A indústria química como chave para um futuro mais sustentável
Sinproquim

O Brasil, e em especial a indústria química brasileira, tem pela frente uma grande oportunidade e um enorme desafio: avançar em bioeconomia, área em que tem potencial para se tornar uma das lideranças mundiais pelo patrimônio genético da diversidade de matérias-primas renováveis existente no País.
A indústria química é a chave para abrir essa porta para o futuro. Mas isso somente será possível com o envolvimento do governo, da academia, do setor privado e dos consumidores.
O conceito e as ações de sustentabilidade estão estabelecidos nos 12 princípios da Química Verde (Green Chemistry), elaborado pela United States Environmental Protection (EPA), em 1998.
O item 7, sobre o uso de fontes de matérias-primas renováveis, estabelece que o desenvolvimento de nova tecnologia e novos processos deve priorizar o uso de biomassa como matéria-prima.
É aí que entra a Química.
O conhecimento do setor químico brasileiro sobre o uso de matérias-primas renováveis está em desenvolvimento.
Há centenas de produtos químicos que podem ser fabricados por meio do aproveitamento da biomassa.
Um dos maiores exemplos, mas não o único, é o etanol derivado da cana-de-açúcar.
Transformado em eteno, ele gera resinas termoplásticas, substituindo a nafta/gás, derivados do petróleo.
O eteno também pode ser utilizado na fabricação de ácido acético, aldeído acético e éteres glicólicos, que geram muitos outros produtos.
O ácido acético, por exemplo, além de ser o vinagre utilizado como tempero, também é usado para a produção de polímeros, como o poliacetato de vinila; em essências para a perfumaria, em tintas, corantes, sedas sintéticas e até em medicamentos, como o ácido acetilsalicílico, mais conhecido como AAS.
A tabela abaixo relaciona os produtos químicos obtidos a partir do etanol.
Produtos químicos obtidos a partir do etanol
Do milho e da mandioca são extraídos amidos, corantes naturais, glucose e a dextrina, utilizada em adesivos, agentes espessantes e substitutos de gomas naturais.
A terebintina, extraída do pinus, é um solvente natural muito utilizado em tintas a óleo, atuando como fungicida. A papaína, que tem como origem o látex da fruta verde do mamoeiro, tem ações bactericidas e anti-inflamatórias.
Das folhas do arbusto jaborandi, encontrado nos estados do Pará, Maranhão, Piauí e Ceará, obtém-se o cloridrato de pilocarpina, utilizado para controle da pressão intraocular elevada.
Há ainda a manteiga de cupuaçu, muito utilizada na indústria de cosméticos; a manteiga de ucuuba, empregada na produção de velas e sabonetes vegetais; o óleo de buriti, que entra na formulação de protetores solares e loções pós-sol.
Em todos esses processos de transformação, a indústria química se faz presente.
A questão agora está em ampliar as fronteiras do conhecimento e encontrar oportunidades técnica e economicamente viáveis para avançar no caminho da sustentabilidade.
O Instituto Senai de Inovação tem uma iniciativa exemplar nesse sentido na área de biossintéticos e fibras. A proposta é conectar soluções desenvolvidas por startups a demandas de indústrias em economia sustentável e conservação da biodiversidade da região amazônica, predominantemente.
Entre as demandas da indústria estão os insumos e produtos inovadores de origem vegetal, processos para a melhoria das características de produtos ou insumos, tecnologias de beneficiamento e armazenamento de produtos in natura, embalagens e a valorização de resíduos.
A sustentabilidade, como já apontaram cientistas, pesquisadores e economistas, é o caminho a ser trilhado por quem se preocupa com o presente e com o futuro.
Agentes financeiros, fundos de investimento, empresas e uma legião crescente de consumidores já despertaram para essa necessidade.
A indústria química, que tem a inovação como norte, tem um papel decisivo na construção desse caminho.

O Brasil, como afirmei no início desse artigo, tem pela frente uma grande oportunidade e um grande desafio.
A questão, nesse caso, está em saber se o País terá indústria química nos próximos anos para avançar na seara da sustentabilidade.
A crescente importação de produtos químicos, que atingiu recordes e chega a responder por praticamente metade do abastecimento do mercado interno, levou ao fechamento de unidades industriais e empresas químicas, inibindo investimentos em inovação, levando à perda de conhecimentos técnicos e fragilizando importantes cadeias produtivas, como o agronegócio, que ficam sujeitas a mudanças abruptas nas cadeias globais de valor.
A guerra entre Ucrânia e Rússia é um exemplo recente dos riscos dessa dependência.
A tabela abaixo relaciona as unidades que descontinuaram a produção de derivados do etanol.
Produção descontinuada
O Conselho das Entidades Sindicais da Indústria Química (Cesiq) – que reúne os sindicatos patronais da Bahia (Sinpeq), do Rio de Janeiro (Siquirj), do Rio Grande do Sul (Sindiquim) e de São Paulo (Sinproquim) – defende a criação, ou recriação, do Ministério da Indústria para possibilitar uma análise madura e coerente sobre a importância do papel da indústria química na necessária e premente reindustrialização do País.
A ideia é avançar na identificação das vantagens comparativas que o Brasil dispõe.

Entre elas, se destaca a grande extensão de terras agricultáveis, além da oportunidade de aproveitamento de matérias-primas renováveis, que tem o potencial de colocar o País na vanguarda da sustentabilidade ao avançar em uma economia de baixo carbono.
*Renato Endres é diretor-executivo do Sindicato das Indústrias de Produtos Químicos para Fins Industriais e da Petroquímica no Estado de São Paulo (Sinproquim) e coordenador do Conselho das Entidades Sindicais da Indústria Química (Cesiq)
SINPROQUIM
O Sinproquim trabalha para elevar a competitividade da indústria química, incentivando a qualificação, a capacitação e o desenvolvimento tecnológico, sempre tendo como base a inovação, a sustentabilidade e a eficiência energética.
A busca e a construção de soluções estão na base de atuação do Sinproquim e são os objetivos centrais da entidade. O Sinproquim defende o diálogo ético, transparente e responsável com todos os interlocutores da indústria química por entender que a ampliação do conhecimento público sobre as características e a importância do setor é o caminho para a construção do desenvolvimento econômico e social.
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