Abiquim: Indústrias químicas brasileiras incorporam processos biotecnológicos para oferecer mais soluções de baixo carbono

Química e Derivados, Abiquim: Indústrias químicas brasileiras incorporam processos biotecnológicos para oferecer mais soluções de baixo carbonoCop-21 e debate sobre mudança do clima devem impulsionar investimento em tecnologias baseadas em matérias-primas renováveis.

Durante a 21ª Conferência do Clima (CoP-21), que será realizada em dezembro deste ano em Paris, na França, governantes de diversos países discutirão o futuro de baixo carbono. Na ocasião, o Brasil deve apresentar meta ousada de redução de emissões, conforme a presidente Dilma Rousseff anunciou na Cúpula da ONU sobre Desenvolvimento Sustentável, em setembro. Até 2030, o País vai se comprometer a reduzir em 43% a emissão de gases de efeito estufa (GEE), em relação a 2005.

Na avaliação do secretário de Mudanças Climáticas e Qualidade Ambiental do Ministério do Meio Ambiente (MMA), Carlos Augusto Klink, o Brasil tem papel de destaque nas mudanças climáticas, não só no campo da diplomacia, mas também nos resultados e na sua ambição futura. “De acordo com as últimas estimativas do governo, o Brasil reduziu em 40% as emissões de gases causadores do efeito estufa entre 2005 e 2012. Nos últimos dez anos, foi reduzido 82% do desmatamento no País”.

Como observa o professor da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, da Universidade de São Paulo (Esalq-USP), Carlos Eduardo Pellegrino Cerri, devido à redução do desmatamento já conquistada, hoje a participação das atividades produtivas e da queima de combustíveis fósseis nas emissões é muito maior do que em 2005, o que exige um esforço cada vez maior para contribuir na redução das emissões.

Estudo realizado por pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em parceria com 85 stakeholders, entre governo, associações industriais, ONGs, centrais sindicais e acadêmicos, concluiu que a meta de Copenhagen de redução das emissões para 2020 seria tranquilamente alcançada pelo Brasil, mas que entre 2020 e 2030, as emissões voltariam a crescer de forma mais intensa e não mais com picos relacionados ao desmatamento, como aconteceu no passado, mas por causa da atividade econômica. “Esse crescimento mais acelerado das emissões nas próximas décadas estaria ligado à queima de combustíveis fósseis por transportes, indústrias, pelo setor produtivo em geral, e também pela atividade agropecuária. O aumento das emissões será muito mais estrutural e ligado ao crescimento da economia do país”, explica o professor William Wills, pesquisador da UFRJ. De acordo com ele, essa nova característica do aumento das emissões, relacionada ao crescimento do PIB do Brasil, exigirá uma estratégia muito bem definida para reduzir o lançamento de GEE na atmosfera, para não prejudicar o crescimento nacional.

A partir do levantamento da UFRJ, foram identificadas medidas de mitigação mais adequadas e custo-efetivas. Então, foi construída uma curva elencando da medida mais barata para a mais cara, e a conclusão foi que 71% do potencial de abatimento de GEE identificado tinha custo abaixo de US$ 20,00 por tonelada de CO2. “Ficou claro que o Brasil tem um grande potencial de mitigação a baixo custo”, comenta o professor Wills, para quem o estudo detectou também o importante papel da biomassa e dos biocombustíveis para a mitigação das mudanças do clima e para o alcance da meta a ser apresentada pelo governo brasileiro na CoP-21.

A indústria química, por meio da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), participa ativamente das discussões referentes às mudanças climáticas e ao aquecimento global, tanto em nível nacional, atuando com o governo e com as associações industriais, como internacional, colaborando com o Conselho Internacional de Associações da Indústria Química (ICCA, na sigla em inglês).

De acordo com levantamento da equipe de Assuntos Técnicos da Abiquim, o setor químico é responsável por aproximadamente 10% da demanda de energia global. Por outro lado, a química também é vital para a economia de energia e redução de emissão dos gases de efeito de estufa. Segundo estimativas do ICCA, as tecnologias desenvolvidas pela química para materiais de construção, por exemplo, podem reduzir a demanda global de energia em 41% até 2050 e as emissões de GEE, em 70%, no mesmo período. Um outro exemplo é o desenvolvimento de biopolímeros, que capturam CO2 da atmosfera, produto cujo maior produtor mundial é o Brasil.

O setor químico é também parte da solução das mudanças climáticas desde 1992, quando implementou o Programa Atuação Responsável®, iniciativa voluntária da indústria química mundial, gerida no Brasil pela Abiquim, destinada a demonstrar seu comprometimento na constante melhoria de seu desempenho em saúde, segurança, meio ambiente e sustentabilidade. “A Abiquim acompanha a intensidade de emissões de gases de efeito estufa do setor desde 2006 e o setor tem orgulho de já ter reduzido essa intensidade em mais de 50% até 2013”, comemora o gerente de Gestão Empresarial da Abiquim, Luiz Shizuo Harayashiki.
Segundo dados do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), o total das emissões da indústria química caiu de 25,1 milhões de toneladas de CO2 equivalente em 2005 para 17,6 milhões de toneladas de CO2 equivalente em 2010. Apenas nos processos industriais do setor, a redução foi de 6,7 milhões de toneladas de CO2 equivalente nesse mesmo período.

