas para uso industrial.
Trata-se de um percentual considerável, ao se levar em conta o curto período na região e o fato de a divisão química da Georgia-Pacific faturar globalmente US$ 700 milhões.
A intenção da empresa, em uma primeira fase, é não provocar grandes alterações nas fábricas brasileiras, mas com o tempo Mario Concha prevê incrementos na capacidade e a introdução de novas linhas produtivas.
Também nessa primeira fase o propósito é enfocar nichos de mercado industriais, como aplicações de resinas termofixas no setor automotivo, em lonas de freio e pastilhas de freio, ou em abrasivos e produtos termoisolantes em fogões, geladeiras e fornos.
Ainda fazem parte desses nichos as aplicações em produtos de construção civil como forros, telhados e pisos, bem como aglomerados e compensados, e ainda como compostos nas formulações com fibra de vidro.
Embora a Georgia-Pacific também pense atuar em um dos mercados nos quais as resinas uréicas e fenólicas têm mais crescido ultimamente – o de painéis de aglomerados MDF –, a intenção, segundo o presidente Concha, é não enfocar muito esse mercado. “Pode ser um plano futuro dar mais ênfase a essa aplicação, já que temos vasta experiência na área, mas não por enquanto”, diz.
A reticência do executivo aí pode ser explicada pelo fato de se tratar de mercado onde competidores de peso, como Borden Chemical, Schnectady/Crios, Synteko e Dynea, já atuam há tempo no Brasil, com unidades produtivas e estrutura comercial bem estabelecidas. Isso, porém, não significa que as outras empresas também não participem dos mercados visados pela Georgia-Pacific.
Aliás, a se guiar pelo desempenho recente do mercado brasileiro de resinas termofixas, não fica difícil entender o interesse da Georgia-Pacific, apesar da concorência forte existente. Em 2002, segundo a Abiquim, a produção de resinas termofixas cresceu 15,8%, passando de 449 mil para 520 mil toneladas.
Nos anos anteriores os acréscimos foram freqüentes. No acumulado de 1992 a 2002, a produção passou de 187 mil t para as 520 mil t, registrando crescimento de 178%.
Além desse perfil de crescimento, porém, a Georgia-Pacific precisará se adaptar a uma outra característica do mercado brasileiro de resinas termofixas não muito positiva.
Consumidoras de fenol, metanol e uréia como matérias-primas básicas, as empresas do setor têm reclamado muito do fornecimento do primeiro, insumo fundamental das resinas fenólicas.
Monopólio da Rhodia, que o produz em Paulínia-SP (ver QD-417, pág. 90), os produtores se queixam da impossibilidade de recorrer a importações, quando necessário, em virtude da altíssima alíquota imposta ao produto (de 50% a 70%) resultante de processo antidumping.
A revolta do setor é maior ao se notar que, mesmo com a atual ampliação na produção da Rhodia, o seu fenol é insuficiente para a demanda local. “É o único lugar do mundo que existe uma proteção desse tipo”, finaliza Concha.