“O Brasil tem diferenciais comparativos capazes de colocá-lo como uma potência mundial da economia de baixo carbono. A matriz energética brasileira é bem mais limpa do que a média dos países e a produtividade da biomassa no Brasil é superior à maioria dos países. Esses dois insumos podem trazer oportunidades especiais para a indústria química local”, completa Harayashiki.

Química e Derivados, Abiquim: Indústrias químicas brasileiras incorporam processos biotecnológicos para oferecer mais soluções de baixo carbono

Segundo o diretor de Desenvolvimento Sustentável da Braskem, Jorge Soto, a indústria química brasileira, por meio do uso de matérias-primas renováveis e da biotecnologia, pode auxiliar o planeta a alcançar uma economia mais sustentável. Na opinião de Soto, para atingir essa meta, é preciso aumentar as pesquisas associadas à bioeconomia no País, incentivar o empreendedorismo – pois das startups e incubadoras podem surgir soluções em biotecnologia para a indústria –, adotar normas para aprimorar a transparência sobre o manipulamento genético e biológico, aumentando o acesso à informação pela sociedade em relação à análise de riscos e oportunidades e, finalmente, fortalecer a educação para a bioeconomia para que a população seja receptiva às mudanças.

Exemplo de que a indústria química tem investido em inovação e biotecnologia para a redução das emissões é dado pela Novozymes, empresa cujo market share é concentrado na produção de enzimas. Conforme o vice-presidente da empresa América Latina, Pedro Luiz Fernandes, 14% do faturamento da empresa em 2014 foi investido em P&D. “A indústria química está percebendo que precisa se associar aos processos biotecnológicos porque muitos dos recursos usados hoje já estão exauridos. A biotecnologia pode ser uma das respostas para a essa exaustão do nosso meio ambiente”, afirma Fernandes.

De acordo com o executivo, a Novozymes investe no desenvolvimento de enzimas eficientes e de baixo custo para a produção de etanol celulósico, que chega a emitir até 90% menos CO2 do que os combustíveis fósseis. Além disso, a análise do ciclo de vida dos produtos mostrou que a tecnologia da empresa faz com que a emissão de gás carbônico seja reduzida até 100 vezes. “E quando um cliente usa a nossa enzima, isso é potencializado em até 10 ou 15 vezes”, acrescenta.

O empresário explica que há também produtos para tratamento de estação de efluentes e recuperação de solo degradado. Na área de agricultura, existe um portfólio de produtos de recuperação de solo e produtos para ração animal que melhoram a digestibilidade da ração, tanto avícola quanto bovina e suína, fazendo com que os animais emitam menos gás metano, que é um dos gases de efeito estufa.

 

Outro caso é o da Basf, que investiu 1,9 bilhões de euros, em 2014, em pesquisa e desenvolvimento de novos produtos. De acordo com o gerente de Sustentabilidade Corporativa da Basf para a América do Sul, Emiliano Graziano, 60% desse investimento está nos produtos denominados pela empresa de Accelerators – que trazem contribuição significativa para o desenvolvimento mais sustentável, de acordo com a definição da empresa. Essa avaliação é realizada continuamente pela companhia e identifica a sustentabilidade das mais de 60 mil aplicações dos produtos em seu portfólio.

Segundo o gerente da Basf, as metas da empresa não são baseadas apenas na redução das emissões, mas também na viabilidade de o produto ir para o mercado. “Determinamos metas, inclusive de vendas. Colocamos um objetivo ‘dentro de casa’, pensando no efeito positivo que ele pode ter na sociedade. No longo prazo, isso pode mudar o mercado e tornar a empresa mais lucrativa. Sustentabilidade é retorno financeiro, também”, completa.

Um dos diversos produtos que oferecem soluções para ajudar a mitigar o problema das mudanças climáticas é o superabsorvente produzido no Complexo Acrílico da Basf em Camaçari-BA. Além de ser usado em fraldas descartáveis e absorventes íntimos, o produto tem aplicações também na agricultura. A meta anunciada pelo governo federal prevê a restauração e o reflorestamento de 12 milhões de hectares até 2020. “Para atingir essa meta, é preciso ter produtividade para o reflorestamento, o que exige sementes mais resistentes à seca. Uma alternativa é a transgenia, em biotecnologia, outra é a adição de superabsorventes no plantio, para que as sementes tenham maior chance de vingar”, explica Graziano.

*Adriana Silva Nakamura é jornalista e assessora de comunicação da Abiquim

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